“No dia em que iam matá-lo,
Santiago Nasar levantou-se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco do bispo.” Assim
começa o consagrado livro do escritor Gabriel García Márquez, que retrata uma
sociedade na qual todos conheciam o inevitável fim de Santiago, mas em que ninguém
ousou avisa-lo.
Entretanto, qual seria a relação entre a obra
e Durkheim? A resposta é a famigerada morte de Santiago. A indiferença dos
personagens perante o evitável assassinato é, um fato social. Exemplo disso é as,
diversas, passagens dos irmãos Vicário pela mercearia de Clotilde Armenta, de
onde repercute a morte de Nasar. É preciso atentar-se ao fato de que a indiferença
ante a morte iminente foi a reprodução de um modelo de consciência coletiva,
estipulou-se no domínio orgânico que a melhor prática era o silêncio: constituindo
assim um fato social.
Outro ponto é como esta atitude
reveste-se de algo individual, apesar de ser intrinsecamente coletivo. Esta sensação
privada foi retratada por Durkheim, ao dizer “O que cada número exprime é um certo
estado da alma coletiva.” Na obra de Márquez a alma coletiva é praticamente o
meio de coerção do individuo, impedindo uma manifestação perante a urgência da
morte de Santiago. Contudo, simultâneo a esta indiferença, está presente entre
os personagens a sensação de cumprimento do dever pelos irmãos Pedro e Pablo, ao
sentenciarem a morte de Santiago.
O crime que teria Santiago cometido?
A resposta usual seria nenhum, mas a resposta de Ângela Vicário, irmão dos assassinos,
foi o roubo de sua virgindade e da honra de sua família. Atualmente tal
resposta soa dramática, haja vista que Santiago e Ângela nunca tiveram uma
relação; mas na metade do século XX, aonde a função da mulher era ser “bela,
recatada e do lar”, esta resposta e o suposto ato em si mereciam uma punição. Ao
retomar Durkheim, pode ser visto na explicação para esta parte da crônica, na função
do fenômeno social. Pois ao romper com sua função como mulher, Ângela comete,
de certo modo, um crime na sociedade, implicando uma punição para assim
conseguir-se a manutenção e funcionamento daquele grupo social.
Mariana Santos, Noturno
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