Proposto pelo governador do estado de São Paulo Tarcísio de Freitas, o projeto Programa Escola Cívico-Militar visa trazer um novo modelo de gestão nas escolas públicas, o qual tem como meta melhorar a qualidade de ensino, e promover a paz e a cultura dentro do âmbito educacional. Tal programa será regido por duas frentes: Os policiais ficarão encarregados da parte comportamental, isto é, em criar uma disciplina rígida a ser praticada por todos os alunos, enquanto que, a parte pedagógica será de responsabilidade dos professores. O projeto elaborado pelo governador recebeu fortes críticas, sendo uma delas inclusive do próprio Ministério Público Federal, uma vez que inserir uma "metodologia militar" vai contra os critérios da educação estabelecidos pela nossa Constituição, e também é uma forma de perpetuar as desigualdades já existentes em nossa nação.
Mas ai entra o questionamento: Como a militarização das escolas tem a capacidade de acirrar as disparidades sociais entre os brasileiros?. Para discutir sobre essa pergunta, utilizaremos o conceito de Imaginação Sociológica do filósofo Charles Wright Mills. Em seu texto, "A Imaginação Sociológica", Mills diz : "O que precisam, o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo com o mundo, e o que está ocorrendo dentro deles mesmos". Em outras palavras, é proposto pelo filósofo que para ser possível compreender o mundo e seus acontecimentos, é necessário além do acesso ao conhecimento (informação), o desenvolvimento da capacidade racional humana. Contudo, ao relacionar esse pensamento com a proposta da militarização escolar, percebe-se que a exigência por um comportamento baseado na obediência e na postura rígida típica de um militar por parte dos estudantes inviabiliza essa ação, uma vez que essa padronização comportamental faz com que os alunos não possuam o direito de se expressar livremente a respeito das suas percepções de mundo.
Dessa maneira, enquanto as escolas públicas são obrigadas a participarem desse novo modelo educacional, as escolas particulares continuam investindo na criatividade e na criticidade daqueles que conseguem pagar por tal ensino. Com isso, evidencia-se uma perpetuação da desigualdade social, em vista de a escola pública, majoritariamente composta por pessoas de baixa renda, formar indivíduos treinados apenas para obedecer os comandos sem contestarem sobre nada, ao passo que a escola particular, composta por classes sociais mais privilegiadas, insere na sociedade pessoas capazes de criticar situações em que não lhes convém, comandando assim o funcionamento das relações sociais.
Portanto, pode-se concluir que a proposta de militarizar as escolas públicas corresponde a um declínio do exercício da Imaginação Sociológica, já que os alunos desse sistema não terão o direito de se expressar livremente, sendo assim, obrigados a obedecerem comandos.