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segunda-feira, 17 de março de 2025

A militarização das escolas e o declínio do exercício da Imaginação Sociológica

  Proposto pelo governador do estado de São Paulo Tarcísio de Freitas, o projeto Programa Escola Cívico-Militar visa trazer um novo modelo de gestão nas escolas públicas, o qual tem como meta melhorar a qualidade de ensino, e promover a paz e a cultura dentro do âmbito educacional. Tal programa será regido por duas frentes: Os policiais ficarão encarregados da parte comportamental, isto é, em criar uma disciplina rígida a ser praticada por todos os alunos, enquanto que, a parte pedagógica será de responsabilidade dos professores. O projeto elaborado pelo governador recebeu fortes críticas, sendo uma delas inclusive do próprio Ministério Público Federal, uma vez que inserir uma "metodologia militar" vai contra os critérios da educação estabelecidos pela nossa Constituição, e também é uma forma de perpetuar as desigualdades já existentes em nossa nação.

  Mas ai entra o questionamento: Como a militarização das escolas tem a capacidade de acirrar as disparidades sociais entre os brasileiros?. Para discutir sobre essa pergunta, utilizaremos o conceito de Imaginação Sociológica do filósofo Charles Wright Mills. Em seu texto, "A Imaginação Sociológica", Mills diz : "O que precisam, o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo com o mundo, e o que está ocorrendo dentro deles mesmos". Em outras palavras, é proposto pelo filósofo que para ser possível compreender o mundo e seus acontecimentos, é necessário além do acesso ao conhecimento (informação), o desenvolvimento da capacidade racional humana. Contudo, ao relacionar esse pensamento com a proposta da militarização escolar, percebe-se que a exigência por um comportamento baseado na obediência e na postura rígida típica de um militar por parte dos estudantes inviabiliza essa ação, uma vez que essa padronização comportamental faz com que os alunos não possuam o direito de se expressar livremente a respeito das suas percepções de mundo.

 Dessa maneira, enquanto as escolas públicas são obrigadas a participarem desse novo modelo educacional, as escolas particulares continuam investindo na criatividade e na criticidade daqueles que conseguem pagar por tal ensino. Com isso, evidencia-se uma perpetuação da desigualdade social, em vista de a escola pública, majoritariamente composta por pessoas de baixa renda, formar indivíduos treinados apenas para obedecer os comandos sem contestarem sobre nada, ao passo que a escola particular, composta por classes sociais mais privilegiadas, insere na sociedade pessoas capazes de criticar situações em que não lhes convém, comandando assim o funcionamento das relações sociais.

 Portanto, pode-se concluir que a proposta de militarizar as escolas públicas corresponde a um declínio do exercício da Imaginação Sociológica, já que os alunos desse sistema não terão o direito de se expressar livremente, sendo assim, obrigados a obedecerem comandos.

Das Verdades Reais sobre as Verdades Aceitas

 “O medo se aninha no colo da incerteza,
  E as ‘certezas’ preenchem o mar da ignorância.
  Mas é compreensível que, onde se perdura vacância,
  As mentiras façam ode à plena clareza. 

  É certo que no fraquejo da firmeza 
  Desvaneçam os olhares da resiliência 
  Perante os engodos proferidos sem diligência, 
  Perante as falácias recitadas com destreza.
 
  Não sou violentada, sou uma vagabunda. 
  Não estou desempregada, sou preguiçosa.
  Não sou preta, sou da cor errada. 

  Mas nada tenho além de uma esperança moribunda, 
  Pois, ante à irreflexão e à mente ociosa,
  A verdade anuída é aquela que fora fabricada.”

- Da Verdade sobre a “Verdade”. 
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  “O homem livre […] não compreendia que fazia parte de um sistema econômico, que seu bem-estar dependia da estrutura dos mercados externos e do pagamento das dívidas dos industrias americanos com outros países”. - Charles Wright Mills. A sentença proferida pelo pensador coaduna aquilo que corresponde a um dos maiores óbices alicerçados à humanidade: a indiferença. Seja reflexo de uma atitude voluntária ou de uma reprodução comportamental profundamente banalizada - tendo em vista a ascensão do modo de vida individualista -, a ataraxia é factual, uma vez que o ato da reflexão mediante a incumbência humana aplicada às transformações históricas esteve cada vez mais exíguo. Ao se apartar do que constitui o corpo social, o reconhecimento de que, à medida em que fomentamos o motor histórico, somos condicionados por este, é lesado. Esse raciocínio é atestado em ordem de eventos como a negligência para com a saúde durante a pandemia de Covid-19, a ascensão do antifeminismo frente à crescente onda de feminicídio, a negação do racismo no Brasil, país em que cerca de 70% da população carcerária é negra, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São fatos como esses que desmistificam a ideia de que a indiferença emula conforto; pelo contrário, ao se afastar das máculas sociais, é obstruída a chance de promover quaisquer diferenças positivas. 
 
 Apesar de o meio técnico científico informacional - conceito engendrado pelo geógrafo Milton Santos -, agraciar uma universalidade de estudos e avanços nos âmbitos da tecnologia e da comunicação, esta indubitavelmente facilitada na contemporaneidade, seus efeitos norteiam consequências menos honoráveis, bem como o intenso fluxo informacional. Em consonância com a difusão do acesso aos meios de comunicação, soerguem brechas aliadas à produção da denominada “desinformação”, isto é, a construção de sentenças pautadas em definições ilógicas veementemente defendidas por aqueles que compactuam com blasfêmias não fundamentadas em termos científicos. Aprender a discernir o factual do absurdo é relevante e, outrossim, imprescindível, a fim de que se desmantele a chamada “infodemia”: disseminação exponencial de informações sobre um assunto específico, tornando quase inviável a diferenciação de uma falácia e de uma notícia veraz.

 Sob o pretexto de justificar o fato de, constantemente, ser atribuída menor responsabilidade à sociedade moderna, Charles W. Mills analisa o emprego dos termos da “psiquiatria” para ensombrecer as questões públicas, como se a matriz estrutural do problema estivesse atrelada única e exclusivamente a uma perturbação pessoal e individual. Esse levantamento viabiliza o entendimento do porquê é crucial desenvolver a chamada “imaginação sociológica”, isto é, o potencial de se encontrar não só no contexto histórico da transformação social, mas de reconhecer o seu envolvimento direto nela. Destarte, conclui-se que o pensar sociológico é determinante à mitigação da apatia.  

 A validação do conhecimento é um processo que, inexoravelmente, intitula as principais teses de pensadores insignes, bem como Francis Bacon e René Descartes. Enquanto aquele abarcou a corrente epistemológica empirista ao longo de seus estudos, avultando a experimentação como meio de condução à descoberta científica - interpretação da natureza -, este fez do racionalismo sua principal fonte do conhecimento, reavivando o fato de que os sentidos são enganosos e de que o conhecimento verdadeiro deve sobreviver à dúvida. Não obstante, Mills, ao discorrer sobre a “imaginação sociológica”, principia um novo método de atestar o conhecimento: o pensamento crítico. Muito maior do que uma construção, o posicionamento crítico é indissociável à humanização e à empatia, uma vez que indica a participação do ser humano na estrutura social em que vive, podendo ser transformado por esta e, concomitantemente, transformá-la, admitindo como escopo a retração da passividade para com as questões públicas.

ENYA SOUZA DOS SANTOS - 1º ANO - DIREITO (MATUTINO)

 

Poética Inspeção da Sociedade — Poesia sobre Mills


Olhar meu, olhar teu,
Pois só na ciência não vemos "Romeus"
Já que dramaturgias dessas, falhas tuas ou erros meus,
Formadas são somente fora da sociologia.

Pois C. Wright Mills já defendia —
Vemos todos um particular anedótico,
Fruto da limitada convivência, não do nervo óptico,
Que traz o alienado senso de que nesse mundo está tudo ótimo.

Por isso, cabe tanto recordar,
Que sem a análise científica, somos reféns do raso olhar.
Disso tenhamos grande ciência: para tão bem julgar,
Só com a sociologia que possa na crítica nos universalizar.

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Henrique Pinheiro Campanella; aluno do 1º ano de Direito Matutino

Imaginação sociológica e o entendimento dos alheios

     O desenvolvimento da imaginação sociológica, conceito proposto pelo sociólogo C. Wright Mills, em quaisquer ofícios relacionados ao direito, são de suma importância, para que seja possível remover as opiniões e convicções pessoais da discussão e engajar o indivíduo em pautas sociais que não se restringem à sua própria realidade, assim compreendendo inteiramente o assunto e o ponto de vista alheio, sem julgamentos. No entanto, a imaginação sociológica não pode e não deve ser restringida ao ofício do direito, visto que é de extrema pertinência não só no meio social como na política em geral.

     Pode-se perceber a notoriedade da imaginação sociológica na política ao analisar o período da pandemia do vírus COVID-19, que foi marcado por frequentes intolerâncias , falta de conhecimento científico e incentivo ao consumo de remédios sem eficácia comprovada por parte do presidente do país, além da divulgação desenfreada de fake news acerca de medicamentos de combate à doença e de efeitos colaterais da nova vacina sem quaisquer comprovações científicas, por parte de jornalistas e da população em geral.

     A partir da utilização da imaginação sociológica nesse mesmo cenário, seria possível, pelo presidente e pelo povo respectivamente, orientar a população a respeitar o período de reclusão, aguardar a vacina e não confiar em qualquer notícia divulgada sem confirmação de profissionais, e verificar minuciosamente a procedência das notícias que são acessadas e divulgadas.

     Em suma, percebe-se que utilizar do imaginário sociológico é facilitar a compreensão do próximo, se desprendendo das amarras e opiniões pessoais que impedem a absorção plena de informações e discussões novas. Nota-se também a contribuição do imaginário na política e na harmonia em sociedade, visto que o mesmo torna as conversas e discursos proferidos imparciais e verdadeiramente respeitosos.