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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

À margem do marxismo: como o materialismo interpreta as complexidades da dinâmica social contemporânea

A teoria marxista vê o modo de produção como fundamento da ordem social. Dessa forma, predomina no capitalismo a troca mercantil que, por sua vez, baseada na produção configura uma exploração do trabalho assalariado. Consequentemente, esse cenário gera um embate entre a classe trabalhadora e a burguesia, donas dos meios de produção, nomeado pelos autores como luta de classes, aqui caracterizada como o produto final do Estado moderno burguês.
Todavia, diante de determinadas paixões acerca da teoria marxista faz-se necessário uma análise desse pensamento que abranja a relação do capitalismo e a complexidade das relações sociais. Diante disso, destaca-se a obra da filósofa Angela Davis, publicada em 1981, Mulheres, raça e classe. No livro, Davis faz uma grande contribuição acerca do feminismo negro; contudo ultrapassa as particularidades do assunto tratado e inicia uma importante apreciação acerca do marxismo. Angela Davis mostra que não somente o trabalho assalariado como invenção do capitalismo, mas também as estruturas de escravidão e servidão influenciam na dinâmica social. Sendo o conflito de classes uma síntese do capital, a divisão social pauta-se também em questões mais complexas como raça e gênero.
A partir dessa fundamentação encontra-se uma luz sobre questões que acontecem diariamente no Brasil. Quando o rapper Evandro “Fióti” foi barrado por seguranças na entrada da Fashion Week que inaugurava sua própria grife de roupas, evidencia que, mesmo diante da acumulação de capital e, portanto, não fazendo parte da classe de trabalhadores assalariados, a raça ainda é um fator determinante de opressão. Do mesmo modo, quando o movimento hip-hop norte americano ou mesmo o funk carioca assumem uma postura ostentação, longe de serem “cooptados pela universalidade do pensamento burguês”, essa cultura afirma a existência que lhes foi negada diante da marginalização estrutural.
Entretanto, pode-se pontuar que a opressão racial é fruto do capitalismo. O sistema de escravidão de africanos, maior responsável pelo racismo estrutural presente no mundo, baseou-se na troca mercantil e sustentou grande parte do desenvolvimento capitalista. Porém, desenvolveu-se de uma maneira tão singular que a relação raça-pobreza se tornou intrínseca. Destarte, ao assumir a teoria materialista como concepção de análise da sociedade, o fator raça se torna determinante para a posição e as relações do sujeito.
Por fim, faz-se necessária uma análise do conceito “classe” a partir das especificidades de raça e gênero, a fim de obter um conceito mais complexo do materialismo. A teoria marxista precisa ser pensada, no contexto contemporâneo, de forma que abranja as transformações as quais a sociedade foi submetida.


 Daniela Cristina de Oliveira Balduino, 1º Direito - matutino