“Penso, logo existo”, famosa frase perpetuada por René
Descartes que nos faz refletir sobre a real essência da existência humana.
Segundo o mesmo, o que nos diferencia das demais espécies é a razão, ou seja, a
capacidade de refletir e pensar sobre as ações que tomamos. Mesmo assim, é
notável que muitos não usufruem deste privilégio, deixando-se tomar por
pensamentos fundados na ignorância, senso comum e no misticismo.
A concentração do conhecimento sempre foi uma arma para que
tiranos se aproveitassem da ignorância do povo para deles se aproveitar. É
visível isso na baixa taxa de alfabetização na Idade Média, onde apenas o clero
sabia ler, podendo assim, doutrinar os indivíduos à sua vontade. Na realidade de Descartes, os livros e
pensamentos filosóficos eram traduzidos apenas para o latim, língua dominada
apenas por doutores. A fim de tornar o conhecimento público, Descartes publica
seu “Discurso sobre o Método” em francês, língua vulgar, onde todos poderiam
ler e tirar suas próprias conclusões.
O mesmo fenômeno acontece nos dias de hoje. Pouco se ensina
em escolas sobre política, democracia, antropologia e ciências sociais. É comum
indivíduos demonstrarem desinteresse por assuntos políticos, desconhecerem seus
direitos e obrigações e serem usados como massa de manobra.
Diversos conflitos e até mesmo guerras são causadas por conflitos de ideologias, e justificados por religião e costumes. Pessoas odeiam outras por fatores sem uma explicação racional, como etnia ou sexualidade. Estes preconceitos estão enraizados e existem conforme a teoria da "tábula rasa" de Locke. O indivíduo cresce e acredita fielmente no que lhe é ensinado, sendo tais coisas, certas ou erradas, comprovadas e racionais ou totalmente baseadas no senso comum.
Bacon usa o termo “ídolos” para designar falsas noções,
preconceitos e maus costumes causados pela falta de conhecimento, ou apego
exagerado às crenças sem fundo racional ou comprovado. O empirismo é, justamente
uma teoria epistemológica que valoriza a obtenção de conhecimento através das
experiências e da comprovação e que evita creditar conceitos baseados nos
costumes ou crenças
A super racionalização e a valorização da ciência como
única fonte da verdade também é excludente, pois desta forma, desvaloriza as
artes e bases culturais que levam em conta as emoções e os sentidos.
O conceito binário de “acreditar em Deus ou na ciência”
também é questionado por Descartes que afirma que uma coisa não necessariamente
exclui a outra. A ciência pode ser a forma que Deus deixou para que os humanos
entendam melhor sua criação. Assim como conceitos de “Direita e Esquerda
política” e “ciências humanas ou exatas” onde muitos acham devem se enquadrar
estritamente em um lado, quando pode-se perfeitamente balancear seus conceitos
entre um e outro.
Yan Douglas Teles - 1º Ano - Direito Noturno