A Imaginação Sociológica como Vacina para as Fake News e o Neofacsismo
As fakes news têm tomado grande parte das discussões do mundo político nos últimos tempos, entretanto a propagação de desinformação é apenas uma parte de um movimento muito maior de negação da ciência e da coletividade. Estão associadas à ascensão de uma extrema direita em um contexto de globalização no qual a vida e as sociedades têm se transformado rapidamente e os valores tradicionais têm sido ameaçados e às vezes modificados ou apagados pelo Capitalismo. Todavia, esse nunca é identificado por tais problemas e assim surgem bode expiatórios, como Ciência, os comunistas, os chineses, as feministas e muitos outros para receberem a culpa indevidamente fazendo com que o problema permaneça.
Esse movimento pode ser considerado anti-moderno por contrariar princípios básicos do método científico estabelecidos por René Descartes na alvorada da modernidade, como a desconfiança dos sentidos, e Francis Bacon, o rompimento com o senso comum. As fake news operam numa lógica do indivíduo e do concreto, onde basta ver para crer, a eficiência da vacina não é confirmada por estudos e estatísticas, mas sim se alguém que conheço tomou a vacina e morreu. Deve-se fazer uma menção para o “conheço”, pois as notícias falsas permitem que esse alguém falecido nem se quer exista. Contudo, porque alguém de confiança que passou adiante essa informação, “então ela deve ser verdade”. Desse modo, perde-se qualquer resquício da consciência abstrata do pensamento cartesiano, não se questiona e nem se desconfia de nada, atentando-se somente aos sentidos. O que é impulsionado pela torrente quase infinita de informações que um indivíduo tem acesso, não lhe dando tempo para refletir sobre elas.
Outro aspecto desse problema reside em seu caráter anti-sociológico e anti-coletivo, pois tem-se a ausência total da "imaginação sociológica” proposta por Charles W. Mills. Fruto do neoliberalismo, o individualismo tira qualquer importância do coletivo e impossibilita que uma pessoa passe de sua percepção individual para a coletiva, enxergando que seus problemas também são experienciados por outros e têm uma causa comum. Logo, a impossibilidade de enxergar de um micro para um macro só pode estar relacionada com a falência do pensamento cartesiano e a recusa em desconfiar do aparente. Ocasionando na perda da capacidade de situar-se numa sociedade e em um espaço comunitário, e consequentemente, qualquer horizonte de sanar suas preocupações através da organização coletiva.
Portanto, há de se revigorar essas práticas científicas, agregando outros saberes que foram deixados de lado e que melhor preparam os indivíduos para lidar não somente com as fake news, mas esse movimento como um todo. Sendo a imaginação sociológica um desses exemplos que contribuirá na mudança de pensamento do concreto e individual para o abstrato e geral, revolucionando a forma como se vê a realidade e o caminho pelo qual a humanidade deve seguir. Assim, a Ciência, humanizada, será um instrumento de mudança e melhora do mundo e não um inimigo a ser perseguido e extinto como busca a onda neofascista através de suas falácias.
Daniel Anuatti Reis - 1° ano de Direito (matutino)
RA: 231220197