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sexta-feira, 22 de abril de 2022

A ciência nem tão cientifica

 

O positivismo, corrente teórica criada por augusto conte, tem como seus ideais basilares o culto ao racionalismo e a defesa da ciência como algo a ser adorado e a ser seguido a todos os custos, essa romantização cientifica, baseada no ideal de ordem, influenciou diversos movimentos autoritários e países com regimes ditatoriais.                                                                  

Um dos casos mais emblemáticos é o da Alemanha nazista, apesar de Hans Kelsen, grande pensador do positivismo, ser um grande opositor do nazismo, tendo efetuado diversos debates sobre isso com Carl Schmitt, o positivismo, por meio de sua idealização da ordem e do cumprimento de regras, influenciou a defesa do estado autoritário nazista, uma frase, de Kelsen, que exprime isso é a: Segundo o Direito dos Estados totalitários, o governo tem o poder para encerrar em campos de concentração, forçar a quaisquer trabalhos e até matar os indivíduos de opinião, religião ou raça indesejável. Podemos condenar com a maior veemência tais medidas, mas o que não podemos é considera-las como situando-se fora da ordem jurídica desses Estados. Por meio desta justificativa, muitos generais e demais nazistas usaram como o argumento o fato de que apenas estavam cumprindo ordens, e que não poderiam ser julgados por cumprir ordens.

Outro fato, do positivismo, que é possível ser criticado, é o fato da lei ser vista como base omnipotente, sendo a visão desta baseada somente na razão, negando, assim, a estrutura social que há nas relações humanas, ocasionando, desta forma, uma grave exclusão social e a manutenção do status quo, onde poucos mandam robotizados e muitos obedecem de maneira igualmente robotizada. 

Portanto, concluo com uma famosa poesia de Fernando pessoa que faz uma critica com o culto a razão e, harmonicamente, descreve e exemplifica a ineficácia da razão em alguns casos.

Que ideia tenho eu das coisas?

Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?

Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma

E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos

E não pensar. É correr as cortinas

Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

 

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!

O único mistério é haver quem pense no mistério.

Quem está ao sol e fecha os olhos,

Começa a não saber o que é o Sol

E a pensar muitas coisas cheias de calor.

Mas abre os olhos e vê o Sol,

E já não pode pensar em nada,

Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos

De todos os filósofos e de todos os poetas.

A luz do Sol não sabe o que faz

E por isso não erra e é comum e boa.




NOME: Kaike de Sousa da Silva                                   PRIMEIRO ANO  DIREITO NOTURNO


RA: 221220641

   

E

 

Portanto, concluo.

E a "Ordem e Progresso" -foi- minha ruína

 A minha vida não é nem nunca foi a das mais emocionantes, mas algo que me ocorreu a uns meses atrás me intriga até hoje, e por isso, creio ser interessante contar sobre aquele dial crucial na minha história. Sou aquele tipo de pessoa que passa desapercebida, que não recebe muito atenção, e que se a recebe, é da forma negativa. Acordava todos os dias as 4h da manhã e começava a me movimentar para chegar a tempo no trabalho. Assim que designado ao meu posto, recebia diferentes olhares na rua, alguns me encaravam com cara de nojo, outros simplesmente me ignoravam, mas as mães sempre me usavam de exemplo para dizer para suas crianças que se não estudassem terminariam como eu - minha senhora, eu sou formado e com muito orgulho, mas todas as batidas de porta na minha cara foram suficientes para que eu precisasse procurar algo que me sustentasse - . Cada dia era uma surpresa sobre meus afazeres, podiam me colocar atrás de um caminhão de lixo, no qual eu teria de correr o mais rápido possível para pegar todos os sacos dispostos pelas ruas e ainda assim voltar a tempo de subir no caminhão e me enganchar nos ferros laterais para prosseguir a viagem, podiam também me entregar uma máquina com uma lamina que nunca sequer me disseram o nome, ou me treinaram para usar para que eu corte o mato que cresce nas avenidas de São Paulo, ou até mesmo podiam me dispor de uma vassoura rastelo para juntar os amontoados de folhas caídos das grandes árvores na selva de pedra. Naquele dia em questão, foi custoso sair da cama, me sentia fraco e muito dolorido, me arrastei ate o banheiro e me espantei com meu reflexo, estava abatido e com os olhos amarelados. Tomei coragem e puis me a tomar um banho, pensando que a água quente poderia me ajudar, mas no instante em que liguei o registro, senti minha visão turvar e tive de segurar na cortina para não cair, eu não estava em condições de ir trabalhar, era bem óbvio, então resolvi ligar para meu patrão. A conversa foi bem curta, basicamente ir ou não ir não importava, pelo menos para ele, se eu não fosse teria o dia descontado no fim do mês, e apenas uma olhada na minha pilha de contas na mesa foi suficiente para que eu me arrastasse até o guarda roupa e pegasse meu uniforme. Segui até o centro de distribuição da empresa de forma sofrida, naquele dia me deram a vassoura. E eu outros 2 colegas fomos mandados para um bairro nobre no qual precisavamos recolher todas as folhas que uma grande árvore havia soltado ao longo da calçada, e depois repetir isso ao longo de todo o bairro. Depois de trabalhar quase 2h sobre o sol quente e impiedoso, comecei a ver pontos pretos e a sentir meu corpo mole, a última coisa da qual me lembro é de ver um de meus colegas correndo em minha direção e de sentir o duro impacto do chão sobre meus ossos. Quando acordei, senti meus dois colegas abanando meu rosto com as mãos e me ajudando a levantar, "vamos te levar de volta para o centro de distribuição, desse jeito não tem como trabalhar" disse um deles já pegando as vassouras e me apoiando no ombro. Nesse instante um engravatado saiu de uma das grandiosas casas que nos cercavam e nos disse rispidamente "para onde vocês vão? não vão terminar de limpar essa sujeira?", "senhor, nosso colega passou mal e desmaiou no meio da rua, precisamos levá-lo de volta para casa", o homem franziu o cenho e respondeu "mas que desculpinha, esse é o trabalho de vocês não é? uma coisa tão simples dessas, como que não podem terminar logo?, "senhor, com todo respeito, se é tão fácil por que não o faz você mesmo?", nesse ponto, se fosse possível o homem teria acendido e explodido como um foguete, com a voz carregada o mesmo apontou o dedo em nossas direções e elevou seu tom de voz, "ora, mas que absurdo, como pode dizer para que eu faço esse tipo de trabalho, eu já faço a minha parte com a sociedade no emprego que cabe ao meu tipo de pessoa, se cada um for abandonar seus cargos de mérito para realizar essas tarefinhas que tipos como vocês não fazem, vai tudo ficar uma bagunça. Mas tenham certeza de que farei uma reclamação expressa sobre vocês, dessa forma, o emprego de vocês pode ir para alguém que queira trabalhar de verdade, porque eu tenho orgulho de ser um trabalhador", depois bateu o portão de sua casa e nos deixou do lado de fora sem palavras. O resultado daquela "bronca" veio dois dias depois na forma de uma carta de demissão, não só para mim como para meus dois colegas, descobrimos que o homem em questão era herdeiro de uma grande empresa de alimentos, e que provavelmente trabalhava 4h por dia e aproveitava o fim de semana em sua luxuosa casa ou viajando pelo mundo. Não quero parecer presunçoso, mas temos definições diferentes de "trabalhador", mas queria que a minha fosse mais próxima da dele. Depois disso, não consegui achar mas nenhum emprego, as dívidas me engoliram e no fim, acabei onde todo pobre tem medo de se achar, na rua, sem casa, sem trabalho, sem nada. Hoje em dia eu luto para ter o que comer, luto para não morrer de frio e nem de calor, as pessoas que passam por mim me olham com mais nojo ainda do que antes, as poucas que me dão dinheiro, faltam jogar em mim com desprezo, e eu acho curioso, porque numa sociedade que preza tanto o coletivo, o individual se mostra dia após dia presente, uma sociedade que preza pela ordem e progresso, esquece daqueles que foram subjugados pela própria, e ainda exigem reciprocidade e colaboração, muito curioso mesmo.


- Vitória Santos da Silva

1º ano Noturno

O Positivismo e a manutenção do Status quo

 O filósofo Auguste Comte foi um dos principais teóricos do Positivismo. Tal doutrina buscava sistematizar um conhecimento referente ao domínio do mundo social, analisando racionalmente as vinculações entre os fenômenos presentes na sociedade, ao invés de buscar a origem e a essência das coisas por meio de uma análise teológica e metafísica. A filosofia positivista pretendia racionalizar a moral e constituir um mundo guiado pela razão, progresso e ordem. Deste Modo, o positivismo se caracterizou como um meio termo entre o conservadorismo e os revolucionarismos de sua época. Mesmo assim, em uma análise socioeconômica e não puramente ideológica e comparativa com ideais antecessores, a ideia positivista se mostrou uma ferramenta de manutenção do Status quo burguês perante o possível espírito de indignação proletário.

  Em primeiro plano, o Positivismo ao destacar o coletivo sobre o individual e a ideia de felicidade como um bem público materializava uma  engrenagem  que acabou recebendo o nome de solidariedade. Segundo Comte, todos os homens tinham que cumprir funções determinadas pela moral, visando a harmonia social. Não havia mais a figura do homem em si, mas sim um corpo social chamado de humanidade, visto que todo o desenvolvimento emana da sociedade. Além disso, a felicidade deixava de ter sua busca relacionada aos objetivos individuais e pessoais característicos  de um viés cristão e passava a ter compromisso com o o meio social. Tais características, formaram a ideia da solidariedade positivista,  onde  ser solidário não tinha relação com a vida privada mas com a manutenção de um bem maior, denominado de sociedade. Com isto, os principais sistemas que aplicaram ideais positivistas, principalmente capitalistas, viram a solidariedade como um mecanismo essencial nas relações de trabalho.

  Como consequência, o trabalho figurou-se como a expressão máxima da solidariedade. Tal conjuntura permitiu que a classe burguesa, detentora do poder econômico e político formulasse um método de manutenção de seus privilégios contra umas possível revolução proletária, dado que para a filosofia Positiva e a sua solidariedade a aceitação dos lugares sociais e papeis definidos ( quase como uma sociedade estamental hierarquicamente rígida ) é eixo central para a harmonia social, criando-se um falso discurso de que todos os trabalhos são dignos e contribuindo para uma estrutura alienativa e sem consciência de classe por parte dos trabalhadores. Ademais, o Positivismo também retira a ideia de participação do poder político para a classe trabalhadora, acreditando que o poder moral é muito mais importante. Assim, em uma sociedade onde o meio  político ,  econômico  , social  e intelectual é peça chave para o modo e qualidade de vida, a moral ganha enfoque, mostrando que para o positivismo pouco se interessa a capacidade reflexiva e social de seu trabalhador, mas o seu trabalho prático e a sua faculdade de se encaixar na engrenagem sistematizada do meio social.

  Em síntese, conclui-se que a filosofia Positiva tem  grande importância ao ser uma das primeiras correntes de pensamento a analisar a sociedade de maneira racional. No entanto, esta mostra-se perigosa quando aplicada em Estados capitalistas, dado a sua natureza alienativa, quase estamental e falta de poder político para o proletário, justificados pela solidariedade.

João Felipe Schiabel Geraldini. Direito noturno. 1 ano.

O que é o positivismo e sua atuação no Brasil.

 O positivismo é uma corrente filosófica do século XIX, oriunda do pensamento iluminista, que postulava a ordem e a ciência como fatores para o progresso e o desenvolvimento social. Por ser baseado no ideal de progresso contínuo da humanidade, o positivismo prega a existência de uma marcha constante de todo o mundo em busca de seu desenvolvimento. Descrita pelo filósofo Augusto Comte, que tentava compreender a nova e complexa sociedade industrial nascida pós Revolução Industrial, a teoria positivista apostava no progresso científico e moral da sociedade por meio do desenvolvimento das ciências e de uma ordem social moralmente adequada aos pensamentos da época. Entre as características principais do pensamento positivista, pode-se destacar seu viés republicano, o forte apreço pelas ciências (que impulsionam o desenvolvimento industrial e tecnológico), a ordem, o rigor e o empenho de toda a sociedade em busca de seu desenvolvimento, e a superação do período teológico e da crença na existência de um mundo sobrenatural. Estampado na bandeira nacional do Brasil, o lema positivista ´´Ordem e Progresso`` revela a forte influência dessa corrente na formação da república brasileira (1889-1930), uma vez que os militares, responsáveis pela Primeira República, eram grandes adeptos do positivismo por ele ser baseado na liberdade individual e na responsabilidade moral dos indivíduos. Assim, acreditavam que tais aspectos eram necessários para o desenvolvimento brasileiro. Porém, apesar de forte inspiração no início do republicanismo, o positivismo no Brasil não prosperou e o lema estampado na bandeira, consequentemente, não vingou, uma vez que a política brasileira passou e ainda passa por sucessivos ataques à democracia e à liberdade de seus cidadãos.

Guilherme Corazza Veloso, RA: 221220542 – Direito, Primeiro ano, Noturno

"Fábrica de Bolos "POSITIVO" - aqui todos tem seu devido lugar"

     O Iluminismo fora, de fato, um grande movimento alicerçado nas bases da Razão. Para os pensadores dessa corrente filosófica o único conhecimento válido e digno de atenção se tratava daquele que usava da pesquisa e da racionalidade para embasar suas conclusões. Dada a importante expansão deste movimento, vários pensadores posteriores ao período do auge iluminista continuaram a usar seus métodos para obtenção de conhecimento cientifico. Com isso, um destes pensadores fora o francês Augusto Comte, individuo que viria a ser considerado com o “pai” da Sociologia. Nesse sentido, Comte é um dos primeiros a buscar usar conceitos científicos para estudo do meio social, pesquisa que seria depois denominada de “Positivismo” - física social, Comte procurava fundar seus estudos sociais através de normas e leis que, assim como nas ciências naturais, fossem imutáveis. Desta maneira, embora a instauração do estudo da sociedade tenha sido deveras importante, urge atentar que o sistema positivista criado por Comte é sujeito a inúmeras análises críticas, dentre essas, a releitura, em partes, de seu lema positivista “Amor por princípio, Ordem por base e Progresso por fim” na bandeira brasileira: “Ordem e Progresso”.

Dessa forma, começa-se pela Ordem. Para Comte, a Ordem social é um item importante que configura o 3º estágio do conhecimento, nessa fase, a Física Social se aplica de forma uniforme, e é o auge na visão de Comte.  Nesse ínterim, para possuir um Estado de Ordem não há uma possibilidade de mudança social, os filhos desempenharão a mesma profissão dos pais, pois este é, na visão Comtiana, seu lugar no panorama geral que é a sociedade o que configuraria uma norma da física social. Não existe, para o Positivismo, a chance de mudança uma vez que a leitura social usada pelo autor baseia-se em uma primeira e superficial análise da sociedade, que não busca mais a fundo os reais problemas daquele meio social. A Ordem deve funcionar, para Comte, de modo com que todos os setores da sociedade se portem, de certo modo, de acordo com suas condições de vida, uma vez que trabalham por amor a um todo que se dá no sucesso da sociedade, o que só é possível se cada um desempenhar seu papel. Logo, observa-se que Comte constrói a ideia de Ordem tal qual a imagem de um belo Bolo, para se ter a sociedade perfeita, assim como a cobertura de um delicado bolo, coberto de glacé e cores, é preciso esconder e negligenciar uma massa que dá seu sangue para compor este bolo. Por fora deve ser lindo, por dentro é pútrido.

Nessa continuidade, tratar-se-á do Progresso. De acordo com Comte o progresso é conseguinte da ordem, e se dá pela manutenção da sociedade assim como ela se encontra, com os desprovidos economicamente na base, e os magnatas no topo, cuidando da ciência e do desenvolvimento humano. Desta forma, a ciência positivista projeta como ideal a manutenção dos papeis sociais postulados pela ordem. Com isso, o preconceito e os estigmas, introjetados pelas raízes positivistas no Brasil, ganham forma através de reacionários que não se veem dispostos a deixar a lógica positivista paradoxal de um progresso que é retrogrado e aceitar subversões desta Ordem ultrapassada que ainda permeia a realidade brasiliana. Nesse sentido, tal caráter da ciência positivista leva a manutenção de preconceitos no meio social ,ao se analisar casos como quando indivíduos em grandes cargos, como é o caso do Ministro Paulo Guedes, critica programas governamentais de financiamento estudantil ao dizer que “até filho de porteiro conseguiu entrar em uma universidade”, nesse pensamento, para Guedes, houve uma Subversão, uma quebra da Ordem na qual o filho do porteiro, por amor ao geral social, deveria se projetar sobre um emprego como o do pai e não buscar outra função de trabalho, colocando sobre a lógica do Bolo, não importa quanto uma pessoa esteja sofrendo em determinado local social, ela é constantemente barrada de exercer outra função em razão do ideal maior de construção do exterior perfeito do bolo, o bem geral de uma aparente sociedade . Assim, observa-se que este “progresso” defendido por Comte se trata de um mecanismo de manutenção da “ordem” social, um sistema que aplaude o sofrimento e condena a imprescindível subversão desses valores.

Depreende-se, portanto, que os ideais Positivistas de Comte, embora tenham sido importantes num contexto geral de inauguração da sociologia, configuram-se como visões que, na busca de um exterior social perfeito, perpetua e fomenta estigmas, preconceitos e sofrimentos movidos pelo trabalho prestado para promoção da "Ordem e Progresso", numa sociedade que mantém as aparências externas de um belo bolo, que por dentro deteriora em sofrimento da base trabalhadora que pela ordem, tem que se manter lá pelo amor ao todo social.

em frânces - "Le plus beau gâteu - o mais belo bolo" e 
"ç'est fait du sang par amour - é feito com sangue por amor"



Larissa Vitória Moreira
1º Semestre de Direito, noturno

 Auguste Comte, por meio da filosofia positivista defendia que os dois fundamentos da sociedade moderna seriam a ordem e o progresso. Desse modo, segundo o filósofo, era desnecessário conhecer o processo de formação dos fatos, sendo relevante apenas as vinculações entre os fenômenos. Nesse viés, é evidente um dos equívocos de tal corrente filosófica, uma vez que é de extrema importância o conhecimento das origens dos fatos, seja para aperfeiçoamento ou para a correção de tais acontecimentos.  

Ademais, sob a ótica positivista, a ordem e o progresso ocorrem de forma linear. Entretanto, em pleno século XXI, tal ideia mostra-se ultrapassada, de modo que, sem conflitos e lutas sociais, não há como obter o progresso. Nesse sentido, a harmonia social- moral universal para que cada um cumpra o seu papel- é tomada como base pelos capitalistas conservadores, os quais de maneira direta ou indireta, objetivam o progresso apenas para a elite, de modo que a classe baixa continue nas situações de submissão a exploração da mão-de-obra para sustentar aqueles que obtém o lucro.  

Diante o exposto, é evidente a insustentabilidade de algumas características positivistas, seja pela sinuosidade das relações sociais, ou pela subversão da ordem vigente para a consolidação das reformas da sociedade- que contraria os papéis definidos dos “lugares sociais” defendido por Comte.

Ordem e progresso: o positivismo enraizado no país e o preconceito racial

 13 de maio de 1888, o dia que teoricamente simbolizou a liberdade negra no país, antes disso tal população era vista como objeto, privada de qualquer tipo de garantia a dignidade, submetida a atrocidades, e tudo isso de forma legítima. Com o estabelecimento da lei Áurea, houve de fato uma grande mudança, a escravidão deixou de possuir legalidade, mas após tantos séculos sendo justificada e naturalizada pelo restante da população sua legitimidade não foi realmente questionada.  

De acordo com a corrente positivista, amplamente cultuada no Brasil, depois da promulgação da lei abolicionista, a escravidão se encerra, negros e brancos são ditos como iguais possuindo os mesmo deveres e direitos. A escravidão se torna um passado e por isso não precisa ser mais analisada já que dada como ilegal, seus efeitos se findam. Para o positivismo o que não é observável é ideologia, falácia, o mundo deve ser pensado a partir do que é concreto, sendo assim a diferença racial ainda existente no Brasil, o preconceito, a violência policial, tudo não passa de uma ilusão ou até mesmo vitimismo. 

Para os positivistas, o estabelecimento de ações afirmativas, a punição da violência policial, representam uma subversão da ordem estabelecida. A proteção da população negra, atualmente, levando conta séculos de escravização, discriminação é considerada uma medida subversiva pelo simples fato de que a criminalização da escravidão se deu em 1888, e mitigar seus efeitos hoje é considerado por eles desnecessário.  

A teoria de Comte, sobre analisar somente o que é de fato, exclui anos de história, não busca saber a origem do problema, por isso ignora a necessidade de auxílio aos negros, ignora as políticas públicas adotadas após a abolição, de embranquecimento da população a partir do incentivo a vinda de imigrantes, e a marginalização dessas pessoas que lutam até hoje para se inserir verdadeiramente à sociedade. O positivismo cruel, cravado na bandeira nacional, perpetua esse ideal de segregação, o qual covardemente chama a reparação histórica necessária, de subversão e desordem. Depois de séculos sofrendo nas mãos de brancos, a população negra que busca seus direitos é vista como atrasadora desse cultuado progresso. Essa visão positivista do mundo ainda agride e silencia os indivíduos historicamente violados, e deve ser alterada para que a humanidade caminhe realmente em direção a uma maior igualdade e ao verdadeiro progresso.  

Marina Cassaro 

 Influência da filosofia positivista na manutenção da ordem elitista do Brasil

Beatriz Grieger - Turma XXXIX - matutino

   Em 15 de novembro de 1889, a Proclamação da República marcava, supostamente, uma nova era no Brasil. Entretanto, a base filosófica positivista que amparava este movimento fazia com que a imagem de grande revolução fosse apenas um ideal e não uma realidade prática. Com isso, mesmo após este marco histórico, as classes que eram dominantes não apenas durante o império, mas desde a colonização, permanecem dominantes até os dias atuais.

  “Ordem e Progresso” resume a filosofia positivista de Augusto Comte aplicada na formação do sistema político contemporâneo do Brasil. Tal frase explicita a forma como o progresso político, para Comte, deve funcionar: o progresso deve preceder a ordem, a qual prevê a inexistência de grandes revoluções e mudanças política e, consequentemente, socioeconômicas. Dessa forma, qualquer tipo de tentativa de revolução seria considerada “subversão” e deveria, portanto, ser controlada como forma de manter a ordem, como por exemplo, quando o deputado Eduardo Bolsonaro afirmou no dia 31/10/2019 que “se a esquerda se radicalizar, uma das respostas do governo poderá ser via AI-5” fazendo referência a protestos de esquerda que aconteciam na América Latina. Ou seja, qualquer tipo de movimento social que pudesse perturbar a ordem imposta pelo governo seria reprimido.

   Este tipo de repressão não é presente apenas no governo de Jair Bolsonaro, mas sim uma questão histórica que manteve-se com a Proclamação da República, a qual iniciou-se com a “República da Espada” controlada por militares que compartilhavam da ideologia positivista sendo seguida pela “República Oligárquica” governada pelas elites que reprimiam qualquer movimento popular que pudesse prejudicar a ordem elitista e positivista outorgada. Logo, observa-se que a repressão contra revoluções populares é uma questão histórica vigente no Brasil que permite a manutenção das classes dominantes em posições de controle político e econômico, ou seja, o controle que as elites exerciam sobre o Estado no início da República persiste nos dias atuais. Com isso, as mudanças sociais que necessitam de qualquer burocracia por parte do governo permanecem sendo feitas “de cima para baixo”, ou seja, das elites para as classes populares, com o intuito de manter o status quo.

  Conclui-se que a utilização da filosofia positivista e, consequentemente, do ideal de “Ordem e Progresso” para a construção da República no Brasil proporcionou a continuidade da permanência do poder político, social e econômico nas mãos das elites atuais. Com isso, os movimentos populares que poderiam alterar a pirâmide social vigente são tidos como “subversivos” e reprimidos, tanto na “República da Espada”, quanto na “República Oligárquica” e no Governo de Jair Bolsonaro.


Engenharia social de Comte e o socialismo: mais próximos do que se imaginam.

É um fato que, desde o início das formações de reinos, houve sempre a tentativa de transformar a natureza humana em um protótipo único, que obedece as regras impostas e sempre está de acordo com o planejado. Com o surgimento do socialismo, houve a suscitação do tema igualdade social, em que partiam de premissas tais como acerca da renda, da meritocracia e condições de vida. Entretanto, por o mundo ser desigual por essência, uma transformação geral na sociedade seria fundamental para que este efeito se concretizasse, culminando, portanto, em diversas pesquisas envolta da questão de  como chegar a plena igualdade humana. Neste ponto, um dos pensadores, podemos dizer, engenheiros sociais que comjecturaram sobre essa radical mudança necessária, foi Augusto Comte, um dos pioneiros no estudo das ciências sociais.  Em um de seus livros, o sociólogo fala da seguinte forma:
Sua rápida ascendência prática, reconhecida implicitamente por ambos os partidos ativos, constata cada vez mais, nas populações atuais, o amortecimento simultâneo das convicções e paixões anteriores, retrógradas ou críticas, gradualmente substituídas por um sentimento universal, real apesar de confuso, da necessidade e mesmo da possibilidade duma conciliação permanente entre o espírito de conservação e o espírito de melhoramento, igualmente apropriados ao estado normal da Humanidade. A tendência correspondente dos homens de Estado a impedir hoje, tanto quanto possível, todo grande movimento político encontra-se aliás espontaneamente conforme realmente instituições provisórias, enquanto uma verdadeira filosofia geral não vincular suficientemente as inteligências. Desconhecida pelos poderes atuais, essa resistência instintiva colabora para facilitar a verdadeira solução, ajudando a transformar uma estéril agitação política numa ativa progressão filosófica, de maneira a seguir, enfim, a marcha prescrita pela natureza, adequada à reorganização final, que deve primeiro ocorrer nas idéias para passar em seguida aos costumes e, finalmente, às instituições. Tal transformação, que já tende a predominar em França, deverá naturalmente desenvolver-se cada vez mais em toda parte, tendo em vista a necessidade crescente, em que se encontram colocados hoje nossos governos ocidentais, de manter a grandes custos a ordem material no meio da desordem intelectual e moral, necessidade que pouco a pouco deve absorver essencialmente seus esforços cotidianos, conduzindo-os a renunciar implicitamente a toda presidência séria da reorganização espiritual, cedida assim à livre atividade dos filósofos que se mostrarem dignos de dirigi-la. " ( Página 68, discurso sobre o espírito positivo)
 A partir disso, a tentativa de igualar os seres humanos foi chamada " espírito positivo", em que, nas palavras de Comte " o homem propriamente dito não existe, existindo apenas a humanidade " ( página 77, Discurso sobre o espírito positivo ), usando, primeiramente, da economia e - após resultados fatais - a cultura como principal instrumento para tornar a teoria em realidade, .al movimento continua vorazmente em nossos tempos atuais, através de bandeiras das mais diversas, em nome de uma sociedade mais justa e livre, mas com fundamentos que não perpassam nem em justiça, muito menos na liberdade.
Em suma, apesar de a luta pela possível igualdade ser legítima - tal como quando falada perante a Lei, em que os fins devem ser justos para todos -, tentar tornar toda população mundial em um único padrão é caminhar a passos largos para uma escravidão gradativa. Ditar letras como um ideal a seguir, explicitadas, ainda mais, por pensadores tão humanos como nós, pode ser perigoso e levar um povo inteiro à destruição. É necessário, portanto, sempre caminharmos em direção ao progresso, com coesão e respeito, sem necessariamente o coletivismo obscuro esconder a unicidade de cada um.