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segunda-feira, 5 de maio de 2025

Marxismo e a Crise Habitacional nas Grandes Cidades

A crise habitacional nas grandes cidades brasileiras é uma das expressões mais visíveis da desigualdade social, e pode ser analisada de forma crítica a partir da concepção materialista da história desenvolvida por Karl Marx. Para o marxismo, a organização da sociedade é determinada pelas condições materiais de existência, ou seja, pela maneira como a produção e a distribuição de bens estão estruturadas. Nesse sentido, a moradia não é apenas uma necessidade humana, mas também uma mercadoria dentro da lógica capitalista. Aqueles que não detêm os meios de produção – neste caso, o capital e a propriedade da terra – são colocados em desvantagem estrutural, reproduzindo um ciclo de exclusão e marginalização.

Nos grandes centros urbanos, esse fenômeno se expressa na presença de milhões de pessoas vivendo em favelas, ocupações ou em situação de rua. Enquanto isso, há inúmeros imóveis vazios, ociosos, pertencentes a grandes proprietários que os mantêm fechados por interesses especulativos. Essa contradição evidencia o que Marx chamaria de conflito entre as classes: de um lado, a classe trabalhadora que luta por condições mínimas de dignidade; de outro, uma elite econômica que utiliza a cidade como fonte de lucro e acumulação.

A especulação imobiliária, impulsionada por agentes financeiros e construtoras, transforma a terra urbana em ativo financeiro, elevando os preços e expulsando os mais pobres para regiões distantes e mal assistidas pelo poder público. A falta de políticas habitacionais efetivas e inclusivas revela o papel do Estado como mantenedor da ordem capitalista, ao proteger os interesses da propriedade privada em detrimento do bem comum. A lógica da mercantilização do espaço urbano, ao invés de buscar garantir o direito à cidade para todos, reforça a segregação social e racial.

A teoria marxista permite compreender que essa situação não é fruto de uma má gestão pontual, mas de um sistema que se baseia na exploração de uma maioria para garantir os privilégios de uma minoria. Movimentos sociais como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) representam formas contemporâneas da luta de classes, ao reivindicar o uso social da propriedade e questionar a estrutura urbana excludente. Assim, aplicar o marxismo para analisar a crise habitacional é fundamental para desnaturalizar a desigualdade e propor soluções estruturais que priorizem o ser humano e não o lucro.



Maria Clara Rodrigues Dias - 1° Ano Direito - Matutino 

Marx conseguiu?

 Karl Marx foi um filósofo, economista, historiador, revolucionário, entre outras coisas, alemão do século XIX, e ganhou grande fama no mundo por seus pensamentos, que até os dias atuais são discutidos e debatidos, sendo apoiado por muitos, e alvo de diversas críticas ao longo dos anos, se tornando um símbolo na política e entre os pensadores.

Marx, entre outros temas e pensamentos, deu uma grande ênfase ao papel da prática, e da ação para a melhor e verdadeira compreensão e transformação da sociedade e do conhecimento, o filósofo destaca que o conhecimento não é apenas resultado da observação, mas nasce da atividade prática dos seres humanos em sociedade, e que é necessário transformar a realidade através da Praxis, que seria a ação prática revolucionária, sendo que a verdadeira compreensão da realidade exige a união entre a teoria e a prática, e não apenas a teoria, como havia sido pensada por filósofos anteriores. Marx também trouxe discussões acerca do trabalho, sendo defendido por ele que os trabalhadores são explorados e desumanizados pelo sistema capitalista, e que existe uma notória falta de Direitos trabalhistas.

Analisando a partir da realidade atual do Brasil, tendo como exemplos trabalhos terceirizados como os motoristas de aplicativos e entregadores de comida é possível perceber na atualidade algumas das críticas de Marx, em um cenário no qual esses trabalhadores são diferentemente explorados pela falta de direitos trabalhistas básicos como férias, proteção contra demissões injustas e longas jornadas por baixos salários e sem benefícios, entre outros inúmeros meios de exploração.

Portanto, ao analisar a realidade atual comparada com as críticas de Marx no século XIX é evidente que a transformação através da ação que ele pregava ainda não aconteceu, ou pelo menos não o suficiente visto que a exploração de trabalhadores ainda é notória e impregnada na sociedade, demonstrando a falta de mudanças comparado a época do filósofo, no que diz respeito a esse assunto, e que a utilização da Praxis ainda não foi realizada. 



Lucas Bessa Sanchez - Direito Noturno

O Ópio do Povo

Felipe Junco da Silva (Direito Noturno)

A crítica desenvolvida por Karl Marx em A Ideologia Alemã marca um ponto de inflexão na história do pensamento social, ao propor uma ruptura com a tradição idealista que subordinava a realidade material às formas abstratas do espírito. Ao recusar a centralidade das ideias enquanto motor da história — uma herança direta do hegelianismo — Marx inaugura uma nova racionalidade: a concepção materialista da história, em que o ser social determina a consciência, e não o contrário. Nesse horizonte teórico, a análise das relações econômicas e sociais concretas substitui a especulação metafísica como fundamento da explicação histórica.

Diferentemente de Ludwig Feuerbach, que rompeu com Hegel mas ainda preservava uma visão essencialista do humano, Marx propõe uma antropologia histórica, segundo a qual o ser humano é o conjunto das relações sociais. A consciência, nesse quadro, não é dada, mas produzida historicamente no interior de estruturas objetivas. O conceito de modo de produção — entendido como a articulação entre forças produtivas e relações de produção — torna-se chave para a compreensão dos processos históricos. Cada modo de produção engendra uma forma específica de sociabilidade, que se manifesta tanto na organização do trabalho quanto nas instituições jurídicas, políticas e ideológicas, configurando o que Marx denominou de infraestrutura e superestrutura.

Ao situar a gênese da consciência nas condições materiais de existência, Marx introduz a categoria de alienação como elemento central de sua crítica à sociedade burguesa. No capitalismo, o trabalhador se vê separado dos meios de produção e do produto de seu trabalho, tornando-se uma mera engrenagem no mecanismo da acumulação. Essa alienação não é apenas econômica, mas também política, social e existencial — uma condição em que o sujeito é expropriado de sua humanidade e de sua capacidade criadora. A alienação se converte, assim, em reificação, isto é, na transformação de relações sociais em coisas, em mercadorias dotadas de vida própria, como o fetichismo da mercadoria demonstra.

Ao integrar essas categorias em sua análise, Marx constrói uma teoria do devir histórico atravessada por contradições estruturais — especialmente a luta de classes, motor dinâmico da transformação social. Longe de uma descrição estática da sociedade, o materialismo histórico e dialético apreende o movimento contraditório dos modos de produção como expressão das disputas entre classes antagônicas: senhores e escravizados, senhores feudais e servos, burgueses e proletários. O conflito, nesse sentido, é imanente à estrutura social e não mero acidente externo.

Nesse contexto, a noção de práxis adquire centralidade teórica e política. Não se trata mais de interpretar o mundo, como propunham os filósofos clássicos, mas de transformá-lo por meio de ações coletivas conscientes. A práxis revolucionária é, para Marx, o momento em que o pensamento se realiza enquanto força material, na medida em que se articula com a luta concreta das classes subalternas por sua emancipação. Trata-se, portanto, da síntese entre teoria e prática, entre análise crítica da realidade e intervenção transformadora.

A atualidade do pensamento marxiano torna-se evidente quando examinamos movimentos sociais contemporâneos que encarnam essa práxis ativa. Um exemplo eloquente disso foi a greve dos roteiristas e atores de Hollywood, deflagrada em 2023, que paralisou a indústria audiovisual estadunidense por meses. As reivindicações por melhores salários, regulamentação do uso de inteligência artificial e garantias contratuais mínimas revelam a precarização do trabalho intelectual no capitalismo avançado. Embora geograficamente localizada, a greve reverberou globalmente, dado o caráter internacionalizado da indústria cultural, escancarando as contradições entre capital e trabalho até mesmo nos setores tradicionalmente associados ao prestígio simbólico e à liberdade criativa.

As reações patronais e midiáticas, que procuraram reduzir o movimento a um capricho de celebridades ou a uma ameaça ao “livre mercado”, ilustram perfeitamente o mecanismo ideológico que visa neutralizar a práxis. Tais discursos buscam restaurar a ilusão de individualidade autônoma e despolitizada, negando o caráter coletivo e estrutural das reivindicações. Nesse sentido, a greve não é apenas um instrumento de pressão econômica, mas a própria materialização do saber crítico enquanto força social: é a teoria transformada em ação que confronta diretamente os mecanismos de exploração e alienação.

Outro campo em que a crítica marxiana demonstra sua pertinência é a análise da religião, especialmente no contexto do avanço das igrejas neopentecostais no Brasil. Longe de ser uma instância neutra de espiritualidade, a religião assume, na perspectiva marxista, um duplo papel: expressão do sofrimento real e mecanismo de sua perpetuação. A célebre fórmula “a religião é o ópio do povo” não desqualifica a fé em si, mas denuncia sua instrumentalização enquanto mecanismo de alienação. Em tempos de crise estrutural do capital, essas instituições religiosas oferecem consolo e esperança num além-mundo, desviando o olhar da população das causas materiais de sua opressão.

A ascensão política de segmentos religiosos e sua interferência direta nos aparatos do Estado revelam a funcionalidade ideológica da religião enquanto mecanismo de conservação da ordem. Prometendo redenção pós-morte e criminalizando formas de resistência terrenas, tais grupos atuam como sustentáculos da dominação burguesa, bloqueando a formação de uma consciência de classe insurgente. A promessa de salvação futura torna-se, assim, uma justificativa para a resignação presente, neutralizando a práxis e esvaziando o potencial revolucionário das massas.

Conclui-se, portanto, que a crítica marxiana permanece um instrumento fecundo para a leitura e a transformação da realidade. Sua centralidade na explicação das formas sociais modernas e na denúncia dos mecanismos ideológicos de dominação reafirma a atualidade de uma filosofia que se recusa a separar pensamento e ação. Diante da intensificação das desigualdades e da radicalização das formas de controle simbólico, a alternativa que se impõe não é a fuga para os domínios da abstração, mas o mergulho consciente e coletivo na práxis transformadora, única via possível para a emancipação humana concreta.

O Ato Coletivo de Resistir e Transformar



Pedro Duarte Silva Sinicio Abib — Direito Noturno


Marx em “A Ideologia Alemã” trata sobre a juventude hegeliana e traz inúmeras críticas, principalmente pelo fato de se limitarem a tratar apenas de representações religiosas e ideológicas, sem questionar de fato, as condições materiais que as produzem. Posteriormente, o autor se direciona mais especificamente a Ludwig Feuerbach, no qual vê alguns avanços, mas ainda identifica um materialismo “rudimentar”, que ainda enxerga o homem enquanto indivíduo isolado e não romperia com a ideologia (conceito de que as ideias determinam o mundo e não o contrário), além de divergências na análise de religião que serão trazidas mais para a frente no texto. Em suma, a crítica marxiana é de que Feuerbach ignora as condições materiais históricas e econômicas que moldam o ser humano e sua consciência, e que o definem enquanto este participante do tecido social.

Marx a partir de suas análises traz algumas proposições e conceitos, um importante deles, a Práxis, que se trataria de uma ação revolucionária e transformadora, que romperia com a filosofia contemplativa (hegeliana) e iniciaria uma filosofia atuante, capaz de mudar ativamente o curso da história a partir de um ato coletivo, através do entendimento do ser humano enquanto um ser social, uma parte de um todo, e dando a esse todo a capacidade de conscientização, mobilização e revolução. Já a análise da estrutura social é feita pela metodologia própria da filosofia marxiana, o Materialismo Histórico e Dialético, que consiste na explicação do desenvolvimento da história com base nas condições materiais da vida e formas de produção econômica, além da análise do resultado das contradições sociais, que neste caso se entende pelas lutas de classes que permearam a história em permanente conflito. A partir de tais conceitos, Marx dá suma importância e protagonismo para a existência material do ser humano, que seria a Estrutura que permearia todas as demais relações em nosso sistema social (Superestrutura). Sendo assim, Marx enxerga a história como etapas marcadas pelos modos de produção e acredita na observação do real em prol da proposição de transformações qualitativas superiores, que alterem a realidade social.

Estabelecido os conceitos, é interessante a análise de dois fenômenos a partir das perspectivas marxianas em contraste com as hegelianas, a primeira, sobre as greves. Recentemente temos visto inúmeros debates acerca dos movimentos de paralisações em massa, com o recente “breque dos apps” que reuniu entregadores de aplicativo em todo o país em prol de melhorias para sua precarizada categoria, e as greves comandadas pelo sindicatos de professores em São Paulo, exigindo aumentos reais em seus salários e condições. É interessante observar a articulação da oposição contra a essas medidas, que tenta justamente escantear a Práxis, valorizando e retificando a todo momento a individualidade, destacando por exemplo, o “privilégio” da “autonomia” dos entregadores de aplicativo, que estariam pedindo em suas greves para serem “menos livres”, assim como os professores, que não deveriam se juntar em sindicatos e que nas palavras de dois vereadores da Câmara de Vereadores de São Paulo, Amanda Vettorazzo e Lucas Pavanato, estariam “emporcalhando a cidade” e fazendo “Vagabundagem”, que aqui seria o ato da greve. Acontece que a greve, nada mais é que a Práxis em sua mais pura forma, nada mais é do que o pensamento e a filosofia atuante, é o entendimento do mundo e das condições materiais da classe trabalhadora oprimida, seja qual for o seu setor, e a partir deste entendimento e tomada de consciência, a ação transformadora. O ato de greve e a sindicalização é um ato coletivo, visando transformações qualitativas práticas, almejando a transformação da realidade social e melhores condições de vida, é um ato de solidariedade, transformação e de revolução.

            E por fim, é interessante a análise da religião na contemporaneidade e suas transformações para abarcar um mundo em crise. Recentemente, no mundo e principalmente no Brasil tem se visto um enorme avanço das igrejas evangélicas neopentecostais sobre a sociedade, exemplo claro disso é o aumento expressivo da bancada evangélica no legislativo, afetando a própria laicidade do Estado Brasileiro. Percebe-se que o pensamento de tal casta é bastante hegeliano, apegado ao mundo das ideias, a abstrações sobre certo e errado e a promessas vagas sobre um mundo superior e posterior, com pouco agregar na prática. A análise marxiana cabe mais uma vez em debates atuais com precisão. O autor, que classifica a religião no mundo contemporâneo como o “ópio do povo”, traz um interessante ponto de vista sobre os problemas sociais atualmente enfrentados. Em um mundo marcado constantemente por crises econômicas globais, aumento expressivo das desigualdades e em face de uma possível extinção a partir das mudanças climáticas, a instrumentalização da religião por esses grupos nada mais é do que uma tentativa reacionária de alienação para a manutenção de seus dispositivos de dominação. A promessa de um futuro divino no pos mortem e a demonização da oposição perante os conceitos divinos, impede que a massa trabalhadora enxergue as ferramentas de dominação e os reais caminhos para a mudança no campo terreno, em nossa vida material e suas relações. O avanço dos preceitos religiosos e dos “autoritarismos em nome de Deus” nada mais são do que tentativas burguesas de manter um controle em um mundo desmoronando e impedir a revolta das massas. Se quisermos reais mudanças na prática, teremos que deixar de nos contentar com o que vem depois, e agir ativamente no agora.

Ideologia e controle social: uma análise marxista dos meios de comunicação

 Na obra “Ideologia Alemã”, Marx e Engels introduziram o conceito de ideologia como um conjunto de ideias, crenças e valores que geram uma falsa consciência para manter a dominação de uma classe sobre outra. Tal conceito é facilmente aplicável atualmente, ao analisar os meios de comunicação em massa, como a televisão e as redes sociais. Esses meios contribuem para a reprodução dos ideais das classes dominantes, o que dificulta o desenvolvimento de uma consciência crítica por parte das classes subordinadas.

Portanto, ao apresentar a ideologia da classe dominante como algo universal, a ideologia se torna um instrumento de controle, que normaliza as relações de exploração e contribui para a manutenção do status quo. Nos últimos séculos os meios de comunicação em massa têm sido os mais eficazes para a concretização desse controle, ao definir os ideais comuns e aceitáveis para moldar a opinião pública. A disseminação desses ideais está explícita no dia a dia da população, notável em discursos políticos, porém ela também se dá disfarçadamente em grande parte do conteúdo consumido diariamente, como propagandas, programas de TV e até mesmo em desenhos infantis.

Louis Althusser, filósofo marxista, aprofundou as ideias de Marx ao analisar os meios de comunicação como aparelhos ideológicos do Estado. Esses aparelhos alienam os indivíduos de sua realidade concreta ao apresentar uma visão ideológica do mundo. Um exemplo disso seria a meritocracia, que desvia a culpa da desigualdade e do sistema econômico para a população, culpando o indivíduo por sua situação financeira ou status social.

Desse modo, a dominação capitalista se mantém através dos instrumentos de controle ideológico das massas, e os meios de comunicação tem o papel principal nessa função. Em um mundo globalizado, onde as informações circulam mais rapidamente a cada dia, é essencial ter uma consciência crítica e combater a alienação presente nos discursos da mídia para sair dessa “bolha ideológica” e compreender a verdade do sistema atual.


Yuri Chagas Gomes Maranha - Noturno

Prédio de classes

 O dia começou. Agora são 7:00 da manhã de uma segunda-feira. Já é tarde. Me levanto do meu colchão improvisado, nesse quarto improvisado. Passo pelos corredores tentando não pisar em cima dos outros moradores. Dou um bom dia para dona Luzia, que me responde com um sorriso.

- Bom dia filho, já tem entregas para fazer? – Dizia enquanto levava uma xícara a boca.

- Ainda não vovó, agora vou na obra.

Me despeço daquela senhora, que todos nós chamávamos de avó, apesar de nenhum de nós sermos netos de verdade, e sigo para o elevador do prédio. Sempre me surpreendi com a enorme quantidade de botões. Morávamos na parte do subsolo, eu vovó e mais algumas 8 pessoas, no mesmo pequeno e precário espaço. No andar -2

O elevador se mexe, devagar e com dificuldade para funcionar, e a porta se abre no -1, e vejo Marcela entrando apressadamente.

- Júlio! Bom dia!

- Marcela, você não está...

- Atrasada? Sim! Muito!

Marcela era uma jovem muito pontual. Me surpreendo que tenha atrasado. Não éramos muito próximos, nossos horários só permitiam que nos víssemos na volta do serviço tarde da noite, ou quando eu precisava entregar alguma comida no apartamento em que ela trabalhava de doméstica para uma família, lá próximo ao andar 20. É o máximo que pessoas como nós poderiam subir. Mesmo que como trabalhadores.

- Espero que a Dona Elisa não me demita!

Permaneço em silêncio. Adoraria dizer, “não, imagina ela vai entender, você não atrasou nenhum dia em 5 anos!”. Mas não podia. É verdade que ela nunca atrasou, mas as pessoas lá em cima não costumam ser muito compreensivas, e se você tiver um tom de pele próximo ao meu e ao da Marcela, a situação fica pior.

- Vou descer aqui, boa sorte Marcela.

Saio do elevador no térreo, e aceno, tendo como resposta da garota apenas um olhar preocupado, enquanto prendia seus cabelos crespos em um coque.

 

Não há tempo para sentir pena, já são 7:35. Fui até a obra onde fazia um bico de pedreiro, mas me foi dito que não precisavam mais de mim. Isso não é muito incomum no mundo que eu vivo. Decido então começar mais cedo meu outro serviço, apesar de não conseguir muito, é minha única opção agora. Abro o aplicativo de entregas.

 

O elevador do prédio em que eu moro funciona de um jeito engraçado. Ele quebra as vezes. Estranhamente, quando eu fazia uma entrega no 12º, precisava de um copo de água, e sabia que havia bebedor nos corredores do andar 15º, então ia até lá quando de repente, o elevador não funcionou. Muito curioso como ele descia perfeitamente, mas falhava em subir, como se não me quisesse lá. Mais curioso ainda como no mesmo dia, uma entrega de "parmegiana", seja lá o que isso seja, foi pedida no 16º. Naquele momento o elevador funcionou perfeitamente.

 ...

Hoje é um dia meio atípico. Não costumo estar no prédio nessas horas. Enquanto caminhava para o elevador, para realizar minhas entregas, vejo um senhor bem-vestido saindo.

- Bom dia senhor.

Não obtenho resposta, ele na verdade, mal olhou para mim.

 Vou subindo até o andar da entrega. 21º. 21º??? Muito incomum.

Juntamente comigo no térreo, sobem uma diarista, um zelador e uma professora aposentada. No caminho, o elevador para algumas vezes. Para no 3º, onde entra uma professora de Ensino fundamental. Para no 5º onde entra um pequeno proprietário de uma loja de celulares. Para no 15º, onde um senhor espera ao lado de fora do elevador. Ele está bem-vestido, como o homem que cumprimentei mais cedo. Ele olha para nós, faz uma careta, e deixa as portas se fecharem. Claro, ele não entrou. eles tem um elevador próprio, mas talvez tenha chamado esse por estar com pressa? Seja lá o que tenha feito com que ele optasse por esse, desistiu da ideia.

 ...

Curioso como quanto mais alto subimos, mais distante ficamos das pessoas das condições reais de trabalho que sustentam esse prédio. Se esse elevador um dia se quebrasse, fazendo com que todos precisássemos usar aquelas escadas desagradáveis e escuras, o que aconteceria? As encomendas não iriam chegar, a água pararia de subir, o lixo não iria mais descer. E esses senhores engomadinhos que têm nojo de compartilhar um elevador conosco, seriam obrigados a descer pelas mesmas escadas. Nesse momento, eles teriam repulsa de ver as crianças do subsolo sem escolas? Os idosos esquecidos? As paredes cheias de mofo, quase caindo?

Talvez seria bom se esse elevador quebrasse. E se nós quebrássemos ele?


Evelly Alonso Lopes - Noturno

Feminismo e Marx

     O feminismo é considerado por muitos um dos maiores movimentos sociais da atualidade. Sua primeira onda ocorreu no século XIX e com o passar do tempo mais e mais pessoas aderiram às propostas colocadas. Dessa forma, muitos direitos foram conquistados e a mulher passou a ocupar outro lugar na sociedade. Entretanto, apesar de todo o avanço, há uma grande falha dentro desse grupo que é desconsiderar a enorme diversidade de mulheres e portanto de realidades e de lutas. Não só isso, mas também, junto com esse menosprezo, vem também uma preferência a certos grupos, no caso o das mulheres brancas europeias de classe alta. Assim, seria necessária uma análise que veja o mundo da forma mais real possível, a fim de transformá-lo com maior eficácia. Aqui entra o Materialismo Histórico Dialético.

       Primeiramente vale elucidar como a supressão de certos grupos foi e é presente no movimento feminista. Em seu início, por exemplo, buscava-se o direito ao trabalho e a ter propriedades com o próprio nome, não com o do marido. Porém, as mulheres negras já trabalhavam, inclusive excessivamente, além de não almejavam tanto ter a assinatura de uma propriedade sendo que nem seus maridos as possuíam. Estas preferiam, do contrário, ter direito a não trabalhar para conseguirem cuidar de seus filhos. Este é apenas um exemplo que ilustra essa exclusão de uma camada das mulheres, que não viam representadas no grupo, fazendo também com que este se enfraquecesse.

       Apesar disso, o Materialismo Histórico Dialético poderia ajudar a resolver este problema. Trata-se de uma forma de análise do mundo proposta por Marx e que leva em consideração os aspectos materiais da sociedade ao longo da história, e a mudança destes com o passar do tempo e das interações e acontecimentos sociais. Ao aplicar tal teoria ao feminismo, fatores como a realidade material das mulheres de cada contexto, além da história de cada etnia seriam consideradas. No caso das mulheres negras, por exemplo, notaria-se seu passado escraviza, a abolição e como esta se deu, além de onde elas viviam, seu dia a dia, seus trabalhos etc, além da suas relação com as próprias mulheres brancas.

      Tal análise permite que a realidade seja vista de forma concreta e que o movimento se fortaleça a fim de conquistar cada vez mais direitos


Eloisa Prieto Furriel primeiro ano matutino

Marx e a sociologia

O marxismo, na sociologia, entende a história humana como resultado das condições materiais de existência — ou seja, da forma como os seres humanos produzem sua vida. Para Marx, não são as ideias que moldam o mundo, mas as relações econômicas e sociais que determinam as ideias, a cultura e as instituições. Essa concepção materialista da história analisa as sociedades a partir da luta de classes, mostrando como as estruturas econômicas (como o modo de produção capitalista) influenciam diretamente a organização social, os conflitos e as transformações históricas.

Segundo essa visão, a sociedade está sempre em movimento por meio de contradições entre classes sociais — especialmente entre aqueles que detêm os meios de produção (burguesia) e os que vendem sua força de trabalho (proletariado). A história, portanto, não é neutra nem linear, mas marcada por disputas de poder, exploração e resistência. As mudanças sociais surgem quando essas contradições se tornam insustentáveis e geram rupturas no sistema.

Além disso, o marxismo propõe que a consciência das pessoas é moldada por sua posição na estrutura econômica. Isso significa que ideologias dominantes — como valores de sucesso individual ou meritocracia — servem para manter as desigualdades e mascarar a realidade da exploração. Ao desvelar essas ideologias, o marxismo busca compreender a sociedade para transformá-la, orientando a prática política em direção à superação das injustiças estruturais.


Anna Lívia Izidoro Ferreira, 1° Direito Matutino


A concepção materialista da história de Marx e o avanço das desigualdades na América Latina contemporânea

     A teoria marxista parte do princípio de que a realidade social é fruto das condições materiais e das relações de produção que moldam a vida humana. Marx e Engels propõem uma ruptura com a filosofia idealista ao colocarem o “ser social” como base para a compreensão da história. Não ideias, mas as condições concretas que moldam as ideias, o chamado materialismo histórico. Essa abordagem torna-se relevante observando o contexto da América Latina, onde as crises econômicas, as discussões sobre políticas sociais e a precarização do trabalho reacenderam mobilizações populares e debates sobre justiça social.

    O caso do Brasil é emblemático. Em anos recentes, pode observar-se um crescimento nos protestos contra medidas que afetaram diretamente os trabalhadores, como a ampliação da terceirização, o congelamento de investimentos em saúde e educação e as propostas de reforma administrativa. Tais medidas foram justificadas sob a ótica de uma racionalização estatal, ecoando a noção hegeliana de Estado como forma superior de organização. Na prática, representaram a manutenção de interesses da elite econômica em detrimento das necessidades da classe trabalhadora.

    À luz da teoria marxista, pode-se entender a atual situação sociopolítica brasileira como uma expressão da alienação gerada pelo Estado burguês, que Marx identifica como representante dos interesses da classe dominante, e não como um agente neutro ou universal. Opondo-se ao idealismo hegeliano, onde o Estado é visto como uma espécie de racionalidade encarnada, Marx destaca que a verdadeira dinâmica histórica ocorre na sociedade civil, nas contradições entre capital e trabalho.

    A intensificação do trabalho informal, o desemprego estrutural e o crescimento das periferias urbanas servem como exemplo de condições materiais de existência, que moldam as representações ideológicas. Outras fontes ideológicas importantes são encontradas em representações religiosas, midiáticas ou até mesmo jurídicas, que podem justificar a desigualdade, naturalizar a pobreza, ou promover discursos ideológicos como meritocracia ou empreendedorismo individual, encobrindo a miséria real, servindo como “ópio do povo”.

    Nesse sentido, as recentes mobilizações populares exigindo moradia digna, salários justos, acesso à educação ou outros direitos fundamentais de todo cidadão, podem ser vistas como expressões da luta de classes, evidenciando que a história verdadeiramente é um processo de transformação impulsionado por contradições internas às relações sociais.

    Desse modo, o pensamento marxista continua sendo uma relevante ferramenta, servindo tanto para análise das causas estruturais da desigualdade e como maneira de idealizar alternativas que tenham como base as condições concretas da vida dos indivíduos, ao invés de meras abstrações. Em tempos de intensificação das crises sociais e ambientais, a concepção materialista da história é chave para repensar os caminhos da justiça social.

Isabel Carvalho Choairy - 1° ano direito noturno

Tudo Uma Falsa Premissa

 

Um cenário em permanente movimento,

Mas com um arcaico fundamento.

Marx já alertava que as forças produtivas

Geram expectativas, mas, no fim, são repressivas.

 

A livre iniciativa não é sinônimo de sucesso,

Pois a realidade é a maioria com pouco acesso.

O mundo real não é uma sociedade igualitária,

É, na verdade, a elite explorando a classe operária.

 

A classe operária que vive com pouco,

Presa em um sistema desumano.

O lucro, no fim, vem do povo,

Mas apagam a história e valorizam um tirano.

 

Esqueçam as ideias e esqueçam as crenças,

O que move a história humana é a questão da sobrevivência.

É trabalhar para conquistar a moradia, a comida e a grana,

Mas sabemos que no fim é o empresário quem mais ganha.

 

Dizem que só falta a força de vontade,

Porém, eles não querem ver.

Se importam com uma moral vazia,

Uma tal de “Deus, Pátria e Família”.

 

Não compreendem a realidade social,

Vivem por meio de um discurso superficial.

Dizem que lutam pelos trabalhadores e pela justiça,

Mas é, infelizmente, tudo uma falsa premissa.

O sonho determinado pela classe.

Para Karl Marx e Friedrich Engels a forma como as pessoas pensam e agem é determinada pelas condições materiais em que vivem; não é a consciência que define a vida, mas a vida social concreta que molda a consciência. Quando essa teoria é aplicada ao filme Sonhos Roubados, é perceptível que a ficção brasileira se aproxima assustadoramente da realidade do país. As experiências retratadas no longa são reflexos da vida de milhões de jovens brasileiras nas periferias urbanas. 

No filme, três adolescentes lutam para sobreviver em um ambiente onde a pobreza e a violência são parte do cotidiano. A prostituição, os pequenos crimes e os relacionamentos abusivos aparecem como respostas inevitáveis a uma estrutura social que as empurra para essas condições. Elas vivem em uma realidade onde as promessas de futuro são sistematicamente negadas. Suas histórias ilustram a tese marxista de que a infraestrutura econômica de uma sociedade molda não só o comportamento, mas também os desejos, os sonhos e até a moralidade das pessoas, os indivíduos não escolhem livremente suas trajetórias em um “campo neutro”, pois suas escolhas são condicionadas pelas estruturas materiais em que estão inseridos. As jovens não sonham pequeno por falta de ambição, mas porque suas possibilidades são moldadas por uma estrutura que já nasceu negando seus direitos mais básicos: acesso à educação de qualidade, segurança, dignidade e oportunidades reais de trabalho. 

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, onde o lugar em que uma criança nasce determina suas chances e opções de futuro. Enquanto isso, discursos ideológicos — como o da meritocracia ou da criminalização da pobreza — tentam ocultar as verdadeiras raízes da desigualdade, elas atribuem o fracasso à responsabilidade individual, desconsiderando os condicionantes estruturais que limitam radicalmente as escolhas dos menos privilegiados economicamente. Essa lógica é justamente o que Marx e Engels criticam, ao afirmarem que a ideologia dominante serve para legitimar e perpetuar as relações de dominação, mantendo a classe trabalhadora em posição subalterna e naturalizando um sistema que beneficia poucos à custa da marginalização de muitos.  

Assim como as personagens do filme, milhões de jovens brasileiras vivem hoje em situação de vulnerabilidade, tendo seus “sonhos roubados” pela ausência de direitos básicos e pela negação sistemática de oportunidades. A ficção, portanto, denuncia e obriga a reconhecer que a transformação social depende de mudanças concretas nas condições materiais de vida da população mais pobre. Portanto, a desigualdade, a exploração e a exclusão seguem sendo estruturais, e qualquer tentativa de mudança verdadeira precisa partir do reconhecimento de que é o sistema — e não o indivíduo isolado — que deve ser responsabilizado e transformado.


Laís Alves de Queiroz- 1 Direito/ noturno

Alienação do proletário

 O proletário trabalhava o dia todo

Ficou doente mas não podia parar

Pois descanso não existia nesse sistema incômodo

E sua família precisava sustentar

 

O burguês estava no escritório

Contando o dinheiro que estava a ganhar

Com um sorriso satisfatório

Pensando na sexta casa que iria comprar

 

O trabalhador foi pedir ao patrão

Se poderia receber mais dinheiro para se tratar

Ele respondeu em tom durão

Que se quisesse mais dinheiro, deveria trabalhar

 

O homem saiu cabisbaixo do lugar

Porém encontrou outros colegas na mesma situação

Nunca haviam conversado com eles ao trabalhar

Pois a consciência de classe era algo evitado para a alienação

 

Descobriu que ganhavam pouco e viviam na pobreza

Que produziam para os outros e de nada faziam uso

Assim as coisas começavam a ter mais clareza

E uma revolução de classes entrou em curso


Ana Clara Lima Abdala Prata - 1º ano Direito noturno

Currículo com GPS: A Rota da Alienação no Capitalismo Digital

 Ele acorda às seis da manhã. Não porque é o início da jornada, mas porque a jornada nunca terminou. O aplicativo vibra como despertador e patrão ao mesmo tempo. Não há ponto a bater, nem uniforme, nem chefe de carne e osso — só metas invisíveis e avaliações de cinco estrelas que decidem se ele terá o que comer na semana.

Chama-se trabalho, mas o nome já está velho. Agora é “ser parceiro”, “empreender”, “ser dono de si mesmo”. Ele sorri com ironia toda vez que escuta isso. Ser dono de si mesmo implicaria poder descansar, adoecer ou, quem sabe, recusar uma corrida sem medo de punição algorítmica. Mas ele sabe: no capitalismo 4.0, quem comanda não grita — silencia com notificações.

Karl Marx escreveu que o trabalhador se torna uma coisa, um apêndice da máquina. Hoje, ele é o apêndice de um aplicativo: rastreável, ranqueável, descartável. Alienação? É pouco. Ele nem vê mais quem está por trás dos pedidos. O cliente é uma voz no interfone, uma notificação que diz “suba até o 12º andar”, uma mensagem que reclama: “faltou ketchup”.

Marx também falou do fetichismo da mercadoria — essa ilusão de que objetos têm valor por si só, escondendo o sangue e o suor que os produziram. Hoje, o sanduíche chega quente, a entrega é rápida, o carro é limpo. Mas o sorriso que entrega tudo isso está cada vez mais forçado. Porque o cliente não vê o esforço, o trânsito, o medo da violência ou o preço da gasolina. Vê apenas um serviço — sem imaginar a vida que pulsa (e se esgota) por trás da tela.

O Estado assiste, de longe. Diz que não pode interferir, que é inovação. E a CLT? Está guardada numa gaveta, ao lado de outras relíquias do século XX. Saúde mental, direitos trabalhistas, jornada limitada — tudo isso virou romantismo trabalhista, nostalgia sindical.

Ele pedala, dirige, entrega. E pensa: se Marx estivesse aqui, não precisaria visitar uma fábrica. Bastaria passar uma tarde em qualquer semáforo de cidade grande, e veria que o capitalismo não só sobreviveu — como se disfarçou de liberdade. No fim do dia, ele desliga o celular. Por escolha? Não. A bateria acabou. Talvez o corpo também.

Laura Gomes Valente - 1º ano de Direito Matutino 

O “Germinal”, de Émile Zola, sob a óptica do materialismo histórico-dialético

 

  Trabalho desumano, jornadas exaustivas, salários irrisórios, fome infindável, frio avassalador, vida paupérrima. Esse é o cenário descrito na obra “Germinal”, do escritor Zola. Os mineiros que trabalhavam na mina de Montsou, na França, estavam inseridos nesse ciclo interminável há gerações. A herança dos pobres era transferir a condição de miserável aos sucessores da família. As futuras gerações, antes mesmo de nascerem, já estavam fadadas a seguirem uma vida precária e laboriosa. Do tataravô ao bisneto, o destino oprobrioso já estava traçado. Enquanto os homens se matavam nas minas, entregando seus corpos e suas almas, em troca do serviço exigido, e as mulheres ficavam reclusas aos lares e aos filhos, os patrões da mina esbanjavam luxo de sobra e uma vida de ostentação. Banquetes? Casas que mais pareciam palacetes? Sentimento de superioridade perante os serviçais da vila? Claro que sim, tudo isso se fazia presente para sustentar a opulência e a ganância da burguesia que perpetuava a exploração da camada que de poderosa nada tinha, porque não era a classe social hegemônica. O desenrolar da história somente se altera, quando Étienne chega a Montsou e, ao se dar conta da situação na qual as famílias viviam, revolta-se, movimentando a classe operária, em prol dos direitos trabalhistas.

  Estabelecendo um paralelo entre o enredo do livro – o qual, se bem analisado, não está tão distante da realidade de muitos trabalhadores na atualidade (basta notar o despertar para a luta contra a escala 6x1) - e o materialismo histórico-dialético, de Marx e Engels, é possível comprovar como condições materiais da existência se manifestam nas relações de produção e como as mudanças sociais são impulsionadas por conflitos de classe derivados das estruturas econômicas. Segundo os pensadores, a economia – infraestrutura – determinaria a cultura, a política e o direito – superestrutura -. Nesse sentido, classes dominantes, como a de “Germinal”, seriam responsáveis por moldar pensamentos e formas de compreensão preponderantes, que determinariam a vida social e política e limitariam outros grupos de ascenderem. Na produção literária tratada, a família Grégoire, dona dos meios de produção, explorava, brutal e atrozmente, os trabalhadores da mina, apenas para se afirmar no poder. Qualquer mudança que clamasse por melhorias, como o aumento salarial, era sinônimo de ameaça a sua autoridade.

  Por fim, ressalta-se a infeliz semelhança entre a contemporaneidade e o século XIX. Um número considerável de trabalhadores brasileiros ainda precisa lutar por direitos mínimos, negados pelos patrões e pelos que se mantêm pelo serviço de terceiros. O movimento contra a escala 6x1, embora ainda não tenha tido uma resolução, já é uma vitória e necessita ser enaltecido, porque despertou aqueles que, assim como os mineiros, há gerações eram desumanizados. A luta germina, pois, a mudança.

 

Isadora Cardoso Peres - Noturno

 

A Sociologia Materialista e os Ecos do Controle Social

 A concepção materialista da história, desenvolvida por Karl Marx, denota que as transformações sociais decorrem das relações de produção e da luta de classes. Para o filósofo alemão, o modo como a sociedade organiza a economia determina suas instituições, ideologias e relações sociais. Nesse ínterim, a compreensão sociológica marxista não apenas interpreta a realidade, mas denuncia as estruturas que perpetuam desigualdades e formas de dominação. Ao refletir sobre essa abordagem à luz de contextos literários e da sociedade contemporânea, percebe-se que o controle ideológico e a exploração econômica continuam a moldar as experiências humanas.

 A obra literária 1984, de George Orwell, projeta um futuro distópico em que o Estado totalitário exerce domínio absoluto sobre a vida dos indivíduos por meio da vigilância, da repressão e da manipulação da informação. Essa realidade fictícia guarda semelhanças com o conceito marxista de ideologia como instrumento da classe dominante para manter seu poder. Ao manipular a verdade e reprimir o pensamento crítico, o regime de Orwell simboliza a alienação social imposta pelo controle dos meios de comunicação e pela naturalização da desigualdade. Assim, a obra evidencia como a superestrutura — as instituições políticas e culturais — reflete e reforça os interesses das elites econômicas.

 De modo complementar e, em paráfrase, A Revolução dos Bichos, também de Orwell, retrata a ascensão de uma classe dominante dentro de uma revolução inicialmente igualitária. O desenrolar da narrativa mostra como a elite — associada aos porcos — se apropria dos meios de produção e estabelece uma nova forma de opressão sobre os demais animais. Essa alegoria ilustra o processo de substituição de uma classe opressora por outra, mantendo-se, no entanto, as estruturas de exploração. A crítica marxista se torna evidente: sem a ruptura efetiva com os sistemas de dominação econômica, as revoluções acabam por reproduzir as desigualdades anteriores, travestidas de novos discursos ideológicos.

 Dessa forma, a análise da realidade a partir da concepção materialista da história permite compreender como as estruturas econômicas moldam as dinâmicas sociais, políticas e culturais. Tanto nas obras literárias quanto no cotidiano, nota-se que a desigualdade social, o controle ideológico e a alienação são fenômenos que emergem de relações materiais historicamente construídas. A leitura marxista, nesse contexto, segue sendo uma ferramenta valiosa para desvelar as contradições do sistema capitalista e entender os mecanismos que sustentam a dominação de classes.


Luiz Felipe Hernandes Paschoim - 1° ano, Direito (matutino).

Pornografia de superação: Uma leitura Marxista das narrativas meritocráticas

  As narrativas de superação amplamente disseminadas nas redes sociais exaltando indivíduos oriundos de contextos de pobreza extrema que, por meio do esforço pessoal, conquistam ascensão educacional e reconhecimento público, embora emocionantes revelam, sob uma perspectiva marxista, funções ideológicas específicas. Em vez de representar meramente casos isolados de êxito, essas histórias operam como instrumentos simbólicos de legitimação das estruturas de dominação de classe próprias do capitalismo contemporâneo. Ao individualizarem o sucesso e deslocarem a atenção das contradições sistêmicas para a responsabilidade pessoal, tais narrativas contribuem para a naturalização da desigualdade social e para a reprodução das condições materiais que sustentam a exploração.

Karl Marx afirma que as ideias dominantes de uma época são as ideias da classe dominante. A narrativa da superação é uma dessas ideias: promove a ilusão de que o sucesso depende apenas do esforço individual, ocultando as estruturas materiais que impedem a ascensão da maioria. Trata-se de uma forma de falsa consciência assim, o trabalhador se identifica com valores que, na prática, o mantêm explorado.

O fetichismo da mercadoria, conceito central em O Capital, ajuda a entender esse fenômeno: tal como as mercadorias escondem as relações sociais de exploração por trás do brilho do produto, essas histórias ocultam a violência da desigualdade sob o verniz do mérito. Não há crítica ao sistema, apenas exaltação da exceção.

Ao viralizar essas narrativas, o capitalismo realiza uma operação pervertida de transformar o sofrimento em espetáculo e o sucesso em justificativa da exclusão. O problema não é o exemplo individual, mas o uso sistemático dessas histórias para reforçar a lógica neoliberal de competição, auto empreendedorismo e culpa pelo fracasso.

A superação, nesse modelo, não é emancipação — é anestesia política. A crítica marxista devolve à sociedade a consciência de que o sucesso de um não invalida a opressão de todos. Pelo contrário: reforça sua naturalização.

- Elisama S. Braga, Direito matutino.

Educação superior no Brasil sob uma perspectiva marxista.

Em 2021, Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro, defendeu em um programa de televisão que a universidade fosse "para poucos" e que, na realidade, o Brasil deveria apostar nas formações técnicas. Essa declaração revela muito bem a condição que certos grupos, como o do ex-ministro, querem manter o acesso ao ensino superior no país: restrito a brancos e ricos, enquanto, por outro lado, negros e pobres devem se contentar com o ensino técnico — que no Brasil, infelizmente, apresenta-se desvalorizado. E tal visão está longe de ser isolada a uma minoria ideológica. Na perspectiva marxista, ela reflete os interesses das classes dominantes que se esforçam para preservar a divisão existente na sociedade entre aqueles que detêm o capital e os que apenas podem vender sua força de trabalho. 

Sob a lógica do materialismo histórico dialético, uma das mais importantes teorias do filósofo alemão, Marx defende que a sociedade está estruturada a partir de relações de produção que formam a base econômica — o que ele chama de "Estrutura". E, a partir dela, surgem instituições como o Direito, a religião, a cultura e a educação que, juntos, formam a chamada "Superestrutura", cuja funcionalidade está associada à manutenção da ordem vigente desejada pelas classes dominantes. Nesse sentido, a dificuldade no acesso à educação superior no Brasil não é mera coincidência, na realidade, é extremamente funcional à lógica capitalista: quanto mais os mecanismos de conhecimento, como as universidades, permanecerem limitados às elites, mais as classes proletárias mantêm-se alheias aos modos de transformação de sua condição. Um exemplo de modo que veio para desafiar essa dinâmica educacional exclusiva é a adoção das cotas sociorraciais nas universidades, pois esse instrumento é uma maneira da sociedade reparar práticas colonialistas e racistas datadas da época escravocrata que, muitas vezes, ainda reverberam-se até o atual momento. 

Além disso, outro conceito que também está presente no contexto educacional brasileiro e mundial é a luta de classes. Para Marx, a luta entre as classes representa o "motor da história", isso porque, em qualquer tempo, simboliza o confronto constante entre grupos sociais opostos, principalmente entre a burguesia e o proletariado. Na obra "Educação e luta de classes", de Aníbal Ponce, é referida uma fala de um fabricante de vidros inglês que diz: "A meu ver, a maior parte da educação de que tem desfrutado uma parte da classe trabalhadora durante os últimos anos é prejudicial e perigosa, porque a torna demasiado independente". Essa frase representa as contradições do sistema capitalista e de seus principais filhos: os burgueses. Aníbal explica: "de um lado, a necessidade de instruir as massas, para elevá-las até o nível das técnicas de produção e, do outro, o temor de que essa mesma instrução as torne cada dia menos assustadiças e menos humildes". Assim, constatamos que a educação que a classe burguesa oferece minimamente é voltada para a alienação trabalhista e tenta afastar-se ao máximo do exercício da reflexão e da criticidade. 

Portanto, ao olhar para a realidade educacional brasileira sob uma perspectiva marxista, compreendemos que a dificuldade de acesso ao ensino superior é parte de uma engrenagem mais ampla de manutenção de desigualdades. Nesse sentido, a "superestrutura educacional" (a educação controlada pelas classes dominantes) serve, em sua maioria, para legitimar uma dinâmica de acesso excludente. Assim, as cotas sociorraciais e as novas modalidades que estão ganhando espaço na atualidade, como as cotas trans, por exemplo, simbolizam formas de emancipação coletiva do ciclo mantido por uma elite minoritária. 


OTÁVIO RODRIGUES FERIN - 1ºANO DIREITO NOTURNO

Tempos Hodiernos

 No filme “Tempos Modernos”, Charlie Chaplin, ator e roteirista renomado, promove, enquanto retrata o início da revolução industrial, uma visão fundamental da dinâmica capitalista: o proletariado enquanto peça num maquinário produtivo, junto de toda a morte de sua humanidade. Nessa desumanização, Karl Marx denota a retirada de sua essencialidade e a denomina como “alienação”. Ou seja, para Marx, a potência criativa do homem retrata seu âmago, e eximí-lo disto é tão grave quanto matá-lo, pois é como uma morte em vida.


Àquele que se prende as datas, ficará limitado ao período inicial do sistema capitalista conquanto único com esse parâmetro alienante. Como uma mãe que acredita na segurança de sua criança por esta estar em casa, desconhecendo o perigo iminente da Internet e redes sociais, a mente da época da punição disciplinar (até onde pode ser levada pelo Michel Foucault,) acredita que ficar junto de seu labor de maneira “direta” enquanto um “livre-empreendedor de si mesmo” evita a alienação de seu trabalho. Todavia, Marx não centraliza o problema na produção, mas no produto. Uma vez que o trabalhador participa parcialmente da produção, não se encontra, consequentemente, no produto deste trabalho. Não participar era a causa, ou a condição, históricas da época para que houvesse o efeito alienante, perder o fruto de seu dispêndio vital.


Não obstante, com o movimento materialista-histórico-dialético, as causas, ou “condições materiais” que acarretam em consequências variadas, mudam. Seguindo a ruptura dialética hegeliana com a lógica clássica aristotélica, se outrora A era idêntico ao B, agora A pode ser diferente de B, perdendo ou passando essa identidade para outro elemento C. Noutras palavras, para um mesmo resultado existem diferentes caminhos, e cabe ao ser humano de seu tempo definir qual caminho foi tomado em sua época, como se fosse um processo terapêutico com a sociedade. Em síntese, num novo contexto, em que o trabalho perde o caráter material de reprodução e ganha um aspecto imaterial, pode ainda atingir o mesmo resultado da alienação, ainda que não seja assim percebido pelo público geral.


Assim, no tempo hodierno, na materialidade imaterial contemporânea, os trabalhadores de plataforma, numa conjuntura pós-reforma trabalhista, se identificam enquanto autônomos e, portanto, donos de seu agir, ou, de outra forma, humanos não-alienados. Contudo, a plataforma dita seu ritmo, seu valor e os meios de reprodução de seu trabalho, o que desloca esses da condição de burguesia à condição de proletário precarizado.


Mediante o exposto, conclui-se que a máxima de Chaplin perdura no tempo. O homem é desumanizado à uma mera peça da máquina capitalista (, esse modelo político-econômico pautado na produtividade com o intuito de ampliar o dinheiro, numa dinâmica que cria o chamado capital). Para a infelicidade ou felicidade de muitos ou alguns, quem não conhece sua história pode repetí-la. Para isso devém "marxianismo" (visão de Karl Marx e Friedrich Engels) ao "marxismo" (continuação coletiva pós-Marx de sua teoria, renovando os conceitos conforme a realidade se renova).

Henrique Pinheiro Campanella, 1º Ano do Curso de Direito (matutino)

Ideias tem donos

 Para Marx e Engels as ideias surgem devido ao modo de vida, ou seja o modo de produção não só moldam as relações econômicas mas também influenciam todas as esferas da vida social: o direito, a moral, a política, a arte a religião, a educação. A classe dominante ao controlar o meio de produção, também impõe sua visão de mundo. 

Assim q surge as ideias de meritocracia, que o pobre é o pobre porque quer, que os direitos trabalhistas atrapalham a geração de emprego. Isso não surge do vazio, são expressões ideológicas que ajuda manter a ordem social capitalista e os privilégios de quem detém o capital. 

A proposta de Marx e Engels é inverter essa lógica idealista: para compreender uma sociedade, é preciso primeiro entender sua base econômica e as relações concretas de produção e trabalho. Só então podemos entender como surgem e se consolidam suas ideias, instituições e estruturas políticas.

Kauã Azevedo de Freitas, Direto Matutino 

A religião sob a visão do materialismo histórico dialético

 Segundo o materialismo histórico dialético, a religião pode alienar – isto é, desviar o olhar das causas materiais da opressão e fazer com que as pessoas aceitem o sofrimento como algo divino ou inevitável. Mas, em certos contextos, ela também pode ser um instrumento de resistência. Um exemplo concreto disso é a Teologia da Libertação, surgida na América Latina, que usou os ensinamentos cristãos para criticar o capitalismo e engajar-se na luta pelos direitos dos pobres. Essa vertente mostra que a religião pode, sim, se alinhar com os interesses das classes exploradas, desafiando estruturas de dominação. Porém, ao mesmo tempo, a religião também está sendo utilizada para a manipulação de massas, por interesses econômicos e até mesmo políticos, como podemos ver em casos recentes de líderes religiosos defendendo partidos políticos em suas cerimônias ou pedindo dinheiro através de suas pregações.  

 Portanto, a religião pode tanto servir como ferramenta de opressão, reforçando desigualdades, como também ser uma força poderosa de mobilização e libertação. Pastores, líderes religiosos e comunidades de fé, ao tomarem consciência de seu papel social, podem decidir se alinhar às lutas populares, às causas justas e ao combate à exploração. 

Atualmente, em tempos de crise econômica, desigualdade crescente e manipulação ideológica (inclusive com uso político da fé), refletir sobre o papel da religião na sociedade é mais importante do que nunca. A lente do materialismo histórico dialético nos convida a perguntar: a fé que se prega está servindo para libertar ou para conformar? Está questionando a injustiça ou justificando o status quo?

 Diante dessa análise, fica evidente que a religião não é neutra: ela pode ser apropriada tanto para manter estruturas de poder quanto para subvertê-las. O materialismo histórico dialético nos oferece uma ferramenta crítica para compreender como a fé se insere nas dinâmicas sociais, econômicas e políticas, revelando que sua função depende do contexto e da consciência de seus agentes. Assim, torna-se urgente questionar o uso da religião no presente: ela está promovendo a emancipação dos oprimidos ou reforçando sua submissão? Cabe às lideranças religiosas e às comunidades de fé escolherem se querem ser cúmplices da dominação ou aliadas na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Matheus Nicolau Cremm de Sousa - 1º ano noturno 

 

Expressões corriqueiras do capitalismo hodierno à luz do Materialismo Histórico-Dialético.

 Visitar uma megalópole como a cidade de São Paulo, por exemplo, tende a causar perplexidade, espanto e confusão aos visitantes não acostumados com tantos estímulos visuais, sonoros e olfativos. Particularmente, minha primeira visita à cidade de São Paulo - e aqui a uso como exemplo por ser a mais populosa da América Latina, e sede de diversas empresas nacionais e multinacionais - causou-me caláfrios no estômago, lembro-me de sentir-me ínfemo frente àquela grandiosidade, àquele turbilhão. Nessa viagem, quando fui ao Shopping Eldorado, senti-me bombardeado de informações, tanto visuais quanto auditivas, as quais me causaram, quase que instantaneamente, um impulso, embora ainda primitivo, já que eu tinha apenas 11 anos, de consumir, comprar, adquirir propriedades materiais ao ceder o dinheiro de meus pais, obtido com a venda de suas forças de trabalha àqueles que detinham os meios de produção, seja direta ou indiretamente. Decerto, naquele dia, ainda sem poder defini-lo, conheci, por meio de todos os meus sentidos, o capitalismo hodierno em uma de suas expressões mais profundas: a incitação ao consumismo em cada indivíduo que, majoritariamente por meios midiáticos, aliena-se ao conceber, em conformidade com o que busca o próprio capitalismo, as marcas das empresas, lojas, restaurantes e de quaisquer outros meios comerciais, como entidades singulares e passíveis de vislumbre e admiração.

Para uma análise qualitativa da dinâmica social e econômica que vivi aquele dia e em todos os outros dias de minha vida, tanto posteriores quanto anteriores ao evento narrado, não há referencial teórica mais adequado senão as teorias desenvolvidas por Karl Marx e Engels no século XIX, tanto com o livro "O Capital" quanto com o livro "A Ideologia Alemã", nos quais os autores oferecem novas perspectivas de se analisar a existência humana, rompendo com as filosofias metafísicas e puramente ideológicas anteriores a eles, demonstrando que suas teorias têm, sobretudo, um caráter epistemológico; o rompimento se dá a partir de um conceito fundamental para a análise da sociedade sob uma abordagem universal, o Materialismo Histórico-Dialético, que preconiza que uma sociedade qualquer pode ser avaliada quanto ao desenvolvimento de sua força produtiva, isto é, o grau de desenvolvimento dos meios materiais de produção, quanto ao grau de desenvolvimento da divisão de trabalho, isto é, a forma como o trabalho não manual se distingue do trabalho manual, originando estratificações sociais profundas, e por fim, quanto à forma como a luta de classes, burgueses contra proletariados, assume nesta sociedade, isto é, o quanto a classe burguesa possui de propriedades, em detrimento da classe trabalhadora. Sendo assim, a história da humanidade fundamenta-se na configuração que a luta de classes, elemento presente em todas as sociedades capitalistas, historicamente assume e tende a assumir, em um movimento dialético.

Corroborando meu exemplo de vivência, vale ressalter outro exemplo prático e concreto que demonstra, exatamente, como ocorre a transformação dialética dos elementos capitalistas ao longo da história, já que, na hodiernidade, em oposição ao século XIX, a propriedade mais cultuada e de maior valor é a propriedade intelectual, em detrimento da propriedade quanto porção de terra, na qual ocorria a extração e transformação das matérias-primas; falo do processo ocorrido entre os anos de 2014 e 2021, entre a empresa bilionária Johnnie Walker e a empresa João Andante, com sede em Minas Gerais, em que esta teve que indenizar essa em R$ 50 mil, sob a acusação de danos morais, por violar artigos da Lei de Propriedade Industrial. O exemplo exposto reflete como a divisão de trabalho cria instâncias tão distintas em sociedades modernas, trabalho manual marginalizado e exercício intelectual valoroso, culminando em uma ascensão da própria marca á frente dos produtos da empresa e da empresa propriamente dita, evidenciando que o conceito de propriedade, um dos expoentes da luta de classes, embora constante na teoria sociológica de Marx e Engels, origina as mudanças na produção material ao passo que também é originada por ela.

Teodoro Susi Alves
Direito Noturno - 1 Sem

Mais-Valia Do Trabalhador


 

A criminalização da maconha e o materialismo marxista

 

A luta da legalização da maconha é uma luta também contra o racismo. A teoria do idealismo de Hegel afirma que a realidade é uma projeção da ideia, nas palavras de Marx, defensor do materialismo, Hegel cometeu o seguinte erro: “Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento que se sintetiza em si, se aprofunda em si, e se move por si mesmo”, ou seja, para o materialismo marxista as ideias não vêm a priori pois é preciso primeiro olhar para a realidade, compreender ela como ela realmente é e não o que espera que ela seja.

Nesse sentido, ao olhar para a criminalização da maconha, percebe-se que no campo das ideias ela funciona, tendo em vista que é flexível em relação ao contexto e interpretação das autoridades, em tese, tornando nosso sistema mais justo ao observar cada caso com sua exclusividade. No entanto, é devido a essa flexibilização que surge o problema, já que, apesar do sistema judiciário garantir ser imparcial e a justiça ser “cega”, é inegável, ao se olhar para a realidade, que a interpretação da autoridade jurídica é influenciada pelos preconceitos que estão estruturados na sociedade brasileira. Em outras palavras, ao abrir margem para a subjetividade, os indivíduos mais marginalizados na sociedade, que são estereotipados, são generalizados por concepções preconceituosas e com isso são os que mais sofrem com esse tipo de criminalização.

Logo, o que se nota na realidade de fato é o caso de um policial encontrar um indivíduo negro com X gramas de maconha e interpretá-lo como traficante e um branco com 3X gramas ser interpretado como usuário, ou seja, levando o primeiro a julgamento e liberando o segundo. A título de exemplificação de nossa realidade, pode se citar a fala do ministro Alexandre de Moraes durante o julgamento sobre a descriminalização da maconha no STF “Branco precisa de 80% a mais de maconha que preto para ser considerado traficante”, levando ao questionamento de o que é o direito se não a institucionalização em forma de norma do interesse de um determinado grupo/classe social, ou seja, apenas um instrumento para a manutenção das classes dominantes do topo.

Matheus Góes Rosella - 1º ano de Direito (noturno)

Por que as ideias de Marx continuam sendo tão atuais?

  

Karl Marx e Friedrich Engels são os principais teóricos do Marxismo. Diferentemente de Engels, um árduo idealizador, Marx acreditava que era preciso partir primeiro da realidade concreta para depois interpretar as ideias. Desse modo, para ele a história é entendida a partir das condições materiais e das relações de produção. Esse ponto que Marx traz é muito importante, pois, realmente ao logo da história (seja ela brasileira ou global) verifica-se grupos sociais em diferentes posições de vantagens e desvantagens devido as suas condições materiais e sociais. A exemplo disso, pode-se citar a dominação econômica e social exercida pelos donos de fábricas sob os trabalhadores/ operários durante a Revolução Industrial.

Entretanto, percebe-se que esse pensamento de dominação material e social não se estagnou ao falar da Revolução Industrial. Ele permeia varias outras relações sociais e pode ser utilizado para entender as dominações históricas e o modo como se deu o desenvolvimento de cada sociedade. No Brasil, por exemplo, houve uma violenta colonização e exploração dos povos originários pelos portugueses e posteriormente o controle e supremacia total da Coroa Portuguesa sob as terras e os indivíduos. Aqui, claramente percebe-se uma discrepância de poderio econômico (material), politico e social; uma dominação por um grupo socialmente abastado materialmente e socialmente. Claramente, essa concepção marxista também explicita uma enorme desigualdade socio-econômica.  

Até os dias de hoje, tal concepção é utilizada para explicar a luta de classes, que ainda existe em um cenário global e reflete tamanha desigualdade. Além disso, com a globalização, a tecnologia, a modernização e a concentração de renda em um número mínimo de indivíduos tal luta apenas se solidifica e se destaca no cenário global, pois isso facilita os processos impostos pelo capitalismo (gentrificação, especulação mobiliária, exploração da força de trabalho, etc) e dificulta o proletariado/ trabalhador viver.

Brenda Diniz, 1 ano Matutino.


A Falsa Polarização Brasileira

 

A Falsa Polarização Brasileira

    No atual panorama político brasileiro, a aparente cisão entre uma extrema direita autoritária e uma centro-esquerda moderada tem sido amplamente tratada como uma profunda polarização ideológica. Todavia, sob a perspectiva marxista, tal antagonismo revela-se ilusório, pois ambos os polos, a despeito de suas diferenças discursivas, operam dentro dos marcos do sistema capitalista, competindo apenas pela gerência do mesmo aparato de dominação. Trata-se, portanto, de uma falsa polarização que oculta as contradições estruturais entre as classes.

    Por um lado, a extrema direita ressurge como instrumento de reação da burguesia diante do esgotamento de um modelo de governabilidade baseado na conciliação de classes. Ao se valer de um discurso moralista, autoritário e antissistêmico de fachada, esse campo político impulsiona reformas ultraliberais que aprofundam a precarização do trabalho, o desmonte do Estado social e a repressão aos movimentos populares. Suas pautas identitárias reacionárias funcionam como cortinas de fumaça, ocultando a intensificação da exploração capitalista. Por outro lado, a centro-esquerda, embora se oponha a tais excessos, não propõe uma ruptura estrutural com o sistema. Ao contrário, busca preservar a estabilidade por meio de reformas moderadas e políticas de inclusão baseadas no consumo, sem jamais enfrentar as bases da propriedade privada dos meios de produção ou o poder hegemônico do capital financeiro. Dessa forma, ambos os polos, cada qual à sua maneira, atuam como garantidores da continuidade da ordem burguesa, disputando legitimidade dentro de um espectro político limitado e funcional ao capital.

    Em meio a esse embate artificial, os grandes meios de comunicação desempenham papel central na alienação das massas. Ao promover uma cobertura seletiva, espetacularizada e pautada por interesses do capital, a mídia constrói narrativas que reforçam o antagonismo moral entre os polos políticos, ao passo que silencia ou minimiza questões estruturais como a concentração fundiária, o poder financeiro, a precarização do trabalho e a violência estatal. Assim, contribui decisivamente para a reprodução da falsa consciência e para o desvio da atenção coletiva em relação à luta de classes real.

    Consequentemente, enquanto a população é capturada por dicotomias superficiais, os mecanismos de exploração seguem operando com eficácia. Para romper com essa lógica, é imperativo fomentar uma consciência de classe crítica, desmascarar as estratégias ideológicas da burguesia e impulsionar um projeto político revolucionário, ancorado na superação do capital e na emancipação do proletariado.

Felipe Bechelli Caldas - 1ºano matutino


A desigualdade social sob a ótica do materialismo histórico

A desigualdade social é um problema persistente nas sociedades contemporâneas, agravado pelas crises econômicas, pelo desemprego e pela concentração de renda. Para compreendê-la em sua complexidade, é fundamental adotar uma abordagem crítica que vá além das aparências imediatas. O marxismo, ao propor uma concepção materialista da história, oferece uma leitura profunda das origens e das permanências das desigualdades estruturais, ao destacar que os conflitos sociais decorrem, em última instância, das condições materiais e das relações de produção.

Segundo Karl Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes. A sociologia marxista entende que as transformações sociais não ocorrem apenas por ideias ou valores, mas são impulsionadas pelas contradições econômicas entre classes sociais. Na sociedade capitalista, a divisão entre burguesia (detentora dos meios de produção) e proletariado (que vende sua força de trabalho) gera desigualdade estrutural, em que os interesses da classe dominante prevalecem sobre os da maioria. Essa perspectiva ajuda a explicar, por exemplo, como políticas públicas podem ser moldadas para manter privilégios e concentrar riquezas, mesmo em contextos democráticos.

Complementando essa visão estrutural, Pierre Bourdieu contribui ao mostrar que as desigualdades sociais não se reproduzem apenas pela economia, mas também por mecanismos simbólicos e culturais. Conceitos como “capital cultural” e “habitus” revelam como a dominação de classe se perpetua por meio da educação, da linguagem e do gosto, favorecendo os grupos já privilegiados. No Brasil, essa análise é útil para entender por que, mesmo com o acesso formal à escola, muitos jovens das periferias continuam excluídos de oportunidades reais de mobilidade social.

Portanto, a concepção materialista da história, proposta por Marx e enriquecida por teóricos como Bourdieu, continua sendo uma ferramenta poderosa para analisar e enfrentar a desigualdade social. Ao compreender que as relações econômicas, culturais e simbólicas estão na base dos fenômenos sociais, é possível pensar em alternativas que rompam com a lógica de reprodução das desigualdades e promovam uma sociedade mais justa. A superação dessas disparidades exige não apenas reformas pontuais, mas transformações profundas nas estruturas de poder, produção e cultura.

Jessyca Pacheco Almeida, primeiro semestre, direito matutino.

Marxismo Contemporâneo: Crítica ao Capitalismo e Denúncia das Desigualdades

    No contexto contemporâneo, o sistema capitalista permanece como o modelo econômico predominante em escala global. No entanto, suas contradições estruturais tornam-se cada vez mais visíveis, especialmente diante da intensificação das desigualdades sociais, da concentração de renda e da precarização das condições de trabalho. Nesse cenário, a teoria marxista, desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels, continua a oferecer uma base analítica sólida para compreender as dinâmicas de exploração e dominação que caracterizam o modo de produção capitalista, reafirmando sua relevância crítica diante dos desafios atuais.

    Marx e Engels denunciaram que a história da humanidade é, essencialmente, a história da luta de classes. Essa luta, hoje, se manifesta na oposição entre uma elite econômica globalizada e uma maioria trabalhadora submetida a condições cada vez mais precárias. O conceito de mais-valia, central no pensamento marxista, explica como o capitalismo lucra a partir da exploração do trabalho: o operário produz mais valor do que recebe em salário, e essa diferença é apropriada pelo dono dos meios de produção. Isso se reflete nas grandes corporações tecnológicas, que acumulam bilhões enquanto terceirizam empregos e negam direitos básicos aos trabalhadores.

    Um exemplo atual que evidencia essas contradições é o governo dos Estados Unidos sob presidências neoliberais, que priorizaram cortes de impostos para os ricos, desregulamentação do mercado financeiro e ataques aos direitos trabalhistas. Enquanto isso, milhões de norte-americanos vivem sem acesso a saúde pública de qualidade, enfrentam altos custos com educação e são submetidos a jornadas de trabalho exaustivas. Essa realidade revela, como apontou Friedrich Engels, que o Estado atua como instrumento da classe dominante, moldando políticas públicas para proteger os interesses do capital, mesmo que isso implique o aprofundamento da miséria social.

    Além disso, a ideologia dominante, como afirmou Marx, é a ideologia da classe dominante. Os meios de comunicação e a cultura popular frequentemente reproduzem discursos que naturalizam a desigualdade e culpabilizam os pobres por sua condição. Termos como “empreendedorismo” e “meritocracia” são usados para mascarar a brutal concentração de renda, apagando o papel da exploração e das estruturas históricas de dominação. O sistema educacional, ao não promover uma consciência crítica, também contribui para a manutenção da atual realidade.

    Diante disso, o marxismo atual não se limita a uma análise teórica do capitalismo, mas propõe uma transformação profunda da sociedade. É necessário repensar as formas de organização do trabalho, da produção e da distribuição de riquezas, buscando uma alternativa baseada na igualdade, na solidariedade e na justiça social. A crítica marxista continua a ecoar como um chamado à resistência frente à exploração: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”. Essa convocação é tão urgente hoje quanto no século XIX.

Geisa Vitória, 1º Ano - Direito (Noturno)

Educação ou repetição (Karl Max)

 

Lívia Pocobello Zacariotto, 1º Ano - Direito (Matutino)


Capitalismo de Plataforma e a Reinvenção da Exploração: Uma Leitura à Luz do Materialismo Histórico Dialético

    O materialismo histórico dialético é uma concepção filosófica e metodológica desenvolvida por Karl Marx, com base e ao mesmo tempo em crítica à dialética idealista de Friedrich Hegel. Enquanto Hegel via a história como o desdobramento da ideia, Marx inverte essa lógica: para ele, não são as ideias que moldam a realidade material, mas sim as condições materiais de existência – a economia, o trabalho, os modos de produção – que determinam as ideias, as instituições e os sistemas políticos. A dialética, nesse sentido, é o movimento contraditório e contínuo da história, impulsionado pela luta de classes.

    Nesse contexto, podemos dialogar tal concepção filosófica sob a análise da precarização do trabalho nas plataformas digitais, como Uber ou iFood. Esses serviços, frequentemente associados à “economia do compartilhamento”, são, na verdade, manifestações contemporâneas das contradições do modo de produção capitalista. 

    Sob a ótica do materialismo histórico, a ascensão dessas plataformas não é um fenômeno tecnológico neutro ou espontâneo, mas uma resposta do capital à crise de valorização e à busca por formas mais flexíveis e baratas de exploração do trabalho. Os trabalhadores, chamados de “parceiros”, na verdade, não possuem autonomia real – não controlam os meios de produção (os aplicativos) e estão sujeitos às lógicas de acumulação do capital, como qualquer proletariado tradicional.

    A contradição entre capital e trabalho se intensifica nesse cenário: enquanto as empresas acumulam lucros, os trabalhadores enfrentam jornadas exaustivas, ausência de direitos trabalhistas e insegurança. A luta por direitos desses trabalhadores de aplicativo – com greves e mobilizações em vários países – é a expressão contemporânea da luta de classes, motor da história segundo Marx.

    Assim, o materialismo histórico dialético permite entender que, por trás de fenômenos aparentemente novos e tecnológicos, persistem estruturas de exploração e contradições que movem a história em direção à sua superação. A tecnologia muda, mas a essência das relações sociais de produção permanece condicionada pelas disputas entre classes antagônicas.


Sophia Ferro, 1º Ano - Direito (Noturno)

Engrenagens da história (Karl Marx)

Poema sobre o materialismo histórico-dialético:


Engrenagens da História

Não é a ideia que move a história,
mas a vida dura do povo.
É trabalho, é dor, é memória,
é quem luta pelo novo.

Uns têm muito, outros quase nada,
e o conflito nunca é em vão.
A estrutura é bem planejada
para manter de pé o patrão.

Mas tudo está sempre em disputa,
mudam formas, muda o lugar.
A verdade é que só com a luta
o sistema pode mudar.

O Estado parece neutro, mas não é,
serve a quem tem o capital.
E quando o povo entende o porquê,
a mudança torna-se vital.


Júlia Aguiar Silva, 1º Ano - Direito (Noturno)

Marxismo e Trad Wives

 O marxismo é uma teoria criada por Karl Marx e Friedrich Engels para explicar como a sociedade funciona. Eles acreditavam que a base de tudo é a economia, ou seja, a forma como as pessoas produzem e distribuem os bens para sobreviver. Essa base é chamada de infraestrutura. A partir dela, surgem outras partes da sociedade, como as leis, a cultura, a religião, o Estado e a família. Isso é o que eles chamam de superestrutura. Para os marxistas, essas partes de cima servem para manter a base econômica funcionando e esconder as desigualdades.

Segundo Marx, a história da humanidade é marcada pela luta de classes. Em cada época, existem grupos com interesses diferentes e opostos. No capitalismo, essa luta acontece entre a burguesia, que é dona dos meios de produção, e o proletariado, que são os trabalhadores. O capitalismo depende da exploração do trabalho para gerar lucro, o que ele chama de mais-valia. Esse sistema faz parecer que tudo é normal e natural, mas o marxismo mostra que isso é uma forma de esconder a exploração.

Para analisar esses processos históricos, Marx usava o método materialista histórico-dialético, que estabelece a ideia de que tudo está em mudança e tem contradições internas. Por isso, para entender um fenômeno social, é preciso olhar para sua história, suas causas e como ele se relaciona com a economia. Esse processo demonstra como escolhas tidas como pessoais são, na realidade, resultado de fatores sociais e históricos.

Um bom exemplo disso é o movimento das trad wives, que são mulheres que defendem um estilo de vida tradicional. Elas dizem que preferem cuidar da casa, obedecer ao marido e ter muitos filhos, em vez de trabalhar fora. À primeira vista, parece só uma questão de gosto pessoal. Mas, quando usamos o olhar marxista e o método histórico-dialético, percebemos que isso está ligado ao momento atual do capitalismo. Hoje o sistema está em crise, com alta no custo de vida, empregos precários e queda na taxa de natalidade.

O capitalismo precisa de crescimento constante. Para isso, ele precisa de consumidores e de trabalhadores. Quando as pessoas param de ter filhos, isso se torna um problema para o sistema. As trad wives aparecem como uma resposta ideológica a essa crise, reforçando um modelo de família que serve para manter o capitalismo funcionando. Elas não resolvem os problemas da base econômica, mas tentam esconder as dificuldades com uma imagem de estabilidade e tradição.

Portanto, o marxismo nos ajuda a entender que esse fenômeno não é isolado. Ele faz parte de um sistema que tenta se sustentar mesmo quando já não oferece boas condições de vida. O papel das trad wives, visto dessa forma, não é apenas uma escolha livre, mas uma forma de manter viva uma estrutura que está cheia de contradições.


Rafaela B. do Nascimento 

Direito noturno