A crise habitacional nas grandes cidades brasileiras é uma das expressões mais visíveis da desigualdade social, e pode ser analisada de forma crítica a partir da concepção materialista da história desenvolvida por Karl Marx. Para o marxismo, a organização da sociedade é determinada pelas condições materiais de existência, ou seja, pela maneira como a produção e a distribuição de bens estão estruturadas. Nesse sentido, a moradia não é apenas uma necessidade humana, mas também uma mercadoria dentro da lógica capitalista. Aqueles que não detêm os meios de produção – neste caso, o capital e a propriedade da terra – são colocados em desvantagem estrutural, reproduzindo um ciclo de exclusão e marginalização.
Nos grandes centros urbanos, esse fenômeno se expressa na presença de milhões de pessoas vivendo em favelas, ocupações ou em situação de rua. Enquanto isso, há inúmeros imóveis vazios, ociosos, pertencentes a grandes proprietários que os mantêm fechados por interesses especulativos. Essa contradição evidencia o que Marx chamaria de conflito entre as classes: de um lado, a classe trabalhadora que luta por condições mínimas de dignidade; de outro, uma elite econômica que utiliza a cidade como fonte de lucro e acumulação.
A especulação imobiliária, impulsionada por agentes financeiros e construtoras, transforma a terra urbana em ativo financeiro, elevando os preços e expulsando os mais pobres para regiões distantes e mal assistidas pelo poder público. A falta de políticas habitacionais efetivas e inclusivas revela o papel do Estado como mantenedor da ordem capitalista, ao proteger os interesses da propriedade privada em detrimento do bem comum. A lógica da mercantilização do espaço urbano, ao invés de buscar garantir o direito à cidade para todos, reforça a segregação social e racial.
A teoria marxista permite compreender que essa situação não é fruto de uma má gestão pontual, mas de um sistema que se baseia na exploração de uma maioria para garantir os privilégios de uma minoria. Movimentos sociais como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) representam formas contemporâneas da luta de classes, ao reivindicar o uso social da propriedade e questionar a estrutura urbana excludente. Assim, aplicar o marxismo para analisar a crise habitacional é fundamental para desnaturalizar a desigualdade e propor soluções estruturais que priorizem o ser humano e não o lucro.
Maria Clara Rodrigues Dias - 1° Ano Direito - Matutino