Pretende-se com este texto analisar, sob a ótica do sociólogo Max Weber, o sequestro do Ônibus 174, para assim ser possível compreender como Weber vê a construção da ação por parte do sujeito. E, por fim, classificar essa ação social segundo a perspectiva do estudioso alemão.
Antes de mais nada, cabe aqui um breve relato biográfico, para que seja possível situar o pensamento produzido pelo alemão historicamente. Weber é considerado um dos pais da sociologia moderna, juntamente com: Comte, Durkheim e Marx. Nascido na Alemanha em 1864, presenciou as grandes mudanças ocorridas entre os séculos XIX e XX, que influenciaram explicitamente não só o pensamento de Max, como também dos demais estudiosos contemporâneos à ele.
Posto isso, como objetiva-se através deste texto analisar um fato pontual, o sequestro do ônibus 174, faz-se necessário, destarte, uma explanação sobre o evento ocorrido em 12 de junho de 2000 e, além, um esboço sobre a vida do personagem-chave desse crime, Sandro Barbosa do Nascimento.
No dia 12 de junho de 2000, por volta das 14 horas, um sujeito chamado Sandro adentra em um ônibus no Rio de Janeiro, mais especificamente na linha 174, como intuito de assaltar os passageiros. Não obstante, a tentativa de assalto foi frustrada e formou-se ao redor do ônibus fechado cerco policial. Dessa forma, o infrutífero assalto transfigurou-se numa situação com reféns, sitiado dentro do veículo com dez reféns, Sandro permaneceu por algumas horas, nas quais todo o país acompanhou o cenário angustiante até sua trágica conclusão.
Como foi dito, o objetivo primeiro deste texto é relacionar o ideal de ação, mais especificamente, os elementos levados em consideração na tomada de decisão para ação, segundo Weber com o episódio do crime. Para tanto, deve-se conhecer o passado de Sandro, conhecer, com isso, como o garoto Sandro desenvolveu-se.
Sandro Barbosa do Nascimento nasceu no Rio de Janeiro. Antes de seu nascimento foi abandonado pelo pai. Assim, a violência, a miséria e a marginalização, sempre presentes no seu cotidiano, passam a imperar em sua vida quando Sandro é testemunha do violento homicídio de sua mãe. Após a morte de sua mãe, o garoto passou a morar nas ruas da cidade, onde ganhou o apelido de "Mancha". Vale ressaltar que Sandro presenciou o conhecido "Massacre da Candelária", outro espetáculo sangrento na vida do garoto Mancha.
Depois das apresentações necessárias para o início da análise, chega, por fim, o momento de relacionar a perspectiva weberiana sobre ação e o caso de Sandro.
Para Max Weber o início de qualquer ação, por óbvio, é a sua decisão. No entanto, para que isso ocorra o sujeito se depara com uma sorte de valores, que serão avaliados pelo próprio indivíduo e , por fim, julgará válida ou não tal ação. E mais, Weber demonstra que o juízo de valor de cada ação é fundamentado por valores presentes na "consciência" na "cosmovisão" do homem. Contudo, pode-se dizer que os valores sugeridos por Weber são universais e absolutos?
Tal indagação é pertinente e suscita discussões. Considerando o caso menino Mancha, percebe-se que o nicho social no qual ele se desenvolveu, promoveu no mais das vezes a banalização da violência e a marginalização imposta ao garoto ,desde o alvorecer de sua infância, permitiram ao Sandro contatos com valores torpes. Assim não se trata apenas de um processo de juízo de valores, mas de um processo de formação de valores e, principalmente, conceituação de valores.
Por fim, fica claro que o sequestro do ônibus 174, além de ser situação trágica, mostra a claramente a dialética social: a violência com produto da própria violência. E mais, a sorte de valores e, fundamentalmente, a relevância dada a cada valor é construída a partir da vivência do indivíduo e , com efeito, da conjuntura social na qual o sujeito foi inserido. Portanto, acreditar que um garoto que viva a realidade de Sandro, possua, de forma geral, os mesmos valores e metas de outro indivíduo incluído no meio social é convicção pueril e tola.
Lucas Rezende de Melo - 1º ano Noturno