A corrente positivista
principiada por Augusto Comte influiu e ainda influi de diversos modos na
política contemporânea, além de possuir papel fundamental na história do
Brasil, principalmente no que diz respeito à Proclamação da República.
A ideologia em questão
é duramente criticada devido ao seu caráter conservador já que explicita o fato
de qualquer alteração no Estado vigente elucidar uma ameaça à Ordem, sendo esta
fundamental para que exista o Progresso, objetivo final do Positivismo.
Entretanto, faz-se
fundamental a análise do positivismo empregando uma análise crítica sobre o
conceito de progresso e suas implicações. Convém, portanto, citar Gilberto
Dupas – escritor e cientista social – e suas reflexões na obra “O Mito do Progresso”.
Augusto Comte afirma
que para que haja o progresso deve, portanto, existir e manter a ordem, sendo
assim não deve haver alteração de “locus
social” entre os indivíduos, ou seja, a função do homem na sociedade é
inata estando este ou entre os que pensam ou entre os que trabalham os as mãos
não havendo a possibilidade de alternância na ocupação dos “locus”. Tal formulação mostra-se, portanto, passível de sério
questionamento que é efetuado de forma atual e contextualizada pelas palavras
seguintes de Dupas.
“Mas esse progresso, discurso dominante das elites
globais, traz também consigo exclusão, concentração de renda, subdesenvolvimento
e graves danos ambientais, agredindo e restringindo direitos humanos essenciais”
DUPAS, Gilberto. O Mito do Progresso.
Novos Estudos, 2007.
O cientista social supracitado faz questionamento de
suma importância, afinal o sistema social estático pregado pelo positivismo com
objetivo de atingir o progresso dá margem à indagação de “para quem é o
progresso atingido ao manter-se a ordem?”. Vê-se, nitidamente, que a maior
parcela do progresso acaba por beneficiar, exatamente, “aqueles que pensam”. O
ônus aqueles que fazem parte da camada rasa da sociedade é imenso, afinal estes
não podem desfrutar de forma proveitosa dos benefícios do progresso, não lhes é
permitido evoluir para a camada social privilegiada e, acima de tudo, o
trabalho desempenhado por eles é mais cansativo e menos remunerado.
Conclui-se que o pensamento positivo pode ser, nada
mais, do que um artifício utilizado pela Ordem vigente para que esta, além de
se manter, possa ainda direcionar os rumos do progresso e desfrutar dele enquanto
a parte desprivilegiada da sociedade – a maior parte – sofre com a incapacidade
de ascensão e, ainda sim, constitui os braços que promovem o progresso e
carregam, em seus ombros, uma elite.
No âmbito contemporâneo cabe dizer, além do já dito
sobre a imensa incoerência do sistema, que o progresso, de acordo com o prisma
que é analisado, pode ser considerado nulo. Afinal, criou-se mais tecnologia,
em contrapartida, o planeta sofreu exacerbados golpes de destruição, temos mais
tecnologia, todavia esta foi usada para a construção de armas que, hoje, podem
destruir a própria raça humana. Seria isto um progresso?
É possível sim que o positivismo seja, acima de
tudo, maléfico. Por ser uma arma das elites, por não conseguir conter as
implicações de seu “progresso”, por ferir o próprio homem ao tentar construir a
ordem. Introito com Dupas, fim com Dupas.
“Seria
uma insensatez negar os benefícios que a vertiginosa evolução das tecnologias
propiciou ao ser humano no deslocar-se mais rápido, viver mais tempo,
comunicar-se instantaneamente e outras proezas que tais. Trata-se aqui de
analisar a quem dominantemente esse progresso serve e quais os riscos e custos
de natureza social, ambiental e de sobrevivência da espécie que ele está
provocando; e que catástrofes futuras ele pode ocasionar. Mas, principalmente,
é preciso determinar quem escolhe a direção desse progresso e com que
objetivos.” DUPAS, Gilberto. O Mito do Progresso. Novos Estudos,
2007.
Lucas Oliveira Faria - Direito Noturno