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sexta-feira, 13 de março de 2020

Relógio vacilante


Deus relojoeiro e seu mundo-máquina,
com seus homens-máquina
e suas nuvens-máquina,
ordenou que houvesse luz.

E a luz se fez por meio milênio.

Mas era luz elétrica
e suas plantas-máquina não mais se nutriam,
e seus homens-máquina, racionais e rasos,
se recusaram a perceber o problema.

Mas agora percebem.

A luz nasceu do mero acaso
e o mundo-acaso não se reduz ao relógio.
O homem-acaso compreende então
que seu conhecimento não explica o caos.

E o caos os obriga a pensar.

O mundo-acaso não pode ser dominado,
e a luz secular não é mais suficiente.
A eletricidade não ilumina o caos sozinha.
A razão não nos salvou.


Sofia Malveis Ricci - Direito noturno - 1º ano

Dostoiévski e Ponto de Mutação

  “Se Deus não existe, tudo é permitido?”, é uma frase comumente associada a obra “Os Irmãos Karamazov”, do escritor russo Fiódor Dostoiévski. No livro, Ivan Fiodorovitch Karamazov, publica um artigo questionando que a “morte de Deus” promovida pelo Niilismo e outras correntes filosóficas coloca fim aos freios morais da ação humana. Paralelamente, no filme “Ponto de Mutação”, uma afirmação semelhante é feita pelo personagem Thomas Harrima no momento em que um grupo de jovens joga algumas latas no chão de Saint-Michel, Thomas culpa a bomba atômica, tendo em vista que a bomba teria tornado o mundo descartável na concepção humana. Desta forma, o filme é uma profunda crítica à concepção mecânica da ciência e propondo como solução a Teoria dos Sistemas.   
    A Ciência Moderna nasce com René Descartes, Francis Bacon e Galileu Galilei, autores fundamentais na construção do “Sujeito” moderno como a separação de concepções divinas e sobrenaturais da razão humana. Dessarte, grandes avanços foram conquistados com a Ciência Moderna, desde grandes saltos tecnológicos, institucionais até a cura de doenças. Entretanto, desenvolveu-se uma concepção mecânica da realidade, incapaz de enfrentar os problemas de forma sistêmica. Utilizando uma metáfora do filme: a ciência enfrenta os problemas trocando as “engrenagens” e nunca o “relógio”, uma percepção míope que impede enxergar a real origem dos dilemas a serem enfrentados.  
   Ademais, a obra propõe como solução ao quadro atual a Teoria dos Sistemas. Em primeiro lugar, a teoria apresentada pela personagem Sonia Hoffman, propõe-se a pensar o mundo de forma ecológica e holística, onde o “objeto” nunca é separado do “todo”, propondo soluções de forma empírica e sistemática, pensando nossas ações de forma harmônica. Isso se torna mais claro, por exemplo, na atual pandemia do Covid-19 que está levando diversas nações ao “cataclisma” econômico, social e político. Em tempos como estes, é fundamental combater o reducionismo propondo soluções socias conjuntas para  minimizar a proliferação do vírus, uma tese alinhada a Teoria dos Sistemas. 
     Por fim, na obra “Os Irmãos Karamazov”, o personagem Ivan defende: “... a lei moral da natureza devia imediatamente tornar-se o inverso absoluto da precedente lei religiosa; que o egoísmo, mesmo levado até a perversidade, devia não somente ser autorizado, mas reconhecido como a saída necessária, a mais razoável e quase a mais nobre. [1]. Ivan compartilha de uma visão míope, incapaz de enfrentar de maneira sistêmica os dilemas, caindo na legitimação das soluções mecânicas. Assim, faz-se necessária a construção de uma ecologia das ações humanas com o fim de orientar nossas decisões levando o “todo” em consideração, seja na ciência ou nas decisões morais do cotidiano. 
  
Referências Bibliográficas: 
[1] Dostoievski, FiódorOs Irmãos KaramazovAbril Cultura,1970 (p. 69).  

Luís Gustavo da Silva - 1º ano de Direito/Matutino.