As eleições de 2018 e a pandemia de coronavírus no início da década de 2020 explicitaram a presença de um fenômeno intrínseco ao Brasil: a desinformação. Desde que essa terra fora ocupada pelos europeus, as chamadas “fake news” se fizeram presentes em momentos cruciais: na carta que o donatário enviava para o monarca alegando que tudo estava sob controle quando, na verdade, suas terras pereciam; nas mentiras que a família real portuguesa enviava à Napoleão enquanto se preparava para embarcar rumo à colônia; na fala de Benjamin Constant a Deodoro, que o fez proclamar a República e até na fabricação de mitos históricos, como a imagem de Tiradentes na hora de sua morte. Independentemente da época, o Brasil abraçou a falcatrua.
Entretanto, na Era Moderna, a mentira tornou-se tão presente no cotidiano brasileiro que agora é difícil saber o que é verdade e o que não é. Mesmo com auxílio de uma Constituição magnânima e de secretarias especializadas em evitar a desinformação como instrumento político, a pós-verdade, conceito apresentado pelo professor Ralph Keynes, predomina na conjuntura nacional. Surge a questão: como enfrentar as tão difundidas “fake news”? A Sociologia clássica oferece algumas possibilidades.
Francis Bacon (1561-1626), em sua obra “Novum Organum”, defende que, a fim de descobrir a veracidade dos fenômenos, o que chama de “vitória sobre a natureza”, é preciso um método científico preciso baseado em experimentos e nas percepções sensíveis. Não é possível determinar se uma informação é verdade ou não sem testá-la de modo empírico.
René Descartes (1596-1650), por outro lado, afirma que os sentidos nos enganam e que a única fonte confiável que temos é a razão. Tudo deve ser posto à dúvida e nós, sujeitos racionais, precisamos sair em busca de estudos não baseados somente no empirismo.
Porém, no viés pragmático, nenhuma das duas vertentes funcionará perfeitamente se operar sozinha.
No que concerne a Bacon, a maioria das informações atuais que são dispostas em discussões políticas ou sociais se referem a uma dimensão teórica, sendo difícil aplicar o método das ciências físicas e biológicas.
No quesito do racionalismo cartesiano, a razão, operando sem a ajuda de fontes externas como documentos ou dados empíricos, se torna inútil no enfrentamento à desinformação estrutural, uma vez que não terá uma base de conhecimento sólida.
Nesse sentido, é necessária uma união entre os conhecimentos sensíveis, na forma de pesquisas científicas e procura por dados confiáveis, e a razão, encarnada na interpretação crítica da realidade através das observações feitas. A Sociologia, se utilizada de forma estratégica, pode ser o instrumento ideal no combate à desinformação.
Seguindo essa união entre saberes epistemológicos, a “imaginação sociológica” de Charles W. Mills cumprirá sua principal função: fazer com que os indivíduos compreendam a realidade social e histórica em que vivem por meio do conhecimento da verdade.
Vitória Alvarenga Pistore - 1º ano - Direito (Matutino)