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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A condição de Além-homem como fundamental ao Tipo-Ideal

                 Logo no início da fase de seu desenvolvimento intelectual, já era notório que a partir daquele ser humano surgiria um grande pensador. Essa pessoa se tratava de Max Weber (1864 - 1920), um sábio e polivalente cientista social, que possuía perícia em áreas do conhecimento como a Economia, o Direito e principalmente a Sociologia. Portanto, fica evidente que diversas foram as contribuições dessa célebre personalidade científica que, por exemplo, auxiliou o planejamento da Constituição de Weimar de 1919, documento o qual permitiu que o Estado alemão experimentasse, por um breve momento, as virtudes dos ideais republicanos.

      Primordialmente, cabe enfatizar o quão presente está a perspectiva weberiana na contemporaneidade. Segundo a teoria da Ação Social do sociólogo alemão, as atitudes dos indivíduos podem ser condicionadas racional ou irracionalmente, englobando também certos valores e tradições os quais foram absorvidos pelo sujeito durante seu lapidamento social. Um caso interessante a ser ressaltado envolvendo um conflito de opiniões no Brasil hodierno, é o da jovem menina que foi submetida a um aborto, de maneira legal, no Estado de Pernambuco. Muitos pseudocristãos se aglomeraram em frente ao hospital proferindo palavras de ódio à vítima, alicerçando-se em seus ideais sacros de preservação à vida. Sendo assim, infere-se que a ótica humana dificilmente se desacorrentará da inexorabilidade de seus conceitos, fazendo assim com que seus respectivos dogmas religiosos se tornem fatores determinantes para o funcionamento cognitivo de um grande contingente populacional.

                  Inclinando a argumentação para o espectro econômico, é substancial salientar a relação entre a teoria da dominação de Weber e a ascensão do sistema capitalista em nações majoritariamente protestantes, que posteriormente viriam a comandar o cenário financeiro global. De acordo com os preceitos do protestantismo calvinista, o homem já nasce predestinado ao paraíso ou ao inferno, sendo o seu esforço laboral a razão crucial para decidir o seu destino final. Por conseguinte a essa situação, o sociólogo e economista concluiu que a diferença de crescimento entre as mais diversas localidades mundiais estava estritamente interligada ao cumprimento das diretrizes calvinistas, que abominavam quaisquer que fossem os motivos que cessassem o pleno aprimoramento, tanto da pessoa humana, quanto de uma região incrustada desses valores sagrados. Um ponto a ser destacado também, é que as dominações propostas por Max podem conferir um caráter legal, carismático e tradicional, sendo o segundo utilizado por Adolf Hitler a fim de se estabelecer como autoridade suprema em uma Alemanha recém humanizada através das garantias sociais promovidas pela Constituinte republicana. Desse modo, percebe-se que, atualmente, ainda são encontradas diversas personalidades, como exemplo Vladimir Putin, que passaram por um processo apoteótico, em decorrência de utilizarem falas e condutas envolventes com o intuito de cativar seu rebanho, representando assim uma gerência demagoga que retrata com precisão a forma corrompida da democracia, como já fora proposto por Aristóteles.

                   Destarte, fica evidente que, hodiernamente, o pensamento weberiano se encontra contínuo nos meios sociais. A atuação de muitos cidadãos, isso no que se refere as mais diversas esferas comportamentais, está embasada única e exclusivamente em falsas percepções de mundo devido ao fato de não se encontrarem livres de axiomas que não os permitem raciocinar independentemente. Friedrich  Nietzsche já afirmava em suas escritas niilistas que apenas os espíritos mais evoluídos, os quais negam que seu funcionamento seja fundamentado em modelos já propostos, possuíam a capacidade de atingir o estado de Além-homem. Quiçá algum dia, quando muitos alcançarem a condição de super-homem, o Tipo-Ideal elaborado por Max Weber terá finalmente sua imagem cristalizada.


Nome: Mateus de Oliveira Medeiro

Curso: Direito - Turno: Noturno - 1° Ano 


 

           

Carta-socorro sobre o domínio

 Lindrin, 6 de outubro de 2020 

Caro leitor, 


Isso é uma carta de desabafo.  

Não sei quem você é, nem como essa carta chegará em suas mãos, mas considerarei que você me entende e que está aberto a ler as minhas angustias sobre a vida. 

Hoje eu passei por mais uma daquelas situações insuportáveis onde taxaram o meu corpo e me cobraram sobre como devo me conduzir frente a ele, ouvi mais um daqueles comentários ridículos de como meu corpo não é o ideal (e que ideal seria esse? A Barbie?) e que precisava feminizar ele. Meu pai me disse que eu devia agir como menina, e falou que talvez, esses comentários, eram só para eu aceitar a importância da minha imagem frente ao mundo. 

Fico impactada com isso, eles têm um valor bizarro de que o corpo perfeito é de plástico e despejam isso em mim - um indivíduo na sociedade que está fadado a ser vítima de uma ação social – como se eu fosse obrigada a seguir tal valor idealizado.   

O que acontece é que às vezes, eu acredito que sou mesma obrigada a seguir tais padrões, eles emergem no mais fundo da nossa mente e nossa felicidade acaba se tornando inconscientemente fruto da transformação social que nos impõe. 

Uma vez eu li em algum lugar que o Max Weber estudava esse lance de ação social, que para ele uma civilização específica e seus indivíduos interpretavam o mundo conforme valores e modelos culturais daquela comunidade, e que quando duas ações sociais se juntavam surgia a relação social. Porém, fiquei pensando comigo, não estava na hora de alguns valores mudaramnão estava na hora de formar relações sociais saudáveis? Sério, não aguento mais esses julgamentos ridículos. E como se não bastasse todo o domínio da comunidade sobre meu corpo, sua forma e o que eu faço dele, descobri que o Estado também o domina, e acredite ou não, até esteticamente. 

Eu estava estudando para uma matéria que ia começar na faculdade e estava vendo o Código Civil quando me deparei com o art. 13, nele estava escrito nas seguintes palavras um dos maiores absurdos que já li “é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”, você deve estar se perguntando o que pra mim é tão absurdo já que manter a integridade física é um bem necessário, mas vou te contar o que eu acho absurdo: do modo que está escrito, esse artigo simplesmente deixa claro que não posso alterar o meu corpo segundo os bons costumes, ou seja, eu não posso fazer nenhuma alteração que me faça mais feliz, porque a sociedade acha errado. Como isso? O mundo todo me domina e impõe seu valor ao meu corpo e como quer que ele seja, e , quando eu quero mudar ele, se contrariar o que os “bons costumes” eu ainda assim não posso mexê-loA sociedade me domina, o Estado me domina e eu vivo um constante estado de indefesa onde não posso fazer nada pra que esse quadro seja revertido. 

Vejamos se você entende o que eu penso, eu estou em um constante estado de legitimidade porque eu simplesmente me disponho a ter obediência frente a essa dominação, porque socialmente e legalmente não quero perder meus direitos, meus afetos e minhas relações. 

Estaria eu, fadada a seguir previsibilidades legais que me dominam além de suportar valores sociais que me desmoronam? 

Não sei mais o que fazer, como eu disse acima, isso é um desabafo e espero que você o compreenda. 

Saiba que estarei disposta a manter uma linha de conversa, você tem um endereço sem nome atrás desse papel, pode me responder sempre que quiser, ficarei feliz de saber que alguém que não segue tais valores pode me auxiliar nessa difícil jornada de questionamentos e angustias. 

Atenciosamente,  

Alguém que procura ajuda. 


Isabel Borderes Motta - 1° ano - Noturno

Contemporaneidade do Weberianismo

 Max Weber foi um importante pensador do século 19, ele foi responsável por revolucionar o método sociológico de sua época. Weber em seu livro "Metodologia das Ciências Sociais" formulou a "Sociologia Compreensiva", ciência necessária para se entender a realidade e formar uma explicação para ela. Tal ideia foi ao encontro dos conceitos tidos até então, os quais viam na sociologia um caminho para efetuar mudanças sociais, Karl Marx foi um representante dessa visão, que era criticada por Weber. Assim, Max tinha por objetivo compreender as ações sociais, ou seja, os anseios e as vontades que levam as pessoas a agirem de certa forma. Portanto, o indivíduo é figura central em sua análise, fazendo parte de uma via de mão dupla, já que as ações, mesmo quando coletivas, tem origem no ser, uma vez que são condicionadas por padrões culturais específicos de cada sociedade. 
 Dessa forma, Weber pensou em uma sociologia objetiva, capaz de explicar determinados atos para todas as culturas, por mais diversas que elas sejam. Com essa técnica foi possível observar como as sociedades são diferentes entre si, pois cada uma tem suas próprias tradições, ideologias, crenças e gostos. A exemplo disso, tem-se as mulheres Karen na Tailândia, elas são mundialmente conhecidas por usarem argolas nos pescoços em sinal de beleza, o que as proporcionou o apelido de "mulheres girafas", uma vez que esses anéis esmagam seus ombros gerando um aumento no tamanho do pescoço. Esse ato é predominantemente uma ação tradicional, representada por Weber como uma prática feita mediante as tradições e os costumes de um povo. 
Weber também explica que para compreender determinada atividade é preciso entender sua formação histórica. Em sua teoria, Weber diz que o significado de uma ação é historicamente construído, ou seja, todas as formas de pensar e agir que se tem hoje são reflexos de um passado comum. Assim, a história está constantemente refletida no presente e basta olhar para ela para assimilar alguns problemas sociais que se tem atualmente. Para exemplificar essa afirmação podemos olhar para o passado histórico do Brasil, no qual a escravidão esteve presente por mais de 300 anos e com a sua abolição os escravos não foram devidamente inseridos na sociedade, refletindo na dívida histórica que temos hoje em dia, a qual está representada na desigualdade social, no racismo e na violência praticados contra essa minoria. 
 Além disso, Weber cria os chamados "tipos ideias", ferramentas de estudo das sociedades usadas para comparar o real com o esperado. Desse modo, o "tipo ideal" é uma espécie de personagem perfeito, que cumpre com as expectativas a ele impostas, entretanto, ele não existe efetivamente. Ao se pensar na vivência nacional, podemos perceber que o povo brasileiro tem uma tendência em acreditar em figuras salvadoras, que surgiriam para acabar com toda a corrupção e todos os males do Brasil. Portanto, a população tem como "tipo ideal" para os políticos figuras heroicas apenas preocupadas em melhorar o Brasil. Porém, vale refletir que todos os políticos possuem propósitos subjacentes as suas eleições, os quais são expressos pelo fisiologismo partidário, por ascensões a cargos de maior prestígio ou pelas reeleições, provando a inexistência desse "tipo ideal". 
 Em suma, Weber foi responsável trazer novas funções para a sociologia, colocando o cientista como parte integrante do estudo, uma vez que ele é membro de um corpo social e carrega a cultura e os costumes do meio em que vive, criando uma ciência objetiva, mas não neutra, a qual é responsável por compreender a sociedade, sem modifica-la. 
Julia Dolores - Direito matutino. 

Quando o poder legitimado não é bem utilizado

Movimentos pedindo o fim da polícia militar reivindicam que a estrutura da instituição está falida e não cumpre mais o papel que a ela foi conferido pela sociedade. Esse discurso foi agravado com acontecimentos recentes como a morte de João Pedro, um menino de 14 anos que foi assassinado por policiais que dispararam 70 tiros contra a casa onde o garoto brincava com mais 5 amigos.

Casos como o de João Pedro, escancaram o abuso cometido por policiais em operações principalmente nos bairros mais periféricos e contribuem para o genocídio da população negra, maioria nesses lugares e também entre as vítimas desses policiais.

O papel concebido aos policiais de preservação da ordem pública e de proteção das pessoas e do patrimônio, não passa de um tipo ideal, ou seja, a conduta expectável que a sociedade tem para com esses profissionais. Esse tipo ideal é um mecanismo para ilustrar as ações sociais, o que não significa que vai se concretizar, e nesses casos a conduta não é a esperada.

Para entender como esses profissionais designados a proteção são tão facilmente corrompidos e acabam cometendo delitos graves como o supracitado é necessário compreender o poder que a sociedade entrega para esses policiais.

O poder, segundo Max Weber, se dá mediante a racionalização, ou seja, a constatação de que as ações sociais implicam em dominação. Por sua vez, dominação é definido como a probabilidade de ser obedecido e essa obediência só é concreta através da legitimação.

No caso dos policiais, o poder de agir contra alguém que comete um crime, de portar uma arma de fogo, entre outros, é racionalizado e permitido a esse grupo pela sociedade, que por sua vez legitima o poder obedecendo a autoridade do policial e confiando em suas mãos a segurança. A previsibilidade das ações de um policial, levando em conta seu treinamento, seu juramento e seu dever para com a sociedade é o que tornaria a instituição confiável.

Como qualquer ser humano, policiais são passíveis de erros, a pressão do trabalho de um policial é tão grande, que as taxas de suicídio entre policiais é de 23,9 a cada 100 mil, enquanto na  população em geral  o número é de 5,8. Esse dado mostra que não apenas a população atacada sofre com à distribuição desigual do poder na mão dos policiais, mas os mesmos também sofrem.

Em situações como essa, de evidente abuso de poder, leis como o artigo 5o  da Constituição Federal, que diz que todos são iguais perante a lei não passam de uma mera expressão formal do Direito: a ideia de igualdade contida na lei não se estende para a realidade. É claro diante de exemplos como o de João Pedro que a norma não é aplicada com plenitude, colocando a população periférica e negra em uma situação inferior. É por isso que modificações no direito são necessárias e importantes nessa questão, para transformar a norma em ações concretas e para não mais legitimar comportamentos agressivos contra pessoas específicas e contra a sociedade em um geral.

  Referências:

No Brasil, mais policiais se suicidam do que morrem em confronto. Estadão, 2019. Disponível em: < https://exame.com/brasil/no-brasil-mais-policiais-se-suicidam-do-que-morrem-em-confrontos/>.

Franco, Luiza. Caso João Pedro: quatro crianças foram mortas em operações policiais no Rio no último ano. BBC News, 2020. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/geral-52731882>. 

Beatriz Araujo Gomes – RA: 201223066 - matutino


O perigo da dominação carismática

 

   O livro “Como as democracias morrem”, escritos pelos cientistas políticos, estadunidenses, professores da universidade de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, traça uma análise sobre como regimes democráticos acabam, ainda que nestes os governantes responsáveis pelo fim da democracia tenham sido eleitos para seus cargos seguindo as regras do jogo democrático. E tenta compreender as fases pela qual tais regimes passaram e dessa forma, ensinar a população para evitar que isso se repita.

   No decorrer do livro, inúmeros países e regimes são analisados, como a Alemanha, no período entre guerras. Tal período, mesmo sendo marcado por avanços na área jurídica como a inovadora constituição da República de Weimar, a qual estabeleceu direitos sociais e fez a transição de um regime Monárquico para um republicano, sendo usada como modelo para outras constituições, inclusive a constituição brasileira de 1934. Porém, todo esse avanço na direção democrática não foi capaz de impedir que um ex-soldado com ideias totalmente contrárias ao regime democrático, se utilizasse desse sistema para ascender ao poder e dessa forma estabelecer uma das ditaduras mais terríveis de toda a história da humanidade.

   O fenômeno da ascensão do regime nazista em uma sólida democracia europeia relaciona-se a um dos conceitos de dominação estabelecidos pelo sociólogo, também alemão Max Weber. Em seus estudos relacionados a sociologia e política, Weber, descreve o conceito da dominação carismática, na qual um líder se utiliza do seu carisma para se estabelecer no poder e assim, conseguir realizar todas as suas vontades.

   Portanto, a teoria de Weber, sobre a dominação, realizada antes da ascensão nazista na Alemanha é um dos fatores utilizados pelos cientistas políticos de Harvard, quase um século depois para descrever governos autoritários, configurando as ideias como atuais. Além disso, com surgimento de novos governos de extrema direita, com líderes carismáticos e com tendências autoritárias ao redor do planeta as ideias de Weber necessitam da revisitação, para que não governos ditatoriais comandados por esse tipo líder sejam apenas assuntos dos livros de história.

 

Lucas Passos Duran Netto   1ºano   direito matutino

Uma análise weberiana da contemporaneidade.


Max Weber, sociólogo alemão do século XX, é um dos grandes nomes para a sociologia, juntamente com Durkheim e Karl Marx. No entanto, Weber se distanciou em diversos aspectos das ideias de tais sociólogos, fundamentando suas próprias teorias. Um exemplo disto é que, enquanto Marx acreditava que as relações de poder e dominação entre os indivíduos estavam baseadas unicamente nas relações de produção, Weber buscava explicar essas relações através de uma teia mais complexa.

Para ele, o materialismo histórico de Marx se equivoca ao declarar que a dominação se faz presente apenas entre classes sociais diferentes e, nesse sentido, afirma que ela pode se estabelecer também entre iguais. Ademais, a dominação também não se trata de um processo que tem sentido único e, segundo o pensamento weberiano, se em uma esfera da sociedade determinado indivíduo pode exercer papel de dominador, em outra esfera ele pode ser o dominado. O poder e a dominação podem-se manifestar, por exemplo, através de pequenas atitudes cotidianas, como na escolha do nosso vocabulário. Quando um professor universitário, que pode ter a mesma condição econômica de seus alunos, utiliza expressões técnicas para se comunicar com os estudantes, ele está, mesmo que inconscientemente, demonstrando seu poder, se colocando como superior por utilizar uma linguagem pouco acessível. Assim, uma relação de dominação é estabelecida entre esse professor e seus alunos.

Além disso, Weber também se diferencia de Marx ao defender que é a cultura, e não os meios de produção, o elemento responsável por promover a hegemonia de uma forma de conduta em determinado contexto. Assim, a cultura e os valores coletivos, para tal sociólogo, é responsável por determinar o que Weber chamada de ação social, ou seja, a condução da vida. Podemos observar a aplicação de tal ideia quando analisamos o caso que ocorreu em agosto de 2020 com uma menina de 10 anos de idade. A criança foi vítima, durante cerca de 4 anos, de abusos sexuais cometidos por seu tio e acabou engravidando. A justiça determinou a legitimidade da realização do aborto no caso da menina, no entanto, um grupo denominado “pró-vida” se reuniu na entrada do hospital onde seria realizado o procedimento e tentou impedir a realização do aborto. Para isso, o grupo bloqueava as entradas do local, além de chamarem constantemente os membros da equipe médica de “assassinos”.

Esse triste exemplo nos mostra como as ações sociais são influenciadas pela cultura e pelos valores de um coletivo. Segundo uma matéria da Revista Veja[1], o grupo que protestou contra a realização do aborto era composto por membros da religião católica e, portanto, podemos compreender que os ideais patriarcais e machistas, pregados por muitos grupos católicos , mas também intrínsecos na sociedade brasileira como um todo, foram capazes de influenciar cada indivíduo ali presente e, dessa maneira, o movimento foi formado. Apesar do motim, o procedimento foi realizado e a criança recebeu assistência médica e psicológica.

Nesse contexto, podemos compreender que Weber busca se distanciar de teorias já estabelecidas por outros importantes sociólogos de seu tempo, construindo um pensamento mais abrangente no que tange as relações de poder e dominação nas sociedades. Tais interpretações, desenvolvidas por Weber, são essenciais para ao estudo e o entendimento de muitos fenômenos ocorridos na atualidade e, assim, apesar da obra do autor ter sido elaborada há cerca de 100 anos, parece retratar o que estamos vivendo hoje.

Júlia Scarpinati- 1° ano Direito- Matutino. 

A pandemia e o individualismo

    A atual pandemia do Coronavírus instituiu diversos comportamentos novos na sociedade brasileira. Os indivíduos, até por mecanismos jurídicos, foram obrigados a obedecerem a quarentena, utilizarem álcool em gel e adotarem o uso contínuo de máscara nos locais públicos. Essas práticas, incentivadas pelo Ministério da Saúde, foram implantadas visando o bem coletivo. O uso de máscara, por exemplo, evita o contágio de novos indivíduos e, portanto, evita a lotação dos leitos e da expansão da pandemia.

    Ao longo do tempo, a quarentena foi se flexibilizando para a volta do comércio e a rotação da economia; mas uma contribuição inconsciente de cada indivíduo para continuar usando a máscara para uma flexibilização tranquila foi instituída. Entretanto, essa expectativa não foi concretizada. O centro de Campinas, cidade localizada no interior de São Paulo, por exemplo, lotou logo no primeiro dia da reabertura do comércio.

    Observou-se longas filas e uma grande aglomeração. Muitos indivíduos sem máscara. Essa ação prejudicou a situação da pandemia, pois logo na semana seguinte observou-se um crescimento significativo dos números de casos da cidade. De outro modo, a ação individual de não se preocupar com o coletivo e não tomar as ações preventivas gerou um efeito de aumento de contaminados da sociedade como um todo.  

    Essa situação pode ser analisada pela teoria do jurista alemão e um dos fundadores da sociologia Max Weber. Em sua obra “A Metodologia das Ciências Sociais”, o autor explica o conceito de ação social. Na teoria, se caracteriza como toda ação do indivíduo em uma relação social, ou seja a convergência das relações individuais, movida por valores. De outro modo, são ações em que os indivíduos buscam achar correspondência com a ação dos demais, sejam estas com um feed back positivo ou negativo.

    Sendo assim, no caso de Campinas, o não uso da máscara por determinados indivíduos caracterizou-se como um correspondência negativa em relação aos demais. Esperava-se que todos utilizassem o equipamento de proteção para uma reabertura segura, porém não foi o que aconteceu. Quais foram os valores utilizados para a decisão de não uso das máscaras? Desconhecimento? Egoísmo? Talvez seja apenas o individualismo e a não preocupação com o bem coletivo. 


Referências bibliográficas:

ACidadeON Campinas. Consumidores lotam a Rua 13 de Maio em reabertura do comércio: Desde a manhã de hoje muita gente já estava esperando a volta das atividades do comércio não essencial. 8 jun.2020.Disponível em: https://www.acidadeon.com/campinas/cotidiano/coronavirus/NOT,0,0,1523078,consumidores+lotam+13+de+maio+em+reabertura+do+comercio.aspx. Acesso em: 04 set. 2020.

WEBER, Max. “A ‘objetividade’ do conhecimento na ciência social e na ciência política” (1904). IN: A Metodologia das Ciências Sociais. São Paulo: Cortez; Campinas: Ed. da UNICAMP, 1933, pp. 107-154.


Julia Alves Bensi - Direito Matutino 


Beco com saída

    Durante o século XX, sob a luz da Guerra Fria e da bipolarização, o conceito de social-democracia ganhou certo destaque. Na época, como fosse uma espécie de meio termo entre os dois lados em disputa, parecia a solução perfeita por manter o interesse da burguesia como combustível motor da sociedade ao mesmo tempo que não deixava de lado a intervenção estatal no ofício de garantir (ou amenizar a ausência de) uma qualidade de vida digna para todos e não para apenas uma parcela da população. Mas essa teoria toda não se aplicou na prática.

    Os teóricos da social-democracia divergiam e discordavam dos marxistas no sentido de que não intentavam a coletivização dos meios de produção. Esses teóricos, pelo contrário, abraçavam o capitalismo, ao mesmo tempo que usavam a política e os meios a sua disposição para tentar amenizar seus efeitos, “morder e assoprar”. Assim, a social-democracia propunha reformas, mas não reformas demais. Reformas, mas mantidas na remediação das consequências muito mais do que na intervenção nas causas. Reformas, mas dentro do permitido pelo capitalismo.

    As principais críticas a essa perspectiva política tinham exatamente esse viés, o de questionar até que ponto a social-democracia era eficiente, até que ponto era inteligente confiar nas boas intenções dos que estão no poder. Estava ela propondo mudar algo porém utilizando os meios errados para atingir esse resultado, ou será que ela nunca se propôs a mudar algo de verdade?

    Toda essa narrativa se relaciona diretamente com o conceito de dominação desenvolvido pelo sociólogo alemão Max Weber. Weber argumenta que a relação de dominação é por essência não ideal, independentemente dos esforços do dominador para amenizar os impactos negativos de sua soberania. Isso porque dominação, para Weber, era definida justamente como a apropriação de recursos escassos e necessitados por toda a sociedade, apropriação essa legitimada pela aceitação dos dominados. Max Weber considerava a existência da dominação, seja ela de qualquer natureza, imprescindível para a vida social.

   Dessa forma, seguindo as ideias weberianas, mesmo que, é claro, a social-democracia represente um modo de governo menos nocivo que o liberalismo, ainda o é, por estar fundamentada na manutenção do capitalismo, sistema cuja idiossincrasia é a existência de uma cadeia de hierarquias e dominações bem definida.

 

Leonardo Bastos Stevanato – Direito matutino

Tipo ideal nacional na presidência?

 É fato que, para Max Weber, o indivíduo e as representações do coletivo mesclam-se. Com isso, o Tipo Ideal, organizado pelo pensador, revela como algumas situações contemporâneas parecem tão claras nesse viés, como, por exemplo as eleições de 2018 quando Jair Bolsonaro foi eleito o presidente do que chamamos por “nação brasileira”. Tal nação, por sua vez, o colocou como síntese de valores cujo esboço representa grande parte das principais características referentes à sociedade deste país.  

Logo, tendo em vista que o desenvolvimento aqui foi – e ainda é, posta a escravidão contemporânea - pautado sobre milhões de escravos, sendo destinados à miséria humana pela cor da sua pele, fica nítido como a sociedade brasileira reage quando a população negra clama por direitos, uma vez que esses lhes foram sempre negados. Além disso, proibidas de trabalhar, sair de casa, comprar imóveis, separar do marido ou qualquer outra coisa que seja possibilitada pelo exercício da liberdade, às mulheres foram, por séculos, negados o acesso aos direitos também, sendo a luta pela conquista e manutenção desses, diária. Junto a isso, também, pode ser analisada a forma pela qual todas essas interseccionalidades atingem grande opressão ao ter em vista o recorte classista: Direito, Política, Cultura, enquanto construídas por uma elite conservadora historicamente detentora do poder no país, revela a si própria seus interesses, expondo a equidade direito para quem lhes é interessante, a negá-los explicitamente, quase sempre sem sofrer as consequências disso. 

Portanto, numa visão Weberiana, a “energia espiritual” da comunidade - aquela que coloca a morte do indivíduo compensada quando tal equilíbrio é atingido - é posta em contraprova. Valeria, então, a mesma energia da morte de César que a morte de um moribundo? O peso da perda de uma vida do tipo ideal jovem negro periférico seria o mesmo que um senador com trinta e oito condolências em diversos jornais, eventos e revistas? Claramente, não.

Então, está enraizado na cultura brasileira como essas diferenças são expressas. Logo, num misto de relações sociais, é vista uma extrema dificuldade na dissociação dessas mazelas que assolaram e assolam o Brasil por séculos. Assim perdidos entre pensamentos de gerações, abafados por distâncias, a realidade de 2018, com o apoio das redes sociais, mostrou como os indivíduos, com seus preconceitos e ascos isolados, se uniram, expondo Jair Bolsonaro como um escopo do conservadorismo, o tipo ideal daqueles cuja cultura social se juntou, entre fios de ações sociais, tornando uma massa degradante que legitima suas repulsas ao que foge do seu igual.  

Assim, conversadores encontram a multiplicidade dessas conexões - das relações sociais oriundas das ações - no ponto de sinergia expresso pela cultura, transformando pequenos ímpetos dentro do coletivo em um poder factual, capaz de atrasar, em menos de dois anos, décadas de lutas e de sangue.  


Anita Ferreira Contreiras, 1º ano, Direito Noturno.