Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?
Se alguém fosse instado a descrever e definir a noção de ordem, a imaginação, de imediato, evocaria um cenário de equilíbrio e harmonia, no qual o poder se exerce de maneira equânime e legítima, assegurando o pleno funcionamento do tecido social. A palavra "ordem", tão amplamente discutida e, em certa medida, enaltecida em todo o mundo, encontra-se, inclusive, escrita na bandeira nacional do Brasil, enfatizando seu caráter de base para a estrutura e os princípios da nação. Contudo, ao se proceder a uma análise crítica da veracidade do ideal de "ordem e progresso" no contexto da federação e da conjuntura global, seria possível, de fato, afirmar que essa ordem se concretiza na realidade contemporânea? A configuração hodierna da ordem integra, de maneira efetiva, a sociedade, ou se revela um conceito meramente utópico, distanciado da realidade concreta do mundo?
Ao observar os inegáveis avanços que se verificam cotidianamente no domínio da tecnologia, nos progressos da medicina e nas curas alternativas, no desenvolvimento de vacinas e nas iniciativas que promovem a inclusão de minorias nos espaços acadêmicos, laborais e na esfera social mais ampla, pode-se inferir que a ordem encontra-se estabelecida e consolidada no presente contexto. Sob essa perspectiva conclui-se que o exercício do poder manifesta-se de forma eficiente e, em grande medida, eficaz.
Entretanto, ao analisar as mazelas sociais, os inúmeros conflitos bélicos — como o persistente embate entre Palestina e Israel —, os elevados índices de analfabetismo, a insegurança alimentar e o alarmante número de indivíduos em situação de vulnerabilidade extrema, a conclusão poderia ser completamente oposta: a esse ponto, a própria existência de ordem se tornaria questionável. Como sustentar a noção de ordem quando, diariamente, milhares de pessoas são assassinadas em razão de sua cor de pele, de sua identidade de gênero, de sua filiação religiosa ou, até mesmo, pelo simples fato de serem mulheres? É assustador constatar que preconceitos, supostamente extinguidos do corpo social, persistem de maneira incessante e, por vezes, recrudescem.
Diante dessa realidade, a indagação que inaugura o presente excerto revela-se uma incógnita cuja resposta se molda conforme as lentes pelas quais se observa o mundo. A depender do prisma adotado, as respostas podem se revelar totalmente antagônicas. Sem que se considere a influência das convicções individuais, do meio sociocultural em que o sujeito está inserido e de suas crenças pessoais, a questão levantada dificilmente encontraria uma resposta definitiva.