O filme “Jurado Número 2” é um bom exemplo para analisar a dualidade da parcialidade, já que obra demonstra a dificuldade de se manter neutro em situações nas quais a pessoa está emocionalmente ou fisicamente envolvida. No enredo da obra, Justin Kemp é convocado para participar do júri de um caso em que ele suspeita ser o verdadeiro culpado, gerando, assim, um grande dilema moral: absolver ou condenar o réu, aparentemente inocente.
No entanto, diferentemente da atitude tomada por Kemp, na visão do filósofo francês Auguste Comte, uma das características essenciais da Física Social é a aplicação da neutralidade científica, ou seja, a realização de estudos sociais por meio de métodos de observação e experimentação que não envolvem a pessoalidade do autor. Desse modo, para Comte, seria possível realizar estudos e tomar atitudes apolíticas e baseadas simplesmente nos fatos.
Entretanto, o filme se aproxima do pensamento de Grada Kilomba, presente no livro “Memórias da Plantação”. Segundo a autora, muitas das críticas direcionadas a suas obras associam sua escrita a um excesso de subjetividade, visto que Kilomba descreve diversos episódios racistas do cotidiano, fazendo uma análise sociológica dos mesmos. Para a escritora, qualquer discurso é carregado politicamente, isto é, tudo está imerso em alguma opinião ou ideologia. Assim, fica evidente que a escritora discorda da teoria de Comte, pois não existiria a possibilidade de criar um discurso neutro, nem mesmo no âmbito sociológico ou científico.
Tomando a perspectiva de Kilomba, fica perceptível que os comentários sobre a sentimentalidade de seus relatos revelam, na verdade, uma tentativa de inferiorizar e silenciar a voz de pessoas pretas, algo que reforça o sistema de opressão e impede que diferentes perspectivas sejam escutadas e compreendidas. Logo, a tentativa de forçar a imparcialidade das ações tem um caráter extremamente repressivo, visto que procura tirar a credibilidade de expressões consideradas inconvenientes para a manutenção da censura.
Um exemplo concreto de como toda atitude é política ocorreu em 2025, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Nesse evento, manifestações e formas de expressão registradas nas paredes do Centro de Convivência — um local destinado ao descanso e à criação artística dos estudantes — foram cobertas por tinta branca antes da chegada dos novos ingressantes. Essa ação, justificada como uma tentativa de tornar o ambiente da faculdade “neutro”, configura, na verdade, uma forma de silenciamento e apagamento histórico, sendo, portanto, também ideológica.
Nome: Camilly Isabele Mendes Agostinho
1º ano Direito (Noturno)