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sábado, 29 de março de 2025

Tudo é político, até uma parede

O filme “Jurado Número 2” é um bom exemplo para analisar a dualidade da parcialidade, já que obra demonstra a dificuldade de se manter neutro em situações nas quais a pessoa está emocionalmente ou fisicamente envolvida. No enredo da obra, Justin Kemp é convocado para participar do júri de um caso em que ele suspeita ser o verdadeiro culpado, gerando, assim, um grande dilema moral: absolver ou condenar o réu, aparentemente inocente.

No entanto, diferentemente da atitude tomada por Kemp, na visão do filósofo francês Auguste Comte, uma das características essenciais da Física Social é a aplicação da neutralidade científica, ou seja, a realização de estudos sociais por meio de métodos de observação e experimentação que não envolvem a pessoalidade do autor. Desse modo, para Comte, seria possível realizar estudos e tomar atitudes apolíticas e baseadas simplesmente nos fatos.

Entretanto, o filme se aproxima do pensamento de Grada Kilomba, presente no livro “Memórias da Plantação”. Segundo a autora, muitas das críticas direcionadas a suas obras associam sua escrita a um excesso de subjetividade, visto que Kilomba descreve diversos episódios racistas do cotidiano, fazendo uma análise sociológica dos mesmos. Para a escritora, qualquer discurso é carregado politicamente, isto é, tudo está imerso em alguma opinião ou ideologia. Assim, fica evidente que a escritora discorda da teoria de Comte, pois não existiria a possibilidade de criar um discurso neutro, nem mesmo no âmbito sociológico ou científico. 

Tomando a perspectiva de Kilomba, fica perceptível que os comentários sobre a sentimentalidade de seus relatos revelam, na verdade, uma tentativa de inferiorizar e silenciar a voz de pessoas pretas, algo que reforça o sistema de opressão e impede que diferentes perspectivas sejam escutadas e compreendidas. Logo, a tentativa de forçar a imparcialidade das ações tem um caráter extremamente repressivo, visto que procura tirar a credibilidade de expressões consideradas inconvenientes para a manutenção da censura. 

Um exemplo concreto de como toda atitude é política ocorreu em 2025, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Nesse evento, manifestações e formas de expressão registradas nas paredes do Centro de Convivência — um local destinado ao descanso e à criação artística dos estudantes — foram cobertas por tinta branca antes da chegada dos novos ingressantes. Essa ação, justificada como uma tentativa de tornar o ambiente da faculdade “neutro”, configura, na verdade, uma forma de silenciamento e apagamento histórico, sendo, portanto, também ideológica.


Nome: Camilly Isabele Mendes Agostinho 

1º ano Direito (Noturno) 



Desordem, Ordem, Reordenamento

Friamente calculado
Sem ideal
Física social

Isso deve ser assim
Temos ordens a seguir
Apenas sigo ordens

Ordem para o progresso
Estática e dinâmica
Estática para a dinâmica

A revolução
Desordem
Mera subversão

Só a estabilidade trás progresso
Devemos conservar nosso modelo
Isso é positivo

Disciplina é o caminho
Disciplina em tudo
Viva a ordem

Esse é o caminho mais rápido entre um ponto e outro
Não há curvas, devemos ser lineares
Viva o progresso

Há duas forças na sociedade
As da desordem e as nossas
Viva o reordenamento

Caos jamais
Estabilidade sempre
Ordem e progresso

Felipe Lopes Gouveia Clauz Morlina - 1ºsemestre de direito noturno

Positivismo, uma problemática, mas totalmente incorreta?

 Auguste Comte é considerado o primeiro sociólogo, foi responsável por classificar a Sociologia enquanto ciência, ainda que como tradicional positivista que é, propôs também uma única forma de se produzir ciência sociológica. O Positivismo de Comte se pautava principalmente em sua Teoria dos 3 Estados e na ideologia “ordem e progresso”.

Quanto a famigerada frase, presente na bandeira brasileira, Auguste entendia que o progresso era algo natural da sociedade e que esta só poderia atingir tal objetivo por meio do progresso, de uma harmonia social. Unido ao conceito da naturalidade do progresso, desenvolveu a Teoria dos 3 Estados, que postulava uma sequência fixa e certa para atingir justamente aquilo que se considerava progresso.

Notável a problemática de uma sequência obrigatória para o desenvolvimento de cada sociedade, ao assumir essa noção como verdadeira, se entenderia que certas sociedades são superiores a outras, em especial, ao contexto de Comte, isso seria uma forma de legitimar uma dominação na América, na qual os povos originários teriam um “menor grau de desenvolvimento”. Entretanto, ainda que se note a incoerência desse pensamento, as formas de pensar de cada Estado de fato existem, mas ao invés de pensá-las como sequenciais, as 3 formas existem e se mantem concomitantemente.

“Ordem e Progresso”, por sua vez, é passível de grande reflexão, inicialmente pela concepção de ordem estabelecida pelo sociólogo, que é deveras estamental, atribuída a uma harmonia social, porém o que fica implícito nessa forma de pensar, é que não haveria a possibilidade de qualquer ascensão social, que por si só é uma das postulações do modo de produção capitalista. Por mais que se possa questionar a forma que o capitalismo promove ascensão social, inegável que em poucos casos ela existe, mas para Comte, isso implicaria em uma sociedade doente e, portanto, incapaz de seguir ao progresso. Outra problemática é a própria ideia de progresso, o que seria o progresso? Para a concepção positivista, novamente surge a problemática de uma ideia muito enraizada e dotada de extremismo. 

Observando com um olhar um tanto quanto mais contemporâneo e reinterpretando essa frase (ordem e progresso), ainda que com o risco de anacronismo, me arrisco a dizer que nem tudo é de fato errôneo. O progresso sequer precisa ser entendido, deve ser um ideal a ser alcançado, não necessariamente um ideal comum para todas as pessoas do mundo, mas assim como a Constituição de 1988 se pauta em um “deve ser”, o que impediria o progresso de representar o mesmo, ainda que de forma menos extrema. Quanto a harmônia social e quando ela se quebra o caminho para o progresso, me dou a licença de concordar discordando, discordo de sua concepção de harmônia, creio que algo harmônico não é estamental, mas fluído, principalmente a se tratar de pessoas. Mas concordo com partes como a ausência dela impede o progresso, os 3 Poderes são fundamentais no sistema estatal brasileiro, imaginemos por um instante que algum dos 3 poderes passe a extrapolar sua competência ao ponto que os demais não possam regulá-lo, assim, estaria posta a corrupção do sistema e carrega consigo a impossibilidade de atingir um ideal posto pela sociedade, de qualquer forma, assim como também defendido por Comte, apenas a própria sociedade pode se curar quando se encontra doente. Portanto, cabe a nós mesmos nos regularmos enquanto pessoas sociais e políticas.