“Ponto de Mutação’’ é
um filme de 1990, dirigido por Bernt Amadeus Capra. A obra
nos apresenta personagens peculiares e adeptas a diferente visões de mundo; são
três: a cientista, o político e o artista. Essas, mantêm um diálogo durante todo
o filme, cada qual exprimindo sua perspectiva sobre os mais diversos
acontecimentos e movimentos da vida, ou como se exprime na narração “a dança
cósmica de criação e destruição’’.
A cientista, que supostamente
deveria simbolizar a crença no método científico e apoiar a filosofia cartesiana,
encontra-se desiludida: seu trabalho ao invés de usado para o bem da
humanidade, fora subvertido. Portanto, agora permite que a natureza aja sobre
ela – mera observadora- deixando de ser aquela que interfere na natureza
(cientista). Descrê na vida resumida de modo mecanicista (metáfora das engrenagens
de um relógio); ao contrário, ela propõe uma visão holística do mundo, garantindo
que tudo o que o compõe esteja conectado. Acredita, então, que o mundo esteja
passando por uma crise de percepção: as pessoas deveriam olhar de forma
preventiva – e não remediável - para as situações a fim de reduzir prejuízos.
Para refutá-la existe o
político, um homem que dentro de seu individualismo, não consegue libertar-se
de uma visão superficial dos fatos. É assim descrito pelo poeta “Procuro algo
por trás da fachada, mas talvez ele seja verdadeiramente essa fachada’’. O
político tende a concordar com a visão especializada própria de Descartes e
Bacon. Por enxergar a realidade de forma prática, considera a ideia da
cientista utópica. Para ele, sempre existirá desigualdade pois, a dominação é intrínseca
à sociedade, cuja função consistiria em somente “dançar conforme a música”. Em
suas palavras: “como dizer ás pessoas o que é bom para elas?”
O poeta, nessa disputa argumentativa,
quase nunca expõe opiniões, mas interfere colocando ideias de pensadores e
artistas influentes, nesse debate; ora como complemento, ora como fomento à
discussão. Entretanto, ao final da obra, exalta-se e propõe uma visão de mundo
totalmente oposta à dos outros. Reitera – e isso pode ser proposital para a
tentativa de tornar o filme imparcial- o relativismo das opiniões das outras
personagens, em frases como: “me sinto tão reduzido chamado de sistema, quanto
de relógio’’, “a vida não é condensável assim’’, “a vida sente a si mesma’’
Afinal, pela foto proponho uma metaforização
das três personagens.
Um político pragmático feito um cata-vento, movido pelas articulações
políticas, “conforme bate o vento’’, e construído juntamente às noções do mundo
pós-moderno, individuais e sedentas por vantagens. Uma prova da influência da especialização no mundo atual.
A cientista, faria
papel de árvore, na tentativa de conectar-se ao mundo, como ocorre com as
árvores, e simplesmente fazer parte de um sistema, um “sistema orgânico”. Interpretando
livremente suas palavras: tudo faria parte de uma mudança estrutural contínua,
mas sem deixar de seguir alguns padrões. Sua personagem prova a descrença, apresenta-se em um estágio relativista ou metafísico da existência. Considera a
existência uma autotranscedência movida pela criatividade. Afinal, procura
respostas racionais para suas inquietações
provindas do sentimento de culpa,
pela inquietação pós desilusão com a ciência aplicada.
E o poeta, remeteria ao
pássaro, o precursor da liberdade,
pois, durante toda a obra, não expõe opiniões de maneira contundente, afinal
ele é o poeta, livre para ir e vir e modificar sua opinião no decorrer da vida.
Nada é cobrado dele, é um ser empírico
e instintivo como ocorre no desfecho da obra, pela atitude explosiva que
apresenta.
Ana Flávia Toller - 1º ano Direito (diurno) - Filme: ''Ponto de mutação''