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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Interpretação errônea

      Marx e Engels criaram o Manifesto Comunista com a finalidade de esclarecer quais as verdadeiras intenções e crenças do comunismo, que eram mal entendidas e prejulgadas pela sociedade da época.
         O Manifesto explica toda a trajetória da burguesia, desde o seu surgimento, no feudalismo; e explica também como o proletariado sustenta toda a riqueza e progresso da burguesia, sem ter acesso a nenhum desses. Ele faz um elogio à capacidade revolucionária da burguesia, que conseguiu instalar seus ideais de produção e mercado na sociedade. A burguesia foi capaz de abrir as portas ao progresso e à tecnologia, algo que nenhuma classe havia alcançado antes. Contudo, canalizou os resultados do progresso apenas para si mesma, deixando o proletariado à sua margem.
      A obra enfatiza que o potencial revolucionário do proletariado é ainda maior do que o da burguesia, pois esta demorou séculos para realizar sua revolução, enquanto aquele poderia realizar a sua em poucos anos, principalmente por conta dos avanços na área da comunicação. Muitos creem que é interessante para o comunismo acabar com a tecnologia e a modernidade. Muito pelo contrário, ele busca ampliá-los, pois o progresso, a tecnologia e a modernidade são aliados do proletariado, já que aumentam seu poder de comunicação e ampliam seu acesso à informação.
         Outro ponto muito mal interpretado acerca do comunismo: ele não pretende acabar com o poder do homem de se apropriar produtos da sociedade, apenas busca impedir o burguês de “subjugar o trabalho de outros através de tal apropriação”. Ou seja, não são válidos os argumentos de que, em uma sociedade comunista, não haveria espaço para os prazeres que são proporcionados pela tecnologia no capitalismo.
      Sobre o fim da propriedade privada, consta na obra que os comunistas tinham a intenção de acabar com ela no âmbito burguês, pois para o resto da sociedade ela já não existia: “Vocês estão horrorizados com a nossa intenção de acabar com a propriedade privada. Mas na sua sociedade, a propriedade privada já acabou para nove décimos da população”. Afirma ainda que sua existência para a burguesia dependia justamente de sua inexistência para o proletariado.
      Hoje, muito mais do que a própria burguesia, a maior responsável pela manutenção do capitalismo é a massa, pois a ideologia burguesa criou uma ideia que se propaga nela de que “todos podem comprar, todos podem subir de nível social, desde que se esforcem”. Essa ideia de meritocracia, mesmo que falsa, perpetua na mente de todas as classes, minando qualquer tipo de potencial revolucionário.

Beatriz Mellin Campos Azevedo
1º ano - direito diurno

O Manifesto Comunista

O Manifesto Comunista,publicado em 1848,escrito por Karl Marx e Friedrich Engels,faz uma dura crítica ao modo de produção capitalista burguês,além de demonstrar a luta de classes presente no decorrer da história.O livro também ressalta o caráter revolucionário da burguesia,que conseguiu superar o poder monárquico e implantou uma nova forma de produção.Porém,com essa nova forma
de produção e o êxodo rural,surge uma nova classe:o proletariado.
O proletariado seria a classe operária,que por não possuir os meios de produção venderia seu trabalho para receber o salário que o sustentasse,tendo seus interesses contrários ao da burguesia,pois quanto mais explorado for o trabalhador,maior o lucro do burguês.Na época da publicação do livro,o proletariado já havia conseguido alguns direitos trabalhistas,porém muito distantes do que temos agora.
É interessante notar que Marx,em 1848,já discursava sobre um capitalismo global,o que é plenamente visível hoje,com as multi-nacionais,empresas que usam mão de obra estrangeira para reduzir custos,importação de matéria prima,e que a produção capitalista criou um novo padrão de consumo,para se consumir o excedente para gerar mais lucro.Marx,também disse que a burguesia estava criando aparelhos para que a revolução acontecesse,como novos meios de transporte e comunicação,talvez se o autor visse a atual internet,que permite comunicação instantânea com qualquer parte do mundo,afirmaria que a revolução já tem todos os requisitos para acontecer.
Há também o famoso grito do livro "Trabalhadores do mundo, uni-vos, vós não tendes nada a perder a não ser vossos grilhões" que demonstra o caráter global,onde os explorados devem se unir pois só possuem sua força para produzir e os "grilhões" que os prendem a exploração.

Minas de carvão, industriais, i-construção

Olhou o seu Whatsapp como se fosse o máximo
Colocou o som do celular no volume mínimo
Deixou sua mulher com um beijo frígido
Olhou as notícias e o tempo em sua tela mágica
Saiu do condomínio em sua indiferença pálida
Ignorou alguns mendigos como se fosse brâmane
Ajeitou as mangas de seu terno em um gesto túmido
Pura lã fria costurada por crianças indígenas
Escravizadas por homens de ouro em suas fábricas
Homens como aquele que agora cruza o tráfego
Que vêem no exploração um sistema prático
Não vêem o pobre explorado como seu próximo
Vêem apenas a tela de seu smartphone cálido
Exploram o petróleo de países árabes
Preferem ser no mundo burgueses solitários
Não vêem na partilha um enriquecimento lógico
Não vêem que criaram um mostro-máquina
Vêem apenas seus emails na tela rígida
Mas num tropeço do homem, em um pequeno átimo
O celular fugiu de suas mãos em um gesto indômito
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou o homem no passeio público
E os mendigos sem entender como aquilo era trágico
Perto da fome que move a efígie da república

Olhou o seu Whatsapp como se fosse máquina
Deixou sua mulher com um beijo lógico
Saiu do condomínio em sua Mercedes frígida
Explorou algumas crianças de face rígida
Mas num tropeço do homem, em um pequeno tráfego
O celular fugiu de suas mãos em um gesto túmido
E flutuou no ar como se fosse um árabe
E se acabou no chão feito um indígena
Agonizou o homem em suas fábricas
E os mendigos sem entender como aquilo era mágico
Perto da fome que move a indiferença pálida


Paulo Saia Cereda
1º ano - Direito (diurno)
Introdução à Sociologia (Aula 8)

Marx e o manifesto comunista

"O manifesto comunista" de Marx e Engels começa com a seguinte frase: "Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo" (p. 5). A partir disto, pode-se entender que o comunismo já era de conhecimento das sociedades européias e que este tomava força, além disso, dá-se que o comunismo agora tomaria forma, que este então, poderia ser compreendido através deste manifesto com seus fins e tendências.
No decorrer da primeira parte, faz-se necessária a percepção da sociedade segundo uma divisão de classes. O mundo é dividido entre o proletário e burguesia. Este último, surgidos da ruína feudal, são resultado da concentração do capital e do domínio dos meios de produção capitalista. Para Marx e Engels a burguesia a característica diferencial da burguesia é de que esses são responsáveis por simplificar o antagonismo das classes, pela divisão daqueles únicos grupos.
Com o surgimento de uma burguesia porém, incrementa-se também as relações do capital, que por sua vez, gera consequências sobre os demais. O aumento da demanda, a diminuição do valor dos insumos e de outros meios de produção, o crescente emprego de máquinas e da divisão do trabalho, são fatores que descrevem a ampliação do proletariado e de suas mazelas. Há oferta de trabalho quando o capital cresce, a realidade da concorrência os transforma em simples operários e qualquer autonomia ou atrativo é dispensado pelos donos das fábricas.
Neste sentido, Marx defende uma união da classe proletária. Estes que não possuem nada a temer ou a salvar, possuem a missão de destruir as garantias dadas pela propriedade privada existente. A condição de existência da burguesia é a concentração do capital e a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. A revolta do proletário deve surgir com o intuito coletivizar os meios produção, a fim  de que somente então, possa ser feito o socialismo e visto pelo mundo, aquele espectro que circundava a Europa.

Luiz Augusto Barros - Direito Diurno.

Fobia

A crise
A crise 
A crise
Afogado em meu medo líquido
Que segurança o relógio pode me dar
Se suas peças se modificam a cada segundo?
Mas ele não para
Nunca para de funcionar
Tic tac
Tic tac
Tic tac
Minhas tecnologias infalíveis!
Por favor, construam de novo meu chão
Que se desmonta com um passo
E me engole com outro!
Mas não posso parar:
Tempo é dinheiro
Tempo é dinheiro
Ignorância é força.

"O espírito capitalista molda em nós esse estranho ser que aceita, sem dor, a desigualdade social"



"Capitalista não é apenas o banqueiro, o tio Patinhas. É também o Donald, que se submete a seus caprichos. O mundo é para ele um jogo de espelhos, no qual se vê projetado nas mais variadas dimensões. Ele inveja os que estão acima dele e nutre ódio por quem o ameaça como concorrente" Frei Betto 

Tio Patinhas, personagem fictício de quadrinhos de 1947, cujo cartunista é Carl Barks, se constitui como um desenho animado destinado ao público infantil que tem como proposta a aceitação de uma lógica capitalista. Nesse sentido, o principal intuito do desenho é a consolidação das bases ideológicas do sistema capitalista, à medida que tudo que vai contra o protagonista (símbolo do capitalismo) é negado.
Por meio da ingenuidade de um desenho animado, o autor irá passar uma mensagem de divinização de uma postura capitalista simbolizada pela figura do Tio Patinhas, valorizando características como a competição, individualismo e riqueza pessoal, de forma que as contradições de classes existentes são camufladas pelo brilho da luxuria presente no desenho.

A Perversidade do sistema materializada nas desigualdades sociais, concentração de riquezas e pobreza extrema é mascarada pelo espectro do opressor que enxerga sua felicidade através da apropriação alheia. O desenho se enquadra em uma perspectiva alienante, diluindo a consciência de classe do oprimido, este, ao invés de almejar uma sociedade igualitária como idealizada por Marx, deseja ascender a condição de Tio Patinhas. A idealização do espírito capitalista caracterizado pelo individualismo e por uma postura narcísica de enriquecimento pessoal enfraquecerá a luta de classes resultante das contradições da sociedade, pois tais contradições  serão mascaradas por um falaciosos discurso de meritocracia.

Nome: Beatriz Santos Vieira Palma, Direito Diurno

O Marxismo: Teoria da Dependência e o Homem Moderno

Os princípios tornaram-se utopia, as crenças alienação. Bauman, em sua obra Em Bsuca da Política, inicia argumentando os motivos pelos quais os homens modernos  ignoravam sua luta ideológica, e concluiu que, simplesmente, por considerarem tudo uma grande utopia. A qual proporcionava, apesar da insatisfação, uma frágil sensação de segurança mas sólida de acomodação:

Tendemos a nos orgulhar do que talvez devesse nos envergonhar: de viver numa época “pós-ideológica” ou “pós-utópica”, de não nos preocuparmos com uma visão coerente de boa sociedade e de ter trocado a preocupação com o bem público pela liberdade de buscar satisfação pessoal. (BAUMAN, 1999, p. 16)

         E, mesmo o autor se referindo à relação interpessoal de indivíduos, no sistema socioeconômico global de capital essa mesma perspectiva acontece em âmbito nacional. Influencia o modo pelo qual os países interagem entre si e, assim como o sistema capitalista produz a luta de classes, na esfera global ele fundamenta a Teoria Marxista da Dependência, pensada por Rui Mauro Marini, ao estudar a relação dos países periféricos  - e, especificamente a América Latina - com os centrais. Ela busca compreender, através da história,  as consequências sociais, econômicas e toda forma de limitação desenvolvida pelo imperialismo de potências mundiais imperialistas, que estabeleciam um mecanismo de dominação a fim de explorar a riqueza dos dominados. Além disso, estabelece critérios ao discorrer sobre a reprodução do sistema capitalista de produção na periferia, já que esse sistema cria desigualdades que são intensificadas pelo desenvolvimento de alguns países através do subdesenvolvimento de outros.
      O Marxismo é teorizado principalmente no Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, traduz cientificamente quais os ideais do comunismo ao propor o fim dos interesses burgueses, sua propriedade privada, sua exploração, seus proletários. Com essa finalidade, tenta reproduzir o sentimento homogêneo que sentem os atingidos pelas relações de classe e Uni-vos¹ para a revolução. O Manifesto Comunista é parte de um princípio e de uma crença: pressupõe a existência de um sistema socioeconômico sem exploração e crê no poder do proletariado como a força do movimento.
       O fato de que o homem moderno tenha se acostumado a perder não significa que não exista outra possibilidade. Sua acomodação é só o que impede uma percepção crítica do sistema capitalista no âmbito individual e global e uma união de forças que permita a mobilização. Ao contrário do que se imagina, alienação não é qualquer modelo de ideologia; é a aceitação passiva. 

Na proporção em que a exploração de um indivíduo por outro termina, a exploração de uma nação por outra também terminará.²

Homens modernos de todo o mundo, uni – vos.

Notas :
1. Proletários de todos os países, uni-vos! (MARX; ENGELS, 2011, p. 47).
2. (MARX; ENGELS, 2011, p. 31).

Bibliografia:
BAUMAN, Zygmunt. Em Busca da Política, Zahar: Rio de Janeiro, 1999.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista, Paz e Terra: Rio de Janeiro, 2011.

Pedro Henrique Evangelista Durte; Edílson José Graciolli. Pedro A TEORIA DA DEPENDÊNCIA: INTERPRETAÇÕES SOBRE O (SUB)DESENVOLVIMENTO NA AMÉRICA LATINA. Aluno de graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia e Professor do Departamento de Ciências Sociais/Faculdade de Artes Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia.

Introdução à Sociologia - aula 8 
Karla Gabriella dos Santos Santana, 1º ano Diurno

Honra ao mérito




“– Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
– Um colar… – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!


Trecho do poema Ode ao burguês de Mario de Andrade


Isabela Ferreira Sastre
1º ano Direito - Diurno
Introdução à Sociologia - aula 8

Imprevisto por Marx e Engels.

                 Karl Marx e Friedrich Engels mostram no ‘’Manifesto Comunista’’ as várias contradições existentes no sistema capitalista de produção, nos demonstrando já em 1848 previsões que só se fortaleceriam com o desenvolvimento desse sistema da sua origem até a atualidade, passando do capitalismo comercial até o atual estágio financeiro.  A proposta destes singulares autores acerca da formulação socialista se residia na compreensão do capitalismo como forma excludente de produção, em que as desigualdades são motores para o seu funcionamento. A união operária para estes pensadores se resumiria em uma ação premeditada a partir do momento em que desenvolveram sua teoria científica da luta de classes e do curso histórico das civilizações.
               Atualmente, analisando a superestrutura que envolve o modo de produção capitalista, e se observando todo o aparato político-ideológico deste, a análise de Marx e Engels não supôs por parte das grandes camadas proletárias, as grandes massas de trabalhadores, a situação em que o valor da mercadoria (definido por Marx como tudo aquilo que possui trabalho e utilidade) não baseado no apenas no seu valor de uso, mas sim no seu valor de troca, ‘’contagiasse’’ os não burgueses, de maneira que estes sonham um dia possuir a propriedade privada, ser dono dos meios de produção e viver uma vida farta, da mesma maneira que seus ‘’patrões’’ vivem. Desta forma pode se ver um ‘’fetiche mercadológico’’ de tal forma que aqueles excluídos socialmente pelo modo de produção atual sonham também serem futuros burgueses. Tal fato, não previsto por Engels e Marx, pode ser visto como um dos que alimentam a sobrevivência do capitalismo como dominante em praticamente todas as nações existentes.

                 O valor de troca preponderante em certas mercadorias caracteriza-se na medida em que uma mercadoria por si só representa apenas um valor de uso, mas em determinado meio social se qualifica por traduzir certos valores e associa-los ao dono desse tipo de mercadoria. Um exemplo simples são os detentores de carros de luxo, como Porsches ou Ferraris. Quem possui um destes não compra apenas um transporte particular, ou melhor, dizendo um ‘’carro comum’’, mas compra também um carro que possui valor de troca, na medida em que o possuidor de tal mercadoria nos passa certas imagens. Resumindo quando uma mercadoria possui o denominado ‘’fetiche’’ ou idealização de quem a deseja ter, tal mercadoria intrinsecamente terá um valor de troca. No caso da Ferrari, obtêm-se tal carro e se ‘’troca’’ por uma imagem que associa status a quem a possui.

                                                                                                                      Rafael Cyrillo Abbud
                                                                                                                      Direito Noturno.


Roan Dias 1° Direito diurno aula 8

Trabalho: Senso Comum X Realidade

Idealização do trabalho:
Imagem retirada de: http://grazaza.blogspot.com.br/2012/01/mafalda-sua-danada.html

Realidade do trabalhador:

Operário do mar

Operário do mar Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?
Carlos Dummond de Andrade 

Desirrè Corine Pinto - Direito Noturno

Trabalho e Satisfação

Karl Marx (1818-1883) foi o pensador político mais expressivo da reação antiliberal e do movimento socialista. Suas análises a respeito do nascimento do capitalismo industrial, da formação das novas classes sociais e da nova relação do homem com o trabalho estiveram combinadas com o seu ativismo revolucionário para a união de forças sociais contra a exploração da classe operária. A revolução, para Marx, seria essencial para reconstruir os fundamentos daquela sociedade que reforçava a injustiça social. 

Marx acreditava no trabalho como atividade de satisfação humana. A capacidade de imaginação, a engenhosidade e o esforço do ser humano empregados na transformação da natureza para elaboração de bens que precisavam para si mesmos: habitação, vestuário e alimento. O trabalho, além de prover o sustento humano, seria uma atividade edificante da humanidade e uma forma de interação social. 

Na concepção de Marx, a propriedade privada não seria um mal em si, mas o uso que dela fizessem determinaria a possibilidade de exploração e a consequente manutenção da desigualdade entre classes. A propriedade assinalaria a diferença entre os proprietários e os não proprietários, em face dos meios de produção. Os trabalhadores não possuíam nada além da força de seu próprio trabalho. O capitalismo e a propriedade privada transformaram o trabalho em mercadoria a ser comprada e vendida. Isso anulava o caráter de satisfação do trabalho, implicando na alienação da classe trabalhadora. 

Trabalhadores em fábrica de eletrônicos em Shenzhen, China. (Steve Jurvetson, Creative Commons)

O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência. Ora, o preço do trabalho, como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho, decrescem os salários”. (MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. O MANIFESTO COMUNISTA)

Para o trabalhador, os bens agora produzidos tornam-se apenas itens, com os quais não tem aquela relação do passado. A atividade do trabalho torna-se separada do trabalhador. Conforme cria mais bens que contribuem para um mundo do qual ele não participa, sua satisfação se esvai e a classe trabalhadora se aliena. Essa situação de alienação ocasionaria outras formas de alienação dos seres humanos em suas atividades na sociedade. Assim, quem dispusesse dos meios de produção também disporia de meios para reforçar as relações materiais dominantes. A exclusão da classe trabalhadora seria inerente à evolução do capitalismo. 

A alienação tornou o trabalho e a relação entre pessoas meios de ganho econômico, ao invés de fins em si mesmo. Para Marx, só com a abolição da propriedade privada essas atividades seriam restauradas ao seu fim justo. 

Reinterpretar para Agir

  Em entrevista ao jornalista italiano Antonio Polito, o historiador marxista Eric Hobsbawn, ao ser questionado sobre uma retração da força da esquerda européia, não apenas política e ideológica, mas também na própria capacidade de convencimento das camadas populares, afirma que os grandes sucessos da esquerda após mais de um século de luta acabou por dificultar maiores avanços sociais na medida em que as condições materias do trabalhadores estão muito melhores de que nos tempos da Primeira Internacional, quando o trecho de seu hino sobre os trabalhadores serem “os famélicos da terra” tinha um caráter quase literal.
  Filósofos marxistas como Vladimir Safatle e Slavoj Žižek fazem duras críticas à certos comportamentos e idéias da esquerda contemporânea quanto sua “petrificação no discurso”, fruto de uma incapacidade de se adaptar à plasticidade da política, sendo um possível sintoma do uso de um discurso ortodoxo que, “congelado no tempo”, não observa a dinâmica da vida social, representação política, e a própria condição material dos trabalhadores. Não se trata apenas de boa vontade para melhorar a condição material dos trabalhadores através da reprodução, sem a devida análise metodológica utilizada pelos próprios autores da obra, de ideias de discursos inflamados e afirmações de inevitabilidade histórica. Ambos os autores falam, cada um de sua maneira, na necessidade de intensa reflexão que deve preceder a práxis revolucinária. Safatle fala de uma necessidade de pensar antes de agir porque essa é a única forma de tomar uma ação que não foi decidida de antemão pela sociedade capitalista. Sobre isso Žižek afirma que ,se a formula marxista dizia que “filósofos somente interpretam o mundo. A hora é de mudança”, talvez hoje deveriamos dizer que “O mundo mudou muito rapidamente. Devemos interpretá-lo novamente”.
  Não se trata de esperar passivamente, mas de estar preparado. A esquerda não pode estar despreparada ao tomar o poder. Ela deve saber mais do que o que ela simplesmente “não quer”. Ela deve também entender o que ela “quer”, afinal, há o dia após a revolução em que precisará ser edificada uma nova sociedade com mais do que uma promessa de um mundo mais justo, mas que tenha a capacidade técnica de, de fato, realizá-la.

Lucas Aidar da Rosa
Direito Noturno

(Karl Marx)


Filho de um advogado judeu (cristianizado) e vindo de uma família de rabinos, Karl Marx nasceu em 1818 em Trier, Alemanha. O momento histórico no qual cresceu e viveu, influenciou sobremaneira na elaboração de seu pensamento. A emergência da burguesia e do proletariado, bem como o surgimento do capitalismo industrial e a consolidação das nações e dos Estados modernos – grandes acontecimentos do século XIX – se fazem presente nas obras deste pensador que revolucionou as ciências sociais.
Para uma melhor compreensão de Marx, é necessário retomar o pensamento hegeliano. A dialética em Georg Hegel consistia na interpretação essencialmente idealista da história. Marx baseia sua crítica ao pensamento deste filósofo na contraposição entre, justamente, a dialética mistificada de Hegel e sua dialética racional. Esta seria crítica e revolucionária, à medida que a realidade é a síntese de vários movimentos. Desta maneira, surge o materialismo dialético, uma filosofia geral da natureza e do homem, que estabelece uma relação dialética entre o meio e o social, o psicológico. Na sua aplicação à história, tem-se o materialismo histórico, postulado em que o marxismo se baseia.
A doutrina marxista se estabelece na “proximidade de revolução”. Defendia que as revoluções eram transformações sociais – de uma sociedade em conjunto – que alcançavam alcance global; um conflito que conseguia trilhar seu caminho até as raízes da sociedade. A sociedade, de acordo com sua teoria, consistiria em duas partes: a infraestrutura e a superestrutura. A primeira compreende as forças e relações de produção, enquanto a segunda inclui a cultura, as instituições, o papel social, os rituais, o Estado. Outra constante no marxismo é a preocupação com as relações entre economia, classes e política. Analisa, também, os limites da emancipação política preliminar na crítica da religião.
Em 1848, escreveu uma de suas principais obras: Manifesto do Partido Comunista. Com a colaboração de Friedrich Engels – cuja parceria intelectual e política se iniciara em 1844 – retratam, neste livro, o desenvolvimento da burguesia e sua luta com o proletariado emergente. A importância de Engels na estruturação de todo o pensamento marxista tem de ser destacada uma vez que ele representava o verdadeiro público com o qual Marx se comunicava. Era incentivador, crítico, consultor.  Juntos, então, elaboraram aquele documento que serviria também como inspiração para outros que buscavam exaltar as multidões, o trabalho, a modernidade e o maquinário.
A obra do Manifesto traz a perspectiva da história como luta de classes – opressores e oprimidos estão em constante conflito – e que toda luta de classe é uma luta política; este combate conduziria, necessariamente, à ditadura do proletariado. Tem-se o proletariado como a única classe realmente revolucionária. Esta ditadura seria, em si mesma, o trânsito para a abolição de todas as classes, o trânsito para uma sociedade sem classes.

Outra de suas principais obras, O Capital destaca-se por encaixar toda a estrutura do pensamento de Karl Marx. É onde se encontra o total conhecimento da humanidade em geral. Trata-se de uma obra incompleta, com apenas o primeiro volume publicado com Marx vivo. 

Stephanie Bortolaso, Direito, noturno.

Acerto no Prognóstico Falha no Diagnóstico

PREVISÃO DE MARX
Imagem retirada: https://i0.wp.com/s3.amazonaws.com/rapgenius/capitalism-or-communism.jpg

 REALIDADE EM 2015


 Imagem retirada: http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/repository_data//SESIeduca/ENS_MED/ENS_MED_F02_SOC/678_SOC_ENS_MED_02_07/imagens/ref/FIG_002.jpg



Lemuel Dias
1° Ano Noturno

A biografia do manifesto

Em 1818, nascia Karl Marx no sul da Alemanha - numa província limítrofe da França, portanto, influenciada pela Revolução Francesa. Indo de encontro com o resto da Alemanha, os camponeses que ali viviam, emancipados das antigas instituições feudais, formavam núcleos da moderna indústria fabril, responsável pelo surgimento de duas novas classes da sociedade capitalista: o proletariado e a burguesia. 
Os ideais do iluminismo francês contavam com muitos adeptos; inclusive com o pai de Marx. O pensador graduou-se em Direito pelas universidades de Bonn e Berlim. Karl Marx fez sua iniciação filosófica e política com os Jovens Hegelianos, levando-o para o estudo da filosofia clássica alemã e da filosofia em geral, tornando-se eixos de sua produção intelectual. 
Quando tinha 24 anos, começou a trabalhar como jornalista em Colônia, uma vez que as universidades não aceitavam mestres que seguiam as ideias de Hegel. Tendo mais familiaridade com os problemas econômicos que afetavam as nações, passou a assinar artigos social-democratas que provocaram uma grande irritação nas autoridades do país.
Após seu casamento, foi morar em Paris, onde lançou os "Anais Franco-Alemães", órgão principal dos hegelianos de esquerda. Foi neste momento, inclusive, que Marx conhece Friedrich Engels, com o qual manteve amizade por toda a vida. Na capital francesa, a produção de Marx toma um grande impulso, mas com opiniões que desagradam o imperador da Prússia, o governo francês é pressionado a expulsá-lo.
Depois de Paris, Marx morou em Bruxelas. Na capital da Bélgica, o economista intensificou os contatos com operários e participou de organizações clandestinas. Em 1848, Marx e Engels publicam o "Manifesto do Partido Comunista", o primeiro esboço da teoria revolucionária que, anos mais tarde, seria denominada marxista. Neste trabalho, Marx e Engels apresentam os fundamentos de um movimento de luta contra o capitalismo e defendem a construção de uma sociedade sem classe e sem Estado. No mesmo ano, expulso da Bélgica, volta a morar em Colônia, onde lança a "Nova Gazeta Renana", jornal com muitos artigos favoráveis aos operários.
Expulso da Alemanha, foi morar refugiado em Londres, onde viveu na miséria. Foi na capital inglesa que Karl Marx intensificou os seus estudos de economia e de história e passou a escrever artigos para jornais dos Estados Unidos sobre política exterior. Em 1867, publica o primeiro volume de sua obra-prima, "O Capital".
Depois, enquanto continuava trabalhando no livro que o tornaria conhecido em todo o mundo, Karl Marx participou ativamente da definição dos programas de partidos operários alemães. O segundo e o terceiro volumes do livro foram publicados, postumamente, por seu amigo Engels em 1885 e 1894.

Alexsander Alves,
Ingressante do Direito Noturno (XXXII, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais)

Manifesto2000

Ao olhar-se no espelho
Tirando a areia dos olhos
Percebeu no mundo uma contradição
E o espectro que rondou a Europa
Residia um pouco em seu coração.

Se questionou de como podia
Depois de passado tanto tempo e tanto chão
O que aquele livrinho dizia
Podia socar-lhe a cara
"O mundo é ainda assim, meu irmão"

Percebeu que em seu regime
De flexibilização
Quanto mais ele suava, menos ele comia
Notou também que não conhecia
Nem a fuça do patrão
Mas com certeza ele teria
Sem mágoa, arrependimento ou melancolia
Um baita dum carrão
Que rodava sem gasolina. Com o nosso suor, irmão

Quis esquecer o livrinho
E a maldita contradição
Mas deles não podia se livrar
Não era camponês
E não sabia lavrar
Mas dentro do seu coração
Brotava um semente bela
Fruto da contradição

Ele viu que o lixeiro, o motorista e o carteiro
Seu chefe, seu primo e o garçom
A professora, o metalúrgico,  e o doutor
Eram tudo farinha da mesma classe
Embora alguns dissessem que não

Já era tarde
O mundo a sua volta lhe gritava pra esquecer a contradição
Mas mais alto era o chamado do livrinho
E da semente em seu coração

Ele postou na internet
Poderosa Comunicação
Pra tentar que os outros vissem
Essa terrível situação
De que diziam que o mundo a nossa volta
Era uma coisa, mas não era não

"Escutem todos, meus amigos
Não importa país ou região
O espectro que rondou a Europa
Ainda reside em nossos corações".


Giovanna Narducci Turoni
1o ano Direito Diurno


Gritar! Unir! Lutar!

Opressor!
Oprimido...
O embate se inicia, e a voz que cala não vencerá.
QUEM FALA MAIS ALTO?

É possível se escutar uma voz ao fundo,
Ela cresce sem parar.
Aquela voz que antes fora suave,
Agora trazia revolta no ar.

A burguesia reina,
Isso incomoda.
Quem reina não é rei?
A luta está no horizonte e se aproxima...

Uma gota, uma onda, um mar.
Operário vira operariado.
São muitos, representam muitos e contra poucos lutam.
Disforme, até mesmo quando fazem poemas,
Métrica, não importa, são diferentes mas hão de se unir.

Iago de Oliveira Taboada
1º Ano Direito Diurno

O individualismo moldando a sociedade

O manifesto comunista, criado por Marx e Engels, é o processo pelo qual a sociedade passaria para chegar a uma organização comunista. Neste, não existiria mais a a luta de classes nem a desigualdade, que são aspectos muito comuns em um mundo capitalista. Para estes sociólogos, toda sociedade teria uma revolução do proletariado, que levaria a esta sociedade desejada por eles.
Acredito que haja sim uma luta de classes entre os que retém maiores recursos e aqueles que são oprimidos, porém, acho que isso seja natural da sociedade capitalista e consumista. Porém, descordo  da ideia de manifesto comunista na parte em que ela trata da revolução do proletariado. Isso porque acredito que não seja um grande objetivo do trabalhador oprimido acabar com a sociedade em que ele esta inserido. Ou seja, estes que são oprimidos atualmente não tem intenção nenhuma em causar uma revolução, e sim em mudar apenas a sua própria vida. Creio que as pessoas pensem muito mais de uma forma individualista do que tão conjunta como afirmavam Marx e Engels. Aqueles cidadãos mais simples se preocupam mais em ficar com mais recursos do que lutar para uma sociedade em que todos saiam ganhando.
O individualismo que existe no capitalismo já consumiu todas as partes da sociedade.

Caio Mendes Guimarães M Machado - 1ºano Noturno


“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.” (Karl Marx e Friedrich Engels – Manifesto do Partido Comunista)

Luís Felipe Oliveira Haddad
1º ano - Direito noturno
Sem forças para qualquer revolução

(Fonte: G1. Acesso em 19/07/2015.

O fim da União Soviética, a abertura da China ao mercado capitalista e as dificuldades sociais enfrentadas por países subdesenvolvidos que optaram por algum tipo de sistema político socialista, são exemplos históricos do insucesso das tentativas de se alcançar uma organização política que se aproximasse do modelo comunista. Mas se as previsões de formação de um Estado do proletariado parecem se tornar cada vez mais improváveis, por outro lado, não é possível negar que a análise de Marx acerca do capitalismo é de grande importância para se criar uma compreensão sobre a expansão do sistema econômico baseado no livre mercado e sobre os fenômenos internos que ocorrem nesse sistema.

É interessante como Marx, em seu Manifesto Comunista de 1848, já se referia a um mundo tomado pelo sistema burguês, um mundo à sua imagem e semelhança, marcado pela exploração do mercado em escala global, pelas rápidas transformações dos sistemas de produção, pelo progresso dos meios de comunicação e pela concentração da propriedade (e, por consequência, da riqueza) em poucas mãos. E como esse mundo entraria em colapso por uma série de razões.

De fato, desde então, tem se confirmado as suas previsões acerca da evolução do cenário político-econômico em escala global (a tecnologia, como a internet, e a indústria cultural têm catalisado de forma dramática esse processo). Além disso, a história tem sido marcada por crises econômicas estruturais importantes, por exemplo, como a da década de 30 (Quebra da Bolsa de Nova Iorque), a da década de 70 (choques do petróleo) e a de 2008, em razão da bolha no sistema de crédito imobiliário americano.

A crise atual de alguns países da União Europeia, mais notadamente a da Grécia, que remonta ao abalo de 2008, parece colocar à prova, mais uma vez, a capacidade do sistema capitalista de se reestruturar e de dar solução às demandas sociais desses países. Provavelmente, momentos como esse, em que as tensões sociais se elevam, seriam as oportunidades vislumbradas por Marx para uma revolução. Mas, tomando o exemplo grego, a classe trabalhadora não dá sinais de que esteja organizada e disposta a dar um rumo diferente, seja à sua economia, seja à sua política.   

Fernando – 1º Ano Direito Noturno (texto sobre a análise do capitalismo de Marx)

Sobre o Manifesto Comunista

Na obra “O Manifesto Comunista”, Karl Marx e Friedrich Engels expõem as principais amarras do sistema burguês ao desenvolvimento do proletariado, a situação de subordinação a qual a classe dominante submete sua atual oposição na luta de classes e prediz uma revolução do proletariado que eliminaria a propriedade privada e consequentemente a exploração econômica, a mais-valia e a desigualdade social.
 Segundo o texto, todas as classes dominantes já existentes na História foram, em algum momento, classes oprimidas, que ganharam poder a partir de uma revolução. Dessa forma, a própria burguesia fora, no momento da Revolução Francesa, revolucionária a ponto de mudar a estrutura econômica e política da época. Entretanto, ao atingir o poder, teria adotado um comportamento semelhante a dos seus antigos opressores e dominado os meios de produção de maneira a tornar impossível o crescimento das classes mais abastadas e levando todos os pequenos produtores à exclusão. Dessa forma, não teria devidamente alterado a estrutura social da época.
Tal exclusão se dá ao transformar o mundo, outrora separado, rapidamente em uma verdadeira aldeia global, unido por trilhos de trens, nações de economias semelhantes e mercados interligados. Além disso, teria o capitalismo provido pela burguesia convertido o mérito pessoal em valor de troca, a exploração dissimulada da igreja e das práticas políticas em uma extorsão deliberada, direta, aberta e legal, por meio do capital.
No entanto, assim como a História para Marx e Engels provava, o capitalismo acaba por originar crises cíclicas e autodestrutivas, que arruinariam o domínio da burguesia, mas ainda mais do proletariado desfavorecido. Essa fatalidade só poderia ser evitada a partir de uma revolução proletária, que desse a esse o domínio político para revolucionar inteiramente o modo de produção. Apesar das medidas a serem adotadas não serem as mesmas em todas as nações, seguem evidentemente a mesma linha: abolição da propriedade privada; abolição da herança; confisco de propriedades; centralização de crédito nas mãos do Estado; responsabilidades iguais para todo o trabalho; educação gratuita para todas as crianças em escola pública, entre outros. Para Marx e Engels, essa seria a única forma de condicionar o desenvolvimento livre e igualitário de todos, finalmente, evitando a manutenção da destrutiva luta de classes.

A Voz e o Poder

O primeiro a propor a retomada do método dialético para a compreensão da realidade humana levando em consideração a concepção histórica foi Hegel, um dos maiores filósofos idealistas do século XIX. Tendo exercido grande influência na intelectualidade da Alemanha na época, é nesse contexto de inspiração hegeliana que o jovem Karl Marx empreende seus estudos, anos depois. Atingida sua maturidade, Marx não mais concordava com a concepção hegeliana de mundo, porém se utilizou de partes da teoria de seu predecessor para a elaboração de sua própria: o materialismo dialético.
O materialismo dialético, como o nome diz, prevê a permanência do método dialético de análise proposto por Hegel. O diferencial da vertente dialética marxista é que nesta o cunho social se fortalece e assume o centro das preocupações do autor, sendo colocados em evidência a luta de classes – considerada por Marx como constituinte por excelência da história do mundo – e os fatores causadores dela.
É no Manifesto Comunista, também desenvolvido por Engels, que encontramos sintetizadas as maiores expressões do ideário comunista. A obra consiste em uma tentativa de divulgação do ponto de vista comunista acerca do funcionamento da sociedade, uma vez que o a corrente comunista já detinha certa força na Europa. Assim, sendo a intenção alcançar a maior parte da população e todas as classes, dando-lhes voz, o livro foi escrito em linguagem simples e possui um desenvolvimento de pouca complexidade.
O Manifesto Comunista é um chamado a todos os proletários do mundo para atentar à desigualdade, a discórdia e o caos das instituições sociais causadas pelo capitalismo, que se baseia na exploração e intensifica a  luta de classes, sendo em si a expressão da continuidade de privilégios feudais. “(...) pois os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham”. A crítica explícita à burguesia e às suas instituições, encontrada no segundo capítulo da obra, faz alusão ao desejo de diminuição do poder dessa classe e da aquisição de poder político por parte do proleteriado.

O capitalismo não é, no entanto, malvisto em toda a extensão da obra. Há o reconhecimento do capitalismo como um sistema político econômico revolucionário, por ter sido ele o libertador das amarras do poder religioso e do poder monárquico sobre a sociedade, fator considerado uma vitória para os comunistas. Nesse ponto - e talvez seja o único - pode-se dizer que o capitalismo agradou aos comunistas. Em todos os outros aspectos, o capitalismo soube bem a quem agradar – fator que explica seu sucesso independente de números, estes tão buscados pelo comunismo.


Nicole Vasconcelos Costa Oliveira
1º ano - Direito Diurno

A Mais Valia no prato: PIZZA HUT



Dada à liberdade de gêneros textuais que esse blog permite, para o post dessa semana compartilharei uma experiência pessoal que desenvolvi no mercado de trabalho, desempenhando a função de garçonete durante alguns meses do ano anterior a minha estrada nessa universidade. A empresa em que trabalhei é a mencionada rede de fast-food acima, Pizza Hut.
Diversos aspectos poderiam ser citados dessa experiência, entretanto, o relevante para o desenvolvimento desse texto é demonstrar empiricamente por meio delas que determinadas características presentes não somente nessa empresa, mas em todas de modo geral, um ponto da teoria marxista que está presente no manifesto comunista: a mais valia.
De modo técnico, a mais valia é o valor excedente gerado na mercadoria, que é produzida pelo trabalhador e não é repassada ao mesmo, servindo para a acumulação do capitalista, ou seja, o lucro.
Para demonstrar o quanto a mais valia esta imbuída no sistema operacional e mercadológico dessa referida empresa, apresentarei fatos que demonstram o quão grande é esse excedente.
Uma pizza no sabor Supreme (carnes bovina e suína, pepperoni, mozzarella, champignon, pimentão e cebola), custa em média, na unidade em que trabalhei (center norte - SP) cerca de 72 reais. Em contrapartida, meu salario girava em torno de 3,40 a hora (o regime horista é o normalmente usado na contratação de funcionários para redes de fast food).
Trabalhando 10 h por dia, (uma jornada de trabalho considerada normal, apesar de sua extenuante duração) seis dias na semana, quatro semanas no mês, eu obtinha uma renda mensal bruta de 816, 00 (sem forem colocados nessa conta o valor em impostos, os descontos ligados ao seguro, vale-transporte e alimentação, esse valor se reduziria facilmente em cerca de 15%). Ou seja, este era o valor total que era mensalmente gasto com a minha mão-de-obra.
Além da mão de obra, existem outros aspectos que a maioria acredita serem de grande impacto no valor total liquido arrecadado pela empresa, no sentido de diminui-lo, como por exemplo, os gastos relacionados à compra de matéria prima e que por isso interfeririam nessa acumulação de capital.
Toda via, faz-se necessário estabelecer que estes possíveis gastos são sanados e nulizados rapidamente, e existe um explicação plausível para tanto; Estes são pagos pelo próprio consumidor.
O preço que é cobrado por cada item do restaurante é calculado de modo a cobrir o valor que lhe foi pago e para a obtenção do lucro que nele deve estar contido. De modo mais explicativo, o preço de venda de uma garrafa de água de 200 ml era em torno de 4 reais; entretanto, o valor pago pela Pizza Hut nesse item foi cerca de 1,50 reais... Portanto, além do valor de compra desse item já ter sido arrecadado novamente com a sua venda, esta compra gerou uma margem de lucro de 37 por cento.
Mas voltando a questão salarial, caso fossem vendidas 12 pizzas nesse valor durante todo o mês, (número que é facilmente batido em uma noite) o meu salario já teria sido pago, ou seja, os “gastos” obtidos com minha mão de obra já teriam sido sanados. Consequentemente, tudo aquilo que fosse vendido por mim, geraria acumulo de capital ao proprietário, ao dono dessa rede.

       Isso é lucro, isso é Mais-Valia.

O operário do capitalismo de Marx, Engels e Vinícius

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

O operário em construção - Vinícius de Moraes


Nessa célebre poesia de Vinícius de Moraes retrata o operário, sobretudo a sua descoberta que, mediante toda a sua exploração, construía diariamente o muro que lhe impedia o acesso a percepção de sua importância a cada detalhe do sistema capitalista e dos lucros os quais partiam de suas próprias mãos e não as permaneciam. Diante disso, a análise de Marx e Engels acerca da burguesia, proletariado e do capitalismo concentra na ideia da histórica luta de classes e as raízes feudais que ainda circunda todo esse sistema: os servos (operários) e os senhores feudais (burgueses) só mudaram de endereço e no aumento da produção. A exploração sendo colocada de forma vasta, as condições humanas viraram apenas mecanismos, máquinas, nas quais suas engrenagens e ferramentas são as origens da construção do castelo burguês. Assim, hodienamente verifica-se que os lucros e o poder está nas mãos de poucos, estes explorando muitos, os quais  lutam arduamente  contra a exploração, e muitas vezes, a ser o patrão. As teorias dos autores revelam o sistema desde sua época entretanto, também perpetua na atualidade, com as desigualdades, lutas e classes.

Ana Caroline Gomes da Silva, 1º ano noturno