Max Weber, em seus textos Os conceitos básicos de poder e
dominação (Conceitos básicos da sociologia) e Economia & Sociedade,
discorre sobre os jogos de poder entre indivíduos e sobre o papel que o direito
exerce na sociedade capitalista, respectivamente.
A certo ponto, é possível notar que, mesmo escritos no final
do século XIX/começo do século XX, ainda assim são textos de extrema importância
em seu sentido conceitual e no que diz respeito ao funcionamento da nossa sociedade.
Há época de Weber, o Liberalismo entusiasmava diversos
homens. Colocavam-no acima do Estado, este como seu mero serviçal, descartável
em detrimento do direito natural legítimo de liberdade.
Traçando um panorama atual, é fácil ver a semelhança com as ideias de Anarcocapitalismo,
a filosofia extremamente capitalista que visa a eliminação do Estado em função
da soberania do livre mercado.
Nas sociedades capitalistas, o direito exerce papel padronizador,
levando às chamadas “condutas expectáveis”, o reflexo da segurança jurídica e fator
de confiança no sistema de trocas comerciais, a verdadeira segurança de
tráfico.
O estado, por sua vez, guardião dos poderes Legislativo e Executivo, seria o responsável
pela regulamentação destas regras de troca.
O mito anarcocapitalista da autorregulamentação do mercado
se mostra incoerente, pois elimina o fator de confiabilidade exercido pelo
Estado em detrimento do próprio sistema capitalista, torna-o caótico, difícil e
pouco atrativo pela sociedade geral. Grande exemplo disso foi a saída de
multinacionais do Brasil, receosas da crise política vigente.
Um outro fator importante a se considerar é o caráter traiçoeiro
que o anarcocapitalista pode possuir ao clamar pela eliminação de leis: a abertura
para a livre prática de escravidão, de exploração sexual (inclusive de crianças
e adolescentes), de turismo sexual, venda de órgãos, venda de animais
silvestres entre outros.
O Liberalismo do Imperialismo causou e é responsável por diversas
catástrofes globais, como foi a 1º Guerra Mundial, a miséria no continente
africano e partes da Ásia e o jugo e escravidão de diversos povos. O
anarcocapitalismo, por sua vez, se mostra insensível a essas questões e caminha
na mesma direção, evitando olhar para os direitos sociais adquiridos, na forma egoísta
e individualista que chama de “liberdade”.
Max Weber, em sua conceituação, já falava da constante
disputa de poder e do importante papel do Estado ao regular as regras do
mercado. É evidente que suas preocupações ainda hoje se mostram relevantes, em
consideração a recorrente tentativa de passar por cima de legislações e
tratados de direitos humanos por parte de grupos poderosos. Estes possuem o apoio
de certa parte de classes abaixo, que ingenuamente acreditam poder se
beneficiar desse apoio.
Fica fácil perceber que ainda hoje, Weber se mostra preciso no que concerne às
relações de poder recorrentes no capitalismo da nossa sociedade como um todo.
Angela Severo dos Santos- matutino