Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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terça-feira, 14 de junho de 2011
Um mundo a ganhar
As relações de produção capitalistas desenvolveram-se, primeiro, no seio da sociedade medieval. A Revolução Francesa se deu no momento em que essas novas relações de produção haviam chegado a um certo grau de maturidade. Os mercados cresceram, as demandas aumentaram e o sistema de manufatura ganhava cada vez mais espaço. A burguesia, agora classe dominante, era incapaz de sustentar seu reino sem revolucionar sempre os instrumentos de produção.
A dialética da história, formulada por Marx e presente no “Manifesto Comunista” se constitui na contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, isto é, as relações de propriedade e a distribuição de rendas entre os indivíduos ou grupos da coletividade. A burguesia cria meios de produção mais poderosos, mas a repartição das rendas e as relações de produção não se transformam no mesmo ritmo. O regime capitalista é capaz de produzir cada vez mais riqueza, mas a miséria permanece para a maioria. Nessa contradição entre forças e relações de produção, é fácil introduzir a luta de classes, que sugere a teoria das revoluções.
A burguesia “substitui a exploração velada por ilusões religiosas e políticas, pela exploração aberta, impudente, direta e brutal”, alterando não apenas as relações trabalhistas, mas também as relações familiares, reduzindo tudo a relações de dinheiro, “resumindo, cria um mundo à sua imagem”. Tomada por uma concorrência implacável, a burguesia não pode deixar de aumentar os meios de produção, fazendo crescer o número de proletários e sua miséria, assim o crescimento dos meios de produção, em vez de aumentar o nível de vida dos operários, gera proletarização e pauperização.
O uso extensivo de maquinarias e a divisão do trabalho transformou o trabalhador em um “apêndice da máquina”, colocando fim ao seu caráter individual e separando-o do produto final do seu trabalho. Prolonga-se as horas de trabalho do proletariado, ou aumenta-se o trabalho exigido durante um lapso de tempo determinado. Crianças e mulheres são usadas como mão-de-obra nas indústrias, não há mais distinção de sexo e idade para a classe trabalhadora. O proletariado, que vende a si próprio aos poucos, torna-se então uma mercadoria, exposta à competição e as flutuações do mercado.
Dessa forma, segundo Marx, “a burguesia não só forjou as armas que trazem a morte para si própria, como também criou os homens que irão empunhar estas armas: a classe trabalhadora moderna, o proletariado”. O proletariado, que constitui imensa maioria da população deveria tomar o poder como classe verdadeira para transformar essas relações sociais, uma vez que a burguesia mostrara-se inapta a ser a classe dominante da sociedade, já que foi “incompetente para assegurar uma existência para os seus escravos dentro da escravatura”. Diferentemente das demais revoluções do passado, feitas por minorias, em benefício de minorias, a revolução do proletariado seria feita pela imensa maioria, e em benefício de todos, marcando assim o fim das classes e do antagonismo da sociedade capitalista.
Marx afirma que “a característica distintiva do comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa”, uma vez que é ela a responsável pelo sistema de produção e apropriação de produtos (apropriação de trabalho alheio), que gera o antagonismo de classes e a exploração do homem por outro. Marx justifica a abolição da propriedade privada alegando que a maior parte da população (nove décimos) já não a possui, devido à apropriação desta por apenas um décimo da sociedade.
Em “O Manifesto Comunista” Marx se refere ainda ao problema da educação, que sob monopólio e influência da classe dominante, não exerce o seu papel social e cultural, o que diminui ainda mais as oportunidades das classes baixas, contribuindo para sua alienação. Alega ainda que “As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias da classe dominante”, sendo assim a revolução comunista também provocaria uma ruptura radical com as ideias tradicionais.
Os comunistas lutaram para alcançar objetivos imediatos, mas também para dar força aos interesses da classe trabalhadora, formando nesta uma consciência clara do antagonismo hostil entre burguesia e proletariado. Assim apoiam universalmente os movimentos revolucionários contra a ordem política e social existentes, nos quais se destacam a questão do capital e da propriedade, afirmando que “Os proletários nada têm a perder fora as suas correntes. Têm o mundo a ganhar.”. É importante ressaltar que uma característica marcante de toda obra de Marx é a crítica ao servilismo. Assim ele certamente se indignaria ao ver seus pensamentos usados de uma certa maneira por tantos espíritos servis e tirânicos, que adotaram regimes ditos “socialistas”.
A consolidação da luta de classes e a libertação do proletariado
Marx escreve o Manifesto Comunista com o intuito de mostrar os ideais que defendem, escreve também como resposta as concepções falsas de comunismo que se espalhavam pela Europa.
Sua tese principal é o próprio comunismo, o texto é escrito para defini-lo, para demonstrar como as relações estabelecidas na sociedade burguesa liberal são cruéis e como o proletariado pode vir a ser organizar para lutar contra estás instituições, a lutar por um novo sistema econômico, este mais justo.
Para construir sua tese, Marx divide o manifesto em três partes. A primeira trata-se de uma retrospectiva histórica, é mostrado como a luta de classes perpassa por todas as sociedades. Assim ele demostra como as relações de trabalho evoluíram ao longo dos séculos, até chegar na relação entre burgueses e proletários. Sendo está a mais cruel, baseada na “exploração aberta, única, direta e brutal”. Ele vai falar sobre a reprodução do capital, a necessidade de um mercado cada vez maior para absorver o excedente industrial, e como essa necessidade leva o capitalismo para as mais distintas partes do globo.
Após, Marx começa a demostrar as instabilidades da sociedade burguesa, e vê no proletariado o elemento transformador da sociedade, aquele que lutará e trará o fim das relações de exploração estabelecidas. Para Marx, com o desenvolvimento industrial, o proletariado também se desenvolve, aumenta em numero e adquirem uma maior consciência de sua condição, a partir disto os trabalhadores começam a se organizar em sindicatos contra os burgueses. Podemos falar que a sociedade capitalista se encontra em uma guerra civil, esta guerra é a luta de classes, e para o autor, ela explodirá em uma revolução que derrubará a burguesia.
Marx destina a definição do Partido Comunista, suas distinções e semelhanças com os outros partidos operariados, responde as concepções falaciosas lançadas sobre o comunismo. Ele ressalta que “A característica particular do comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa”. Demonstra como seria a passagem para uma sociedade sem classe, uma sociedade na qual “o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos”.