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terça-feira, 5 de abril de 2022

Descartes e Bacon: a teoria analisada através do filme "Matrix" e transposição para o atual cenário político brasileiro.

    O filme Matrix, estrelado pelo ator Keanu Reeves, com suas diversas alusões à filosofia grega, mitologia e até mesmo às histórias de Lewis Carroll continua a intrigar e fascinar os amantes da filosofia e do cinema após seus mais de 20 anos de lançamento (1999). No filme, Neo (Keanu Reeves) vive sua vida normalmente como um simples técnico de informática no ano de 1999, até que certo dia, começa a ter pesadelos frequentes sobre o mundo em que vive, levando-o a crer diversas vezes que está em uma simulação. Diante disso, ele é procurado por Morfeu (referência ao deus dos sonhos para a mitologia grega), um homem que mostra a Neo que este realmente vive em uma simulação e que na verdade estão no ano de 2199, onde um sistema de inteligência artificial cria uma falsa realidade para os seres humanos enquanto as máquinas usufruem de seus corpos e de suas mentes como fonte de energia.

    Por conseguinte, é possível analisar no filme diversos elementos da teoria de René Descartes quanto de Francis Bacon. A princípio, Neo está dominado pelas máquinas e seus próprios sentidos são usados para manipulá-lo, contudo, a sua capacidade de refletir através da razão não pôde ser controlada, fazendo com que Neo conseguisse entender a real situação em que se encontrava - e que de início também desconfiava. Sendo assim, como uma alusão à frase de Descartes: "Penso, logo existo", a capacidade que Neo tinha de pensar foi o que lhe trouxe a liberdade, e consequentemente, uma real existência. 

    Ademais, podemos observar também parte do empirismo de Bacon em algumas cenas do filme, mas que não são tão favoráveis à teoria do filósofo: Assim que resgatado, Neo passa por uma cirurgia para a reconstrução de seu corpo - visto que estava com músculos atrofiados por estar imóvel por anos enquanto servia de força motriz para a Matrix - e então pergunta a Morfeu: "Por que meus olhos doem?" e ele responde: "Porque você nunca os usou". Diante disso, é possível ver que apesar de termos nossos sentidos e realizarmos experiências, nada nos adianta se não possuirmos a capacidade de refletir.

    Por fim, é possível fazer diversas analogias do filme e das teorias filosóficas analisadas com a realidade política brasileira. Durante o ano de 2018, a corrida presidencial que resultou na eleição do candidato Jair Bolsonaro ficou marcada pela enorme quantidade de notícias falsas que este se utilizou para difamar o seu adversário, Fernando Haddad. Desde então, é frequente encontrarmos centenas de notícias falsas no dia a dia, que propagam o ódio e são mascaradas como uma "liberdade de expressão". A principal forma de propagação dessas "notícias" são as redes sociais e aplicativos de mensagem, em que qualquer indivíduo pode publicar o que bem entender, sem qualquer compromisso com a realidade, e dessa forma, vários espectadores as propagam sem qualquer uso da razão para refletir, ou seja, sem procurar a veracidade do que está sendo compartilhado. Portanto, é possível concluir que convivemos em uma sociedade repleta de pessoas "presas na Matrix" e sem qualquer previsão de saída, pois estão imersas na ilusão de seus sentidos, e além do mais, caminhamos para uma nova corrida presidencial, com previsão de maior propagação de "fake news" e discursos de ódio que podem agravar a situação já presenciada: sem qualquer criticidade através da razão e cada vez mais imersa em uma "Matrix".

Lorenzo Pedra Marchezi - Direito - 1º Ano - Noturno


Uma nova percepção

 É fato que a ciência analítica proposta por Descartes e Francis Bacon, acerca da racionalidade e da regulação da mente por mecanismos da experiência, respectivamente, contribuiu de maneira assertiva para a sociedade burguesa da época, haja vista uma ruptura com o que era proposto pela filosofia tradicional. Metaforizado por um relógio, coloca o ser humano como parte de um sistema metódico, o qual relega a um segundo plano suas particularidades e necessidades. Esse contexto relaciona-se com o mundo pós-modernidade, em que os avanços na medicina, por exemplo, contribuíram para a possibilidade de transplantes de órgãos artificiais, no entanto, sem prescrever uma reeducação alimentar para a mudança de estilo de vida. 

É mediante esse cenário que o filme “Ponto de Mutação” busca questionar, uma visão de mundo mecanicista, a qual preza pelo individualismo e o pragmatismo. Na obra, o político, centrado no método cartesiano e a cientista, em busca de uma nova maneira de ver o mundo, apresenta questões relevantes como meio ambiente e saúde. Tal dualismo de ideias, mostra-se que a análise do todo é primordial para resolução de problemas e que ideologias passadas não devem ser enraizadas na atualidade. Fica evidente que o mundo globalizado exige que temas como superpopulação, moradores de rua, aquecimento global e questões de gênero devem ser vistos mediante um contexto social, econômico e político, mas não isoladamente. Com isso mostra-se essencial a criação de um novo sistema vivo, o qual se renova e transcende sozinho. 

Esse mundo, centrado na Teoria dos Sistemas Vivos, busca a integração e interdependência das partes, abandonando a ótica patriarcal, newtoniana e cartesiana. Dessa forma, é primordial entender que tudo está em constante mudança, mas as raízes e fundamentos da constituição do todo permanecem e que a verdadeira evolução não está centrada na adaptabilidade, mas sim na criatividade de enxergar as conexões e abrir, segundo William Blake, as portas da percepção para que tudo se mostre como é, ou seja, uma noção dos preceitos da vida muito além da racionalidade imposta. 

Assim, fica claro que a lógica mecanizada do método cartesiano limita o conhecimento do todo, o que resulta na crise social que vivemos, onde a solidariedade atinge níveis insignificantes. Com isso, diante do exposto contexto de desumanização da análise, resta-nos uma mudança, pois a lógica da racionalização tornará os indivíduos cada vez mais insensíveis, mecanizados e individualistas.

Natália Lima da Silva  
1º semestre Direito matutino 
Turma XXXIX

 

 

Em uma sociedade historicamente marcada pela ignorância e pelo negacionismo, uma visão do mundo pautada na experiência e, principalmente, na razão faz- se extremamente necessária para superar tais problemas e evoluir o modo humano de pensar. Assim, o filósofo francês René Descartes pensou em um método pautado na dúvida (pois ela gera o raciocínio necessário para o desenvolvimento do pensamento pessoal e a resolução de problemas) para explorar a racionalidade humana, deixando a experiência em um segundo plano, visto que as realidades pessoais são individuais e não coletivas, ou seja, não há como generalizar as vivências e visões de mundo da coletividade. Ademais, por ter vivido no período medieval, Descartes crê que Deus tenha um papel importante na busca humana pelo conhecimento, uma vez que Ele garante e autoriza toda essa busca.

Já o filósofo inglês Francis Bacon baseava-se no empirismo, ou seja, acreditava na experiência como principal aspecto da busca pela racionalidade humana. Para ele, o conhecimento empírico do homem permite que o mesmo se antecipe à natureza (ao retirar a roupa do varal ao notar que o tempo chuvoso está prestes a começar, por exemplo) e consiga controlá-la (criando métodos de plantio mais eficazes, por exemplo). Ademais, o conhecimento empírico é democrático e acessível, visto que todos, independentemente de qualquer distinção, o possui, desse modo, todos podem alcançar a racionalidade e usufruí-la.

Diante do exposto, conclui-se que René Descartes e Francis Bacon possuíam diferentes pensamentos sobre o saber empírico, para este, ele é essencial, para aquele, nem tanto. Porém, o importante a se notar é a busca constante dos dois filósofos pelo racionalismo, independentemente do método utilizado para tal. Assim, ambos se complementam em prol de um objetivo em comum: desenvolver a racionalidade, o pensamento e o saber humano.

Guilherme Corazza Veloso, RA: 221220542 – Direito, Primeiro ano, Noturno

Direito do estudo como forma de questionar o capitalismo

 Atualmente(século XXI), nota-se que o questionamento proposto por René Descartes em sua obra “O Discurso sobre o Método” é um privilégio dos ociosos. Sim, acabo de realizar uma afirmação polêmica, pela qual imediatamente seria crucificado no mundo erudito dos falsos moralistas. Contudo, essa animosidade perante minha afirmação é justificável pelo fato de até então o escritor que vos fala não ter desenvolvido bases para explicar sua polêmica afirmação. Então voila, na obra citada anteriormente, mais especificamente na quarta parte, surge a frase mais icônica do filósofo francês: ‘’Penso, logo existo”. Em suma, a verdade irrefutável que o racionalista encontrou foi que ao duvidar, estava pensando, e por estar pensando, ele existia. Apesar de o pensamento racionalista de Descartes ter revolucionado a Europa do século XVII e ter provocado influências que são nítidas até os dias de hoje, o ato de duvidar e desenvolver uma linha de raciocínio que culmine no questionamento da própria existência pode ser considerado um privilégio dos ociosos, uma vez que em decorrência do sistema no qual estamos inseridos, para uns terem o privilégio do ócio, outros devem trabalhar feito escravos para sustentação do sistema capitalista. Portanto, para funcionamento do tal sistema, uma minoria proeminente explora uma maioria subserviente que só realiza aquele trabalho visando manter-se viva. Desse modo, enquanto a minoria proeminente vale-se do estudo como uma forma de lazer decorrente do tempo vasto e vago permitido pelo ócio, a maioria esmagadora embora gostasse também de se valer desse privilégio devido ao sistema que está inserida e por não deter das mesmas oportunidades dessa minoria trabalha feito escrava para sustentar o direito do ócio de uma minoria proeminente. Após sustentação, espero que a afirmação não seja mais razão para polêmica e que o desenvolvimento de minha explicação tenha elucidado a necessidade de uma reforma no sistema capitalista ou até uma revolução implementando outro sistema para que seja garantida uma maior oportunidade de estudo a maioria esmagadora da população mundial para possuir pelo menos o direito de questionar sua própria existência.

                                                                            ULISSES DE ALMEIDA E MELLO.

                                                                            DIREITO NOTURNO- TURMA 2022


O Equilíbrio da Razão

    O racionalismo e o empirismo certamente foram correntes essenciais para a história da humanidade. No contexto de revoluções industriais, tecnológicas e científicas, René Descartes e Francis Bacon contribuíram para a formação do mundo como ele é hoje. Sem eles, o método científico não seria eficiente e nossas descobertas seriam recheadas de dúvidas e contradições.

    Contudo, hoje, apesar de tal pensamento mecanicista ainda fazer parte do nosso cotidiano, é necessário tomar cuidado com os limites dessa maneira de agir. As ações baseadas apenas na razão e experiência, podem não respeitar a ética e a moral da sociedade, é o caso da clonagem humana, por exemplo, que apesar de já ser possível de ser feita, felizmente, respeitando o que se conhece por individualidade e originalidade humana, não é permitida. Ainda, outro exemplo é o caso da religião, apesar de racionalmente falando muitos eventos não possuírem explicação, as Igrejas são isentas de impostos no Brasil, levando em conta justamente o pensamento de que mesmo sem verdades absolutas, o indivíduo deve aproveitar sua crença.

    É preciso, no entanto, ser cauteloso com relação a essa ideia de que a visão racional não é universal, pois mesmo que não seja, isso não é desculpa para não confiar totalmente nela quando se trata de questões que não põem em xeque a identidade humana e suas individualidades, como o que acontece com a questão das vacinas para a COVID-19 e a cloroquina, em que muitas pessoas não só desconfiam da efetividade daquelas, mas confiam na dessa, sem possuir a menor base científica para isso, apenas pelo fato de um líder (Jair Bolsonaro) incentivar essa atitude.

    Portanto, conclui-se que as correntes filosóficas do século XVII são sim extremamente úteis para o mundo contemporâneo, o erro está em basear-se apenas nelas, sem o olhar do individualista, ou ainda, não se basear nelas quando  é necessário.


Fernando Alee Suaiden - 1° Ano Matutino