Em uma delegacia, um homem é levado pelo policial a uma cela provisória onde aguardaria. Quando adentrou a cela, passou a refletir intensamente sobre o que fez, ao ponto de exteriorizar seu conflito.
- Por que ? Por que fiz isso ? Normalmente não tomaria uma atitude dessas, mas mesmo assim por alguma razão eu fiz parte daquilo, algo que me parece tão incomum e sem sentido agora, mas que horas atrás fazia todo o sentido do mundo....
- Você deve ter feito algo muito ruim para estar se arrependendo assim - diz uma voz vinda de um dos cantos da cela.
O primeiro subitamente se vira em direção a voz e percebe a presença de um homem sentado ao fundo. Estava tão compenetrado buscando explicação para o que fizera que nem ao menos se importou em observar a cela em busca de outra pessoa.
- Quem é você ? - pergunta contidamente
- Ah , perdão, me chamo Ricardo - responde o homem de forma amistosa - E você seria ?
- Pedro, me chamo Pedro.
- Pois bem Pedro, se importe de compartilhar comigo sua história ?
Inicialmente Pedro reflete se deve ou não contar a história, mas pensando que talvez conversar com alguém o faça entender o que fez, decidiu por fim contar. Pedro se encontrava em um jogo de futebol, onde acompanhava seu time em meio a torcida. Era uma partida muito importante, os dois times em campo partilhavam grande rivalidade, assim como suas respectivas torcidas. Em meio a provocações da torcida rival, pessoas da torcida onde Pedro era parte começam a se irritar, o resultado se agrava com a derrota de seu time. O atrito se intensifica e pela mesma razão Pedro se irrita também, e quando se deu conta estava acompanhando seus colegas. O atrito se inicia e a violência é generalizada.
- Agora, pensando no que aconteceu e no que eu fiz, me sinto estranho, por mais que goste e leve a sério o futebol nunca participei de algo assim - lamenta Pedro.
- Entendo. Isso explica suas roupas - comenta Ricardo - sabe, lembro-me de uma teoria que poderia explicar o que aconteceu.
Ricardo passa a falar sobre a teoria de um Sociólogo famoso, Émile Durkheim que falava sobre o Fato Social que se configura por maneiras de agir, pensar e sentir que são exteriores ao indivíduo, ou seja independente de do pensamento individual e que possuem poder coercitivo. Instituições sociais e hábitos são provas da generalização desses fatos. A educação funciona como agente formador para a concepção de agir, pensar e sentir que é conveniente para a sociedade. As pessoas são imbuídas de valores e princípios sociais que harmonizam com os conceitos da religião e do direito em si. Mesmo quando tentamos ir contra ele, sua força se demonstra pela coerção que exerce caso eu me oponha a sua maneira de ser, tornando difícil realizar aquilo que quero, se isso fugir ao que esse fato emprega. Como se manifesta de forma coletiva e geral, não se caracteriza pelo individuo e como ele sozinho absorve o reflexo desse fato, pois frente a sua influência todos tendem a agir de acordo com seus padrões.
- Logo, em um grupo, a ideia concebida do futebol, do time, a força cultural que isso tem na sociedade brasileira se torna uma corrente de pensamento a se seguir, e nesse meio você se sente estimulado a corroborar com essa ideia, uma vez sozinho, tendo esse principio relacionado agora com suas concepções individuais, você não identifica mais as sensações que o coletivo te proporcionava, portanto sente um estranhamento - conclui Ricardo
- Nossa, que teoria louca, se for assim tudo o que fazemos relacionado a nosso trabalho, nossos ciclos sociais, nossas vidas, tem influência de fatos sociais, nossa individualidade de pouco vale ? - Questiona incrédulo Pedro.
- É uma forma de ver essa teoria que especifica o objeto da sociologia para Durkheim, mas podemos lutar contra o fato social, mas como disse há a coerção que dificulta seu exito, aliás é por isso que estou aqui. - completa Ricardo.
- Como assim ? O que você fez ?
- Fui preso pela unica forma de dívida que socialmente e institucionalmente é ainda capaz de prender alguém.Não paguei pensão. Por mais que a sociedade e seu andar não sejam absolutos, por mais que as instituições mudem de funções, ou seu repertório de ideias, a natureza delas nunca deixa de existir, não enquanto essa sociedade existir.
- Entendo. Bom sendo fato social ou não uma coisa é certa, só vou assistir o jogo em casa de agora em diante. - Conclui Pedro.
Leonardo Garcia - Direito -1ºAno - Noturno