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domingo, 13 de abril de 2025

O Peso das Cores: Como o Fato Social Molda a Política e a Identidade no Brasil

    Nas obras de Durkheim, é muito discutido o conceito do “fato social”, fenômeno esse que é externo ao indivíduo e que exerce forte poder coercitivo sobre suas formas de pensar, agir e sentir, fazendo com que ele se adapte ao sistema da sociedade em que vive. Trazendo esse conceito para a realidade brasileira, e fazendo uma análise no campo político, é fácil perceber como o fato social funciona.

     Atualmente, o cenário político brasileiro vem passando por diversas perturbações em decorrência da polarização presente no país. Umas dessas instabilidades tem grande ligação com a ascensão de uma figura conservadora, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, juntamente a um forte ideal patriota, se apossando da figura da bandeira e de suas cores. Nesse sentido, utilizar verde e amarelo se tornou símbolo para seus apoiadores, gerando assim uma identidade e um sentimento de pertencimento desse grupo.

    Todavia, em decorrência da insatisfação de grande parte da população com a gestão do ex-presidente, com as polêmicas que ocorreram em seu mandato, tais como as 700 mil mortes em decorrência de seu mal gerenciamento durante a pandemia, e com os atos antidemocráticos de seus apoiadores durante o período eleitoral e na tentativa de golpe no 8 janeiro, os símbolos identitários desses grupos patriotas ficaram manchados em nosso país, inclusive a bandeira nacional, suas cores e as camisetas referentes a seleção de futebol brasileira.

     Portanto, símbolos que antes eram usados como forma de pertencimento a uma nação, agora são utilizados como forma identitária de um grupo específico, e fortalecem uma divisão social no país. Essa situação revela um rompimento com a lógica da coesão social de Durkheim, que fala sobre a manutenção de um grupo unido e operante na sociedade, acendendo um alerta sobre um possível encaminhamento da sociedade brasileira rumo a anomia.

Paulo Henrique Possobom Carrenho, 1°Ano Direito Noturno, Unesp Franca.

O funcionalismo e as mídias digitais

O funcionalismo é uma das teorias sociológicas formuladas por Émile Durkheim. Dentro das ciências sociais, busca explicar como as diferentes partes de uma sociedade trabalham juntas para manter a ordem e a coesão social.

Na era contemporânea, a função social da mídia é multifacetada e complexa; ela pode ser desde uma formadora de opinião até uma ferramenta de publicidade. Através de meios como as redes sociais ou canais de TV, a mídia influencia o comportamento humano e atua como meio de intercâmbio de informações. Isso acontece porque a comunicação, seja ela verbal ou não, sempre foi o meio mais efetivo de se influenciar uma sociedade. 

Como fato social, a mídia torna o homem capaz de se comunicar com outras pessoas há milhares de quilômetros, facilitando uma troca de costumes, e servindo como uma ferramenta que fortalece ou enfraquece diferentes instituições sociais. Conhecer sua função social é imprescindível para o entendimento da sociedade atual.

No entanto, as mídias se tornam um problema ao oferecerem uma alternativa fácil de obtenção de informação rápida que substitui o contato físico e pesquisa aprofundada. A humanidade, agora com fácil acesso a todo tipo de conhecimento e interação social, altera as estruturas da sociedade tradicional e seus valores.

Letícia Mayumi Sato Prado.

a incapacidade da coexistência capitalista e a solidariedade social

 Émile Durkheim, sociólogo e professor francês, escreveu diversos livros ao longo da sua vida, dentre eles "Da Divisão do Trabalho Social" e "As Regras do Método Sociológico", nos quais ele trata diversos temas como o fato social e os tipos de solidariedade social. 

Ao formular sua tese sobre os tipos de solidariedade social, ele propõe que eles servem para manter a sociedade unida, ao gerar coesão entre os indivíduos responsáveis por compô-la, desse modo elas são responsáveis por estabilizar a vida dos cidadãos.  

Dentro da solidariedade social, existem dois tipos, a mecânica e a orgânica. A primeira está presente em sociedades mais simples, onde há pouca divisão do trabalho, buscando reforçar a unidade social a partir das semelhanças desse povo. Ao contrário, a orgânica utiliza de maior especialização do trabalho, visando unir as diferenças e organizar as dependências umas das outras. 

Assim, o sistema capitalista, em teoria, também está conectado às ideias dos tipos de solidariedade, no qual, com toda sua evolução tecnológica e interdependência dos diversos campos de trabalho, ele se encaixaria em uma sociedade orgânica.  

Porém, para Herbert Marcuse em seu livro “O Homem Unidimensional”, no capitalismo avançado, as pessoas são reduzidas a consumidoras e manipuladas pela cultura massificada, havendo assim uma destruição da solidariedade social e nascendo uma solidariedade consumista sem preocupação genuína com o bem-estar coletivo. 

Portanto, conclui-se que em uma sociedade capitalista o princípio da solidariedade e de coesão social em compromisso com uma busca pelo bem-estar coletivo são perdidas com a formação do homem unidimensional, incapaz de questionar o sistema, completamente alienado e manipulado pelas grandes mídias e pela cultura de massas, demonstrando uma incongruência que impede a coexistência dessas duas ideias. 

o positivismo associado ao sistema educacional vigente.

  Auguste Comte ficou conhecido como o “pai da sociologia”, uma vez que foi o primeiro a sintetizar a necessidade de uma ciência social, tal como as ciências naturais, dedicando-se  ao estudo de leis que regem a natureza, de maneira semelhante às leis da física, assim, deu-se a origem da sociologia, conhecida, na época, como “física social”.

   Comte é o criador da filosofia positiva, essa que ganha o nome pelo seu aspecto palpável, concreto, que busca a valorização integral do racionalismo, do método científico e da sistematização. Ademais, o positivismo é percebido na sociedade brasileira até os dias de hoje, já que foi incorporado no corpo militar brasileiro em um contexto de organização para  a proclamação da Primeira República do Brasil, movimento liderado por pelas elites, que assegurou seus privilégios e valores.


  A partir disso, ainda é possível perceber aspectos positivistas no corpo social brasileiro, como em discursos meritocráticos, que sistematizam as pessoas com base em seus resultados quantitativamente, ignorando contexto e problemas estruturais, como por exemplo o processo de ingresso a universidades públicas, os vestibulares, que fazem sua seleção com base em um sistema de desempenho em provas, isso em um país no qual a desigualdade educacional cria uma lacuna imensa entre os alunos dependentes da educação pública falha e os beneficiados com o ensino particular, dessa maneira, a elite estudantil possui maiores vantagens nesse sistema de ingresso do que o resto da sociedade, assim, excluindo os estudantes marginalizados do ensino superior, e aumentando a disparidade social entre esses grupos, mantendo a “ordem” na qual os privilégios da elite são mantidos.

  

 Ainda em um contexto educacional, a supervalorização das ciências exatas e naturais vem de um contexto positivista, no qual ele hierarquicamente coloca os campos de estudo, subjugando o campo das humanidades pela sua subjetividade e por não serem “técnicas”. Ademais, a questão dos vestibulares vai além da exclusão da camada popular, mas também, em um contexto mais geral, faz com que as escolas voltem-se para o preparo do aluno para a conquista de um bom resultado nos vestibulares, não no crescimento e desenvolvimento crítico do aluno. Sendo assim, o sistema foca em depositar conteúdos objetivamente, deixando de incentivar a reflexão e crítica autônoma do indivíduo que está sendo formado.



Catharina Passos Tomasella- 1 ano direito (matutino)


Por fim, a vida segue. Com o mundo em ordem, ou não

Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo

Ordem: Organização baseada em critérios lógicos.

 

- Eu queria que existisse um mundo perfeito. – Respondeu meu colega Pedro.

- Bom, não era bem essa a resposta que eu gostaria de ouvir – Retornou a professora. Ela tem razão, não estávamos filosofando, nem temos aula de filosofia! Essa é uma aula de Projeto de Vida.

- A senhora perguntou o que queríamos.

Pois bem, o que querem ser ou fazer daqui 3 anos, qual faculdade, qual carreira querem seguir, ela quis dizer coisas desse tipo! Pedro, coisas desse tipo! Ele nunca entende uma pergunta simples?

- E importa o que uma pessoa insignificante, que provavelmente não vai chegar a nenhum lugar realmente relevante, vai fazer nas suas 12 horas de sol por dia, durante 40 ou 50 anos? Já estamos condenados, com todo respeito. Eu queria que existisse um mundo perfeito.

- Entendo seu sentimento pessimista, mas querer que o nosso mundo seja perfeito é... – Dona Clarisse foi interrompida imediatamente pelo garoto que insistia em retrucar.

- Não o nosso. Não disse que queria que o nosso mundo fosse perfeito, quero outro, outro mundo, um perfeito. Um onde as pessoas e as coisas sejam perfeitas. Um onde as pessoas e as coisas estejam em Ordem.

Ah o Pedro, ele é tão viajado! Mas todos nós já tivemos um colega de classe que não bate muito bem.

- Bom, já vi que vamos longe assim... Então vamos mudar um pouco o tema da aula pessoal. – A professora torna a se sentar e convida Pedro a continuar.

- Eu simplesmente não entendo como vocês não conseguem entender. É normal pessoas passarem fome? Dormirem nas ruas? Morrerem de doenças que já tem tratamento? Morrerem em guerras que não tem culpa nenhuma de terem começado? Avalanches, enchentes, queimadas...

Todos na sala parecem estar em um consenso de que não é normal, realmente. Talvez Pedro não esteja tão doido assim, talvez eu concorde com ele...

- Não, não é normal, você tem razão Pedro – Participei pela primeira vez na roda de conversa, para me arrepender logo depois.

- Errado! É sim normal.

 O que ele disse? Como pode ser normal? Olho para meus amigos e eles tem a mesma reação que eu.

- Vocês me olham como se eu fosse o próximo Mussolini, por deus! É claro que é normal, no mundo que estamos vivendo sim. O mundo é um vale de sofrimento

De repente o silêncio reina de novo na classe. Será incômodo com a afrontamento feito, ou será consentimento? Será que estão refletindo aquelas palavras da mesma forma que eu estou? Mas então o que deveríamos fazer, se está tudo tão desorganizado?


- Segura a onda aí Nietzsche.

Uma voz ecoa do outro lado da sala, quebrando o silêncio e trazendo a alma dos alunos de volta para seus corpos.

- O mundo não é um vale de sofrimento. Se você pensa assim, é tão ignorante quanto aqueles que critica. Isso acontece quando o povo está alienado ao ponto de não conseguir perceber que essa desordem que vocês tanto falam não é algo desse mundo, e não deve ser normalizada. Mas isso tem sim uma solução!

Pronto, mais um para confundir ainda mais o que já estava confuso! Lá vem o Marcos e suas ideias revolucionárias.

- As ideias dominantes, as que vocês têm, são as ideias da classe dominante, dos burgueses. O capitalismo é o culpado por toda essa desordem! Querem uma ideia de como vencemos isso? “Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes.”

 

Subitamente, vários alunos começaram a falar. Alguns que já haviam exposto suas ideias, outros que estrearam elas:

- Todos os homens podem errar, e a maioria acaba cedendo por paixão em algum momento! Não dá para ficar culpando a humanidade por errar, é da natureza dela!

- É, a Joana tá certa, o homem é o lobo do homem!

Tomas e Joana já parecem ter chegado num consenso, quando do outro lado, alguém discute com o Marx- opa! Com o Marcos.

- Você não entende Marcos, que o trabalho só dignifica o homem? Essas coisas acontecem de forma orgânica. As suas ideias utópicas iriam pôr a desordem no mundo! – Alega a Duda.

- O mundo já está em desordem! – Marta tenta ajudar, mas Marcos ainda discorda

- O mundo está em ordem! na ordem do capitalismo.

 

No meio de toda essa confusão, a professora toma partido:

- Silêncio! Qual a dificuldade de fazer um debate tranquilo? Chega, não voltaremos mais nesse assunto! Não temos tempo para tantos devaneios, está quase na hora do final da aula.

 

E estamos, novamente, silenciados. Eu até estava gostando da discussão. Apesar de ainda estar confusa, foi interessante ouvir tantos pontos de vista. Uma pena que não tivemos tempo de chegar a uma conclusão.


O sinal logo tocou anunciando o final da aula, me pergunto se haverá algum sinal para anunciar o fim da ordem do nosso mundo, ou o seu próprio fim... Será que esse sinal já tocou? Toda essa desordem no planeta era uma demonstração, um indício de que nossa hora já passou?

Quando me dou por conta, a classe já está vazia. Todos já se foram, e eu estou atrasada para minha aula de flauta!

Por fim, a vida segue. Com o mundo em ordem, ou não

 

Evelly Alonso Lopes - 1º Direito Noturno

Chip Funcional (Funcionalismo)

 — Bom dia, Setor XLII! Estão prontos para mais um dia gloriosamente funcional? — O despertador emitia uma gravação.

Desde que os chips motivacionais foram implantados em todos, era impossível não acordar entusiasmado— mesmo que o entusiasmo fosse falso e fabricado em laboratório.

Júlio piscou devagar. O chip piscou de volta. Sincronizados.

Levantou-se, escovou os dentes com a escova automatizada (três minutos cravados, como mandava o Manual de Eficiência Pessoal), vestiu seu macacão cinza-névoa (a cor neutra universal, aprovada pelo Comitê de Eficiência Visual) e sentou-se à mesa. O café da manhã já estava servido: uma barra nutritiva sabor “alegria homogênea” e um suco de vitaminas com gosto de... nada. Afinal, gostos pessoais atrasavam o sistema digestivo, segundo o último relatório do Instituto Nacional de Digestão Eficiente.

— Bom dia, Júlio — disse sua esposa, Clara, sem levantar os olhos do tablet instrucional. — Dormiu com 92,7% de eficiência. Parabéns.

— Obrigado. Você também. Vi na estatística do seu ronco que foi exemplar.

Silêncio. Mastigavam suas barras de alegria homogênea com a disciplina de quem entende seu lugar no organismo social.

Júlio partiu para o trabalho. No caminho, um anúncio holográfico brilhava no céu:

"Seja a engrenagem que move o mundo. Sonhar é desperdício energético!"

Ele sorriu. Mais por reflexo do chip do que por sentimento. No elevador, encontrou Roberto, do Setor XX(Engrenagens Leves).

— E aí, tudo funcional? — perguntou Júlio.

— Sempre, irmão. Meus batimentos cardíacos ficaram perfeitamente dentro da curva ontem. Que sensação de utilidade plena!

— Que inveja! Eu tive um pico de adrenalina às 0h56... pensei, por um segundo, em... viajar.

Roberto arregalou os olhos.

— Viajar?

— Mas foi rápido! Já reportei ao Centro de Correção de Vontades. Disseram que em 48 horas o chip recalibra.

— Melhor assim. Pensar por conta própria? Cuidado, hein. Isso é praticamente obstrução sistêmica.

Júlio assentiu, envergonhado. “Viajar”, ele repetia mentalmente. Que palavra estranha... de onde será que tinha tirado isso?

O dia correu como sempre: cálculos, gráficos, resultados. Nenhum erro. Nenhuma surpresa. Nenhuma dúvida.

À noite, no sofá, ele e Clara assistiam ao programa “Heróis da Eficiência”, onde cidadãos exemplares eram premiados com cinco minutos de sono extra. Ela o olhou e disse:

— Você está bem?

— Estou... ótimo.

— Não teve outro pensamento disfuncional, teve?

Ele hesitou. Olhou para a parede. Para o teto. Para dentro.

— Não. Claro que não.

E sorriu. Pela primeira vez, o chip não acompanhou.


Maria Helena-Noturno, primeiro ano.

Positivismo: uma bênção ou uma maldição?

Maria Luiza Fernandes Campos - primeiro ano matutino


Positivismo: uma bênção ou uma maldição?

    O Positivismo é uma corrente filosófica criada por Auguste Comte que defende a Ciência e a Razão como bases fundamentais para a organização da sociedade, pregando a ordem por meios tecnológicos e outras ferramentas de controle social. Nesse contexto, surge a questão: seriam esses conceitos os meios mais eficazes para manter a ordem social?
    A priori, na obra Jogos Vorazes, romance distópico norte-americano, a tecnologia científica é frequentemente utilizada pela Capital como instrumento de controle social. Esse cenário representa uma aplicação extrema do Positivismo, desconsiderando o bem-estar coletivo e os princípios éticos. Dessa forma, evidencia-se que, quando levado ao radicalismo, o Positivismo pode resultar em opressão e aumento das desigualdades.
    Por outro lado, essa corrente pode trazer benefícios quando utilizada com foco no bem comum. No contexto da educação pública, por exemplo, o Positivismo se manifesta por meio do uso de tecnologias e dados científicos para a criação de políticas educacionais que visam reduzir a desigualdade social e ampliar o acesso à educação de qualidade, contribuindo de forma positiva para o progresso da sociedade.
    Conclui-se, portanto, que o Positivismo pode ser uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento social, desde que guiado por princípios éticos e voltado ao bem-estar coletivo. Aplicado com equilíbrio, pode promover justiça social; mas, quando utilizado de forma autoritária, tende a gerar efeitos negativos, como demonstrado na obra Jogos Vorazes.

Repensando o progresso à luz do positivismo

Durante as discussões promovidas nas últimas aulas de Sociologia, pudemos contemplar partes da doutrina positivista e, entre tantas reflexões, me peguei pensando no quanto a lógica e o racional – bases da filosofia formulada por Auguste Comte – moldaram diversos momentos sociais, políticos e científicos da história, impulsionados, principalmente, pela intenção de progresso. Mas, afinal, o que verdadeiramente seria o progresso?

Na visão dos positivistas, era nada mais do que uma linha reta e universal: sair da ignorância, passar pela filosofia e alcançar o estágio final com o controle social através da razão e da ciência. Nessa ótica, é possível identificar que os fiéis a essa ideologia costumavam desconsiderar saberes empíricos não comprovados pelo racional, tornando-os algo ilegítimo no campo do conhecimento. Sob esse parecer, entendimentos intrínsecos a povos tradicionais – como os indígenas e quilombolas, no Brasil –, à religião e à metafísica eram subestimados, demonstrando a exclusão promovida e incentivada pelo sistema positivista, que aniquila o simbólico, o ético, o afetivo e o diverso — e é justamente isso que Machado de Assis expõe em sua obra “Quincas Borba”, clássico que li recentemente e do qual me recordei ao longo da penúltima aula de Sociologia; o “Humanitismo”, teoria fictícia que ridiculariza o uso frio e egoísta da lógica, é um paralelo satírico com o positivismo – que, naquele período, estava em alta; “Ao vencedor, as batatas”, frase emblemática do livro, faz jus ao viés positivista meritocrático e de exclusão, no qual cada indivíduo deve, simplesmente, aceitar a existência de leis naturais que defendem a sobrevivência do mais apto e a hierarquia de etnias. No mundo contemporâneo, ainda que com roupagens diferentes, esse espírito persiste — especialmente na obsessão por dados científicos e na desvalorização das humanidades. Assim, Machado antecipa uma crítica ainda atual: a razão, quando descolada da ética, pode legitimar abusos injustiças em nome do progresso.


Diante disso, e tentando responder a questão inicial, é crucial repensar o verdadeiro significado de progresso em um universo plural e complexo como o nosso, lotado de diferentes culturas, hábitos e saberes. O pensamento positivista, quando prioriza a razão em detrimento da diversidade e da sensibilidade humana, escancara os perigos de um modelo que elimina, silencia e hierarquiza. Ao puxar para a discussão obras como Quincas Borba, somos convidados a questionar até que ponto a lógica, isolada da ética e da empatia, pode guiar um futuro realmente justo. O progresso, em conclusão, só é legítimo quando caminha junto da humanidade em todas as suas formas de expressão. 





Ana Carolina Tiozzo Mascarenhas, 1º ano de Direito (matutino). 


O Positivismo e seus limites na compreensão da sociedade

 

 O lema “Ordem e Progresso”, presente na bandeira do Brasil, tem origem no Positivismo de Auguste Comte, filósofo que defendia que a sociedade deveria se desenvolver com base na ciência, na racionalidade e na organização social. Para ele, a ordem era fundamental para garantir a estabilidade necessária ao progresso, que, por sua vez, deveria ser conduzido pelo conhecimento científico. Esses princípios influenciaram diretamente a política brasileira no final do século XIX e, ainda hoje, geram debates sobre sua interpretação e aplicação.

 Atualmente, é possível perceber a continuidade dos ideais positivistas na forma como muitas instituições utilizam a tecnologia para administrar aspectos da vida em sociedade. Um exemplo disso é o uso de dados e algoritmos em setores como segurança, mobilidade urbana e educação. Em diversas cidades, sistemas de monitoramento e análise de informações são adotados com a intenção de tornar as decisões mais racionais e eficientes, partindo da ideia de que a tecnologia seria capaz de oferecer respostas imparciais e objetivas para os desafios sociais.

 No entanto, o Positivismo é alvo de críticas importantes, principalmente quando é usado sem questionamento para tratar de questões sociais. Um de seus principais limites está em tratar os fenômenos sociais como se fossem naturais ou determinados por leis fixas, como ocorre nas ciências da natureza. Isso pode levar à naturalização de desigualdades sociais, como se fossem inevitáveis ou fruto de um “funcionamento normal” da sociedade, quando, na verdade, são construções históricas. Por exemplo, justificar a pobreza apenas com base em dados econômicos e índices de produtividade, sem considerar os contextos sociais e históricos que geram exclusão, é uma forma de adotar uma visão limitada da realidade.

 Além disso, o Positivismo desconsidera a importância dos aspectos subjetivos, simbólicos e culturais que moldam as relações sociais. Reduzir a realidade àquilo que pode ser medido e classificado ignora sentimentos, tradições, identidades e narrativas que também fazem parte da estrutura social. Assim, embora a ciência e a razão sejam essenciais para o avanço da sociedade, o pensamento contemporâneo tem a necessidade de uma abordagem mais integrada, que reconheça os limites da razão e valorize também o saber humano e a diversidade cultural.

 Portanto, é possível analisar que embora o Positivismo de Comte seja atual em muitos aspectos, seu legado também precisa ser revisto à luz das complexidades do mundo contemporâneo, que exige soluções mais humanas e contextualizadas. A sociedade não segue uma trajetória linear e sempre progressiva, a história tem altos e baixos, sendo complexa demais para ser compreendida por uma única visão de mundo.

Caroline Maria Duarte - 1º ano Direito ( matutino )

Entre a evolução e o controle social: a verdadeira atuação do funcionalismo na contemporaneidade

Uma linha sociológica racional,

Utilizando a punição para conter a anomia social.

O indivíduo estaria diluído na sociedade,

Assim, o castigo serviria para coagir a honestidade.

 

Liderados pela consciência coletiva,

Os homens alcançariam sua própria evolução.

Mas tudo não passa de uma bonita perspectiva,

Onde o castigo faz parte da lição.

 

Na realidade brasileira, o funcionalismo não passa de uma utopia.

Com os presos sendo desumanizados e maltratados,

Não há garantia de aprendizados.

 

O sistema carcerário contando com superlotação,

E os presos enfrentando violência e exclusão.

Há uma falha ao, esse sistema, implementar,

Na qual ensinar, torna-se marginalizar.

 

A coerção advinda dos fatos sociais,

Exime-se de seus objetivos principais.

Transforma-se em um mecanismo de controle social,

Sob a falácia de estabelecer o equilíbrio fundamental.


Geovana Martins de Mori - 1° ano - Matutino

A perspectiva durkheimiana e o fenômeno dos procedimentos estéticos

          A perspectiva durkheimiana e o fenômeno dos procedimentos estéticos

  O sociólogo Émile Durkheim, preocupado com a importância de uma comunidade forte e consolidada, desenvolveu o primeiro método sociológico, no qual o fato social seria objeto de sua investigação. Tal termo, por sua vez, consiste em tudo aquilo que possui origem na sociedade e é interiorizado no indivíduo, de tal modo que ele próprio não desconfia da real natureza dos conceitos enraizados. Dessa forma, ações como tomar banho, comemorar datas festivas, comer alimentos específicos, vestir determinadas roupas ou escutar certos estilos musicais não são, ao contrário do que se acredita, realizadas de maneira natural, mas forçadas pela própria organização social que cerca o ser humano, impactando em suas escolhas e seus gostos. Pode-se dizer, assim, que o fato social é dotado de exterioridade, de generalidade e de coercitividade.

  O pensador francês não estava equivocado ao desenvolver sua tese, porque ela ainda se aplica escancaradamente à atualidade. Prova de tal afirmação são as ondas de harmonizações faciais que têm engolido países, entre eles o Brasil. Na tentativa de acompanhar a ditadura da beleza, inúmeras pessoas se submetem a procedimentos invasivos e caros, apenas para obter o padrão da vez, o qual é temporário e traiçoeiro. Nesse sentido, a sociedade coercitiva invade o livre-arbítrio dos indivíduos e força-os, ainda que inconscientemente, a seguir determinados modelos, do contrário, exclui e frustra todos que não o façam. Logo, a uniformidade de aparências é atingida, e a coesão, finalmente alcançada.

  Destaca-se, no entanto, que quem sofre, em maior proporção, com essas tendências estéticas são as mulheres, as quais são constantemente analisadas e julgadas pela sociedade e, portanto, se sentem coagidas a acompanhar o fluxo ideal estabelecido. Além de serem avaliadas e questionadas nos mais diversos âmbitos, como no profissional, no acadêmico e no familiar, a coerção é ainda mais impositiva no estético, uma vez que, conforme a visão errônea do senso comum, aquelas que vão ao sentido diametralmente oposto do que é ditado são consideradas desleixadas, ultrapassadas e descartáveis. Por isso, é fato que o aumento da procura por cirurgias e harmonizações faciais, em especial, no meio feminino, está associado à busca pelo pertencimento e pela inclusão, sentimentos provocados pela coesão social.

  Conclui-se, pois, que a coerção presente na sociedade, proposta inicialmente por Durkheim, é notada na contemporaneidade, essencialmente, no meio estético. Nele, as mulheres são as mais aliciadas a aceitar e realizar a moda do momento, como os procedimentos estético-cirúrgicos, o quais não garantem, de fato, uma realização pessoal. É preciso atentar-se a tudo isso, pois os seres humanos estão se tornando um conjunto de cópias coesas.



Isadora Cardoso Peres -  1º Direito Noturno

As Engrenagens Enferrujadas do Funcionalismo

  Heloísa desperta 4 da manhã. Pensa seriamente pela primeira vez no dia se vale a pena todo esse sofrimento. Ela se levanta, vai ao banheiro e percebe que, novamente, sua água tinha sido cortada, era assim na maioria das vezes. Heloísa respira profundamente –sempre surpresa por isso acontecer, mas ainda assim já muito acostumada-, veste o chinelo da sua mãe, sai rapidamente de casa e bate 3 palmas na frente do vizinho. Ele já sabe, então já abre a porta e a entrega um balde cheio d’água, Heloísa, ainda sonolenta, agradece rapidamente e volta aos seus afazeres. Ela se olha no espelho e observa os seus olhos cansados, as olheiras profundas e se questiona pela segunda vez no dia o porquê de tudo isso, se algum dia tudo melhoraria. Percebeu que se perdeu nos pensamentos, então Heloísa olha a hora, se assusta e pensa que o ônibus está prestes a passar. Ela pega a mochila e corre direto para o ponto rezando para que não se atrase de novo para a aula. Aliviada, tinha chegado a tempo, mas, como todos os dias, não havia lugares sobrando. Isto é, mais uma vez ficando 1 hora e meia em pé até chegar na faculdade. Heloísa olha ao seu redor, encontra colegas da sua comunidade na mesma situação e se questiona pela terceira vez no dia: “É isso que o mundo tem pra mim? Eu não posso ser maior que isso?”                                                        

  Embora tenha se atrasado alguns minutos para a aula, finalmente chegou em seu destino. No dia anterior, Heloísa não havia conseguido ler os textos da matéria, então imaginava que iria ficar um pouco perdida e talvez muito atrás de seus colegas. Ela sempre pensava isso, pois já tinha escutado comentários sobre não pertencer àquele ambiente... os comentários iam longe e, infelizmente, já chegou em seus ouvidos que seu lugar era a favela, e não ali. Pela quarta vez no dia- oito e meia da manhã-, Heloísa se questionava se o mais correto seria voltar para casa, seguir os passos da mãe e continuar a viver o ciclo que lhe foi imposto, quem sabe, assim, poderia evitar mais e mais julgamentos...                                                                                  

 Como de costume, havia perdido alguns minutos dentro da sua própria cabeça, mas logo acordou e percebeu que o professor rapidamente começou a explicação da matéria. Heloísa nunca tinha ouvido falar do tema do dia: Funcionalismo, o qual explica que cada indivíduo exerce um papel em prol da harmonia e da estabilidade da sociedade. De primeira, lhe parecia uma teoria interessante e sensata, a explicação era coerente e os argumentos aparentavam ser válidos. “Todos têm uma função a seguir com o objetivo de evitar a anomia, ou seja, a deterioração das regras que mantêm a coesão social”, disse o professor. Heloísa compreendeu, também, a ideia da coerção social, de se sentir julgado quando sai dos padrões. “Talvez não exista um julgamento físico sobre as suas ações, mas certamente haverá um julgamento moral, um sentimento de não pertencer àquele local”, completou o educador. Ela se sentia dessa maneira naquela sala de aula, como se a maioria a visse como inferior e o desgosto da turma. Para sua família, era a realização de um sonho; para o resto do mundo, um estorvo. Durante a aula, prestava atenção e ao mesmo tempo se identificava, parecia ser tudo uma explicação. De repente, parecia ser o contrário disso.                                                                               

  O professor começou a explicar e justificar certas frases de Émile Durkheim que não faziam sentido para a estudante. O sociólogo partiu da ideia de que se algo persiste, é porque é funcional. Além disso, Heloísa também entende melhor a ideia da estabilidade proposta pela corrente filosófica. “Estável para quem? ”, pensa ela. O educador ainda completa que Durkheim partia do ponto de uma sociedade unida em prol da ordem, mas Heloísa já não mais acreditou nesse discurso. Então, ela se questiona pela quinta vez em um curto período de tempo sobre qual seria a sua função para a sociedade funcionar. “Quer dizer então que viver em condições precárias é necessário para um sistema organizado? As desigualdades existem desde o início dos tempos e são essenciais para a manutenção do corpo social? Como tudo isso pode ser justificado dessa forma? ”, disse a estudante. Indignada, continuou a pensar como o funcionalismo, na realidade, apenas justifica os preconceitos e o conservadorismo. Isto é, se Durkheim olhasse para Heloísa e sua condição social, atestaria que a função dela estava sendo cumprida, e se caso não exercesse seu papel, tudo estaria em colapso, em destruição. Talvez fosse exatamente isso que ela gostaria de causar em seu mundo: anomia. Heloísa, a partir daquele momento, estava mais do que determinada a arruinar a sociedade definida pelo funcionalismo. Agora ela compreende.    


Isabella de Souza Rodrigues Castanho- 1° ano Direito Noturno

 O funcionalismo aplicado às redes sociais.

 

A partir da ótica funcionalista, as redes sociais cumprem diversas funções importantes na sociedade atual. Atuam como mecanismos de integração social, possibilitando o contato entre pessoas de diferentes partes do mundo, mesmo à distância e podem ser utilizadas também como espaços de socialização, onde valores e costumes são compartilhados.

Ainda, as redes sociais possuem relevante protagonismo na difusão de informações, ampliando o acesso ao conhecimento. Esta função, em especial, é importante em situações de emergência, mobilização e engajamento, como pode-se perceber em diversos movimentos sociais organizados atualmente.

Sob a perspectiva funcionalista, mesmo os aspectos disfuncionais (fake news, cyberbullying, etc) são compreendidos como elementos que indicam a necessidade de ajustes no sistema, levando à criação de novos mecanismos de controle social, como regulamentações, políticas de moderação e educação digital.

Portando, a teoria funcionalista nos permite entender as redes sociais como instituições emergentes que se ajustam e contribuem para a estabilidade e adaptação da sociedade frente às transformações tecnológicas e culturais da atualidade.


Bruno Issamu Ishioka - Noturno.

O Retrocesso da Razão: A Crise da Ciência em Tempos de Desinformação

No século XXI, apesar dos inúmeros avanços científicos e tecnológicos, a sociedade vive uma contradição alarmante: a crescente desconfiança em relação à ciência. Um reflexo evidente desse cenário é a expansão do movimento antivacina, alimentado por desinformação e teorias conspiratórias amplamente divulgadas nas redes sociais. Em vez de confiarem em especialistas com sólida formação acadêmica e experiência comprovada, muitas pessoas têm dado credibilidade a conteúdos superficiais e sem embasamento, compartilhados por fontes duvidosas. Essa inversão de prioridades revela uma crise profunda de racionalidade e estrutura social, reforçando a sensação de que o mundo, em muitos aspectos, encontra-se fora de ordem.

Essa crise pode ser analisada à luz do pensamento de Auguste Comte, filósofo francês do século XIX e fundador do positivismo. Para Comte, a sociedade humana evolui em três estágios: teológico, metafísico e científico (ou positivo). Neste último, a razão e o método científico substituem a fé cega e a especulação como formas de compreender o mundo. Com base nessa lógica, o progresso social e moral só seria possível quando a ciência fosse aceita como guia da humanidade. No entanto, a ascensão de movimentos negacionistas, como o antivacina, representa uma espécie de “retorno” ao estágio metafísico, no qual crenças pessoais e subjetividades tomam o lugar dos fatos comprovados.

Nesse sentido, a política da não vacinação representa um claro retrocesso civilizacional. Ao rejeitar vacinas comprovadamente eficazes, a sociedade se afasta do estágio positivo e regride a uma lógica quase mística ou emocional, onde opiniões e crenças pessoais se sobrepõem a dados e evidências. Comte alertava que, sem a ciência como guia, a sociedade entraria em desordem – o que, de fato, já se observa com o reaparecimento de doenças erradicadas, a polarização política e a descrença generalizada nas instituições.

Além disso, o abandono da razão compromete o senso de coletividade. O positivismo comtiano também se fundamentava na ética do altruísmo – viver para o outro. A recusa em vacinar-se não é apenas uma escolha pessoal, mas um ato que coloca em risco a saúde de grupos vulneráveis, como idosos e crianças. Quando o indivíduo coloca seu "direito de escolha" acima da vida em comunidade, rompe-se o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade social.

Portanto, o avanço da política de não vacinação, em meio à valorização de discursos pseudocientíficos, revela não apenas um problema de saúde pública, mas uma falência de valores iluministas que sustentam a vida em sociedade. Auguste Comte, se vivo, provavelmente veria nesse cenário um alerta: sem ciência, não há progresso; e sem progresso, o que resta é a desordem – exatamente o que vivenciamos hoje, num mundo onde se crê mais num post viral do que na palavra de um especialista.

- Letícia de Oliveira Silva, Direito matutino


Soneto da física social

 Além da gravidade universo

 Existe a gravidade social

 Que por mais que também não deixe registros em versos

 Cria uma sociedade estrutural.


 Esses mecanismos institucionalizados

 Moldam nossos indivíduos 

 Tornando-os portanto meros alienados.


  Como os planetas que seguem a ordem do sistema solar 

  A coerção social dita os rumos da nossa direção 

  E aqueles que acreditam serem livres dessa operação social

  São apenas inocentes vivendo uma ilusão.


   E portanto, assim como as ondas eletromagnéticas que não dependem de um meio para se propagar

  As relações sociais não dependem de ninguém para existir

 Com isso as pessoas podem até tentar 

 Mas não serem influenciadas por seu meio nunca irão conseguir.

  

A voz de Ismália e positivismo

"Ismália, Ismália

Quis tocar o céu, mas terminou no chão

Ter pele escura é ser Ismália, Ismália

(...)

'Quando Ismália enlouqueceu

Pôs-se na torre a sonhar 

Viu uma lua no céu 

Viu outra lua no mar 

No sonho em que se perdeu'"

      A música "Ismália" do rapper Emicida faz referência ao poema homônimo de Alphonsus de Guimarães que conta a história de uma garota branca(Ismália) do século XIX que começa a desenvolver transtornos mentais e, em busca de alcançar a lua que via no céu, acaba pulando de sua torre e caindo na lua refletida no mar. O cantor ressignifica a personagem trazendo o ponto de vista de uma mulher negra do século XXI como uma personificação dos transtornos mentais acarretados pelo racismo estrutural e seus impactos na população negra, a qual está constantemente lutando por reconhecimento e direitos mas, assim como é dito na canção, "até pra sonhar tem entrave". 

     O racismo estrutural no Brasil está essencialmente ligado às heranças históricas do período de escravidão que tornaram um conjunto de práticas, normas e instituições características da desigualdade racial em uma base para a sociedade.A socióloga Grada Kilomba argumenta, em um dos seus estudos, que a perpetuação desse preconceito nas estruturas sociais e políticas está ligada ao discurso positivista ,o qual valida apenas certos tipos de conhecimento e experiências, enquanto marginaliza outras, especialmente as que vêm de comunidades racializadas. Desse modo, assim como Kilomba propõe uma reavaliação das narrativas históricas e sociais, "Ismália" busca resgatar e valorizar a história de uma mulher que representa muitas outras, desafiando a visão positivista que tende a simplificar e categorizar as experiências humanas.

      Logo, mesmo que o positivismo "comtiano" seja definido como uma filosofia que enfatiza a importância do conhecimento científico e da observação empírica, o uso desse discurso deve ser analisado de forma crítica, uma vez que, a partir dele, narrativas dominantes muitas vezes desconsideram as vozes e histórias de grupos subalternos. Assim, da mesma maneira que Emicida dá voz a Ismália, uma mulher que enfrenta as dificuldades impostas por uma sociedade que muitas vezes ignora ou silencia suas experiências, a sociedade precisa urgentemente ouvir e valorizar as vozes que foram historicamente marginalizadas, de modo que o tecido social consiga construir e reconhecer a complexidade das identidades e experiências humanas.