Não é de hoje
que assuntos relacionados ao racismo aparecem no noticiário. Seja um caso de
preconceito racial no mercado de trabalho, no ambiente acadêmico ou em
ambientes que deveriam proporcionar lazer e bem-estar ao indivíduo. Tudo isso
está intrinsecamente relacionado à desigualdade material existente em nossa
sociedade desde os tempos que os colonizadores resolveram escravizar seres
humanos oriundos do continente africano em razão de sua cor - argumento este
que foi sustentado como "justificação" para tal ato durante séculos.
Em vista disso, faremos um recorte com foco nas cotas
raciais, ou seja, as Ações Afirmativas que visam fomentar a integração racial
dentro de universidades e outros espaços sociais. A Universidade de Brasília
(UnB) foi pioneira quando aprovou a destinação de 20% do total de suas vagas no
vestibular e, sob a perspectiva do direito difuso e cosmopolita, observou o
indivíduo em seu estado de vulnerabilidade e reconheceu sua responsabilidade
política, moral e legal como instituição pública no combate às opressões
históricas.
Por representar uma vitória no histórico de luta dos
movimentos sociais, seu caminho até aqui ainda permeia muita polêmica, a ponto
de membros do Partido dos Democratas terem se utilizado do discurso “I have a
dream” de Martin Luther King para apoiar seus argumentos contra as costas – o que
foi patético, além de hipócrita, visto seu engajamento como ativista dos direitos
civis nos Estados Unidos. Apropriaram-se de sua fala para adequá-la a seu
discurso.
Essa exclusão pré-contratualista
pode ser conectada a termos apresentados por Boaventura de Sousa Santos em seu
artigo, no qual questiona o direito como ferramenta de emancipação. Em meio à
crise do contrato social na modernidade e a ascensão do fascismo social (na
ramificação de segurança, em especial), a angústia crônica toma conta dos
indivíduos tanto no presente como no futuro."Com efeito, a estabilidade
dos mercados e dos investimentos só é possível à custa da instabilidade das
expectativas das pessoas." (SANTOS, 2003, p.19)
Em suma, as cotas são a alternativa mais viável para combater a desigualdade material que têm oprimido negros desde o dia em que a escravidão foi abolida e promover a emancipação gradativa e social desta parte da população. Quem as condena rotulando como "privilégio" não reconhece seus próprios privilégios e a necessidade de políticas públicas para conciliarmos negros e brancos na construção de um novo contrato social, o qual não propicie mais a disputa entre raças, mas sim a sua convivialidade e troca de experiência.
Letícia Felix Rafael, 1º ano - Direito (noturno)