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domingo, 5 de setembro de 2021

A sombra do culturalismo

Tem algo muito estranho no ar do nosso Brasil

Um cheiro diferente, terra em que Messias tem fetiche por fuzil

País da fome crescente, do pai ausente, da criança doente

País que não é pra iniciante, mas a culpa não é nossa

Todo mundo sabe, não é segredo que essa joça 

Só não vai pra frente por causa dos portugueses


Ah... Quem me dera se há 500 anos não tivessem chegado

Só traziam a ralé e, por causa disso, somos amaldiçoados

Afinal, tudo se atualiza, mas a cultura...

A cultura é imutável!

Mas talvez tenha outra explicação, uma mais... mais razoável?


É jeitinho brasileiro ou jeitinho de sobreviver?

Sangue de gente covarde, preguiçosa e mentirosa

Ou sangue de gente valente, trabalhadora e honesta

É tanto discurso vindo da mesma pessoa

É tanta coisa pra decidir, tanta coisa pra entender

É um país difícil de compreender!


Por isso eu bato no peito e digo com orgulho

Sou culturalista! Assim fica mais fácil de viver

Tudo é mais fácil quando se tem quem culpar

A sombra é que conforta

Porque a luz faz o olho arder...


Andrew dos Santos Carneiro, 1º ano de Direito, noturno.

O povo anda com medo, os políticos de jatinho particular

 

 "Moro num país tropical, abençoado por Deus

 E bonito por natureza (mas que beleza)

 Em fevereiro (em fevereiro)

Tem carnaval (tem carnaval)"

Olá, eu sou o Brasil, e como diz a canção eu sou um país tropical, com um lindo litoral, uma linda floresta,que vem sendo destruída por aqueles que acreditam que o lucro e o capital estão acima de todas as coisas. Mundo a fora, conhecem o meu povo, como um povo alegre, feliz e muito receptivo, os turistas estrangeiros ficam apaixonados ao chegar aqui. Minhas comidas típicas são degustadas com muito amor por todos que passam por aqui.

Terra do samba, da caipirinha e do carnaval, eu não me reduzo a características tão boas. Desde de 1500, o meu povo sofre, do nada chegaram por aqui uma galera vinda de terra longínquas que se julgavam superiores aos meus habitantes nativos, exploraram o meu território durante anos, toda a riqueza que foi conquista não ficou aqui, foi levada para o exterior, enriqueceu outras nações, enquanto o povo que aqui já existia ficou a míngua, isso quando não foi exterminado ou escravizado. 

Outro dia ouvi falarem de um tal de "jeitinho brasileiro", e me perguntei o que o caracterizaria? 

Todos os dias milhares de brasileiros são explorados por seus patrões, isso em troca de um salário que não dá nem para pagar todas as contas no final do mês, todos os dias sai no jornal mais uma notícia de violência doméstica, assassinato, roubo e corrupção, todos os dias o Seu José tem medo de sua filha Maria não volte para casa, seja mais uma vítima da violência contra mulher, o povo anda com medo, já os políticos andam de jatinho particular, dinheiro escondido na cueca, fazem churrasco com carne de R$3000,00 e tudo isso enquanto o povo sofre para comprar o pão de cada dia.

Que país é esse?, já perguntava Legião Urbana

E eu tão majestoso, cheio de belezas naturais e riquezas, ainda não consigo responder. Não é justo ver o meu país se afundar, ver o sofrimento estampado no rosto do povo, o medo se espalhar, ver políticos se definirem como "Messias", enquanto o preço da cesta básica só aumenta. Como já dizia Max Weber, que não é filho de minha pátria, mais muito admiro, o tipo ideal é um referencial, não corresponde a algo que deve ser, mas o objetivamente possível, meus habitantes devem considerar isso nas eleições do ano que vem, não acreditar em um salvador, que ao invés de salvar afoga ainda mais o povo. 

Falar desse "jeitinho" é uma maneira de fazer com que o povo não enxergue os seus próprios problemas, e assim a dominação dos políticos e das classes superiores possa se manter, sem que os cidadãos percebam, como diz Jessé de Souza, "não refletimos sobre o ato de respirar, e também não refletimos sobre toda essa moral que somos obrigados a seguir". 

Eu sou lindo, sou rico, tenho uma das maiores florestas do mundo em meu território, o meu povo é receptivo e mantém a cabeça erguida apesar de todo medo, da falta de dinheiro e dos políticos que curtem a vida às custas de seus impostos. Como já dizia Chico Buarque "Apesar de você, amanhã há de ser outro dia", de luta em luta, de vitória em vitória, o povo vai se esquivando da dominação e abrindo o seu entendimento, meus filhos já estão acostumados as lutas, agora devem se acostumar as vitórias. O POVO BRASILEIRO VIVE E BRILHA, apesar dos falsos salvadores, desde antes de 1500. 


Ellen Luiza de Souza Barbosa 

Turma XXXVIII

Noturno


A Terra brasilis

 Entender o Brasil é uma tarefa complexa, mas não impossível. Traçar um paralelo entre o caos atual e nossa construção histórica é algo válido, embora não deva servir como pilar para a sustentação da máxima "somos assim porque somos assim".

 As instituições estão falindo, e mais triste ainda é perceber que isso ocorre cerca de quase 40 anos após o início de seu processo de engatinhamento. Aqui, deve-se atentar ao fato de que a ditadura militar e nosso passado escravista jamais significaram o "despertar" de algo novo, sendo apenas a efetivação do viés colonizador perpassado por gerações de um povo massacrado desde que se entende por brasileiro.

Não há espaço para um Brasil de sonhos intensos e raios vívidos enquanto discutirmos personalismos baratos e delírios consumistas. Ou mudamos, ou mudamos. O caminho para o novo já não parece assim tão demarcado.

Falar sobre o "jeitinho brasileiro" é discutir também a questão meritocrática em nossa nação. Em nosso país se debate desde muito cedo a podridão da política e seus desdobramentos, conquanto pouco se diz sobre um povo miserável relegado às margens desde sua concepção. 

Na bela nação de verde-amarelo, o esforço poucas vezes dá seu fruto, por isso, a constante busca pela "porta lateral". Nos fizeram acreditar que estamos destinados a isso. Que no fim do dia, passar por cima do outro faz parte da construção histórica de nosso país e de nosso povo.

O Estado, ao invés de deglutir seus próprios defeitos e buscar a mudança, exalta feitos do passado e culpa os "não vencedores". Não se debate projetos ou perspectivas, o que se faz é pintar nosso Brasil tão diferente como uma massa uniforme que, claramente, nunca existiu.
Ao raiar do dia seguinte às eleições, alguns partem em seus carros importados em direção à Avenida Paulista, enquanto outros recolhem o papelão no qual passaram a noite anterior nesse mesmo local. Esse é nosso país, que de quatro em quatro anos magicamente se torna "um só".

Finalizo dizendo que nosso povo nem deve, nem vai e nem precisa "ser estudado pela Nasa". A casta intelectualizada bem sabe de onde viemos e como chegamos aqui, e embora não goste de oferecer respostas aos "pedreiros do destino", enchem o papo de predicados para ofender os que - por pura e simples ignorância (a maioria) - elegeram ao mais alto cargo da nação um debilóide. O fato, caros patriotas, é que como todo bom brasileiro (e talvez essa seja a única característica comum em todos os que ainda possuem coragem de se dizerem como tal), possuímos fé. Nossa fé em Deus, no Brasil, no futuro ou em nós mesmos deve nos mover cotidianamente em direção a um lugar incerto, embora com certeza, melhor. Afinal, como mais ou menos disse certa vez um sábio popular, o lado bom de estar no fundo do poço é saber que o único caminho existente é para cima.

Pedro Basaglia, 1° ano - Noturno 

 Por que eu tenho nome estrangeiro? 

        Max chegou da escola e não quis almoçar. Deitou-se na cama, mas levantou depressa, lembrou-se da bronca que a mãe lhe dera na outra semana por ter dormido com o corpo sujo. Dividido entre enfrentar o chuveiro ou acomodar-se no chão, escolheu a segunda opção. Mas torceu para que nenhum dos irmãos entrasse ali, ou ele seria tido como doido. 

    Já repousante, pensou. Será que o Brasil estava mesmo acabando, como a professora havia dito? Os desmatamentos, a crise hídrica, a desorganização socioeconômica dos estados e os desmontes políticos municipais estariam mesmo prestes a arrebentar com a harmonia relativa que  ele conhecia? Aquilo era algo que ele ouvira milhares de vezes em dezessete anos, mas que nunca tinha ressoado tanto nele quanto naquele momento. Esse pensamento foi entrecruzado por outro: o pai pusera nele nome estrangeiro, diferente do "Alencar" que a mãe queria, e, por causa disso, no seu primeiro aniversário, eles já estavam divorciados. Seria aquilo um microexemplo do destino da parcela nacional da humanidade? 

    O velho orgulhava-se de ter conseguido "dar um jeitinho" com o moço do cartório para fazer valer o próprio desejo. Será que o pai era tão maligno quanto os agronegociantes, que desperdiçavam água e acabavam com o país? Tão digno de nojo quanto os riquinhos da cidade, que pagavam uma merreca aos empregados que contratavam? Será que os filhos dos aristocratas goianos e dos endinheirados locais tinham tanta dificuldade de visualizar e aceitar a pequenês de caráter dos pais quanto Max tinha? 

    O menino reconsiderou. O pai dele não poderia mesmo ser tão mau quanto os outros dois. A família dele tinha cinco pessoas, e o país, duzentos e dez milhões. E mais: "Max" soava bem melhor que "Alencar". Por fim, talvez a mãe tivesse adoecido por outro fator, como uma depressão pós-parto, e não por causa daquilo. E ela já estava bem havia muito tempo. 

    O cérebro do garoto parecia trabalhar como o advogado do malandro num julgamento hipotético movido pela mãe. Max lembrou-se do avô e dos tios paternos, corcundas pela lida da roça, que não permitiam sequer que suas esposas escolhessem o corte de cabelo. Como o pai poderia ser diferente tendo sido criado em meio àquilo? 

    E mais: nenhum juiz precisaria preocupar-se em punir o pai para garantir que a atitude dele não virasse exemplo para os filhos, pois esses jovens estavam todos usufruindo de boa educação e vida confortável, o que lhes possibilitaria abraçar comportamentos menos grotescos. 

    Max, já sonolento, absolveu o pai. O senhor em questão não tinha tido a mesma instrução que os engravatados destruidores do mundo. A compreensão da atitude dele, bem como o entendimento de todo e qualquer fato ocorrido nas antigas terras de Veracruz, perpassava a inequidade socioeconômica, gigantesca em todos os cantos da nação. Isso, muito mais do que o valor numérico do dano, diferenciava-o deles. O pai de Max era diferente porque, naquele momento, estava a levar maçãs para vender na feira urbana, enquanto os exportadores de soja aproveitavam um café em Paris e os donos da academia que ele frequentava admiravam um quadro recém-adquirido, de Romero Britto. 

Maria Paula Aleixo Golrks - 1° semestre - Direito matutino