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sexta-feira, 14 de março de 2025

A importância sociológica no combate à superficialidade e à opressão

 

Percebe-se, na contemporaneidade, que a ascensão do imediatismo humano – motivada pela busca de poder instantâneo intrínseca à hegemônica mentalidade capitalista- tornou superficiais as relações humanas, de modo que a sociedade não mais visualiza em seus impasses cotidianos proporções maiores, ignorando, portanto, os cenários completos de importante estudo para sua compreensão. Aceitam-se cegamente os valores pré-estabelecidos, e fatos como a agressão física de uma mulher devido a sua vestimenta ser ‘’curta demais’’, como o caso repercutido em Santa Maria (DF) em janeiro, são disseminados sem indagação profunda, logo, banalizados e repetidos.

Isso demonstra que, embora a legislação tenha progredido quanto a proteção da diversidade, os princípios estabelecidos por uma histórica sociedade machista e preconceituosa permanecem a orientar a vida cotidiana, subalternando tudo aquilo que deles destoarem. Tal conduta deturpada atinge não só os civis, como também pode ser percebida em atuais posturas do governo norte-americano, o qual promulgou em fevereiro de 2025 a derrubada de diversas publicações digitais que utilizassem, segundo o presidente Donald Trump, termos ‘’woke’’ – tudo aquilo que questiona normas opressoras de minorias e promovem igualdade social. Assim, não combatidos por uma sociedade não indagativa, nota-se que esses valores seletivos não só se enraízam na mentalidade social, como também se institucionalizam.

Para Charles Mills, a análise sociológica não pode, como ocorre atualmente, ater-se apenas à notificação dos fatos em si, mas encarrega-se de buscar entender suas causas, período e contexto, de forma a distinguir percepções pessoais – totalmente parciais- de constatações verídicas – diagnósticos não manipulados-, as quais só podem ser obtidas por meio de uma ‘’imaginação sociológica’’. Essa capacidade é justamente o que nos permite diferenciar fenômenos psicológicos de fenômenos sociológicos, aqueles de cunho individual e estes de importância pública que devem ser auxiliados pelo Direito. Dessa maneira, percebe-se que, enquanto a imaginação sociológica não for estimulada nas massas, condutas de discriminação permanecerão não só oficializadas, mas preponderantes nas relações cotidianas.

Imaginação sociológica, gênio maligno e postagens questionáveis.

Ao ligar meu celular de manhã e por puro vício entrar no Instagram, me deparei com uma notícia questionável sobre uma suposta descoberta científica. Ao ler os comentários, muitas pessoas estavam pasmas com a tal descoberta, acreditando fielmente na postagem. Pensei em pesquisar sobre o assunto, para tirar minhas conclusões, porém estava atrasada para minha aula.

Coincidentemente em minha aula, estudei sobre Descartes, pensador racionalista que defende que deve ser considerado falso tudo aquilo que cause a menor dúvida; e também estudei sobre Mills e o conceito de imaginação sociológica. No caminho para casa, após o fim da aula, fiquei pensando sobre a postagem questionável do Instagram e sobre os ensinamentos de Descartes e Mills e cheguei em uma conclusão.

Na sociedade atual, a maioria das pessoas não duvidam nem buscam a veracidade sobre as diversas informações que chegam até eles, como exemplificado pela tal postagem no Instagram. Me apropriando do conceito de Mills percebo que falta na maioria das pessoas, imaginação sociológica, ou seja, lhes falta qualidade de espírito para interpretar e questionar as informações que recebem. É muito fácil espalhar notícias falsas, principalmente pela maioria dos receptores destes compartilharem as informações sem questionamentos, perpetuando os problemas da sociedade moderna.

Além disso, utilizando os ensinamentos de Descartes, percebe-se que uma grande parte desse problema ocorre pela presença do “Gênio Maligno”, metáfora utilizada pelo pensador para a demonstração da falibilidade do pensamento; visto que é natural dos seres humanos procurarem enxergar o que os beneficia como verdadeiro e acreditar nisso sem buscar a verdade de fato. Como exemplo disso, basta observar o conteúdo das notícias que mais viralizam e quem os compartilhou; ao fazer isso, nota-se que a maioria das notícias possuem conteúdo condizente com aquilo que agrada ou é benéfico a alguém ou a algum grupo que espalhou tal informação.


Depois dessa reflexão, percebi que o ideal é que as pessoas adquiram Imaginação sociológica e questionem as informações que chegam até eles. Porém, sabemos que a realidade é diferente do ideal e que seria utópico pensar que as pessoas começariam a questionar todas as informações recebidas, principalmente as informações que são coniventes com seus princípios.


Maria Clara Destito Yano- 1 Ano - Direito(Matutino)

Perturbação social ou efeito manada?

 Numa certa noite de aula, alguns alunos começaram a entoar pelos corredores da faculdade:

- Biscate! Meretriz!

Pensaram então: será uma briga?

Em questão de segundos, as ofensas, que eram proferidas por vozes singulares, começaram a ser ditas por classes inteiras.

Pensaram então: será uma manifestação?

Um minuto após o estopim, grande parte dos alunos já estava fora da sala, uns buscando por informações sobre o que estava acontecendo, outros, reproduzindo as ofensas, sem ao menos saber do que se tratava tudo aquilo.

Cinco minutos após, ouvia-se gritos como os de macacos, pessoas correndo, pessoas desesperadas, cadeiras sendo jogadas e um caos total espalhado pelo campus. A pergunta inicial, porém, continuava sem resposta.

Quem tinha certa consciência social se escondia e dizia:

 - li que "As perturbações ocorrem dentro do caráter do indivíduo e dentro do âmbito de suas relações imediatas com os outros; estão relacionadas com o seu eu e com as áreas limitadas da vida social, de que ele têm consciência direta e pessoal", portanto isso é, obviamente, assim como tudo, um ato político!

Quem se considerava "esperto" olhava aquilo e pensava: Isso é efeito manada, que acontece quando um comportamento acaba sendo reproduzido diversas vezes, instigando as pessoas a aderirem a ele.

Quem tinha lido três livros na vida continuava a reproduzir a encenação primata, achando estar em uma intervenção artística, ou qualquer outra coisa que sua cabeça tinha criado, a fim de conferir uma "legitimidade" para as suas ações.

Por fim, quem tinha sofrido o ataque, saiu escoltado pela polícia, com uma sensação de culpa sem a ter, tornando-se mais uma vítima do preconceito estrutural.

Yago Arbex Parro Costa - 1° ano - Direito (Noturno)

 

A negação da ciência na era moderna

 

Em Novum Organum, Francis Bacon diz: “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra-se o efeito.” Ou seja, contestar a opinião de especialistas dificulta o trabalho de profissionais, que tem o objetivo de salvar vidas. Esse fenômeno da negação da ciência foi o que levou a morte de 700 mil pessoas por covid no Brasil.

Esse episódio foi potencializado por fake news que se espalharam rapidamente por meio das redes sociais – que são o maior modo de comunicação da era moderna – e muitas dessas mentiras eram disseminadas por influenciadores e políticos. Desde frases como “é só uma gripezinha”, como o incentivo a aglomerações e a não adesão de máscaras e outras medidas sanitárias.

Além disso, é visto o ressurgimento de doenças antigas – que haviam sido erradicadas – como sarampo, poliomielite e coqueluche em decorrência da baixa taxa de vacinação. Em uma época que a informação está na palma das mãos, o indivíduo tem a dificuldade de filtrar informações realmente relevantes, o que pode prejudicar a sua vida.

Contudo, de acordo com dados da UNICEF em conjunto com a OMS, o Brasil avançou na imunização de crianças no ano de 2024. O que não significa que a negação da ciência no século XXI acabou. Apenas um controle momentâneo da narrativa, mas que ao menos está conseguindo salvar a vida de pequenos brasileiros.

Em suma, conhecimento é poder e uma maneira de se atingir o conhecimento é por meio da ciência, que não pode ser negada ou ignorada, pois um estudo ou pesquisa não agrada uma parcela da população.

Lorraine de Oliveira Maciel – 1º ano – Direito (matutino)