Percebe-se, na contemporaneidade, que a ascensão do
imediatismo humano – motivada pela busca de poder instantâneo intrínseca à
hegemônica mentalidade capitalista- tornou superficiais as relações humanas,
de modo que a sociedade não mais visualiza em seus impasses cotidianos
proporções maiores, ignorando, portanto, os cenários completos de importante
estudo para sua compreensão. Aceitam-se cegamente os
valores pré-estabelecidos, e fatos como a agressão física de uma mulher
devido a sua vestimenta ser ‘’curta demais’’, como o caso repercutido em Santa
Maria (DF) em janeiro, são disseminados sem indagação profunda, logo,
banalizados e repetidos.
Isso demonstra que, embora a legislação tenha progredido
quanto a proteção da diversidade, os princípios estabelecidos por uma histórica
sociedade machista e preconceituosa permanecem a orientar a vida cotidiana,
subalternando tudo aquilo que deles destoarem. Tal conduta deturpada atinge não
só os civis, como também pode ser percebida em atuais posturas do governo
norte-americano, o qual promulgou em fevereiro de 2025 a derrubada de diversas
publicações digitais que utilizassem, segundo o presidente Donald Trump, termos
‘’woke’’ – tudo aquilo que questiona normas opressoras de minorias e promovem
igualdade social. Assim, não combatidos por uma sociedade não indagativa,
nota-se que esses valores seletivos não só se enraízam na mentalidade social,
como também se institucionalizam.
Para Charles Mills, a análise sociológica não pode, como
ocorre atualmente, ater-se apenas à notificação dos fatos em si, mas
encarrega-se de buscar entender suas causas, período e contexto, de forma a
distinguir percepções pessoais – totalmente parciais- de constatações verídicas
– diagnósticos não manipulados-, as quais só podem ser obtidas por meio de uma
‘’imaginação sociológica’’. Essa capacidade é justamente o que nos permite
diferenciar fenômenos psicológicos de fenômenos sociológicos, aqueles de cunho
individual e estes de importância pública que devem ser auxiliados pelo
Direito. Dessa maneira, percebe-se que, enquanto a imaginação sociológica não
for estimulada nas massas, condutas de discriminação permanecerão não só
oficializadas, mas preponderantes nas relações cotidianas.