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quinta-feira, 21 de abril de 2022

Comte estava equivocado

Comte, filósofo considerado um dos "pais" da sociologia, com o intuito de criar um método que estudasse as humanidades, assim como são estudadas as ciências da natureza, criou o método positivista.

Receita de progresso através do positivismo


Ingredientes

- Como princípio, 3 xícaras de amor

- 6 xícaras de ordem bem aperfeiçoada e


Modo de preparo

1) Adicione as xícaras de amor

2) Aos poucos, coloque ordem 

3) Misture bem os ingredientes

4) No final terá o progresso


Esse método visa interpretar a realidade de forma supérflua para que a ordem seja mantida a fim do progresso da humanidade. Comte não levou em consideração o fato de que os fenômenos sociológicos ocorrem diferentemente dos da natureza, pois, em sua teoria, ele explique que a função é fazer o julgamento somente da situação e não se aprofundar nos acontecimentos e fatos que a desencadearam. Portanto, a sociologia não pode utilizar do positivismo, pois é impossível que o estudo da sociedade seja uma ciência exata e supérflua.


Maria Vitória Santos Belarmino - matutino - 2022



 Positivismo contraria a existência de mulheres na vida pública


“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.” Essa famosa e polêmica frase da existencialista Simone de Beauvoir retrata a influência da socialização na construção do que é ser mulher na sociedade, isto é, demonstra que a mulheridade não advém de uma essência feminina inata, mas de um conjunto de fatores sociais. Esta é uma afirmação importante para a emancipação feminina, já que se as mulheres não são regidas por uma essência maternal, reclusa ao lar e de recatamento, devem buscar romper essas barreiras, como, por exemplo, através da inserção na política institucional. Em contrapartida com essa lógica de negar uma essência natural, o positivismo a reitera e a legitima através do entendimento de “física social”: assim como os conhecimentos físicos e matemáticos, a sociedade seria regida por leis naturais invariáveis. Transportando esse pensamento no que tange às mulheres no panorama atual, estas seriam regidas por leis fixas e, portanto, não deveriam buscar subverter tal ordem natural. 


Augusto Comte afirma que “o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer a causa mais íntima dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e similitude.” Então, seguindo essa descrição positivista, pode-se observar que historicamente há muito mais homens dominando a arena política do que mulheres. Pode-se observar que no Brasil, pouco mais de 10% dos deputados federais são mulheres (de acordo com dados de Inter Parliamentary Union). Será por que as leis da natureza, que são invariáveis, determinam que lugar de mulher não é na política? Ou será por que há séculos as mulheres são barradas da vida pública? Sob um viés imediatista social, ou seja, positivista, em que não se busca as raízes dos problemas sociais e sim a mera observação, seria porque de fato o lugar de mulher não é na política.


Além disso, a ideologia positivista preocupa-se com a centralidade da moral e acredita na existência de uma moral universal. Comte, no contexto de revoluções industriais, Primavera dos Povos e efervescências sociais típicas da primeira metade do século XIX critica o “cego ardor de emancipação mental”: “a antipatia crescente que o espírito teológico inspirava justamente à razão moderna afetou gravemente muitas importantes noções morais, não somente relativas às maiores relações sociais, mas também concernentes à simples vida doméstica, e até mesmo à existência pessoal." Tal pensamento também reitera a exclusão feminina da vida pública institucional, já que ocorre necessariamente através de um viés emancipatório.

Também, para os positivistas, ordem e progresso são duas condições fundamentais para a civilização e, inclusive, a própria noção de felicidade e solidariedade deve servir a essas. De acordo com o positivismo, a idéia de felicidade deve ser vinculada ao bem público e se sobrepor ao parâmetro pessoal do que é ser feliz, bem como a solidariedade, que não é um sentimento fraternal, mas sim uma ligação de cada um com todos, com objetivo de manter-se a ordem e o progresso. Dessa forma, no que concerne à condição social e política da mulher na atualidade, a chamada “sororidade feminina” e o próprio feminismo não seriam bem-vindos, visto que trabalham a solidariedade fraternal com objetivo revolucionário e emancipatório para dar um fim a ordem patriarcal atual e a noção do que é progresso, que é às custas da exclusão dessas.

Por fim, no positivismo há a ideia de harmonia social fundada no cumprimento de papel prescrito pela moral, ou seja, a prescrição, a cada agente,de regras de conduta mais conformes à harmonia fundamental. O patriarcalismo e a noção de essência feminina prescrevem a todas as mulheres seus papéis sociais a fim de manter-se o próprio patriarcado, como o papel de mãe, de esposa, de recatada. Dessa forma, a noção de que de fato há a necessidade de cumprimento de um papel social para atingir-se uma moral universal pode legitimar ideias machistas e essencialistas e afastar mulheres de sua emancipação, como, por exemplo, atingindo a vida pública na política.


O Positivismo e o Ensino Técnico


    O ensino técnico no Brasil teve inicio no século XX, quando o então governador do estado do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha criou quatro escolas técnicas, com o decreto nº 787 de 11 de setembro de 1906. Mais tarde, em 1941 o presidente Getúlio Vargas com a conhecida reforma de Capanema estabeleceu uma séria de leis que estabeleceu o ensino técnico como de nível médio e criava exame de admissão. E em 1942, através do decreto nª 4.127 criam-se as Escolas Industriais e Técnicas, com formação equivalente ao nível secundário.
    Com esse breve histórico, observa-se que o ensino técnico foi criado para atender a formação de mão de obra para  a economia agrária exportadora inicialmente e posteriormente a economia industrial. Dessa forma, ele teve inspiração positivista de "Ordem e Progresso", ou seja, o Brasil precisa se desenvolver as custas de uma força braçal que não alcança a universidade, pois a universidade não é para todos. Somente os filhos da elite política e econômica chegam a universidade e para a grande massa cursar o ensino técnico já é uma conquista. 
    Foi o que verbalizou o Ex-Ministro da Educação Milton Ribeiro, quando ainda era ministro: " O Brasil precisa de mão de obra técnica, profissional, gente com capacidade e e é nesse foco que eu quero mirar agora neste restante de mandato do presidente. Escolas profissionalizantes."  e também afirmou que "universidade deveria, na verdade ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade". Não é de assustar, que o lema do governo de plantão seja "Brasil acima de tudo". Nesse sentido, o positivismo ainda é mais atual do que nunca, o progresso econômico é atingido pela mão de obra que cursa o ensino técnico, mas a mesma não pode desfrutar deste.
    Portanto, quem cursa o ensino técnico e ingressa na universidade é um subversivo, pois agiu contra a lógica positivista da sociedade brasileira atual. Principalmente se a universidade for pública, pois esta de acordo com a lógica de Milton Ribeiro não é para os filhos de pessoas humildes. E é por isso que fico muito feliz em conhecer pessoas subverteram essa ordem positivista. 

Joel Martins S. Junior
1º Ano de Direito - Noturno

Como alcançar o positivo?

O contexto histórico europeu do século XIX, com as revoluções liberais, industriais, o contexto de agitação e fervilhamento revolucionário representa o desenvolvimento da crença na ciência, no progresso e desenvolvimento da sociedade burguesa moderna ocidental.     

        A ciência assume um papel do tecnológico, de superação do religioso como fonte da verdade. O positivismo como “física social”, inspirado nas leis da natureza, é filosofia que interpreta o universo social com a pretensão de buscar leis invariáveis que regem a sociedade. “Somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados” é uma frase que expressa que a verdade é somente adquirida pela observação do mundo natural feita pela análise dos olhos da ciência.     

        A ordem, o progresso e o projeto de uma sociedade constroem-se mutuamente com a centralidade da moral, com a absorção desses conceitos na norma. Ao contrário da moral católica, o positivismo prevê a primazia da sociedade sobre o indivíduo. O enviesamento sobre este projeto de sociedade, gera consequentemente a crise dos valores expressa na contemporaneidade, o caos das instituições e da ordem social.    

    Como observado, o positivismo representa a superação da exclusividade da estática presidida pelo predomínio teológico, assim como a dissolução do “revolucionarismo” insustentável que caracteriza a preponderância do progresso. O projeto de sociedade deve se sobrepor às diferenças do indivíduo e oprimir o que sai a ela, mantendo a ordem e conciliando a sua conservação e o seu melhoramento. A indiferença às diferenças, o desgosto pelo único buscando sempre o geral é em toda a sua forma completamente excludente, já que a sociedade contemporânea busca pelo bem estar, dando voz à luta pelo espaço das minorias historicamente ignoradas e apagadas.    

         Outro conceito que expressa a invisibilidade do diferente é o de felicidade. Associada ao bem público, que se sobrepõe ao pessoal e também ao religioso de vida eterna e salvação, em razão disso o sentido de felicidade terrena é adotado. Outro aspecto é o do trabalho, já que o saber positivo reforça o gosto pelo trabalho prático e a aceitação dos “lugares sociais” e seus papéis definidos.      

        Dessa forma, a reflexão sobre a frase da bandeira brasileira, “Ordem e progresso”, não foge à análise. Em pleno século XXI, será que ainda cabe essa afirmação? Qual o sentido de tal ordem, de tal progresso que buscamos? É a exclusão, a indiferença às reinvindicações, às dores de cidadãos que clamam por ajuda? Ou é o resultado, a busca pelo lucro, pelo maior, a custo de tantas outras vidas? Temos o dever de manter esse debate vivo, lutando pelo mundo qual acreditamos e queremos viver. Será que realmente alcançamos o estágio positivo de desenvolvimento científico?


Aluna :Helena Motta- 1 º ano Direito noturno

Os sentidos, a razão e a verdade

 

        É estranho pensar que, muitas vezes, a mesma experiência pode nos trazer sentimentos tão diferentes. Como isso pode ser explicado através da razão?

    De acordo com René Descartes, grande pensador da filosofia moderna e da matemática, o qual estabeleceu como método de análise o racionalismo, a verdade pode ser alcançada através de métodos universais e absolutos, como a matemática (apesar de parecer, para mim, que a filosofia e a matemática não compartilham tantas coisas em comum). Logo, para ele, os sentidos não podem ser confiáveis Afinal, como, por exemplo, pessoas com pensamentos tão diferentes e contrários podem ser tão convincentes? 

    Segundo Descartes, os sentidos podem trair a razão, e por isso, nunca deve-se aceitar algo como verdadeiro, e sim, duvidar de todo e qualquer método científico. 

Vamos analisar, portanto, um caso citado pelo próprio filósofo. Sonhos podem ser extremamente convincentes, dando a experiência de estarmos vivenciando algo real. Porém, o que pode parecer lógico durante um sonho pode ser impossível na realidade, como cenários que se misturam de repente ou figuras que não tem formas específicas.


    De modo análogo, é necessário apontar que nem tudo que lhe pareça verdade, realmente é. Dessa maneira, é preciso ter cuidado com informações que chegam para você sem fontes ou dados confiáveis, especialmente em uma época onde o acesso à informação é facilitado para aqueles que têm os meios necessários, como a internet e as redes sociais. Assim, notícias falsas são facilmente espalhadas, enganando diversas pessoas a acreditarem em mentiras, ou, pelo menos, meias-verdades. 


Portanto, segundo o pensador, devemos, para chegar à razão (chamada de “verdade científica”), vencer as nossas próprias convicções, pois nossos sentidos podem ser facilmente manipulados.


Giovana Pevarello Parizzi

  1° ano - Direito - Matutino


Ordem e progresso… para quem?

   “Amor como princípio; Ordem como meio; Progresso como fim.”. Esse é o tema do positivismo, método de conhecimento inventado por Auguste Comte no século XIX. Para ele, as sociedades existentes têm diferentes graus de evolução, em que a dele (França, pós-Revolução Francesa) era a ideal. Dessa forma, para o pensador, as demais sociedades eram menos evoluídas, e precisavam ser guiadas ao progresso. 

Atualmente, essa ideia pode ser vista como explicitamente preconceituosa, uma vez que temos a consciência da existência de sociedades diferentes, com modos de organização e valores distintos, mas que nenhuma é melhor ou pior que as demais. Contudo, no século XIX, essa ideia foi bem aceita por sociedades burguesas europeias, cujo objetivo era pautado na expansão industrial e colonial de suas nações. Logo, podemos ver como as ideias de Comte ajudaram a sustentar, por exemplo, os discursos neocolonialistas. 

A Partilha da África pode representar uma consequência dessa exacerbada busca pelo progresso, na qual populações inteiras de países foram submetidas aos domínios europeus, não levando em consideração suas diferentes etnias, línguas, costumes; separando povos irmãos e unindo, despoticamente, povos inimigos. Guerras foram travadas com a justificativa do progresso e populações foram dizimadas, a fim de provar quais nações obteriam o controle do globo. Não obstante, o choque entre os países dominadores, poucas décadas depois, repercutiu na 1° Guerra Mundial, um conflito de proporções nunca antes vistas na história. 

    “Progresso como fim”, eles diziam. Mas progresso para quem? 

    “Progresso como fim”, eles diziam. Mas às custas do quê? 

    De que vale esse progresso quando é seletivo, em benefício da elite, e causa tanta discórdia? 

    E ainda, até hoje, há aqueles que defendem tais lemas…  

    “Ordem e Progresso”.



Giovana Pevarello Parizzi

1° ano - Direito - Matutino.


O Verdadeiro Positivismo

 

Em um contexto revolucionário, no qual a agitação e o anseio eram arduamente presentes, e, ademais, com uma Ciência Natural já muito bem articulada – por Descartes e Bacon -, um estudo voltado ao campo social tornou-se, portanto, relevante. Dessa forma, Auguste Comte, a fim de criar uma corrente filosófica alicerçada pelos métodos cartesianos até então propostos, de compreender o mundo social de maneira aprofundada e de conter as subversões ameaçadoras da ordem, estruturou o chamado Positivismo - uma filosofia na qual as relações socais e suas regras seriam explicadas a partir de leis gerais elaboradas por meio da experiencia sensível.

Nesse sentido, Comte estabeleceu que haviam três estágios pelos quais as sociedades deveriam passar para alcançarem o amadurecimento e máximo desenvolvimento no que tange ao conhecimento: o primeiro e o segundo estados pautavam-se no viés Teológico-Metafísico – eram considerados inferiores por focarem suas análises em fenômenos sobrenaturais - e o terceiro, no Positivismo – era visto como superior por focar no real, útil e certo.

Sob essa perspectiva, o Positivismo tinha, como fulcro, a ordem, e o progresso como finalidade. No entanto, para conquistar tal sociedade ideal voltada ao conhecimento máximo, apenas a vinculação entre os fenômenos sociais era o suficiente e, assim, a explicação das desigualdades sociais, do preconceito e de outras importunidades não se faziam necessárias – buscava apenas leis gerais e não fazia uma análise crítica da sociedade.

Desse modo, embora aparente, de início, subversiva, uma vez que coloca o pensamento teológico vigente como inferior, em prol do conhecimento científico, tal pensamento é, na verdade, uma tentativa de conter a subversão das sociedades modernas – ou seja, apesar dessa corrente possua aparência inspiradora, sua ideia central contradiz com o intrínseco significado de progresso, haja vista a manutenção de impertinências sociais e o desinteresse por essas.

Nessa conjuntura, o progresso é, sobretudo, uma forma de controle social e o Positivismo visa, com sua base rasa de conhecimento, notadamente, apenas uma mudança que não comprometa a ordem já estruturada. Por fim, inúmeras vozes gritantes são silenciadas e a ideia de subversão torna-se, cada vez mais, uma contradição.

A ideologia pejorativa do Positivismo.

 Parafraseando Karl Marx, a consciência de uma sociedade é determinada pela maneira com a qual ela produz seus bens materiais, sendo assim, a bem-sucedida revolução industrial transformou não só a forma de produção, mas, também, os paradigmas de uma sociedade.  A objetividade e o senso de utilidade influência em todos os aspectos das concepções humanas, principalmente, no desenvolvimento de teorias socias que as legitimizam.

O positivismo, como afirmou Augusto Conte, é o '' real frente ao químero, o útil frente ao inútil, o certo frente ao incerto'', revelando-se uma doutrina a qual tinha preceitos em liame com o eschorchante otimismo no progresso do desenvolvimento técnico científico do século XIX até o início do século XX, quando a ocorrência dos dois grandes conflitos mundiais levaram as sociedades questionaram se, de fato, houve um progresso, pois a mesma razão que proporcionou os avanços ciêntíficos gerou milhares de mortes, e assim iniciou-se, também, o questionamento de todas as ideologias que a reconhecia. O positivismo, revelou-se, então, uma ideologia pejorativa que atende as classes dominantes que desejam se manter no poder, pois busca oprimir quaisquer mudanças sociais consideradas subversivas e em contraste com a ordem vigente. 

Vale salientar, que a teoria dessa possuí como base estágios ''necessários'' ao desenvolvimento, e no estágio de maior evolução se encontram as sociedades técnicas científicas, as quais, na época da sua formulação, era palco das sociedades europeias, corroborando ainda mais com os preceitos da  legitimação do imperialismo europeu com a justificação de levar o desenvolvimento para comunidades consideradas ''menos evoluídas'', pois toda forma de produzir conhecimento que não seguia o modelo metodológico ciêntifico era automaticamente descartado.

Portanto, mesmo após as infinidades de questionamentos e críticas sobre a teoria positivista, sua influência se concretiza até os dias atuais, presente no modo pelo qual enxergamos sociedades que não seguem os mesmos princípios que as ocidentais, preconceitos enraizados em grupos de minoria que almejam legitimizar-se e na própria necessidade da ideia de utilidade, algo que nos corroí dia após dia. 

   


Ana Júlia Rodrigues Aguiar, 1° ano de direito noturno.