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quinta-feira, 7 de março de 2013

Especificidade cartesiana


Renè Descartes, filósofo francês, nascido nas proximidades de Paris, concluiu o curso de direito da Universidade de Poitiers. Todavia, o destaque dado a esse homem não parte exclusivamente da sua compreensão das áreas jurídicas. Descartes registrou seu nome na história das ciências humanas a partir da sua perspectiva pouco comum sobre a filosofia clássica ensinada até então.

Por ser um defensor da filosofia utilitarista, Renè discordava da forma com que os ensinamentos filosóficos eram pregados até o século XV, uma vez que os considerava contemplativos do mundo e não via como transformar o último a partir desse método. Visão contraditória à dos filósofos clássicos, por exemplo Platão, que acreditava que o conhecimento deveria ser centralizado entre esses pensadores e isso os capacitava para diversas funções particulares, como assumir o poder e governar com sabedoria.

Foi essa incompatibilidade de ideias que levou Descartes a desenvolver um novo método de obtenção do conhecimento que não descendesse do dogmatismo nem da filosofia clássica, mas partisse da racionalidade humana. O ¨Discurso do Método¨ é a teoria mais próxima da prática cotidiana defendida por Renè e que prega, ainda, a popularização do saber e não a ermeticidade desse – causada pela ausência de discussões e argumentações sobre o que era conhecido – até então vivenciada.

A desconstrução da ciência e o questionamento constante foram os meios sugeridos para que tais objetivos cartesianos fossem obtidos. Apesar de algumas passagens contraditórias no livro de Descartes, seu estudo vigorou por séculos e consagrou – o como o pai da filosofia moderna, uma vez que novas frentes de estudos foram iniciadas dentro de áreas que eram consideradas indivisíveis. O desenvolvimento do direito é uma clara consequência do estudo de Descartes, afinal o progresso legal possibilitou-se devido à ramificação de mais frentes de estudos específicos, por exemplo o direito ambiental.

Atualmente vivencia-se uma retaliação a essa estrutura ramificada e demasiadamente específica. Fato notado a partir da constante defesa da interdisciplinaridade. Contudo, a valorização do conhecimento ainda está numa crescente e provoca grandes diferenças salariais entre aqueles que sabem e aqueles que executam.

ÀS DE COSTUME...

                  Quaisquer tradições culturais, pautadas nas mais variadas vertentes axiológicas sobre as quais se ramificam os grupos sociais, são sempre recalcadas sobre certos costumes que são de geração em geração ensinados.
                Tais costumes, por inúmeras vezes, atingem nossas almas como flechas da mais inquestionável verdade, tapando nossos olhos e deixando escapar à nossa percepção que a sociedade atual é exacerbadamente dinâmica – e cada vez o é mais – a ponto de, em questão de poucas décadas, trazer à legalidade valores antes criminalizados, em detrimento de pragmáticos (pré) conceitos, agora criminosos.
                É em crítica a essa estática imposição de verdades que René Descartes discorre em seu “Discurso do Método”, expondo a razão humana como o necessário diferencial para que superemos as incertezas que nos cercam, bem como para que rompamos com a possibilidade de aceitar o que nos é dito, simplesmente porque alguém considerado importante ou inteligente falou.
                Questionar sobre a origem dos fatos, e por qual razão um costume se manifesta em determinada sociedade, torna-se intensamente relevante hoje, no seio de nossa globalizada convivência, pois ajuda a dirimir preconceitos étnicos, sexuais, raciais, religiosos e outros que outrora foram disseminados em regimes ditatoriais e que em nosso Estado Democrático de Direito são inaceitáveis.
                Por fim, vale lembrar que cabe perfeitamente no sentimento humanitário que vem sendo contemporaneamente corroborado, o que foi ressaltado por Descartes quando discorreu sobre a importância dos estudos racionais e científicos, afirmando que eles devem ser em benefício da humanidade, colaborando com a cura de doenças e tantos outros males. De mais a mais, cabe dizer que o citado autor demonstrou grande solidariedade para com as futuras gerações, afirmando que "é verdade também que os nossos cuidados devem estender-se para mais longe do tempo presente, e que convém omitir as coisas que talvez redundem em algum proveito aos que estão vivos, quando é com o propósito de fazer outras que serão mais úteis aos homens do futuro”. Se assim também pensarmos, destruiremos menos nosso habitat e racionalizaremos nosso conhecimento em prol de nossos herdeiros.

(texto referente à aula 2)