O Fascismo se trata de um regime político surgido
na Europa no começo do século XX, porém um regime que não se limitou à este
referido espaço e tempo, sendo necessária a reflexão acerca de suas vertentes e de sua influência que se
fazem presentes até a atualidade.
Conforme
observado na fala dos palestrantes Hélio Alexandre, Patricia Soraia
e Pedro Xapuri, o Fascismo se caracteriza como uma forma de regime político do Sistema Capitalista que surge na Itália em meados da década de 1920, com a
ascensão de Mussolini ao poder. Podemos caracterizar sucintamente esse regime
como sendo um regime totalitário, ditatorial, em geral pautado em princípios como
o Nacionalismo Ufanista, a centralização do poder na figura de um líder – ora carismático, ora autoritário –
e a promessa de solução rápida e eficaz dos problemas pelos quais a sociedade
estaria passando, bem como a culpabilização imposta à pequenos grupos sociais
por esses problemas. À exemplo disso, podemos contextualizar o cenário alemão
de 1920: uma sociedade arrasada pela 1ª Guerra Mundial bem como pelas sanções
dela oriundas – tais como o Tratado de Versalhes – que humilhavam a nação:
“A população
alemã, por sua vez, detestou o tratado [de Versalhes]. Um jornal alemão, o Deutsche Zeitung, comentou: “Nunca nos deteremos até recuperarmos o que merecemos.”
Economicamente, o tratado representou uma corrente no pescoço da Alemanha.”
(CHALTON, 2017. p. 54)
Conforme citado, a sociedade alemã do Entreguerras
se constituía de uma sociedade com seu orgulho, sua nacionalidade ferida. Para
além dessa esfera nacionalista, se tratava também de uma sociedade economicamente
falida, que enfrentava um cenário de fome e destruição. É esse o contexto
fértil ao surgimento do fascismo: uma sociedade em crise.
A sociedade em crise é essencial ao fascismo
pois a população, ao se ver inserida nessa condição de crise, necessita e
anseia de um milagre, de uma resposta rápida e eficaz para sanar esses
problemas, e é desse anseio que se alimentam as lideranças e o próprio regime
fascista. A liderança fascista se aproveitando do momento de desespero se
apresenta com um discurso autoritário, que, ao prometer milagres, faz surtir na
população uma esperança por dias melhores, e esta, quando enxerga isso, passa a
apoiar veementemente o regime e suas ideias.
O perigo
de – num ato de desespero - acreditar e apoiar tão intensamente um regime e
suas ideias é justamente fugir e abdicar da metodologia racionalista proposta
por Descartes: ora, se acreditamos tanto em algo que nos é imposto sem ao menos
questionar, sem que essa crença seja oriunda de nossas experiências, retrocedemos
ao período anterior à revolução do pensamento cartesiano, acreditando agora em
dogmas fascistas como analogamente acreditávamos nos dogmas religiosos, que tínhamos
como verdade absoluta. O perigo desse retrocesso e dessa abdicação do conhecimento
oriundo da razão e da experiência – nesse caso – é historicamente conhecido: o Holocausto.
Por simplesmente aceitarem a tese de que a culpa dos percalços pelos quais a
Alemanha passava era dos judeus, uma sociedade inteira passa a legitimar e apoiar um massacre humano
sem precedentes na história. Tal como na época da forte influência da Igreja
Católica toda uma sociedade – acreditando em dogmas religiosos no lugar da
experimentação racionalista - apoiava o assassinato de pessoas simplesmente por
serem supostamente bruxas, a sociedade
Alemã Nazifascista apoiou o Holocausto, tendo no lugar dos dogmas religioso os “dogmas” fascistas.
Para nós, atualmente, chega a parecer insano
que toda uma nação apoiou e legitimou tão naturalmente um massacre como o
Holocausto, porém devemos compreender que esse absurdo foi oriundo justamente da
ideologia Nazifascista que, se aproveitando do momento de crise, tirou das pessoas
o método racional e a própria racionalidade, implantando no lugar um pensamento
quase que psicopata.
Contextualizando com a
analogia aos dogmas católicos, podemos também dissertar acerca da referência presente
no filme Ponto de Mutação: ao entrarem
na Igreja, os personagens notam e se sentem pequenos frente à grandiosidade da
construção, algo totalmente intencional por parte da Igreja Católica. A
grandiosidade não deixa de ser uma imposição do catolicismo aos fiéis, uma vez
que esse sentimento de inferioridade da pessoa perante a Igreja resulta também numa
sensação de que aquilo – a Igreja – por ser extremamente maior, majestoso e
imponente, não seria passível de nenhum questionamento, devendo apenas ser
aceitado sem contestação.
Historicamente não faltam
exemplos de como essa aceitação de conceitos pré-estabelecidos - bem como a
consequente abdicação do uso do método científico pautado na razão – resultaram
em consequências drásticas em seus respectivos contextos, seja na Alemanha
Nazista com o Holocausto, seja na Europa da “Caça
às Bruxas” com a morte de milhares de pessoas de forma institucionalizada.
Em se tratando da história ser geralmente tida no mundo acadêmico como algo
cíclico, devemos sempre estar atentos à essas ameaças, principalmente em
momentos de crise como os que passamos atualmente.
Segundo a palestrante
Patricia, o Neofascismo obviamente não se utilizaria das mesmas características
de seu contexto de surgimento, haja vista que a maioria das características não é mais passível de
sentido no atual contexto, porém, isso não significa que algumas características constatadas na sociedade
de hoje não possam ser tidas como vertentes de características do Fascismo original,
evidenciando assim certo perigo. O anticomunismo exacerbado pode ser ligado ao
atual sentimento de antipetismo, a crise alemã pode também ser comparada – resguardadas
as proporções - com a atual crise política brasileira que surge com o
Impeachment da Presidenta Dilma. O surgimento de uma liderança – agora eleita -
pregando soluções rápidas, agressivas e principalmente culpabilizando determinados
grupos sociais pelos problemas também pode ser objeto de comparação. Todos
esses exemplos nos mostram certamente a contemporaneidade e a necessidade da discussão acerca da temática
fascista, uma vez que não obstante termos, segundo a obra “Ponto de Mutação”, evoluído do “grande relógio mecânico” ao “pequeno
relógio de quartzo”, ainda assim estamos sujeitos aos erros – e às consequentes
barbáries – do passado.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
CHALTON, Nicola. A história do
século 20 para quem tem pressa. Rio de Janeiro: Valentina, 2017. 200 p.
Adelino Mattos Marshal Neto - 1º Direito Matutino.