Observemos os seguintes enunciados , a reflexão e conclusão , os quais envolvem um dos principais temas do filme :
" O tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia , Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia , Porque não é o rio que corre pela minha aldeia ..." " Isto continua a não ser um cachimbo "
Somos educados para aceitar que existe uma separação radical entre as visões de mundo : realidade e ilusão , fantasia , sonho, alucinação. Estes conceitos devem ser tomados como absolutos e indiscutíveis ; além disso , deve-se " viver no real " como nos ensinam os chavões " cai na real ! " ou " você está viajando ! " , que castram a nossa realidade individual e forçam-nos a aceitar um padrão de realidade absoluta.
Tal absolutização , do ponto de vista científico , é irreal. Freud afirmou que tanto há realidade no sonho quanto há sonho na realidade. A teoria Platônica discorre que o mundo em que vivemos é o reflexo ( Mímese ) do Mundo das Idéias ( que é o da realidade absoluta ). Logo, nada nos confere autoridade para classificarmos as coisas em reais ou irreais porque nós mesmos somos irreais , conforme Platão.
Einstein provou, matematicamente, que mesmo o tempo é relativo ; portanto , nada é absoluto. A pseudorrealidade em que vivemos só é real a partir de um único referencial, o qual somos obrigados a acatar , abdicando de nossos próprios referenciais, ou seja, de nossa personalidade.
Portanto, tudo isso não passa de um mecanismo de exploração, onde quem tem o poder constrói a realidade. É real o que nos impõe o Jornal Nacional, a Folha de São Paulo , a Veja ?Mas não deixam de ser reais as alucinações do menor abandonado que, geralmente, cheira cola na Praça da Sé ou os delírios de fome e sede das crianças do Nordeste ou os sonhos do trabalhador oprimido com uma sociedade igualitária. Como se vê, estamos diante de mais um instrumento de massificação, censura e manutenção do " status quo ".
Para complementar a idéia do filme , um grande sábio oriental disse :
" Ao término de um período de decadência sobrevêm o ponto de mutação. A luz poderosa, que fora banida, ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força...O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando, portanto, nenhum dano. " ( I.Ching )