Em meados do séc. XIX surge o Positivismo, uma nova área de estudo científico proposta pelo acadêmico francês August Comte. Seguindo a linha dos avanços e rigores das ciências naturais de sua época, Comte visou desenvolver um método de estudo que romperia com a influência das doutrinas religiosas e das correntes filosóficas tradicionais, propondo assim uma análise material e objetiva da sociedade e de suas relações. No entanto a proposta do sociólogo, apesar de revolucionária e pioneira, também estabeleceu uma série de condutas que continuam a promover desavenças e conflitos nos dias atuais.
“O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim”, essa frase revela uma série de valores que norteiam o pensamento positivista. O objetivo final da doutrina era o alcance do “progresso”, ou seja, uma mudança positiva na condição de vida em sociedade. No entanto, na concepção dos positivistas esse “progresso” só seria alcançado em razão de dois princípios norteadores, o primeiro deles sendo o amor (impulso individual) e a ordem (harmonia governamental através da imobilidade). Logo, todo movimento ou comportamento que escapava dos moldes estabelecidos nesse período era (e muitas vezes ainda é) considerado anormal, dúbio e até mesmo hostil para com o bom funcionamento social.
O movimento negro, feminista, indígena, LGBTQIA+, etc., todos hostilizados por uma oposição conservadora embasada, essencialmente, pelos ideais positivistas. Os padrões de “humanidade” estabelecidos no final do século XIX e início do XX constituem, para os mesmos, um conjunto de fatos inquestionáveis e essenciais para o funcionamento da sociedade, devendo serem, portanto, defendidos sem reservas.
Na atualidade essa batalha se traduz eventualmente nos dois extremos do espectro político. De um lado tem-se um grupo de “direita” conservador, formado em sua maioria por adultos educados pelos padrões dogmáticos citados anteriormente, do outro os progressistas de “esquerda” que ostracizam qualquer hábito ou tradição distintos dos arquétipos contemporâneos minoritários.
Para tanto, percebemos que os preceitos de Comte se enraizaram nos mais distintos âmbitos sociais e, a cada metamorfose e inovação, nossas opiniões ficam cada vez mais engessadas e a nossa sociedade mais radicalizada. Em busca da ordem frequentemente sacrificamos o motor do desenvolvimento, a mudança e a diversidade e, como postulado por Heráclito: “Nada é permanente, exceto a mudança”.
Bruno Vieira Salles - 1° ano - Ra: 231224885