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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

A dominação e seus desdobramentos

           O conceito de dominação é um tanto peculiar, pois quando pensa-se nele, surgem automaticamente exemplos mais marcantes, como um Estado totalitário exercendo seu poder sobre os cidadãos, ou o capitalismo subordinando e hierarquizando as classes sociais. E de fato, esses são cenários em que a dominação está presente. Mas também é tão mais que isso. Segundo Weber, “entende-se por poder a oportunidade existente dentro de uma relação social que permite a alguém impor a sua própria vontade mesmo contra a resistência e independentemente da base na qual essa oportunidade se fundamenta”. 1

Esses aspectos de imposição de poder, força dominante e supremacia exercida estão presentes em tantas situações sociais, e simplesmente passam despercebidos pelos indivíduos. Apenas quando tenta-se analisar a sociedade e seus desdobramentos, refletindo sobre as condições cotidianas, finalmente é possível captar alguns desses casos de dominação. Por exemplo, a desigualdade de gênero é um problema gigantesco e com heranças históricas. Ainda assim, existem certas situações em que as mulheres ficam desconfortáveis, são oprimidas ou se sentem inseguras mas não percebem que está acontecendo um problema de desigualdade de gênero. Achamos que a culpa é nossa ou que o problema está em nós, quando na verdade é toda uma construção de dominância masculina que impõe um silêncio ou um certo comportamento feminino. E isso pode ser claramente enquadrado na visão de Weber de legitimação, que é quando ocorre uma aceitação da dominação como algo válido, como algo normal. Logo, o silenciamento das mulheres ocorre pois há uma dominância e priorização da opinião masculina, enquanto a voz feminina é menosprezada.

Outro aspecto constante de dominação ocorre na educação e na quantidade de conhecimento que os indivíduos detêm. Ao se expressar de forma culta e complicada, os indivíduos estabelecem uma barreira intelectual, onde apenas os mais preparados conseguirão compreender o tema. Isso ocorre claramente no direito, já que a linguagem mais rebuscada traz uma dimensão que só será entendida por certos segmentos da sociedade. Evidentemente, esse problema é contraditório pois se o direito serve para coordenar as relações sociais e ordenar condutas de toda a sociedade, de forma igualitária, por que parte da população é excluída na comunicação das leis? Historicamente, o direito surgiu bem antes da escrita. O que significa que ele era acompanhado, inicialmente, pela oralidade. Na Grécia Antiga, mesmo após o surgimento da escrita, as condutas obrigatórias eram difundidas por meio da declamação de poemas, especialmente porque esses alcançavam toda a sociedade e eram extremamente acessíveis.

Em sua obra “Nos confins do direito”, o autor Norbert Rouland explica que “o direito escrito apresenta o risco de ser apenas o instrumento de uma minoria, próxima do poder, ou que o detém”.2 Ou seja, ocorre uma hierarquização do conhecimento. Percebe-se, logo, que os simples instrumentos da escrita ou da linguagem, quando utilizados pelos detentores de poder, são impulsionadores gigantescos da desigualdade e da dominação.

Outros detentores de poder são os donos dos meios de comunicação, que estabelecem condutas e influenciam toda uma população através das redes sociais, dos mecanismos digitais. Um exemplo claro disso é uma entrevista dada por Steve Jobs, em 2010, em que esse declara que não deixava os filhos usarem o seu recém-lançado iPad.3 Os próprios criadores dessas tecnologias que estão tão presentes no cotidiano da sociedade atual, admitem que suas criações são viciantes e perigosas. O objetivo dos criadores de dispositivos digitais e aplicativos é fazer com que o indivíduo fique o maior tempo possível imerso na tecnologia, enquanto seus dados são captados e propagandas são projetadas para influenciar o mercado consumidor.

Evidencia-se, portanto, que as relações de dominação e poder estão inseridas nas mais diversas situações, conforme Weber explica ao apresentar sua definição de poder. De fato, a dominação está na vida social, sob a manifestação e imposição da vontade. No entanto, ela não existe de forma plena, uma vez que pode vir acompanhada de resistência. Por isso surgem revoluções, reformas, mudanças. São a discordância com o sistema vigente, a resistência contra a desigualdade, a imposição autoritária e o controle dos detentores de poder.

Referências:

1 WEBER, Max. Conceitos básicos de sociologia

2 ROULAND, Norbert. Nos confins do direito.

3 https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/20/actualidad/1553105010_527764.html


Mariana Pereira Siqueira – 1° ano Matutino