Sem dúvida Descartes revolucionou
o que é considerado ciência. Mas como seu legado influencia a
contemporaneidade? Existem muitos relatos de sua contribuição à humanidade e ao
modo de pensar atual. Contudo, a aplicação da teoria de René nos dias de hoje é
compatível com a concepção que o estudioso relatou em sua obra?
Primeiramente,
é necessária a análise de alguns dos aspectos do legado do Filósofo. Descartes
considera que o conhecimento em sua época muitas vezes não tinha aplicação
prática e que partia somente de discussões ou devaneios de filósofos. Outro
ponto fundamental é a crítica ao hábito, ao não questionamento e à alienação.
Estes seriam pedras no caminho para adquirir o saber. Ataca a superstição e as
doutrinas impostas pelos mestres.
Para
extirpar todos esses empecilhos à obtenção da verdade, propõe o “Método”. O
conhecimento que se tinha pelo hábito deveria ser testado, não somente para
comprovar sua eficiência, mas também para entender-se como ocorria essa eficiência.
O que não pudesse ser provado seria superstição. Da mesma forma, os ensinamentos
dos antigos mestres seriam postos à prova, pois decorrentes de discussões
filosóficas, não tinham como base o empirismo, mas, sim, conjecturas pessoais. E por
fim, defende a sistematização dessas conclusões de forma que sejam facilmente
compreendidas e aplicadas no mundo real.
Reconhece-se
muito do “Método” em nossa era, no entanto, existem alguns pontos a serem
criticados. Não foram tão bem aceitas as teorias cartesianas ao ponto de não
mais serem questionadas?
Por
exemplo, enquanto o pensador reconhece a importância dos conhecimentos
angariados com a filosofia, hoje é uma matéria pouco prestigiada no ensino. E
não é somente o governo que é o culpado, afinal foi o próprio que incluiu
novamente a matéria no currículo. As pessoas também questionam a aplicação
prática e como o trabalho ocupa a maior parte do tempo dessas pessoas, a
contemplação e a maiêutica decorrentes da dialética filosófica se perdem.
Criou-se
um novo hábito: o de acreditar no que os especialistas dizem. Por não ter uma
visão geral do conhecimento, a sociedade se torna refém da informação prestada
pelos profissionais e, sem o privilégio da dúvida, a aceitam.
Por
último, ocorre o processo de desumanização do saber, isto é, uma tecnificação
da população, na qual os meios não são mais ponderados para se atingir um fim,
a tecnologia se volta para fins pessoais e não coletivos, a especialização
exagerada torna a massa ignorante e justamente por essa “libertação” que a ciência
pura promove, os seres humanos se tornam práticos, andróides.
Ao
fim dessa análise, vê-se que pontos fundamentaisde “O Discurso do Método”, foram
aplicados de forma exagerada e outros acabaram sendo esquecidos, justamente
pelo processo de fundamentalização da teoria. Portanto, é necessário realizar
uma constante avaliação do meio para não nos tornarmos vítimas de um processo
que em seu cerne era libertador.