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quinta-feira, 27 de março de 2025

O Sol há de nascer novamente

No romance “A Náusea”, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre evidencia, através da figura de Antoine Roquentin, um aspecto fundamental da modernidade: a angústia. A narrativa gira em torno de um jovem historiador que, de forma repentina, se vê invadido por um vazio interior ao ser confrontado com suas experiências, memórias e acontecimentos ao redor, desenvolvendo perturbações emocionais que o acompanham durante toda a trajetória.  

Mesmo que tenha sido escrita em 1938, a obra de Sartre é a representação absoluta de uma sociedade hodierna cada vez mais perdida diante de uma realidade repleta de tragédias e maldades em ascensão. A náusea sentida por Roquentin ao refletir a respeito de si mesmo ressurge no século XXI quando, percebendo o caminho que a humanidade vem tomando nos últimos 50 anos, fazemos a constatação: o mundo está acabando e não há nada a ser feito.  

De acordo com o The Washington Post, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) informou, em junho de 2024, que “no final de maio, mais de 1,5 bilhão de pessoas – quase um quinto da população do planeta – suportaram pelo menos um dia em que o índice de calor superou 103 graus Fahrenheit, ou 39,4 graus Celsius, o limite que o Serviço Nacional de Meteorologia considera fatal”. Simultaneamente, pesquisadores do clima preveem que a Terra atingirá um aumento na temperatura de 3ºC até o final do século, o que ocasionará o derretimento quase total das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental e um consequente aumento exponencial do nível do mar.  

O Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que cerca de metade da população global vive atualmente em situação de escassez grave de recursos hídricos durante pelo menos um mês por ano, enquanto as altas temperaturas médias facilitam a proliferação de doenças endêmicas como dengue e malária. Pelo mesmo motivo, a produção agrícola sofre sérias dificuldades: na África, um continente conhecido por já enfrentar problemas severos de fome, o crescimento da produtividade diminuiu um terço desde 1961. Graças a enchentes e tempestades extremas vindas de alterações significativas na atmosfera, desde 2008, mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo foram obrigadas a deixarem suas casas. Com o aumento máximo de 1,5ºC exigido pela Conferência de Paris de 2015, as espécies terrestres com alto risco de extinção atingirão 14% de toda a biodiversidade e os custos com subsídios para as principais culturas alimentares ultrapassará os 60 bilhões de dólares. E o que é pior: a situação do aquecimento global chegou em um ponto evolutivo irreversível.  

No âmbito político, a experiência atual é marcada pelo renascimento do fascismo. Em seu primeiro discurso no Congresso norte-americano durante o segundo mandato, Donald Trump reafirmou suas posições contra a diversidade cultural e contra o suposto “privilégio” conferido às minorias no país, apelidado de “agenda woke”. Com base nessa negação institucional da pluralidade humana, a Secretaria de Educação do governo determinou o corte de verbas federais para colégios e universidades que promovam debates sobre variedade racial e sexual dentro do ambiente acadêmico. Entretanto, Trump não é um fenômeno isolado.  

Segundo o jornal Le Point, o retorno de Trump ao poder “não é um acaso. Ele faz parte de uma onda autoritária em ascensão, representada de forma ainda mais rígida por líderes como Xi Jinping, na China, Vladimir Putin, na Rússia, e Recep Tayyip Erdogan, na Turquia. 

Na Alemanha, em 2024, o partido AfD (Alternative r Deutschland ou Alternativa para a Alemanha), classificado na extrema-direita, comemorou um “sucesso histórico” com a vitória no Estado de Turíngia, no leste do país. Nas eleições para o Estado da Saxônia, o mais populoso, a sigla chegou ao segundo lugar. Embora o partido já tenha até mesmo sido multado por fazer uso de um slogan nazista e defenda amplas medidas anti-imigração, nada foi capaz de cessar sua onda de popularidade entre os jovens alemães.  

Exemplos não faltam. Independentemente do local, essa dinâmica demonstra um fato: a opressão ganha força no cenário moderno e, com ela, o ódio.  

Diante de todo o panorama aqui abordado, surge uma pergunta: como é possível evitar a “náusea” de Roquentin em um mundo cada vez mais caótico e violento?  

A resposta é simples, mas importante: o medo se enfrenta com a esperança.  

Paulo Freire, patrono da educação brasileira, nos dá um conselho fundamental nesse sentido: “Para mim, é impossível viver sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como grande lição que é impossível assumi-la sem riscos”. Isso significa que, onde há resistência, sempre existirá também a opressão. O que cabe a nós é não sucumbir perante as forças da tirania moderna: se organizar politicamente, desenvolver um estudo crítico do corpo social, ampliar as visões de mundo e lutar, ainda que minimamente, por uma conjuntura mais justa, acende em cada coração, jovem ou não, a chama da mudança.  

Através de muita luta política e, primordialmente, de muito conhecimento sociológico, poderemos entender que amanhã é um dia que vale a pena ser vivido.  

 Vitória Alvarenga Pistore - 1º ano - Direito (Matutino)

Afrontar pelo resgate do ''nós''

 

Entende-se por ordem o estado de harmonia pleno entre as mais diversas áreas e grupos sociais. Por isso, percebe-se que o mundo contemporâneo encontra-se profundamente desornado, de modo que as pessoas –orientadas por uma hegemônica mentalidade capitalista- perpetuam um ciclo de apatia e desigualdade.

Sob essa ótica, nota-se que a humanidade hodierna acomodou-se a um sistema de relações superficiais e convenientes. Assim, quer seja enraizado em rotinas ‘’automatizadas’’, quer seja na inercia diante dos imbróglios sociais, o homem capitalista prioriza seu próprio ganho de capital em detrimento de uma sociedade mais unida e justa. Dessa maneira, o ‘’eu’’ egoísta prepondera sobre o ‘’nós’’ empático. Tal cenário, exemplificado por preconceitos como a LGBTQIA+fobia, ou ainda pelas guerras armadas e diplomáticas, como a de Gaza - genocídio do povo palestino- demonstra que atualmente a noção do coletivo perdeu-se. A cruel soberania do ‘’O problema do outro não é meu’’.

 Entretanto, ainda que constantemente ameaçados, percebe-se que ainda existem indivíduos críticos, que lutam diariamente para modificar, pouco a pouco, essa realidade desigual. Tais pessoas demonstram que o sonho de uma vida melhor –não só para mim, mas para o meu entorno- deve ser cultivado interna e externamente

Ser ativo, afrontar, e acolher é, muito além de uma resistência, uma contribuição para um mundo melhor, no qual a harmonia volte a ser a regra, e não uma exceção.


Positivismo utilizado como desculpa preconceituosa

O Positivismo foi uma corrente teórica criada pelo filósofo francês Auguste Comte que defendia que a regra para o progresso social seriam a disciplina e a ordem. Essa teoria influenciou o desenvolvimento do Determinismo, o qual sustenta a ideia de que, caso todas as leis científicas sobre a natureza e a sociedade fossem descobertas, seria possível prever com toda certeza o comportamento dos indivíduos e dos fenômenos sociais, já que tudo é determinado por tais leis. Esse pensamento parece, à primeira vista, ser algo revolucionário e que solucionaria diversas questões sociológicas. Entretanto, ele foi, e ainda continua sendo utilizado, para difundir e tentar dar algum tipo de “embasamento científico” a inúmeros discursos e ações preconceituosas. 

Na época da colonização do continente africano, os europeus colonizadores utilizaram como pretexto para subjugar a África que a Europa possuía uma geografia física mais favorável, como o clima, e pessoas com um “intelecto superior”, conseguindo assim progredir melhor que os outros países por conta disso. Em decorrência dessa análise, afirmavam que eram mais “desenvolvidos”, então teriam como papel dominar os africanos e “civilizá-los”.

Outro exemplo histórico importantíssimo que evidencia o uso do “saber científico” para disseminar ódio foi durante o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial. Os nazistas tinham como argumento que a “raça ariana” era mais pura biologicamente e mentalmente. Dessa forma, qualquer outro grupo de pessoas tinha que ser excluído na sociedade alemã e do seu sistema, como imigrantes, judeus, deficientes e homossexuais, sendo esses dois últimos considerados totalmente “sem valor”. 

Nos dias atuais, o Determinismo ainda se encontra presente na sociedade, como por exemplo, o dizer de que “pessoas com descendência europeia são melhores que qualquer outra pessoa”,  já que seus antepassados vieram de um “lugar melhor e mais civilizado” e é preciso sempre pensar no “progresso da civilização”.

Portanto, fica evidenciado como o Positivismo e suas vertentes influenciavam no passado  e continuam influenciando atualmente pretextos discriminatórios, levando a sociedade a ser cada vez mais dividida, marginalizadora e preconceituosa.


Giovanna Garboci Siqueira dos Santos - primeiro ano Direito noturno

A influência de Francis Bacon no pensamento Hobbesiano

Foi publicado em 1620, por Francis Bacon, um livro que revolucionaria o pensamento racional do homem e o impulsionaria para a era do iluminismo. Esse livro se chamaria Novum Organum, e versaria sobre um novo método de pensamento, mais racional, que não se baseava no senso comum e que buscava explicar detalhadamente (sem abrir margem para o fenomenológico) o método científico empírico e indutivo.

Para Bacon, o senso comum é resultado do labor da mente em buscar explicações rasas e sem fundamento racional para as indagações do cotidiano; ou segundo suas próprias palavras: “O intelecto humano não é luz pura, pois recebe influência da vontade e dos afetos, donde se poder gerar a ciência que se quer. Pois o homem se inclina a ter por verdade o que prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; a sobriedade, porque sofreia a esperança; os princípios supremos da natureza, em favor da superstição; a luz da experiência, em favor da arrogância e do orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efêmeras; paradoxos, por respeito à opinião do vulgo.”

O senso comum, portanto, é tido como o propulsor que engendrou os pensamentos dogmáticos que buscavam explicar os fenômenos da natureza, e que obstaculizavam o verdadeiro conhecimento, livre de influências religiosas, opiniões pessoais e erros inerentes à própria natureza humana.

Thomas Hobbes, que foi secretário de Francis Bacon de 1621 até 1626, em sua obra mais conhecida: O Leviatã, utilizou da ideia do senso comum de Bacon para explicar algumas particularidades do espírito humano, como sua propensão à manipulação. Em um trecho, Hobbes afirma: “A ignorância dos significados das palavras é a falta de entendimento e dispõe os homens a aceitarem algo por confiança... e, além disso, os dispõe a aceitarem as coisas sem sentido daqueles que eles confiam”; essa observação está diretamente ligada à crítica de Bacon ao senso comum, visto que Hobbes reconhece a facilidade com que os homens aceitam ideias e crenças sem questionamento, muitas vezes baseados na confiança em autoridades. Além disso, Hobbes recorre à mesma conciliação entre fé e razão presente em Bacon para explicar a crença dos seres humanos em um ser Divino. Ele escreve: “A curiosidade, ou o amor pelo conhecimento das causas, faz que o homem busque a causa; e outra vez; a causa daquela causa, até que, por necessidade, chegue ao pensamento de que existe uma causa sem causa anterior que é eterna, e a isso os homens chamam de Deus. Por esse motivo, é impossível fazer qualquer investigação profunda das causas naturais sem estar inclinado a acreditar na existência de um Deus Eterno; mesmo não tendo qualquer ideia Dele na mente que corresponda à Sua natureza”.

Portanto, é evidente que Hobbes utilizou importantes conceitos do empirismo baconiano para fundamentar suas teorias, aplicando-os tanto na análise do comportamento humano quanto em sua reflexão sobre o papel da religião na sociedade e na política.

Yago Arbex Parro Costa - 1° ano - Direito (Noturno)