DIGNIFICAÇÃO DO HOMEM
Conforme fui lendo “As
regras do método sociológico” de Émile
Durkheim, fui ficando pasma. Em seu texto, ele deixa explicita a ideia de que
os indivíduos possuem maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores a eles
mesmos. Ou seja, o que eu sinto, não está dentro de mim, aliás, pode até estar,
mas a causa disse sentimento e a forma que eu expresso esse sentimento, não
partem de mim. Estranho, estranho. Estranho porque eu sempre achei que pelo
menos minhas dores, meus sorrisos viessem de mim mesma, eu sentia dentro de mim
esses sentimentos, e então leio essas
palavras... Também compreendi o real papel da escola, da família e de qualquer
organismo social : negar nossos instintos, para que possamos dispor a
contribuir como um todo. E é isso mesmo, contribuímos através do trabalho, do
silêncio, da aceitação, tornamo-nos aquilo que deveríamos nos tornar: um ser
social coagido.
Não gosto de me sentir assim, um ser social que está em
constante coação, até porque coação já dá um ar de algo negativo, forçado,
podemos estão trocar o verbo, para imposição, o que não altera o sentido da
palavra: não é por espontânea vontade que trabalhamos, deixamos nossas vontades
de lado não porque somos solidários, ideia da solidariedade do individuou como
um todo, não, e sim porque somos moldados para assim agir, o trabalho dignifica
o homem. Para mim, a concepção de dignidade é outra, seria uma pessoa honrosa,
não por trabalhar, e contribuir para todo um sistema, mas sim por ser
considerada dessa forma, por agir de uma forma boa, e boa nesse caso não
conforme toda a ideologia dita.
Entretanto, sim, nessa sociedade, o trabalho dignifica o homem.
O homem da imagem se sente feliz, a felicidade é contagiante, o sorriso
simples, o rosto sofrido, cansado, toda uma vida de miséria, mas agora, ele
possui a carteira do trabalho, é um trabalhador registrado ,agora é um ser
dignificado... E a coação existente não foi a seguinte: sorria que tirarei uma
foto sua com a carteira do trabalho, para que todos vejam sua felicidade ao
trabalhar, não, a coação existe desde seu nascimento, ele acredita nessa ideia de
que ele é um ser bom por trabalhar, digno, embora tenha que sustentar sua família, trabalhe
de sol a sol, viva na miséria, mas pelo menos ele é digno. Como se agora
pudesse realmente se conformar com sua situação.
Ao ver essa imagem, algo me doeu. Uma angústia passou pelo
meu corpo. Embora eu não saiba de onde venha esse sentimento, eu senti, não sei
se esse sentimento é meu, ou ele vem de fora da minha consciência.
Não quero agir
conforme estou condicionada a fazer, não quero me desenvolver da forma que
todos devem, todos não deveriam ser assim... O que fazer então? Não sei.