A principal reflexão da obra de Richard Senett é sobre as transformações no mundo do trabalho nas últimas décadas, em que a precarização, a flexibilização e a informalização do trabalho têm se intensificado. A principal contribuição de “A corrosão do caráter” é que essas mudanças não apenas afetam a vida profissional dos trabalhadores, mas também têm impactos significativos em suas vidas pessoais e emocionais.
Analisando o contexto de trabalho atual, as mudanças descritas por Senett são ainda mais evidentes. A pandemia acelerou o processo de digitalização do trabalho e impulsionou a adoção de novas formas de trabalho remoto e flexível. E embora essas mudanças tenham benefícios, uma das principais consequências da popularização desses métodos de trabalho é a permanência do trabalho no cotidiano e nos momentos de descanso dos trabalhadores, onde não acontece o “desligamento” do ambiente de trabalho, devido à tecnologia permitir que os trabalhadores estejam conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana, ocorrendo uma dificuldade em estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal. Junto a essa prática, caracteriza-se um fenômeno da atualidade, o “burnout”, onde ocorre o esgotamento físico e mental do trabalhador, afetando sua produtividade e principalmente sua vida pessoal e emotiva.
Outro dos pontos destacados por Senett em sua obra é a perda do sentido de identidade e propósito que era atribuído ao trabalho. Com a crescente fragmentação do trabalho e a busca incessante por produtividade e eficiência, a classe trabalhadora perdeu a conquista do significado em suas atividades laborais. O que leva à outra consequência negativa, que é a falta da capacidade de criar relações de confiança e cooperação no meio de trabalho, que se traduz também para a vida pessoal. Um exemplo da influência do método de trabalho da atual sociedade capitalista é a prática do “babysitting” ou a presença de babás, onde um cuidador (que na maioria das vezes passa mais tempo com os filhos do que os próprios pais) dificulta a formação de laços paternos e maternos que devem caracterizar o desenvolvimento de uma criança, porém a esfera do trabalho impossibilita que os pais façam parte na criação dos filhos mesmo em momentos essenciais da maternidade.
Resumidamente, a análise do autor focaliza em demostrar que, embora essas mudanças tenham trazido benefícios, as consequências negativas para a vida profissional e pessoal dos trabalhadores são inegáveis, e entre elas estão: a perda de identidade e propósito no trabalho, a dificuldade em estabelecer relações interpessoais de confiança e cooperação, a intensificação do trabalho e da sobrecarga emocional. Essas consequências são extremamente preocupantes considerando o contexto em que vivemos, onde transtornos mentais constituem ameaças cada vez maiores e mais presentes na sociedade.
Afonso da Silva Ferreira - 1º ano de Direito - Matutino
RA: 231223242