Criada no século XIX, a corrente filosófica do positivismo foi elaborada pelo Filósofo Francês Augusto Comte, sob a noção de uma vertente filosófica que visava a aplicação dos princípios das ciências naturais ao estudo da sociedade, com o intuito de organizar melhor o mundo social através de critérios metodológicos como a observação, a experiência e o método científico. Desse modo, Comte estabeleceu a criação de uma linha cronológica da evolução do pensamento humano, sob a qual se inicia no Estado teleológico, em que as explicações e verdades absolutas surgiam através do sobrenatural, parte para o Estado metafísico, em que agora surgem teorias abstratas e filosóficas para confrontar as explicações religiosas, e , por fim, o ápice do saber humano, denominado por Comte como Estado Positivo, em que a observação e o método científico surgem como mecanismos de explicação absolutas da realidade como um todo.
Nesse sentido, ao elaborar tais características de extrema racionalidade na teoria positivista, Comte ainda ressalta a eficiência da teoria positivista não somente para sanar as explicações através do cientificismo, mas também para que a ordem e progresso do mundo social fossem de fato estabelecidos de maneira concreta. Contudo, ao atrelar a teoria de Comte à contemporaneidade, observa-se que o positivismo aparece no cenário social atual como uma problemática, tendo em vista que seu viés estritamente racional acreditava que todos os fenômenos sociais poderiam ser explicados e controlados com métodos científicos, ignorando, portanto, toda a estrutura social e complexidade humana, com seus fatores subjetivos, culturais e históricos.
Sendo assim, compreende-se que o positivismo acredita em um modelo científico que resolveria de maneira simples todo o caos e desorganização do mundo social, mas se esquecendo de considerar toda a estrutura social que edifica os dogmas humanos e que impede a mera correlação entre problema e solução. Ademais, cabe ressaltar que o ideal de ordem e progresso defendido na teoria positivista também se apresenta como um expoente agravante na própria manutenção da ordem social, haja vista que este pensamento positivista valoriza apenas a progressão da estabilidade e controle social, de modo a negligenciar a importância dos conflitos e das lutas sociais em nosso cenário social, fazendo até com que o modelo positivista sirva como base justificativa no que tange a atuação e organização de diversos governos autoritários e ditatoriais.
Nessa linha de raciocínio, observadas as contradições que a teoria positivista cria no cenário global hodierno, salienta-se a título de exemplo contemporâneo, no que concerne à influência da lógica positivista, o recente movimento político e social britânico denominado “Brexit”, isto é, a saída do Reino Unido da União Europeia. Nesse sentido, um dos principais argumentos para a respectiva retirada britânica do acordo foi o combate a imigração, haja vista que a forte corrente imigracionista que estava se espalhando no panorama europeu obrigava o Reino Unido a abrigar e dignificar uma vida a essas pessoas, o que no entendimento britânico trazia riscos à economia estatal, a segurança interna, a soberania britânica e a geração de empregos na região, ou seja, a mera aceitação da vasta gama de imigrantes traria, na concepção britânica, desordem e caos no contexto estatal.
Dessarte, é possível compreender a partir do exemplo mencionado que além do Reino Unido ter utilizado a lógica positivista para elaborar sua argumentação e retirada da União Europeia, alegando uma futura construção de um cenário caótico mediante a perpetuação no acordo, a organização britânica ainda concretizou de fato a visão conservadora em que o positivismo se pauta, tendo em vista que esta se mostrou completamente resistente quanto a inclusão de povos imigrantes em seus países, incentivando de certo modo a exclusão, o estigma e a insegurança destes indivíduos quanto a uma vida digna. Logo, com o intuito de manter a organização em constante ordem e progresso, os chefes dos estados do Reino Unido se basearam em uma visão completamente restrita e reducionista da sociedade, baseada em dogmas subjetivos destes, acreditando estarem sendo extremamente racionais e minuciosos em sua decisão, características essas que além de comporem o aspecto da teoria positivista, só demonstram o quão inaplicável esta corrente filosófica é nos tempos atuais, já que reduz a resolução de todos os problemas a uma visão estereotipada e individualista da realidade como um todo.
Portanto, conclui-se que o positivismo surge como uma teoria inovadora, que relaciona a simples resolução de determinado problema através do método científico, juntamente do auxílio de mecanismos como a racionalidade, o conservadorismo, a manutenção da ordem e o constante progresso. Ocorre que, ao ser atrelado ao cenário atual, observa-se que tal teoria é inaplicável, visto que não leva em consideração toda a estrutura em que a sociedade se move, de modo que tal visão simplista não se pode ser aplicada enquanto todas as características que permeiam o organismo social não são levadas em conta. Além disso, o exemplo demonstrado também colabora para evidenciar que o ideal positivista de ordem e progresso é relativo, pois ele depende da concepção subjetiva de cada indivíduo ou entidade em como manter a ordem de seu respectivo país, como ocorreu com o Reino Unido. E, por fim, toda essa respectiva problemática mencionada anteriormente em consonância com esse conservadorismo excessivo do positivismo contribuem para a exclusão de cada vez mais indivíduos, para a resistência quanto a mudança, para a negação da liberdade individual, e, ainda, para a legitimação de diversos governos autoritários, sendo, portanto, uma teoria que se tornou ineficiente e reducionista mediante o panorama contemporâneo
Rafael Martins Araujo - 1° ano - Direito - Matutino