Total de visualizações de página (desde out/2009)

quinta-feira, 15 de março de 2012

375 anos de atualidade.

Analisando o início da conhecida obra de René Descartes (O discurso do método), referência na racionalização das práticas científicas, podemos nos confundir. Aparentemente ele trai seus princípios ao afirmar a existência de Deus por caminhos lógicos. Contudo, em uma análise mais aprofundada, percebemos o concílio entre ciência e religião. Descartes parte do princípio de que não se pode gerar inteligência do nada, ou de algo não inteligente. Adiantando as confirmações práticas, que iriam, por exemplo, refutar a ideia da abiogênese trinta e um anos depois, Descartes afirma que o homem, perfeito como é, só pode ter sua origem em um ser tão perfeito quanto ele. Logo, a existência de Deus se torna necessária.
E para nosso espanto suas descobertas não param por aí. Ao determinar extremo rigor para a investigação científica ele espera obter bases seguras para a construção do saber. Mas não é o que percebemos atualmente. Na Hélade acreditava-se que Hélio puxava o Sol todos os dias, sendo assim responsável pelo seu movimento. A ciência contemporânea, contudo, afirma que não é Hélio o responsável pelo movimento solar, mas sim a gravidade. Nada esclarecedor. Temos evidências empíricas desse fato, que esse movimento realmente acontece. Porém o que o causa nos é obscuro. O que é matéria? O que são forças? O que é o universo? Nada disso a ciência pode nos afirmar com certeza.
A partir disso podemos tomar mais uma parte dos pensamentos de Descartes para nosso uso: "Minha terceira máxima era a de procurar sempre antes vencer a mim próprio do que ao destino, e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo(...)". Com isso esperamos utilizar dessa humildade de pensamento durante nossas viagens pelos conhecimentos científicos na medida que cada vez mais temos a certeza de que nenhum pensamento até hoje se mostrou totalmente verdadeiro.

Ciências e humanos


Escrita em 1637, a obra “Discurso sobre o método”, de René Descartes ainda tem elementos que estão presentes em nossa sociedade. Um deles é seu método, no qual devemos colocar em dúvida o conhecimento que se tem para buscarmos um avanço científico. Tal método  foi e ainda a base de toda a ciência moderna, que não apenas contempla, como na Antiguidade, mas busca aumentar o conhecimento e aplicá-lo. Dessa forma, foi possível o desenvolvimento de tecnologias inimagináveis, como artefatos nucleares e satélites de busca com altíssima precisão. Além disso, parece que seu método também influenciou as pessoas de nosso tempo. Haja vista que, cada vez mais, colegas, amigos e até mesmo irmãos desconfiam um dos outros. Não para a produção de ciência, como nos legou Descartes, mas para evitar, segundo eles, que sejam perdidos bens materiais para outrem. Nossa civilização se desenvolveu através da dúvida enquanto combustível para pesquisa e não como meio de se conservar bens. Não devemos dar tanta importância para propriedades, caso contrario, estamos fadados a ter todo o conhecimento científico possível, mas sem ter com quem compartilhá-lo.

O mundo e o método cartesiano

Na época de Descartes, a ciência era pouco desenvolvida e, por isso, até ele, mesmo sendo grande defensor da racionalidade e de muito criticar a onda sobrenatural que assolava sua época (dogmas religiosos, magia, alquimia), acreditava na existência de uma inteligência superior. Para Descartes, Deus é o grande engenheiro do mundo e o homem é quem vai desvendar esse mundo. Foi exatamente a partir desse pensamento que ele constituiu sua mais famosa frase: “Penso, logo existo”, visto que o homem só pode desvendar os mistérios do mundo porque é dotado de razão e, se é dotado de razão, ele pensa e se ele pensa, existe.

O pensamento cartesiano ainda é muito atual, as pessoas buscam, cada vez mais, o conhecimento pela razão e, ao mesmo tempo, buscam explicações no sobrenatural ou em hábitos antigos para tudo o que não conseguem explicar pela ciência. Esta se torna cada dia mais criativa e começa a gerar um desencantamento do mundo, a medida que o homem tenta criar como Deus, mas com seus próprios instrumentos, como é o caso do uso de células-tronco para criar órgãos do corpo humano.

Em sua obra Discurso do Método, Descartes também mostra sua decepção e insatisfação com o ensino tradicional. Ele reclama do fato de os antigos apenas contemplarem as coisas do mundo, sem procurar entende-las na sua essência e prega que para caminhar com segurança na vida é preciso aprender a diferenciar o verdadeiro do falso e nos mostra suas máximas para isso: seguir a opinião dos mais sensatos, ser firme e decidido em suas próprias ações e procurar vencer sempre a si próprio antes de tentar desvendar o mundo. Por isso que um cientista nunca deve ser devotado por uma paixão ou crença, pois irá se cegar para o óbvio, já que não está usando somente a razão, mas os seus sentidos e, como disse o próprio autor em sua obra, apesar de enxergarmos o sol bastante claramente, não devemos julgar que ele seja do tamanho que o vemos. Enquanto que, “...a razão não nos sugere que tudo quanto vemos ou imaginamos seja verdadeiro, mas nos sugere realmente que todas as nossas ideias ou noções devem contar algum fundamento de verdade”.

Método de Descartes

Descartes, em sua obra "Discurso do Método", busca métodos para se atingir a verdade e o conhecimento. Esse objetivo, para o autor, será alcançado com o uso da razão, do raciocínio e da experiência, sendo a dúvida o Princípio Fundamental do Novo Método Científico: Descartes rejeitava tudo, na sua pesquisa pela verdade, que pudesse supor a menor dúvida.
Superstição, magia, alquimia, dogmas religiosos, senso comum não provado, os sentidos, pré-noções, não seriam maneiras seguras na construção do conhecimento. Havia a crítica ao conhecimento sobrenatural e a desconfiança em relação ao conhecimento transmitido pelo hábito ("enganos que ofuscam a nossa razão").
Descartes defendia a fragmentação do conteúdo para melhor analisar e solucionar suas dúvidas, o início por pensamentos mais fáceis à evolução para os mais complexos, e a "ideia de ciência como elemento voltado para o bem do homem".
Uma de suas conclusões foi a de que o conhecer é perfeição maior do que o duvidar, e de que a inteligência intelectual, o pensar, são tão importantes e magníficos que só poderiam vir de uma natureza perfeita, ou seja, Deus.
A metodologia cartesiana está presente na atualidade, pois a razão e o conhecimento são valorizados, essenciais no desenvolvimento de tecnologias e procurados na carreira profissional, como exemplos. Apesar disso, como em sua época de vida, ainda existem os dogmas, as superstições, o sobrenatural, os preconceitos, as pré-noções, os ditados populares, caminhos muito usados pelas pessoas a fim de obterem conforto, diversão, conhecimento e segurança, caminhos estes criticados por Descartes em sua obra.