Benito Mussolini sintetizou o fascismo
na ideia de “tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”. O
advento do neoliberalismo reinventou essa ideia na forma do fascismo financeiro.
A ideologia do mercado absoluto inovou ao tornar o fascismo não mais um regime
político, mas sim um regime social. Este novo fascismo não necessita minar a
democracia para alcançar seus objetivos, pelo contrário, utiliza suas frágeis e
corruptíveis instituições para concretizar o seu poder.
Um dos pilares fundamentais dessa nova
estrutura de poder são as agências de rating. São agências contratadas para
avaliar o risco de os países; as empresas; as instituições, não pagarem suas
dívidas. As notas variam de C (investimento de extremo risco), até AAA
(investimento extremamente seguro). Porém, este avaliador é contratado e muito
bem pago pelo avaliado. E nisso já se comprova a total ausência de ciência em
tais classificações. A nota atribuída sempre será proporcional à quantia
“investida” na avaliação. O setor é formado por um oligopólio de três agências:
a Moody’s, a Fitch, e a Standard & Poor’s. Ainda assim, o mercado
financeiro, na grande maioria das vezes por interesses escusos, confere
credibilidade à tais agências.
O poder dessas agências associado à
desregulamentação do setor financeiro promovido pela política neoliberal é
imensurável. Thomas Friedman disse que “O mundo pós Guerra Fria tem duas
superpotências, os Estados Unidos e a Moody’s”. A credibilidade dada à essas
avaliações que não possuem compromisso com nada além do lucro, pode ter efeitos
catastróficos. O rebaixamento da nota de um país pode significar a completa
ruína de sua economia. Assim como mascarar a situação de uma empresa pode fazer
essa obter gigantescos lucros.
Os investimentos direcionados à ativos
que são falsamente classificados como AAA, quando a inadimplência se concretiza
e esses revelam sua verdadeira condição, ocasionam as crises.
Tomemos como exemplo o caso islandês. A
Islândia é uma democracia consolidada, com excelentes serviços públicos de
educação e saúde, infraestrutura moderna, energia limpa, quase uma terra dos
sonhos. Porém, em 2000, o governo iniciou uma política de desregulamentação
econômica. De uma só vez, privatizou os três maiores bancos estatais do país.
Em cinco anos, esses três bancos, que até a privatização nunca haviam operado
para além da ilha, emprestaram 120 bilhões de dólares, quase dez vezes o
produto interno bruto da Islândia. Em fevereiro de 2007, as agências de rating
decidiram elevar a nota dos bancos islandeses para AAA, a mais alta possível, e
assim as mantiveram até o final de 2008, quando os bancos quebraram, e em seis
meses triplicaram o desemprego e criaram uma dívida de 100 bilhões de dólares
em um país cujo produto interno bruto é de 13 bilhões de dólares.
No primeiro semestre de 2006, a Goldman
Sachs vendeu cerca de 3,1 bilhões de dólares em ativos tóxicos. Mais de dois
terços desses ativos foram classificados como AAA, e o restante manteve
classificação de investimento seguro. Já em outubro de 2007, um terço dessas
hipotecas estava inadimplente. Pouco antes do estouro da bolha, quase a
totalidade estava. O responsável pela empreitada do banco foi o CEO Henry
Paulson, o executivo mais bem pago de Wall Street. Como prêmio pela sua
irresponsabilidade, foi nomeado secretário do tesouro americano pelo presidente
George W. Bush.
Essas agências ganharam bilhões de
dólares dando notas falsas à ativos tóxicos. A Moody’s, por exemplo,
quadruplicou seus lucros entre 2000 e 2007, ao passo em que as classificações
AAA mais que dobraram. Prova maior da irresponsabilidade dessas agências, são
as notas das empresas que quebraram e eclodiram a crise poucos dias antes disso
ocorrer. Os bancos Fannie Mae e Freddie Mac eram AAA quando foram resgatados, o
Bear Sterns era A2, o Lehman Brothers, pivô central da crise, era A2, a
seguradora AIG era AA.
O fascismo financeiro é uma realidade
supranacional. O “deus mercado” se infiltrou no poder de tal forma que nele
perdura de maneira simbiótica. Bancos, agências de rating, partidos políticos,
todos trabalham em uma ação orquestrada para garantir sua hegemonia. O povo é o
único interessado no fim desse regime que oprime através da força do capital. A
mudança dessa realidade necessita da ação popular, pois se dela não emanar, não
emanará de lugar nenhum.
Grupo: Vinicius Damasceno
Laís Kestener Stehling
Gustavo Chedid