A questão central de O Ponto de Mutação é a urgência de alterar a nossa perspectiva em relação ao planeta e a nós mesmos. Hoje, ainda vigora a visão mecanicista, próxima, no filme, dos ideais do político. A permanência dessa visão, que trata o ambiente e o indivíduo como máquinas, pode ser observada através das características do mundo atual: intensa degradação ambiental, consumismo, individualismo e falsa ideia de liberdade. Todos esses valores contemporâneos tem sufocado o homem e a natureza e estão na contramão de um mundo mais sustentável e humano, defendido pela cientista.
Descartes utilizou a metáfora do "relógio mecânico" para defender o mecanicismo. De acordo com o filósofo francês, o mundo e o homem são como uma máquina, disponíveis às eventuais manutenções, "troca das peças". Apesar de ter sido fundamental para a Idade Moderna, essa visão se tornou ultrapassada e nociva para a atualidade. No entanto, a maior parte da sociedade permanece como uma engrenagem de sustentação do sistema e o meio ambiente, colocado a disposição da ganância de poucos e de um consumo irresponsável.
Isso ocorre porque, no cenário atual, é fundamental consumir para estar integrado socialmente- em especial, aquilo que é desnecessário (mas a mídia faz parecer indispensável). Enquanto que para sustentar esse consumismo, recursos naturais são sacrificados e milhares de pessoas perdem, sem perceberem, grande parte de sua existência.
Para exemplificar esse paradigma, cerca de 80% do dia da maior parcela populacional é dedicado ao trabalho e um alto percentual dos salários é voltado para o consumo do supérfluo. Por outro lado, o planeta não suportará esse ritmo consumista. Estamos diante, portanto, de uma sociedade que não pensa nas gerações futuras, ou seja, muito próxima da perspectiva inicial do político: imediatista e individualista.
Outra ideia defendida pelo político e que permeia o consumismo contemporâneo é a noção de liberdade- aqui falamos especificamente da sensação de liberdade atrelada ao consumo. Ao adquirimos um produto, temos- entre outras sensações- a de liberdade de escolha e de posse. Quando, na verdade, não nos damos conta do sacrifício ambiental e do tempo escravizado para comprar aquele bem que logo se tornará obsoleto. Isto é, trabalhamos excessivamente, como máquinas, para consumir aquilo que não precisamos, enquanto o essencial, aquilo que nos faz humanos- o afeto, a empatia e o lazer- é corroído.
Em contraste com esse pensamento egoísta, o filme traz a perspectiva humanitária e sustentável da cientista. Para ela, é necessário mudar essa visão mecanicista que não respeita os limites da natureza e nos torna seres menos altruístas. E essa mudança deve passar, de acordo com a física e, principalmente, com a nossa realidade, pela conscientização das gerações futuras acerca da necessidade de preservação dos recursos naturais, do consumo ecológico (o qual incluí desde a erradicação do supérfluo até a reciclagem) e da desconstrução dessa visão do outro como um eterno adversário.
Caso contrário, se continuarmos vendo o planeta e os homens como um grande relógio mecânico, caminharemos- cada vez mais- para a nossa auto destruição.
Juliana Inácio- 1 ano direito (noturno)