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quarta-feira, 30 de março de 2022

Ciência e sua eterna submissão.




Desde as mais remotas eras, o ser humano busca a verdade como um anseio que precisa ser preenchido com fim de, quem a procura, tenha a possibilidade de se firmar e realizar em suas mais variadas amplitudes do ser. Dentre os meios que os homens desenvolveram para desembocarem nessa realização tão desejada, está a ciência, um dos mais importantes métodos existentes. Através dela, diversos grupos da humanidade correm para descobrir a realidade e como chegar a ela. Entretanto, pelo seu caráter essencialmente aperfeiçoador, a área científica vive em constantes testes para enxergar.
Ludwig Von Mises, economista e filósofo do século XX, afirmou que " a Ciência não nos dá certeza final e absoluta, apenas nos dá convicção dentro dos limites de nossa capacidade mental e do prevalecente estado de conhecimento científico. Um sistema científico não é senão um estágio na permanente busca de conhecimento. É necessariamente afetado pela insuficiência inerente a todo esforço humano". Nesse sendo, a ênfase para o âmago não dogmático da ciência deve ser enfatizado, especialmente em tempos tão sombrios como os atuais, em que há proclamação da mesma como uma religião.  A ciência, seja em que área estiver, deve ser sujeita ao exercício contínuo da reflexão e subjugada à várias maneiras  possíveis para o encontro do estado mais agradável ao homem e seu entorno.
Sim, ela é de extrema importância e deve, com toda certeza, ser levada em forte consideração, todavia - isso desde seu advento, nos primórdios do mundo - ela só será confiável se conseguir mantiver sua essência: eternamente acorrentada na busca do real, onde, quando e o que for. 

Fulcro da obscuridade hodierna

Ainda na Antiguidade Clássica, o exercício científico possuía funções contemplativas, sem muita contribuição no âmbito prático da vida humana. Nesse sentido, René Descartes e Francis Bacon, dois pilares importantes no que diz respeito à construção da Ciência Moderna, a fim de estruturar um saber capaz de transformar a realidade concreta e, ademais, insatisfeitos com a inutilidade das especulações da filosofia tradicional, propuseram meios pautados na racionalidade para alcançar o conhecimento verdadeiro.

Nessa conjuntura, René Descartes, visando romper com tal inoperância dos clássicos e superar as formas supersticiosas - e vigentes, até então - de conhecer o mundo, articulou um método alicerçado pelo ato de duvidar. Dessa forma, como presente em sua obra, o autor acreditava que, ao duvidar metodicamente de tudo, em um momento encontraria um saber incontestável, e esse seria verdadeiro. Assim, chegou a uma nova conclusão: a existência do homem é certificada pela atividade de pensar, ou seja, o corpo não se faz necessário para tal garantia e então, por isso, “Penso, logo existo”.

Outrossim, Francis Bacon e Descartes, embora tenham objetivos equivalentes, divergem em relação ao papel dos sentidos. Nesse viés, Bacon, em sua produção “Novo Órgão”, reflete acerca da futilidade do movimento da mente humana sem um direcionamento – acredita que tal exercício proporciona apenas meros pensamentos mágicos carregados de senso comum. Portando, para ele, um guia faz-se necessário: a observação. Desse modo, somente o elo entre racionalidade e experiência teria capacidade de gerar conhecimento verdadeiro – diferentemente de René, que considera os sentidos fonte de enganos.

Dessarte, a tão prezada utilidade prática da ciência para ambos os filósofos deve-se, sobretudo, à ascensão da classe burguesa e a necessidade de instrumentos e mecanismos promovedores dos avanços almejados por tal grupo -clamavam por uma ciência emancipatória que melhoraria as condições da vida humana. Enfim, a contemporaneidade é, na verdade, a consolidação desses projetos científicos e, ao vivenciar eventos desumanos permeados por ferramentas destrutivas, retrata, notada e infortunadamente, o lado obscuro proporcionado pela Ciência Moderna.