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terça-feira, 19 de março de 2024

O Passado Positivista e o Presente Social da Sociologia

        O filósofo francês Auguste Comte, o qual formulou a doutrina do Positivismo, primazia a sociologia como sendo uma ciência  exata, a chamada ''Física Social''. Nesse sentido, assim como as ciências físicas, matemáticas, biológicas e químicas, o objeto de estudo seria a sociedade, uma vez que esta passava socialmente por momentos de ebulição. Isso se deve a eventos de caráter revolucionário, por exemplo a chamada Primavera dos Povos, pois os cidadãos lutavam por melhores condições de vida e queriam o fim do Regime Absolutista vigente na época.

            Contudo, os estudos sociológicos  possuem um forte caráter humano, o que o leva a ser analisado de maneira menos pragmática. Dessa forma, a escritora Grada Kilomba aborda em sua obra ''Memórias da Plantação: episódios de Racismo Cotidiano'' um pensamento divergente ao do Conte, tendo em vista a subjetividade a fim de trazer em pauta contextos sociais, culturais e históricos, os quais não se limitam a análise exata. Com isso, essa questão pode ser exemplificada com com a política de cotas raciais, já que para o positivismo não dever ocorrer para haver uma ''igualdade''. Todavia, a Sociologia irá entender e estudar a história das pessoas escravizadas, bem como o contexto as quais elas foram inseridas no período de colonização, e como essa política serve para a reparação histórica dos descentes afro-brasileiros.

          Assim, mesmo sendo uma ciência que surgiu em um período de grande racionalidade, a interpretação sociológica, juntamente com análise social, baseia-se nas humanidades, ou seja, de maneira social, mas ainda sim analisando e estudando a realidade de maneira científica. A partir disso, é possível entender o passado positivista, devido ao contexto de Comte, bem como o percurso até concretizar-se o presente social da sociologia, o qual visa entender cada vez mais os diversos povos e  nações, além de melhorar a sociedade de forma que haja mais equidade e cidadania por meio de seus estudos.

                                                         Anna Luiza Marino Dourado     Direito Matutino    RA  241222427





     

O positivismo como obstáculo às ciências humanas

    Em seu livro "Sociologia", Auguste Comte mostra sua visão sobre a chamada "filosofia positiva", da qual é considerado o criador. O positivismo, como definido pelo filósofo, trata-se do estágio final do amadurecimento e progresso humano, o qual é visto como linear, e trata apenas o conhecimento alcançado por um método científico e empírico como verdadeiro. No entanto, ao ser aplicado em ciências humanas, o positivismo gera dificuldades para a ocorrência de avanços, interpretações errôneas e análises inadequadas.

    A princípio, vale ressaltar que, apesar de ser vista como progressista, a "física social" de Comte tinha a finalidade de "resolver" tendências revolucionárias da sociedade da época. Com a visão positivista, a Sociologia buscava leis que ditavam o funcionamento básico de todas as sociedades, tal qual ocorre com leis das ciências exatas ou biológicas, porém, possuindo influências da ideia de moralidade religiosa, seu objetivo era, na realidade, manter o status quo, pois a sociedade, em sua interpretação, já estava no ápice de sua evolução. Nesse viés, a ideia positivista serve apenas à classe dominante, visando manter seu poder, o que pode ser provado por meio da deslegitimação de pontos de vista de grupos minoritários por serem considerados "subjetivos demais" em ambientes acadêmicos, como relatado por Grada Kilomba, uma mulher negra, em seu livro "Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano".

    Além disso, na área do Direito, o positivismo prejudica a qualidade das decisões jurídicas. Conhecida como "positivismo jurídico", essa perspectiva usa a lógica de que o jurista deve ser neutro em relação ao conteúdo das normas, não examinando mais a fundo os aspectos das leis que são afetados pelas condições sociais, históricas e econômicas das sociedades modernas. Por conseguinte, ao se atentar apenas aos fenômenos observáveis escritos nas leis, os juízos de valor por trás delas são ignorados e as determinações jurídicas são baseadas apenas em interpretações literais das normas, o que gera, por exemplo, discussões que defendem a não consideração de uniões estáveis e casamentos homoafetivos como famílias, pois, na Constituição Federal, o conceito de "família" é definido, de maneira ultrapassada na sociedade atual, como a união de um homem e de uma mulher apenas, em vez da atualização da definição.

    Desse modo, é notável que, apesar de, quando surgiu, o positivismo ser considerado como "progresso", na contemporaneidade, ele causa dificuldades para o avanço ao ser utilizado como argumento em diversas instâncias sociais.


Beatriz Perussi Marcuzzo, 1º ano - noturno, RA: 241220459

Uberização:“NÃO ESTOU SEGURO” (DESCARTES,1637)

             Nos últimos dias, o Governo Federal lançou um Projeto de Lei o qual visa a regulamentação dos serviços relacionados ao “Uberismo”. Entretanto, tais regulamentações vão de encontro com a própria definição desse modelo de trabalho. Uma das alterações propostas consiste na elaboração de um vínculo trabalhista, o qual garantiria uma maior segurança aos trabalhadores.

Nessa perspectiva,tem se que a PL proposta pelo Governo não analisa os parâmetros econômicos das mudanças apresentadas e sim apenas o âmbito social das mesmas, o que evidencia uma tentativa do Estado em melhorar as condições de labor dos indivíduos que são remunerados a partir dos aplicativos de entrega e de transporte, sem analisar o todo. O que vai de encontro aos ideais de formulação de uma boa política de governo.

Tendo em vista a proposta supracitada, é visto uma falta de análise técnica sobre o funcionamento do “Uberismo” no Brasil e no mundo. É fato que a segurança dos trabalhadores nessa modalidade é nula, mas a implementação governamental de um sistema de organização para esses indivíduos é uma desestruturação de todo o modelo de negócio proposto pelas mais diversas empresas que atuam nesse ramo, o que geraria instabilidade das mesmas.

Com isso,cabe concluir que foi utilizado um aspecto meramente social para a elaboração da PL, sendo amparada em uma visão de senso comum para alterar um modelo econômico, o que impactará em peso as empresas que atuam nesse panorama e, pois, seus trabalhadores.

Dessa maneira, visando colaborar para uma melhor proposta de alteração do sistema é válido o tratamento do tema como um item da Ciência Econômica somada à da Ciência Social e, dessa forma, deve ser operado de forma científica.

Nessa perspectiva, podemos utilizar se do Método de René Descartes visando a saída do senso comum e, então, garantir, com segurança, um modelo que forneça um bem estar para os trabalhadores e para as empresas. Partindo desse princípio, tem-se ,segundo o pensador, que para a obtenção de um estudo mais preciso é necessário que a mente que fará tal análise esteja completamente livre de qualquer influência externa.

Seguindo essa linha de raciocínio, tem se que jamais caberia a um político ou a um grupo dos mesmos realizarem qualquer tipo de mudança de caráter científico, dado que a partir do método de Descartes é fundamental uma ausência de preconceitos e influência fora do teor científico analisado, questão essa que é de utópica pelos membros elegidos pelo povo e que governam para seus eleitores. 

Assim, é complexo definir até que ponto cabe o Governo interferir, visando o bem social em itens meramente econômicos, tal como o “Uberismo”. É notado que, uma medida para auxiliar as condições trabalhistas dos indivíduos que compõem tal sistema é necessária, mas cabe ressaltar que é necessário um trabalho científico para tal item, o qual não pode ser meramente discutido apenas por políticos, dado a forte relação desses representantes com fatores externos. Por fim, com a utilização devida do método proposto pelo filósofo é possível que se consiga atingir uma espécie de melhor resolução para o entrave que foi tentado ser solucionado pela PL supramencionada.

O POSITVISMO E A QUESTÃO RACIAL

O positivismo é uma tendência filosófica que surgiu na França no início do século XIX. Ela defendeu a ideia de que o conhecimento científico era a única forma de conhecimento verdadeiro. Com base nesse conhecimento, coisas práticas como leis físicas, relações sociais e ética podem ser explicadas. Essa tendência no Brasil é inteiramente baseada em nossa bandeira, onde podem ser vistas as palavras “Ordem e Progresso”.

 

Podemos concluir que o positivismo de Augusto Comte, mesmo com seus fortes aspectos eurocêntricos e evolucionistas em sua constituição sociológica, proporcionou uma função necessária às relações raciais no Brasil. Embora Comte atribuísse qualidades a cada raça, ele não sucumbiu a uma visão essencialmente avaliativa, pois raciocinou que as raças eram o resultado de processos de diferenciação devido ao ambiente, e não de diferenças originais e irredutíveis. Entendendo a diversidade racial ao longo da história, diferenciada pela predominância emocional (negra), intelectual (branca) e ativa (asiática), ele aposta em um grupo baseado em seus próprios casamentos mistos.

 

Por fim fica evidente que no Brasil esta corrente sociológica infelizmente não “vingou” tendo em vista que apesar da frase supracitada, hoje atualmente podemos perceber que a questão racial no território ainda está enraizada. Apesar da abolição da escravidão brasileira, fica evidente que o tratamento que sofre um negro ao cometer o mesmo fato que uma pessoa branca é totalmente desproporcional, tendo que as pessoas negras e pardas tem desde o nascimento tem por “lei” a obrigação de sempre andar com documentos que comprovem sua  idoneidade, sem ao menos terem comedido nenhum crime.


A vulgarização do conhecimento por percepções sui generis

 

     A produção do conhecimento humano, mesmo que de forma indutiva, sem a racionalização das suas próprias percepções, é eivada pela superstição e crença pessoal ao passo que a ciência é sujeita a aceitação da verdade  tornando o senso observado um saber comum. Forma de ciência, essa, obsoleta, contraposta pelo método do filósofo Bacon que por meio da acatalepsi, que seria a contínua interrogação da natureza, promove a ciência moderna, que é racional, observada e experimentada.

    Uma vez que vivemos no regime político democrático, a ciência moderna é importante para nós porque a democracia confere eleger autoridades políticas pela vontade da maioria, mas que governará sobre todos pela representação indireta dos seus próprios eleitores, ao passo que a vontade privada de um campo ideológico eleito domina  as políticas púbicas que governam toda a sociedade.

     Diante do exposto, é necessário cultivar na sociedade o valor de que é mais importante as boas propostas que combatem problemas reais, enxergados empiricamente, e não para combater espantalhos ou somente vencer argumentos. Dessa forma, destrói-se uma sociedade pedante que busca ostentar saberes que não possuem, pois não alcançam o ápice do questionamento e verificação: “[...] que estejam preocupados, não com a vitória sobre os adversários por meio de argumentos, mas na vitória sobre a natureza, pela ação; não em emitir opiniões elegantes e prováveis, mas em conhecer a verdade de forma clara e manifesta[...]” BACON, Francis. Novum Organum, ou, verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza (1620). Livro I. São Paulo: Abril Cultural, 1984 (Os Pensadores)

     Em suma, para Bacon, ao acessar o conhecimento, a mente humana precisar estar inata, sem ídolos que comprometem seu entendimento. Portanto, o método racional permite pensar no social cientificamente ao passo que a busca pela verdade precede o notar da realidade existente e, onde há compromisso com a verdade, as vontades públicas valerão mais que as privadas.

    Augusto Comte, em seu Curso de filosofia positiva, ressalta a supremacia das ciências positivas e a consequente anulação da Metafísica e da Teologia em nosso sistema social. Ao destacar a decadência dessas duas filosofias, a conclusão a que chega o pai da Sociologia é de que existe a necessidade da instalação de uma Física Social, baseada na observação direta dos fenômenos sociais, além de ser regulada por “leis naturais”. Transpondo esse pensamento à realidade brasileira, podemos identificar complexidades de ordem social, econômica e política que não podem ser resolvidas apoiando-se na Física Social proposta por Comte.

     Como exemplo, a existência de questões estruturais, como o racismo estrutural, que advém de processos históricos e culturais, e que não obedecem a simples aplicação do método científico ou de leis naturais invariáveis. Portanto, nem sempre as leis naturais da Sociologia satisfazem o conjunto dos fenômenos sociais observados em nosso cotidiano. Há importância em destacar, também, que a profundidade das questões sociais brasileiras desafia a visão positiva de Comte, uma vez que as instabilidades políticas e sociais reinam em nosso país. Tal fato demanda um estudo mais amplo dos aspectos sociais, opondo-se, dessa forma, à constância dos fenômenos observáveis de Comte. Em conclusão, a solução científica dos positivistas não é suficiente para compreender as questões políticas, sociais, culturais e econômicas do Brasil. Além disso, torna-se um risco aplicar a interpretação positivista no campo jurídico, já que o conhecimento jurídico não pode basear-se apenas no que já foi estabelecido, mas sim na conjuntura dos processos sociais, ponderando também outras formas de análise filosófica.

Camille Garrido Portella - Dir Noturno 1ano

Granada com cafezinho e guarda-chuva com bala: A dicotomia da indiferença social

Há pouco mais de um ano, tomou os noticiários uma notícia inesperada: No cumprimento de um mandado de prisão, a Polícia Federal foi recebida por tiros de fuzil e granadas. Contudo a surpresa maior não foi vermos a instituição mantenedora da ordem e justiça “reprimida” por fazer o seu dever, mas sim a resposta dos oficiais à calorosa recepção: O agressor - homem, branco e rico - foi tratado com cuidado, cortesia e urbanidade, quase como se fosse um convidado. Cenário extremamente oposto à realidade presente nas periferias: Em 2018, um homem - negro, pobre e morador de favela - que estava na rua esperando sua família com um guarda-chuva preto, foi alvejado pela PM, sem qualquer abordagem, por terem confundido o acessório com um Fuzil.

Embora recorrentes, as gritantes diferenças de tratamento pré-estabelecidas pela classe ou cor dos envolvidos, que vão muito além do meio policial, não são devidamente abordadas e discutidas, não por acaso. Muitas vezes são tidas como fatos isolados, sem relação com um cenário maior, que nas palavras de Charles Wright Mills seriam definidas como “perturbações” - problemas dentro da esfera privada e individual - e “questões” – relativos à esfera pública e ao coletivo, respectivamente. Narrativa essa fruto de uma construção histórica de preconceito e segregação social e que visa desviar o senso analítico da sociedade e perpetuar o status quo, assegurando os privilégios de um grupo ou da ideia que ele representa. As notícias que poderiam representar um abalo na estrutura, ainda que mínimo, caso permanecessem em evidência por tempo suficiente, cedem lugar a outras manchetes, sem muito esmero, em uma sincronia espantosa das mídias corporativas. Enquanto algumas reportagens são comprimidas em poucos minutos ou segundos, sem aprofundamento, para se encaixarem nos padrões do veículo, outras, preciosamente selecionadas, são cortadas, amassadas, digeridas e servidas, constante e reiteradamente, passando a impressão de estarmos na geração da informação. Esse “excesso de informação” característico da nossa sociedade, domina a atenção das pessoas, esmagando suas capacidades de assimilá-la, como destacado por Mills. A “quantidade” é estrategicamente utilizada pelos grupos dominantes para condicionar a postura dos indivíduos - aquilo que devem pensar/falar, quem pode pensar/falar, dizendo o que é notícia ou não, aquilo que deve ser repudiado ou nem tanto, para onde olhar -, utilizando-se da acomodação, conforto e indiferença cognitiva resultantes para podar a capacidade de analisarem criticamente a realidade circundante com “qualidade” e com isso, contendo e apagando cuidadosamente a inflamação da indignação, como uma vela dentro de um vidro fechado, dando lugar a um silêncio ensurdecedor.

Verifica-se, desse modo, que o silêncio tocado na marcha contemporânea não reflete a ausência de voz ou irresignação dos oprimidos pelo sistema, mas sim a falta de um local em que suas vozes sejam reverberadas e ouvidas: Um vácuo de indiferença social. Ao invés de considerar os subalternos como silenciosos, seria mais preciso vê-los como silenciados, como assertivamente exposto por Grada Kilomba, em sua obra “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano”, na qual discorre sobre a segregação racial no meio acadêmico. Toda uma estrutura social edificada sobre pilares brancos e ricos, onde os outros são peças insignificantes.

Diante disso, é crucial questionar os moldes estabelecidos, desenvolver a imaginação sociológica para perceber e compreender o que está se passa no meio e com nós mesmos bem como, entendendo que da mesma forma que somos condicionados podemos contribuir para o condicionamento dessa sociedade, retomar nossa capacidade de nos revoltarmos e pautarmos mudanças estruturais, ainda que pontuais, para superação do racismo e da aporofobia e, com isso, a construção de um lugar mais humano e de todos.


RUTH F. O. SILVA

1º Ano de Direito - Noturno

A interlocução entre Kilomba e Mills na contemporaneidade.

  Na obra “Memórias da plantação”, Grada Kilomba conceitua a noção de “Outridade”, termo utilizado para representar o mecanismo de dominação que classifica pessoas negras como “os outros” perante a sociedade, às margens de uma lógica social branca que se denomina “nós”. Uma dicotomia entre “nós” e “eles”, os outros. Nesse sentido, tal conceito pode ser explicado à luz do pensamento de Mills pois, para ele, os indivíduos e suas perspectivas são limitados por órbitas pessoais, a exemplo de famílias, trabalho, religião e país. Dessa maneira, uma vez que a órbita branca posiciona-se como dominante nas relações de poder sociais, por meio da opressão -principalmente por intermédio da escravidão africana-, há o estabelecimento, portanto, da hierarquia mencionada anteriormente e de uma estrutura de preconceito racial. 

  Kilomba, para representar o racismo que permeia a sociedade atual, menciona a exclusão de pessoas negras do ambiente acadêmico e utiliza o princípio da outridade ao afirmar que “eles têm fatos / nós temos opiniões; eles têm conhecimento / nós temos experiência”, citação que representa falas de desvalorização da criação científica de pessoas negras que escutou nesse ambiente, que é, em suas palavras, branco. percepção de Wright Mills a respeito de as bolhas sociais privadas embasarem o posicionamento racial do indivíduo pode ser percebida também na obra “O período de uma história única” de Chimamanda Adichie, autora africana. No texto, a autora aborda como as histórias únicas, ou seja, percepções baseadas nos núcleos e nas experiências individuais das pessoas, propagam preconceitos, de forma similar ao exposto por Mills. Ademais, observa-se que o racismo descrito por Kilomba e por Adichie permeia a contemporaneidade, como em casos recorrentes de preconceito racial na esfera do futebol, em que jogadores negros são vaiados e atacados durante partidas, a exemplo do jogador Vinícius Jr.  

  Adiante em sua obra, Grada Kilomba diz que “O conhecimento é colonizado”. Colonizado? Sim. Avaliado e percebido por olhos brancos, o conhecimento do sujeito negro recebe tratamento similar aos indígenas e africanos da colonização. O conhecimento é definido como bom ou ruim a partir de uma ótica externa, que se impõe. Citando Irmingard Staeuble, “o colonialismo não apenas significou a imposição da autoridade ocidental sobre terras indígena, modos indígenas [...] , mas também a imposição da autoridade ocidental sobre todos os aspectos dos saberes, línguas e culturas indígenas” de modo que é necessário descolonizar, para Grada Kilomba, o saber. Nesse sentido, tal tópico pode ser expandido para pensadores indígenas que, assim como Chimamanda Adichie, possuem semelhanças com Wright Mills. Segundo o filósofo contemporâneo indígena Ailton Krenak, a noção de “humanidade única” é causadora de segregações e violências na sociedade, afetando, inclusive, o meio ambiente. Dessa forma, a humanidade única é a percepção de que a humanidade branca é a única, e deve estar acima de outras, similarmente à uma órbita privada.  
  Portanto, tendo em vista que o racismo permeia a sociedade atual -como exemplificado ao longo do texto- e que diversos autores afetados por essa violência atribuem sua causa a pensamentos similares ao do sociólogo Wright Mills, o método deste autor, a imaginação sociológica, é uma forma viável de combater essa assimetria de poderes. A imaginação sociológica consiste na compreensão consciente do contexto histórico vivenciado, de forma ampla, por parte do indivíduo, para, então, romper com convicções privadas. Através desse recurso, o homem torna-se menos limitado. Para Chimamanda, Krenak e Mills, uma grande causa do racismo é a perspectiva privada dos indivíduos que, imersos em uma sociedade racialmente hierarquizada e segregadora, são incapazes de vislumbrar diferentes horizontes e perpetuam preconceitos. Desse modo, a imaginação sociológica proposto por Mills apresenta uma maneira de combater tal problema.

 “Tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua capacidade, estão limitados pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos; em outros ambientes movimentam-se como estranhos, e permanecem espectadores”.

  Tal fala de Wright Mills mostra que o indivíduo preza pelo ideais que o cercam, ou seja, pela sua própria realidade.  Isso é perfeitamente observável no contexto da polarização política que atingiu o país na última eleição, visto que os chamados “bolsonaristas” deixavam de lado a realidade de mais de 30% da população, que enfrenta situações de pobreza, para se auto beneficiarem.
  O ex chefe de estado do PL mostrou seu desinteresse pelas minorias e/ou populações frágeis diversas vezes com falas como:  "Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo" (em uma entrevista com a revista Playboy em junho de 2011)”. Porém, independente dessa situação, 49% do Brasil escolheu tal candidato. Isso reforça a fala de Mills sobre o prevalecimento da individualidade nas decisões do cidadão e esclarece o egoísmo da burguesia liberal, eleitores de Jair Bolsonaro.
 Além de falas homofóbicas e racistas, suas politicas públicas claramente não tinham como objetivo possibilitar a população carente acesso a direitos e recursos, mas, novamente, foi algo ignorado pela classe média/alta, já que em suas vidas isso nada faria efeito.
  A bolha criada pela classe média/alta, como os condomínios fechados, os impossibilita de enxergar a dura realidade que uma alta parcela da sociedade enfrenta e, por isso, assim como prevê Wright Mills, as pessoas de se veem como indivíduos isolados, separados das influências sociais e históricas que moldam suas e as outras vidas.

 Atualmente, muito se discute sobre que mudanças a filosofia e a  sociologia podem realmente fazer em nosso cotidiano, e como as mesmas podem ser abordadas como ciências, o que faz esse questionamento tão  relevante são os constantes ataques a essas disciplinas por parte da extrema  direita brasileira.  

Na antiguidade, a filosofia era muito focada em “abstrações sobre a  natureza” como dito por Bacon, que são reflexões acerca do surgimento de tudo,  da menor partícula existente, e outras coisas das quais embora interessantes e  curiosas não se transformam futuramente em avanços concretos para a  sociedade. Tendo isso em vista, é aberto uma brecha para que a extrema direita  argumente que a filosofia hoje assim como em seu inicio de nada serve e nada  produz, como pôde ser evidenciado em 2019, quando o então governo Bolsonaro  resolveu reduzir os investimentos federais nos cursos de filosofia e sociologia,  para focar os recursos em cursos de exatas e da saúde, sobre o argumento de  que apenas esses cursos dariam um retorno a sociedade. O que é uma absoluta  mentira, considerando que Bacon enquanto criticava a filosofia tradicional com o  argumento de que essa não servia ao bem-estar do homem, produzia como um  filosofo um pensamento acerca da ciência que possibilitaria a criação de  métodos científicos, assim avançando a própria criação do saber cientifico  através da filosofia. 

Ademais, Descartes coloca a verdade como determinada por evidências  racionais, atrelando a produção do pensamento cientifico a necessidade da  busca por evidências. Considerando o que foi mencionado, é possível constatar  mais uma vez a evolução no pensamento cientifico proporcionada por um filosofo  em exercício de sua atribuição.

 

Augusto Comte foi um filósofo francês, que viveu no séc XIX, sendo considerado o pai da sociologia. O pensador foi o precursor da corrente positivista, que consiste na aceitação de teorias apenas com comprovação científica, com a razão sendo predominante. A partir do positivismo, Comte propõe um lema: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Assim, o amor deve ser o princípio de todas as ações, com a manutenção dos elementos bons chega-se na ordem, que é necessária para atingir o desenvolvimento. Parece familiar, não? Pois bem, este lema está presente, de maneira reformulada, na bandeira brasileira (“Ordem e progresso”), instaurada após a proclamação da república, representando uma nova ordem, pós monarquia, com a instauração de um elemento essencial: a democracia. Assim, fica evidente a forte influência positivista no início do período republicano brasileiro. Entretanto, que ordem seria essa ao analisar os acontecimentos ao longo desse período? 

Primeiramente, que ordem é essa, visto a predominância do voto de cabresto nos primeiros anos da república? Com uma falsa democracia, já que com o voto aberto o povo não escolhia o seu representante propriamente, devido à forte influência de poderes regionais, que determinavam o detentor do poder de acordo com os interesses da elite, com o sistema de participação política do povo negligenciado. Além disso, que ordem é essa, visto aos processos ditatoriais vividos no Brasil no século passado? Primeiro, com Getúlio Vargas, com a instauração do Estado Novo, após o Plano Cohen, que alegava uma ameaça comunista. Depois, a instauração da ditadura militar, devido a motivos semelhantes. Portanto, a ameaça a ordem seria realmente a consolidação comunista, um cenário utópico, ou a destruição do sistema democrático? 

Por fim, que ordem é essa visto ao atentado ao patrimônio brasileiro ocorrido no ano passado? No dia 8 de janeiro de 2023, vândalos bolsonaristas atentaram contra o patrimônio brasileiro em Brasília, ressaltando a potencial fragilidade do sistema democratico brasileiro, com uma tentativa evidente de provocar a ascensão de um possível golpe de Estado, após uma eleição frustrada.

Portanto, evidencia-se o fracasso da corrente positivista no Brasil, mas principalmente do lema estabelecido na bandeira do país, já que a ordem foi violada em diversas oportunidades e consequentemente o desenvolvimento não foi atingido, sendo desvirtuado e voltado para a destruição da própria ordem.