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segunda-feira, 25 de março de 2013

Qual é o seu lugar nisso tudo?

Uma cientista desiludida com a aplicação científica, um dramaturgo em crise e um candidato a presidente dos Estados Unidos se encontram em um castelo medieval na França e passam o dia discutindo sobre a Ciência. Esse é o enredo de "Ponto de Mutação" (Mindwalk, 1990). Simples, mas o cenário ideal para conflitar ideias. Ideias de uma visão cartesiana-newtoniana e de uma visão de sistema. Segundo esse paradigma de que o mundo é um grande sistema, os problemas mundiais -a fome, as guerras, doenças, abalos ecológicos, desigualdade, preconceito, etc. - nada mais são do que prognósticos do problema de percepção individualista do homem. São amostras de esgotamento.

E o que a cientista propõe, com base em observações quânticas, é que o mundo é um conjunto de relações, um verdadeiro sistema. Nada é individual, nada é sozinho, dez "probleminhas" resolvidos nunca resolverão a crise verdadeira. Não que o método cartesiano não tenha funcionado. Funcionou, libertou o home, mostrou o que é ciência e qual o papel do ser humano na natureza, mas depois de alguns séculos esse paradigma não é mais o caminho a ser seguido, ele vai até um certo ponto. E é preciso extrapolar essa barreira.

 Mas ao não romper esses limites o ser humano cria leis abstratas, economias sugadoras, políticas hipócritas e não volta o seu olhar para a própria humanidade. Prefere criar remédios para aliviar a fome na África, do que perdoar as dívidas; prefere arrancar um órgão do que abandonar os fast-food´s e comer melhor.

O homem não é apenas um ser que modifica a natureza, que abusa, que doma, que denuncia suas "imperfeições" para depois corrigi-las, não, o homem é parte da natureza. Ele tem um papel. E ao não perceber isso, ele destrói a sua própria sociedade. O homem já encontrou o caminho, só falta encontrar seu lugar no universo, abandonar as ideias antropocêntricas e perceber que ele é um com o cosmo.

João Filippe Rossi Rodrigues, 1º ano- Direito (diurno)

Percepção Mecânica

     As discussões sobre economia, política, homem e natureza estão presentes em todas as discussões humanas, de forma direta ou indiretamente sempre estão ligadas. no filme "Ponto de Mutação", baseado na obra de Fritjof Capra, tais discussões são intensamente travadas, norteando os personagens a reflexões profundas.
     No decorrer do filme um poeta, um político desorientado e uma cientista descrente com o seu trabalho, discutem desde o início da ruptura do homem com o tempo da natureza e adesão ao tempo mecânico até a mudança de percepção do homem com a relação com o planeta para haver mudanças eficazes e positivas.
     A percepção dos erros cometidos, passando a agir de forma preventiva, parando com o método de intervenção direta, considerado um erro pela cientista, irá melhorar o sistema. Isso deve ser feito além de uma mudança de percepção, política e ciência mais abrangentes, tendo uma vida social auto organizada. Todas essas mudanças levariam a uma mudança social e à renovação para a solução dos problemas mundiais.
 
                 Dalisa Aniceto (Direito Diurno)
 
 

Saber é poder


            No filme Ponto de Mutação, um político frustrado, um poeta melancólico e uma cientista em descrédito com o mundo se encontram e geram uma fantástica discussão acerca do planeta, do homem, da natureza, do governo, do que é abstrato e do que é real que culmina sendo um ponto de modificação para cada um, gerando reflexões que os fazem reavaliarem seus próprios valores, suas visões de mundo e até como se veem em relação à sociedade.      
            O filme gira em torno da questão do homem, que apesar de ser uma criação da natureza, a destrói visando lucro, poder e recompensas materiais. O homem vê o mundo como uma maquina, onde peças formam um todo que funcionam mecanicamente, usando-o quando acreditar ser necessário. Mas o que dá ao homem o direito de usá-la? A resposta é o poder, um direito não dito ou estabelecido por nenhuma lei, o poder advindo do dinheiro que determina o que será construído, destruído, pesquisado e descartado. Essa visão mecanicista tirou a humanidade do próprio homem, em que todos conhecem os problemas globais, todos sabem como o pensamento ecológico é necessário, mas todos voluntariamente colocam em si mesmos uma venda para esses problemas, afinal a própria política econômica nos ensina que o pensamento individual se sobrepõe ao coletivo, e o pensamento econômico é infinitamente mais poderoso que o ecológico.  
De acordo com a cientista do filme, a resposta está em uma palavra: renovação. Renovação de ideais, de valores, transformar a consciência da população de que o mundo é um lugar descartável, dar valor à vida humana e à natureza como um todo, cuidando do planeta visando que este seja um local não nocivo para as gerações seguintes. Esse tipo de sabedoria difundida na população emanaria um forte poder que seria capaz de mudar todo o sistema pelo qual o planeta é regido.

Micaela Amorim Ferreira - Direito Diurno

O relógio de Descartes e as mudanças contemporâneas

O filme Ponto De Mutação( Mindwalk ) do diretor Bernt Amadeus Capra é permeado de críticas a perspectiva descartiana de ciência e da própria visão de mundo. A metáfora do relógio como  a natureza/ o mundo social  é essencial para se entender  o debate central do filme; nesse objeto , para os personagens, está cristalizada a alma  da teoria de Descartes sendo cada peça  estudada por métodos racionais para se entender o inteiro de um relógio  coeso e funcional. Assim,do mesmo modo a natureza e o plano social  deveriam ser estudados racionalmente em seus mínimos planos perceptíveis,se criando teorias profundas e específicas cumulativas que proporcionariam uma visão geral do universo social e natural.   
            Todavia, a crítica da personagem Sonia Hoffman ( ex-física ) reside nessa visão ultrapassada de se estudar um fato isoladamente. Tal argumento se sustenta  pelo olhar simplista e isolado descatiano, pois a vida biológica/física e social seria um conjunto de um mesmo fator, isto é , o universo estaria em uma constante interdependência de seus objetos .Deste modo, o estudo simplista de um fato isolado deixaria de compreender uma gama de conhecimentos , os quais seriam mister para, por exemplo ,se descobrir uma solução de um problema social .Assim , o método de Descartes estaria ultrapassado  em uma realidade com sociedades em estado de frenesi de mudanças, nas quais políticas públicas isoladas não resolveriam os problemas contemporâneos no âmbito econômico e social.
            Em suma, o filme nos demonstra as falhas apresentadas ao tratar a vida social,política e ambiental como problemáticas isoladas e não inter relacionadas. A obra sugere uma nova visão de mundo, mais unificada e inter relacionada para enfrentar uma realidade nova que é infinitas vezes mais complicada e incoesa que um simples relógio mecânico da metáfora de Descartes.

"Constantemente em mutação. Essencialmente a mesma."


Durante muitos anos, até nos dias atuais, foi utilizado o paradigma cartesiano como forma de entender o mundo, contudo, como pode-se observar na crítica que se extrai do filme “Ponto de Mutação”, tal paradigma apresenta muitas falhas, devendo então ser substituído. Propõe-se assim um novo método baseado na observação de sistemas, dos problemas de maneira interconectada.
No filme fala-se sobre a crise de percepção que ocorre no mundo atualmente, questionando-se se tudo o que funciona é bom para o sistema. O mundo tem tido uma ideia de mudar os problemas de lugar, em vez de realmente solucioná-los observando causas, consequências,e tudo o que se relaciona a eles. 
Fala-se no filme também a respeito de Bacon, e sua máxima “Saber é poder”, que foi interpretada de maneira equívoca, segundo alega a personagem do filme, como poder de dominação, de controle sobre os outros. Apresenta-se o pensamento ecológico em oposição ao pensamento cartesiano, para garantir uma compreensão mais firme da realidade.
Discute-se no filme também a física atômica, na ideia de que a natureza da matéria consiste nas propabilidades de conexões, nas relações. Concluindo que todos somos parte de relações.
O caso da bomba atômica de Hiroshima também é apresentado no filme, falando-se que cientistas não fazem mais ciência pura, mas fazem a ciência que aqueles que os pagam escolhem, sem pensarem nas consequências de suas descobertas. 
Retoma-se então a teroria dos sistemas vivos  que propõe que no estudo deve-se olhar os sistemas vivos como um todo, observar a interdependência, e falam então que a essência da vida é a auto-organização.
Analisam então a afirmação de que o sistema vivo se auto-mantém, ou seja, embora dependa do ambiente, não é determinado por ele;  se auto-renova, ou seja, há uma mudança estrutural contínua mas também uma estabilidade nos padrões de organização do sistema; e se auto-transcende, ou seja, tem tendência a se transcender, se estender, e criar novas formas, sendo a dinâmica evolutiva básica a criatividade.
Na conclusão do filme cita-se um poema de Pablo Neruda, e falam da necessidade de se pensar nas próximas gerações, criando uma sociedade sustentável.  Terminam a conversa falando sobre o fato de que sentir o universo é um trabalho interior, a vida sente a si mesma.

Mayara P. Michéias- 1º ano direito diurno- UNESP

Interligação social

O filme "O Ponto de Mutação" incentiva-nos a refletir sobre aspectos sociopolíticos atuais que já podem ser considerados consequências de raciocínios desenvolvidos há séculos. É interessante percebermos que o mundo não está fragmentado em inúmeras micropartes e que os problemas mais graves, que atualmente assolam a espécia humana, não devem ser pensados como partes individuais de um quebra-cabeça.
A fome, a economia e as condições dignas de sobrevivência, garantidas à população por lei, estão completamente interligadas e, caso não nos proponhamos a atacar todos esses fatores simultaneamente, será impossível solucioná-los.
De forma inteligente e agradável, o filme nos mostra como a sociologia desenvolvida por Descartes, Bacon e Kante são aplicadas até hoje nas ideis ditas revolucionárias. Além disso, deixa claro também como essa fundamentação social está presente na vida de todas as pessoas, por mais distintas que sejam suas realidades. Já que os pensamentos filosóficos desencadeados por um novo método de raciocinío afetam de candidatos à Presidentes à poetas e, ainda, à físicos.
Percebe-se, com isso, que a defesa do filme é válida. A discução filosófica deve ser mais do que contemplativa. Deve de uma vez por todas ser trazida para o cotidiano da população que pode aprender a relacionar os problemas vivenciados cotidianamente, aos aspectos políticos e econômicos dos países onde vivem e, ainda, à leis que até antão pareciam dogmáticas.


                                              Bárbara Andrade Borges - 1º Ano Diurno

Equilíbrio



     Para o desprendimento humano da religião foi preciso dar vários passos. Entre eles a busca do conhecimento através da razão. Mas esse sistema ficou hipertrofiado e, a partir de Newton com suas Leis da Física, a mente humana e toda a sociedade começaram a ser mecanizada. Os seres humanos e suas relações são tratados sistematicamente, como em uma esteira de produção fordista.
     O lado natural foi esquecido. O mundo não é esquematizado, as cosias simplesmente acontecem: esse princípio foi abandonado. Agora, o ser humano é concertado, cada problema é ajustado. Ou por uma ciência nova, ou por descobertas novas, e assim por diante. Daí surge os problemas sociais, e vão aumentando. Desmatamento, fome, poluição, tudo é interligado. A única coisa que muda é a forma de percepção dos eventos. O homem só enxerga os eventos individualmente e tenta corrigi-los.
     Somos criação do mundo. O homem evolui junto com o planeta, na medida em que a cada ação humana criada outra vem para balancear as coisas. Por exemplo, homens criam armas de destruição e se tornam agressivos, surgem mulheres intelectuais.
     A forma de percepção do mundo é mutável. Um político pode ver as coisas mecanizadamente e um cientista ver como um todo. Independente da forma, sempre teremos consequências, as quais o mundo nos mostrará.

Questionamento



     Em uma época quando a religiosidade tomava conta de grande parte da ciência, Descartes com o “Discurso do Método” rompe com os tradicionais dogmas religiosos. Por considerar a filosofia, anterior à sua obra, fútil e inútil e acreditar que o ensino é decepcionante (uma vez que provoca no homem a contemplação do mundo e não a interação), Descartes dá início a um novo método científico.
     O novo método desenvolve-se a partir da racionalidade humana, sem se influenciar com as verdades pré-estabelecidas pelos dogmas. Através da dúvida ele põe em prática seu pensamento, ou seja, o questionamento leva a razão e a verdade. Os sentidos devem ser questionados, os dogmas, entre outros. A única coisa que não cabe dúvida é o pensamento, pois ele é o fruto da razão e gera a certeza.
     Apesar de sua obra fazer uma referência a uma força superior, talvez divina, não se tem a certeza de que realmente Descartes pensava dessa maneira ou se temia ser punido pela igreja. Tal contradição não tira o imenso valor da obra que além de ser uma tentativa de popularização das formas de ciência, desvinculada da igreja, também evoluiu toda uma ciência humana, que Comte chama de estado positivista. 

Observação prática



     Para aprender sobre determinado caso ou sobre determinado elemento, fazemos o uso da ciência. Usar apenas a razão e a lógica como forma de investigação científica ilude o homem e colabora para o perpetuamento de erros, assim como Bacon critica em sua obra “Novum Organum”. O homem é levado pelo seu raciocínio e começa a crer naquilo que de fato não é verdade. O intelecto não consegue entender além do que se parece oculto
     A natureza é complexa e tem uma infinidade de eventos. O homem não tem a capacidade de entendê-la sendo guiado só por conceitos e lógica. A mente cria verdades e ele passa a ser levado por uma crença e não pela verdade absoluta. Nesse sentido a lógica passa a ser inútil para o incremento da ciência.
     Diante disso, Bacon cria uma maneira de analisar a natureza e ter conhecimento sobre seus aspectos. Para evitar que a mente guie o indivíduo, faz-se o uso da experiência como forma de método científico. Ou seja, observam - se os fatos, analisam-nos e obtém - se uma conclusão. Tal conclusão é verídica porque não foi baseada no raciocínio lógico-dedutivo.
     A teoria de Bacon no séc. XVII tem sua importância nas descobertas científicas posteriores, como por exemplo, a descoberta de células-tronco, estudos neurológicos, entre outros. Foi preciso abandonar a dependência aos sentidos humanos, para que, com base em experiências científicas avançar a medicina e fazer tais descobertas. 

                                  Reavaliação do método                                                                                                                                                                A ciência nos  mostrou que  ela  por si só não é capaz  de  resolver os  problemas humanos. Mesmo com os  avanços  científicos, ainda  enfrentamos problemas ligados a convivência humana na Terra. A metodologia iniciada  com Descartes,que primava pelo uso da razão, o empirismo banconiano, e sua proposta de “utilização” da natureza a favor das  necessidades  humanas, proporcionaram  a sistematização da ciência,porém fragmentaram o conhecimento e deram ao homem a presunção  de tudo poder através do saber,no entanto, esse  saber não tornou a vida no planeta menos conflituosa, pelo contrario, potencializou a capacidade de destruição.

    A atualidade é  acética,em relação a ciência, vivemos  em um tempo em que  não se duvida do que o  homem é capaz de criar através de sua  razão e  experimentação. Remédios , curas contra doenças, invenção de modernos  meios de transporte, etc. a possibilidade tomou  lugar no  vocabulário atual, mas uma das  contradições , que nossa racionalidade deixa passar  despercebida,é o retrocesso em relação a convivência.

     Mesmo com tantas invenções nossa  habilidade  política ainda não conseguiu torná-las um bem comum para  a   humanidade ,usamos a tecnologia para destruirmos uns aos outros, reflexo disto foram as  duas grandes guerras mundiais (1914-1918, e 1939-1945), que demonstraram o quanto é perigoso o mau uso da ciência. O  sistema capitalista pode  ser  considerado  culpado, mas seria ele o único culpado? Não. Nossa forma de  observar  a ciência e aquilo que os “pais” da modernidade nos legaram,levou-nos a forma de viver e   agir no mundo que conhecemos hoje. A racionalidade de descartes e sua fragmentação dos  saberes,aliadas ao  sistema  econômico capitalista, fez com que  caminhássemos  para uma  especialização   que separou dos  seres  a sua  busca por universalidade. A  política isolou-se na política, ou seja , uma “casta” na qual seres “habilitados” atuam.  A  Ciência seguiu  o mesmo rumo,  assim como a   Arte.  Dessa forma o dialogo entre  as  partes do conhecimento humano tornou-se menos intenso e pertencente a determinados grupos.

     Aliado  a  esses  fatores  encontramos  um mundo em crise,seja pela  pretensão humana de dominar a Natureza,seja por  achar os  recursos desta infindos, seja pelo trato com o próximo. Esse é o momento de reavaliar  tudo o que  aprendemos, como dizia Descartes, e  construirmos nosso conhecimento a partir  de  nossas  próprias  conclusões. Talvez seja preciso  revisar nossos  “dogmas” aristotélicos,cartesianos ,  baconianos,etc. numa nova indagação de seus projetos,e buscar   formar  um conhecimento completo que  alie Política ,Arte e Ciência que  forme  uma  outra percepção no individuo  , e que se discuta uma ciência  que seja,realmente,um patrimônio da Humanidade.

Um cão andaluz e o ponto de mutação


 Em “Um cão andaluz”, os pais do surrealismo, Salvador dali e Luis Buñuel, lançam uma das imagens mais chocantes da história da sétima arte, uma lâmina prestes a cortar o globo ocular de uma pessoa viva. A cena apavorante carrega em si uma grande carga das vanguardas europeias modernistas, já que, de maneira excêntrica, expõe a abertura de novas perspectivas para os assuntos que rodeiam o cotidiano.
 Com o mesmo propósito, o filme “Ponto de mutação”, que soa bastante sugestivo, apresenta críticas racionais para a visão de mundo estereotipada, movida, por exemplo, por ditames ideológicos.
 Além disso, o filme, de maneira sensata, revela uma cientista que desaprova o método segmentador da própria ciência, que fora proposto pelo grande racionalista, Descartes. Isso pode ser estendido, por exemplo, ao sistema de ensino convencional, que, além de dividir o conteúdo em matérias, divide-as em frentes, o que dificulta a visão multidisciplinar.

Tiquetaqueando

    Para muitos aquele seria apenas um velho relógio medieval, mas para a mente perceptiva de uma cientista, de um poeta e de um fracassado candidato à presidência dos Estados Unidos ali estava um modelo cartesiano do cosmos, um símbolo da ruptura do homem com a natureza, uma perfeita metáfora da mente mecanizada dos homens contemporâneos.
    Sob o constante tic-tac mecânico as engrenagens da velha máquina se conectavam com perfeição, cada peça exercendo exaustivamente a sua função e formando um todo que resultava em seu objetivo primeiro de contabilizar o tempo. Para Descartes essa seria a metáfora perfeita para o homem e para a natureza, seríamos apenas uma pequena engrenagem de uma imensa e primordial máquina. Dessa forma, caberia à ciência cartesiana desvendar a função de cada peça e entender com profundidade cada conexão. Seria, portanto, contraproducente tentar entender o todo, o sentido das infinitas conexões e suas reais implicações.
Apesar dos mais de trezentos anos de existência o cartesianismo ainda mostra-se preponderante no pensamento científico contemporâneo. Empreende-se diariamente uma busca fervorosa pelo entendimento da mais minúscula engrenagem da máquina universal e a criação tornou-se um fenômeno puramente comercial, pois produzimos com a única finalidade de vender e gerar um capital contínuo e incessante. Entretanto, o sentido dessas inovações perdeu-se na minuciosidade da mente humana. Produz-se com o único objetivo de produzir, pesquisa-se para entender particularidades, inova-se para fomentar o mercado; e dessa forma seguimos em um círculo vicioso que percorremos incessantemente, sem, contudo, entender o sentido dessa caminhada.
 Esse homem “relógio”, mecanicista e produtivista é incapaz de entender as reais mazelas da contemporaneidade. Caminha-se, portanto, deslocando os problemas aleatoriamente, intervindo quando alguma peça apresenta um problema que possa prejudicar o funcionamento da máquina e criando, incessantemente, com a única função de criar. Enquanto continuarmos cultivando esse pensamento robotizado, seremos sempre essas máquinas humanas “tiquetaqueando” como um velho relógio medieval.

José Roberto Bernardo Bettarello - 1º ano noturno.
O filme "Ponto de mutação" é baseado no livro homônimo, escrito por Fritijof Capra. A intenção de ambas as obras é propor uma reflexão acerca do paradigma de ciência que está instituído há 300 anos. Quais são suas falhas? Seria tal paradigma adequado aos dias de hoje?
A discussão contida no filme é protagonizada por uma física que, frustrada com o destino de uma de suas pesquisas, retirou-se para uma ilha para reflexões. A opinião ela é a de que o modelo científico de fragmentação do conhecimento já não atende as necessidades do mundo atual. Ela busca convencer um político estritamente racionalista que perdeu as eleições presidenciais nos EUA de que é necessária uma abordagem diferente sobre os problemas que afligem o mundo. Esse político tem um amigo poeta, que, com sua sensibilidade artística, concorda com a física, porém tem outro modo de ver as questões- mais lírico, mais poético.
A conclusão do filme é que se faz necessária uma abordagem holística, que considere o planeta como um todo, e o organismo humano também como um todo, e não como uma máquina.

Ponto de mutação


O filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro homônimo de Fritjof Capra, demonstra a relação existente entre o mundo físico cheio de regras e conceitos, e o mundo real. Tais constatações e relações que Jack, Silvia e... estabelecem durante sua caminhada, procuram mostrar que nada no mundo acontece por acaso. Sempre para que um evento ocorra, é necessário que se tenha um conjunto de relações e ações em todos os planos, começando no universo micronuclear dos elétrons, até o universo macro nuclear dos seres-vivos.
Contudo, a visão do homem frente a este conjunto de relações e acontecimentos é criticada durante o filme. Tal visão não é criticada por perceber este conjunto de relações em vários planos. Mas sim devido ao fato de ignorar este conjunto de relações para priorizar uma visão mecanicista do mundo. Esta visão projeta a ideia de que cada fato ocorre de forma separada. Algo que é desmistificado visto que questões como superpopulação, desmatamento e esgotamento dos recursos naturais, são destrinchadas de modo que suas causas não sejam resumidas a apenas um problema isolado. E sim a todo um contexto que demonstra a associação de tais problemas com algo maior, sendo impossível resumir a solução deles a uma reles “troca de peça”.
E consiste a esta prioridade dada a uma visão mecanicista, a principal crítica do filme a atualidade. A crítica à falta de percepção do óbvio, do comum e do real. Algo que é resumido na citação que... faz a Willian Blake, que diz: ”Se as portas da percepção se abrissem, tudo pareceria como é.”, revelando o fato de que não encaramos o mundo como um grande sistema que se inter-relaciona de todas as maneiras possíveis. Mas sim a uma grande máquina que precisa apenas ser concertada para que volte a funcionar normalmente. Atitude que nós cega para o fato da nossa sociedade, com seu consumismo desmedido e esgotamento dos recursos naturais, ser a responsável por este “defeito” que provoca uma “troca de uma engrenagem”.
Por isto é indispensável uma mudança de visão do mundo e de seus problemas. Para que assim, seja possível uma análise de todas as relações possíveis de um caso, possibilitando que ações efetivas no combate a vários problemas sejam realmente tomadas de todas as formas. Fica claro que nada ocorre por acaso devido as inúmeras associações que acontecem em todos os planos. E é indispensável que a sociedade observe estes planos, e consiga mudar o seu eixo de observação de uma visão mecanicista para uma visão que saiba relacionar o que está ao seu redor, possibilitando ter uma percepção de que tudo está conectado e evoluindo em todos os planos.

Nova visão de mundo

          O filme "Ponto de Mutação" é baseado no livro do físico austríaco Fritjot Capra, onde nota-se a presença de questionamentos filosóficos acerca dos grandes problemas mundiais como por exemplo a fome, a miséria, a crise energética, etc. No filme, por meio da análise do pensamento de Descartes, a personagem Sonia Hoffman critica a visão mecanicista do mundo em que a natureza é comparada a um relógio, fazendo uma alusão entre políticos e ideias antiquadas.
          Os problemas ambientais mencionados no filme podem ser relacionados com o pensamento do filósofo Francis Bacon. De acordo com o pensamento de Bacon, a natureza deveria ser caçada, escravizada. Os cientistas deveriam torturá-la a fim de obterem seus segredos. Portanto, a poluição hídrica, o efeito estufa, por exemplo, seriam consequências da tortura do homem sobre a natureza. Para Capra, seria necessário uma nova visão de mundo, onde os problemas globais fossem analisados em conjunto e não de maneira fragmentada e independente. Há uma crítica aos sistemas que encorajam a intervenção em detrimento da prevenção.
          Nota-se a crítica à política, representada na figura do senador Jack Edwards. Os políticos são criticados, pois teriam visões de mundo mecanicistas, antiquadas, incompatíveis com a visão holística de mundo proposta por Fritjot Capra. Há o questionamento do senador em relação ao fato de as pessoas inteligentes não votarem, o que evidencia o descrédito da população com relação à política além de inferir que aqueles que são dotados de pensamento crítico desaprovam o ato de votar.
          Pode-se concluir do filme que os grandes problemas ambientais são sistêmicos e que é necessária uma nova visão de mundo que encoraje a prevenção em detrimento da intervenção. A ciência moderna seria pautada pelo pensamento matemático cartesiano, o que prejudicaria a análise de como convergiu a natureza. A abordagem cartesiana da ciência não resolveria os problemas do mundo, apenas os transfeririam de lugar.





       Virginia B.M. de Carvalho-direito noturno
           Semelhança puramente fonética



Raízes, tronco, folhas. A fim de descrever uma árvore, um cartesiano simplesmente a dissecaria. Já um pensador de sistemas atentar-se-ia às relações entre o vegetal e o restante da natureza, buscando seu real papel biológico, sua importância no todo. Essa é apenas uma das reflexões realizadas pelos personagens Sonia, Thomas e Jake no filme “Mindwalk” – Ponto de Mutação (Bernt Capra, 1989).
Sonia é pontual ao criticar Descartes, Bacon e Newton. A visão mecanicista cartesiana contemplava o homem como uma simples máquina. Francis Bacon afirmava que “Saber é poder” e a interpretação humana da natureza sobreporia o homem ao meio ambiente. Logo, relacionando com a opinião mecanicista cartesiana, para Bacon a máquina humana subjugaria a máquina ambiental. A ciência newtoniana tornou esse pensamento um fato consumado. Ao conhecer e estudar os mecanismos naturais, analisar suas ações, suas consequências podem ser previstas através de fórmulas. Consequentemente, esse caráter previsível assemelha ainda mais a natureza à uma máquina.
Contudo, expondo seu denso conhecimento físico, Sonia destaca a não aplicabilidade da física newtoniana na escala atômica. A matéria não está baseada apenas em objetos, e sim em conexões. A beleza da dinâmica evolutiva não é a adaptação, e sim a criatividade. E nós, como alunos do curso de Direito, portanto, potenciais juristas, necessitamos absorver essa reflexão. É necessário criatividade. É necessário desvencilhar da visão mecanicista e interpretar os futuros casos jurídicos como parte de um contexto maior.
"A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais a medida em que se desigualem”. Um jurista eficaz não limita-se ao conhecimento de leis. “O jurista que só conhece Direito acaba por ter do próprio Direito uma visão defeituosa e fragmentada.” Faz-se necessário uma ampla visão de mundo a fim de julgar corretamente a especificidade de cada caso. Analogamente à árvore, o crime não deve ser simplesmente dissecado, e sim analisado em toda sua conjuntura. Essa é a chave para libertar o Direito do clichê “instrumento de dominação de classe”. Jurista e mecanicista podem assemelhar apenas no âmbito fonético, e não semântico.

Daniele Zilioti de Sousa - 1º ano Direito Noturno

Ponto de fusão

     O filme "Ponto de mutação" trás consigo uma ideia pertinente a ser discutida nas atuais realidades. Um dos personagens principais, político e possível candidato à presidência, acaba tendo algumas de suas crenças e ideias transformadas após conhecer uma cientista especializada em física. O pensamento altamente cartesiano do candidato é colocado em xeque com o aparecimento dos ideias da moça cabendo aí uma análise de até que ponto chegam as deficiências do cartesianismo e dos ideais baconianos, fazendo necessária uma adaptação para outra sociedade e realidade.
      Um ponto muito sensível ao método é a força de trabalho liberal. Os atuais profissionais não têm uma visão ampla do conhecimento, estudando diversas matérias sem ao menos conseguir correlacioná-las com seu dia-a-dia ou, muito menos e mais gravemente, não conseguem ter uma boa comunicação entre empregador e empregado, já que os profissionais não possuem capacidade de argumentar e articular suas ideias, teorias e a prática.
       Além disso, há de se levar em conta que os acontecimentos devem ser estudados todos juntos, já que assim ocorrem, também, na natureza. Não há divisões em seus diversos ramos, ao contrário da ciência aqui presente. Exemplificando, é de fácil identificação a proximidade entre os estudos das artes e o de história já que ambos se completam. No entanto, estuda-se tão profundamente certos assuntos como o da química biomolecular que a essência acaba se deteriorando.
       O filme passou os 20 anos de existência e, no entanto, a realidade acaba sendo a mesma de alguns anos. É preciso saber se os clássicos cabem ferramentas úteis para os dias contemporâneos ou se suas ideias foram pertinentes apenas para seu tempo e devem ser recicladas o mais rápido possível.
      

Bacon Descartado?

    Baseado na obra do físico Fritjof Capra, o filme "Ponto de Mutação" revela uma visão crítica sob um antigo método de pensamento amplamente utilizado na atualidade, denominado como: "Pensamento Mecanicista". Para a personagem, hoje não seria um momento histórico caracterizado por crises globais, simplesmente naturais à atividade antrópica. Mas sim, inúmeros problemas que tem como fonte de sua inresolução, a "crise de percepção" derivada dessa forma de pensamento.
    Fruto de ideologias dos filósofos Francis Bacon e René Descartes, a referida "crise de percepção" se caracterizaria pela histeria coletiva de se desmembrar cada parte do conhecimento, o analizando isoladamente para enfim, entender o todo. E para a personagem, a compreensão do mundo como um mero relógio impõe limites à atividade humana nos seus diversos campos de atuação. Sendo assim necessária a criação e efetivação de uma nova forma de pensamento, o pensamento Holístico ou Sistêmico. Onde "nenhum santo se sustenta sozinho". Ou seja, o homem é parte do todo e o todo é parte do homem. E para uma análise mais efetiva do mundo, é necessário levar em consideração a grande variável que permite nossa coexistência: As conexões e relações de indivíduos dentro do universo.
   Além disso, o filme trata paralelamente de profundas reflexões. Há a exteriorização de máximas como a não condensabilidade da vida em conceitos: "A vida é infinitamente maior que quaisquer teorias obtusas sobre dela". Assim, apesar da dialética acerca de visões de mundo, nos apronfundamos na relatividade dos assuntos. Onde nada tem real grau de relevância e tudo é relativo, ou melhor, tudo pode ser fruto das ilusões da percepção. Podemos ser poetas em crise, indiferentes ao mundo, à procura de qualquer coisa palpável. Podemos ser políticos, que necessitam de uma sensação de mudança. Mas que se contentam em apenas garantir uma dose dessa sensação ao publico e à ele mesmo, por que efetivamente, houve apenas "trocas". Ou podemos ser cientistas, que necessitam mais. Mas se limitam à meramente refletir e idealizar mudanças efetivas na forma atual de vida. Independente de nosso foco, como o filme apontou, não deixamos de estar todos "tacando nossas redes no infinito" como "peixes presos dentro do vento". Assim, não seria irrelevante ou inefetivo tais discussões?
    Dentro do imenso campo de questões abordadas, é importante lembrar que primeiramente é preciso estudar esses "peixes", dissecar cartesianamente todas camadas acerca deles. E após isso, se torna possível a compreensão do mundo como um todo, a adoção do método de visão Sistêmico ou Holístico, possibilitando a efetivação de mudanças significativas. Assim, constatamos que as ideologias de Bacon e Descartes não podem ser taxadas como incorretas ou antiquadas. Mas sim, simplesmente como NECESSÁRIAS ao avanço e à novas formas de compreensão do mundo, que poderão ser adotadas no cenário contemporâneo.


João Victor Cruz - 1 ano Direito Diurno/Noturno.
 Teoria do caos: uma borboleta pode provocar tufões.
O filme “Ponto de Mutação”, do diretor Bernt Amadeus Capra, lançado em 1989, traz como pano de fundo três personagens: um senador, um poeta e uma física. Os três, com ideias bem diferenciadas iniciam uma conversa num castelo medieval em França. À partir daí, dá-se início há uma discussão entre dois modos de olhar a vida: o “mecanicista” e o holístico.

Em defesa do lado mecanicista, encontramos Descartes que, assim como o político, acredita que a natureza é uma máquina, onde tudo se encaixa e funciona perfeitamente, mesmo com alguns erros.

Já do lado da visão holística, a física cita Newton, o qual alega que assim como a eletrosfera é uma zona de probabilidades, a vida assim também o é. E completa afirmando que toda ação de um ser produz uma reação na vida de outro. O que nos remete a teoria do caos muito bem exemplificada no filme “Efeito Borboleta” de 2004, o qual tem como frase ilustre e também tese de toda a obra: “O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque.”

Arthur Gouveia Marchesi – 1º ano direito diurno
A volubilidade da reflexão

           Baseado no livro do físico Fritjof Capra, o filme Ponto de mutação (Mindwalk) utiliza de vários princípios teóricos físicos para sustentar uma intensa discussão filosófica. Dentre esses, são expostas ideias que se assemelham ao princípio da incerteza de Heisenberg, que julga não ser possível medir a localização e a velocidade vetorial de um elétron simultaneamente. Utilizando-se deste princípio implícito no filme, pode-se fazer uma correlação com a mente humana, que se modifica de forma imprevisível. Conforme subentendido no título em inglês, as opiniões das personagens variam ao decorrer do enredo.

           O que possibilita a variação no estado de mente humano é o debate e o embasamento dos argumentos apresentados pela parte contrária na discussão e, a partir do choque de ideias diferentes, uma nova ideia é concebida. Dessa forma, seguindo as particularidades e o conhecimento adquirido pelo indivíduo, é possível, após o término do filme, ter-se infinitas conclusões variando no que cada um pode absorver e levar a seu contexto.

           Por isso, o filme constrói e desconstrói concepções, como por exemplo, ironicamente estudando em partes o mecanicismo para em seguida refutar seus mecanismos. Ainda que reconheça a necessidade deste outrora, ele evidencia a premência de uma mudança de perspectiva e apoia uma visão sistemática, onde não se estuda os componentes humanos, mas sim suas relações.

           É levada a tona a importância da reflexão, como melhor posto por Albert Einsten: "a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original". Em suma, a reflexão não se trata de uma mera mudança no estado de mente, mas sim no aprimoramento da perspectiva de mundo.


Amanda Silva Trevisan, 1º ano - noturno.

Leia se quiser uma certeza


“Morri de pneumonia; mas, se lhe disser que foi menor a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor não me creia; e todavia é verdade. [...] Essa ideia era nada menos do que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. [...] Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra pra mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: amor da glória. [...] A minha ideia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se ideia fixa. Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho. [...] Vinha a corrente de ar, que vence em eficácia o cálculo humano, e lá se ia tudo. Assim corre a sorte dos homens.”
(In: “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis)


       Uma renomada física em conflito com os valores éticos em seu trabalho, um poeta sem grandes vendagem e fama, um popular candidato à presidência dos Estados Unidos que necessita de nova estratégia eleitoreira. Três personagens aparentemente desconectadas encontram-se em região no interior da França e dão início a um extenso diálogo, enredo de “Ponto de Mutação” (1989), filme aparentemente raso de Bernt Capra, que vai além do pretenso ambientalismo militado pela cientista, mas nos apresenta firmes questões sobre a existência.
        O aspecto central da discussão torna-se, à certa altura, o cientificismo extremo, herdado de clássicos como Descartes e Bacon, e transmitidos às relações sociais as quais desenvolvemos. Somos além de peças, meros instrumentos metálicos, frios, imutáveis e gerais, como bem metaforizara o filme. Temos vida, emoções, anseios e medos, bem como outras especificidades que são a beleza do ser.       
        A conversa aprofunda-se e as personagens aportam no mais repetido e controverso questionamento da humanidade: existe um real sentido para a existência humana? Seríamos apenas alguns bilhares, com nossas vidas interligadas, estritamente, por relações econômicas, ou há algo superior que reja-nos, ordene-nos? Somos realmente livres e independentes? Perdoem-me, apresento a problemática, mas não ouso respondê-la com certeza, tal qual o defunto-autor, e finalizo com uma contradição: abusemos da dúvida cartesiana!

Eduardo Matheus Ferreira Lopes, Direito diurno.
               Suicídio da lógica capitalista


    Segundo Eric Hobsbawn, a História tem a finalidade de explicar o princípio, o desenvolvimento e o triunfo do capitalismo. Nessa lógica, ela demonstra o percurso de uma classe que nasceu durante o feudalismo e se consolidou durante a Era do Capital(1848-1875), a classe burguesa. Vencedora da disputa pelo poder, a burguesia ultrapassou os limites dos reis e nobres e disseminou seus valores estabelecidos na concepção do poder econômico.
     Mesmo na passagem da Id. Média para a Moderna em que a classe burguesa ainda era incipiente, já começavam-se surgir novas diretrizes acerca do pensamento humano. A razão era posta em pauta, concomitante ao o encorpamento da burguesia. Descartes teorizava os novos métodos e Francis Bacon questionava a ciência conformista.
     Passado todo esse período de valoração do ser-humano em detrimento ao mundo simplista da realidade, estabeleceu-se uma lógica de mercado nos tempos hodiernos em que os mitos e as crenças se esvaneceram enquanto a força do mundo empírico tomou conta da sociedade. As prerrogativas do capitalismo são complexas e imponderáveis. O mundo do capital é levado ao extremo. As mudanças culturais são influenciadas pela lógica do consumo e tudo o que não estiver inserido nesse meio é escusado de abordagem.
     O filme Ponto de Mutação nos traz uma reflexão sobre o quão perverso se tornou o interesse burguês frente aos problemas do mundo, como no meio ambiente, na política e na saúde por exemplo e como isso afeta as próximas gerações, pois a sensibilidade se tornou ilegítima enquanto que os valores superficiais humanos se tornaram prioridade. É preciso nos desconectarmos da lógica imediatista e atentarmos para o conjunto de sistemas que integram o mundo, ou se não acabaremos fadados ao suicídio da lógica capitalista.



   

Um mundo menos mecanicista

  Observam-se as constantes mudanças existentes no mundo, principalmente na evolução dos pensamentos sejam eles filosóficos ou não.  No filme “Ponto de Mutação” de Bernt Capra, três personagens com seus diálogos bastante engrenados nos fazem alcançar uma nova visão de mundo. Entre eles encontra-se um político dos Estados Unidos, uma cientista que se sentiu enganada pelo projeto Guerra nas Estrelas e um escritor um tanto desiludido. Os personagens se encontram em um castelo medieval no litoral francês e engrenam discussões e questionamentos sobre alguns pensamentos filosóficos, físicos e políticos.
  Nas discussões sobre o papel dos mecanismos que regem o mundo, abordam a evolução do pensamento humano, passando por Descartes e chegando aos nossos dias, onde vemos os líderes, pensando de forma mecanicista, uma visão de que para se alcançar a verdade de algo é necessário dividi-lo em partes e assim obter ideias claras e distintas, quando, na realidade, segundo a cientista, deve-se buscar uma visão unificada do todo, não basta compreender uma parte, se o restante for desconhecido.
Nota-se que o filme sugere mudanças e renovações em todos os campos e para isso o homem precisa deixar o individualismo e utilizar a percepção menos induzida, ele apresenta também reflexão sobre as bases da existência e da integração do pensamento e das ações compassivas no contexto do desenvolvimento da sociedade.
  No final entende-se que a sobrevivência humana, ameaçada por várias ações igualmente humanas advindas de uma visão de mundo mecanicista e fragmentada, só será possível se formos capazes de mudar radicalmente os métodos e os valores da nossa cultura individualista e materialista atual. E o filme também propõe uma série de questionamentos, principalmente, referentes aos rumos da ciência moderna.

Emmanuelle Nasser Dias e Silva
1° ano Direito Noturno