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segunda-feira, 31 de março de 2025

A ordem está fora do mundo

 A geração atual encontra-se  em uma posição extremamente delicada. Cercada de problemas políticos, crises climáticas, vulnerabilidades sociais e o advento de tecnologias cada vez mais avançadas, cabe o questionamento, estaria o mundo fora de ordem ou a ordem fora do mundo?

Primeiramente o ser humano é vítima de diversas catástrofes geradas pela crise climática; enchentes, tsunamis, terremotos entre outros, além do constante preocupação sobre o aquecimento global. Essas questões já são o indício da instabilidade da ordem no mundo, visto que causam refugiados climáticos, mortes e preocupações.

Consoante a isso, o ser humano se encontra em um estado de crise na atualidade, com a regressão de diversos direitos conquistados e com a ascensão de discursos de viés fascistas. Havia quem acreditava que o mundo havia adquirido uma certa ordem após a queda de Mussolini, Hitler, Franco e Salazar e que discursos baseados nas doutrinas desses líderes fascistas não seriam vistos no mundo moderno. Entretanto, nota-se nas sociedades a ascensão de governos de extrema direita baseados em doutrinas fascistas, questão que seria inimaginável há alguns anos. 

Ademais com o governo Trump nos Estados Unidos , cidadãos LGBTQ+, mulheres, negros, indígenas e imigrantes viram seus poucos direitos conquistados diminuírem drasticamente com poucas semanas de governo; desse modo essas pessoas vivem na angústia de terem seus direitos restantes retirados. Fica o questionamento, tem como a ordem estar no mundo se cidadãos perdem seus direitos constantemente e vivem em um temor de perder direitos que assegurem dignidade humana a eles?

Além disso, países como Irã e Afeganistão restringem cada vez mais o direito das mulheres, com estas sendo proibidas de falar em público no Afeganistão e sendo mortas no Irã por protestarem. Com direitos simples sendo proibidos e a dignidade humana dessas mulheres sendo cada vez mais afetada se perguntássemos para essas mulheres se elas sentem que o mundo delas está em ordem, elas provavelmente diriam que não. Principalmente no Afeganistão, país no qual as mulheres desfrutaram de certas liberdades, como a educação, antes do Talibã assumir o poder e bruscamente regrediram vinte anos em dois. 

Outro exemplo é o genocídio assistido em Gaza, no qual milhares de palestinos foram mortos. É possível ordem no mundo quando nações e seus cidadãos  veem diariamente o que acontece na região porém preferem fechar seus olhos para essa realidade?

A resposta é simples, o mundo não está fora de ordem-até porque ele nunca esteve plenamente nela - a ordem é que está fora do mundo e por isso abrem-se margens para que a barbárie invada o planeta e cause mazelas para os seres humanos.


Maria Clara Destito Yano  -   1 Ano Direito Matutino 

Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?

    A questão levantada pelo professor Agnaldo: “Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?” é curiosa. Em um século XXI marcado pelo genocídio palestino, pela guerra “ao terror”, pelos retrocessos e pela opressão de grupos minoritários, pode parecer fácil responder de cara: “é um mundo fora de ordem”. No entanto, ao analisarmos o contexto de fatores como as ascensões políticas contemporâneas, especialmente o retorno do fascismo, é difícil discordar da ideia de que há, sim, uma “ordem fora do mundo”.

    No contexto da pergunta, podemos definir "ordem" de duas maneiras que se complementam:

-Uma ordem destinada aos oprimidos: ou seja, um sistema opressivo e alienante que esmaga os direitos, a coletividade e a autodeterminação dos indivíduos, que apenas influenciam o cenário mundial por meio de sua força de trabalho.

-Uma ordem dos opressores: não uma ordem como a representada no filme De olhos bem fechados, de Stanley Kubrick, mas uma ordem que opera com base no controle e organização das figuras que estruturam o globo para atender aos seus próprios interesses.

    Quando falamos de uma ordem “fora do mundo”, essa afirmação pode ser entendida de dois modos que também se complementam:

-A ordem está fora do mundo por ser organizada por aqueles que estão fora da vivência cotidiana do ser humano comum.

-A ordem está fora do mundo porque retira a noção de importância dos oprimidos no cenário mundial, apagando suas vidas e necessidades.

    Por fim, acredito que estamos, de fato, em uma ordem fora do mundo, e não em um mundo fora de ordem. Após a consolidação da burguesia industrial e dos Estados modernos, é difícil afirmar que algo em escala geopolítica esteja realmente “fora de ordem”. Se está “fora de ordem”, é porque está fora da ordem estabelecida por aqueles que impõem seus próprios padrões em escala global.


Eduardo Cavalcante Seghese Neto 1º Direito Noturno

Entre questionar e resignar

 “Um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo?”. Tal questionamento reflete uma incerteza contemporânea diante aos conflitos presentes na sociedade. Sob esse viés, ele busca compreender se a sociedade se encontra em um período de evasão da ordem, como se os comportamentos estivessem inconsistentes com o pressuposto. Contudo, existe também a perspectiva de que este sistema, como um todo, é incompatível com a contemporaneidade.

    Dessa forma, existe um constante desespero com a condição atual, que não só preocupa os cidadãos, mas também perpetua uma sensação de inevitabilidade. Nesse contexto, o cenário hodierno é composto de embates, como guerras e pautas sociais. Por conseguinte, é notória a presença de combates armados, como entre a Palestina e Israel, que demonstram não apenas uma crise humanitária, como também conflitos ideológicos e bélicos. Desse modo, essa incerteza acerca do futuro propicia a tentativa de buscar por respostas, que por sua vez são intrínsecas à uma iniciativa de encontrar justificativas para a ascensão de tais fenômenos. Assim como, reverbera-se a sensação de que não há nada a ser feito, sendo tal noção errônea, visto que a participação ativa permite a união de ideias. Sendo assim, surgem duas perspectivas, uma que desdobra tais questões como anormalidades da ordem, que por sua vez remete ao sistema político-econômico. Todavia, o segundo entendimento desenvolve essa norma como incompatível com a sociedade, de maneira que a analisa como causadora dessas problemáticas.

Logo, o questionamento continua presente na hodiernidade, entretanto, devem-se ser procuradas formas para mediar tais conflitos, contando com a participação ativa das pessoas e a esperança de melhorar a sociedade.


A chegada do Positivismo de Comte ao Brasil Império e sua atual influência na realidade brasileira

O Positivismo, corrente teórica desenvolvida pelo cientista Augusto Comte na obra “Sociologia”, está pautado na interpretação racional-científica da realidade social e no desenvolvimento de uma lógica com metodologia exata aplicada à sociedade, a fim de desenvolver a ciência social como instrumento de alcance do progresso e da ordem. No contexto da época, o Positivismo foi amplamente divulgado e fortalecido na Europa por seus apoiadores, entre eles John Stuart Mill, pensador responsável pela estruturação da teoria positivista junto a Comte. O crescimento do Positivismo alcançou o Brasil no final do século XIX, durante um momento histórico conturbado e alvo de muitas transformações sociais, econômicas e culturais.

Naquele momento, o regime monárquico brasileiro estava enfrentando uma crise. Intelectuais e políticos não se encontravam satisfeitos com a política de centralização de poder de D. Pedro II. Ainda que o parlamento e a Constituição existissem, as principais decisões estavam concentradas nas mãos do imperador, que inclusive tinha o poder para interferir nos ministérios e partidos. Enquanto isso, o exército tornava-se símbolo de ascensão social, e passava a ser almejado por jovens estudantes integrantes da aristocracia brasileira, que realizavam seus estudos na Europa e voltavam ao Brasil com ideias e teorias novas, uma delas, o Positivismo. Sendo um país “sem filosofia” à época, o Brasil abraçou o positivismo na busca por encontrar uma nova concepção de valores e condutas morais para a população brasileira daquele período.

Grandes nomes no Brasil juntaram-se à causa positivista, entre eles os escritores Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, e Luís Pereira Barreto. Este último escreveu a obra “As Três Filosofias”, considerada o marco inicial do Positivismo Brasileiro. 

Algumas ideias de Comte passaram por “adaptações” no país latino-americano, conforme à realidade vivenciada naquele período. Uma dessas alterações foi o posicionamento positivista brasileiro no que se referia à vacinação. Enquanto na Europa a vacinação foi vista como “inovadora” e fortalecida pelos positivistas, defensores dos avanços científicos, no Brasil, a situação foi um tanto quanto diferente. 

Naquele período, o Rio de Janeiro enfrentava uma epidemia gravíssima de varíola, em razão das péssimas condições de saneamento básico na cidade. A região estava passando por uma tentativa de “modernização” do centro, para torná-la mais atrativa e parecida com o estilo das cidades europeias, porém, nesse processo, a população pobre, em sua maioria negra e descendente de escravizados, precisou sair de suas moradias e ocupar a periferia da cidade. Esse processo levou ao aumento exponencial de doenças e animais peçonhentos. Dessa forma, em 1902, quando nomeado Diretor Geral de Saúde Pública (o que, atualmente, corresponderia ao cargo de Ministro da Saúde), Oswaldo Cruz decidiu realizar o combate à varíola através da vacinação em massa — e forçada.

Apesar de a vacina antivariólica ser obrigatória desde 1846 para adultos, a lei jamais havia sido cumprida. Os instrumentos de aplicação da vacina, na época, eram lancetas metálicas, que realizavam cortes e escorriam o líquido para dentro da corrente sanguínea. O processo era longo e doloroso e, por isso, temido pela maior parte da população. Enquanto isso, o Positivismo Brasileiro estava no seu auge e, ironicamente, naquele momento, colocou-se contra a ciência, em razão da aplicação de medidas estatais de vacinação à força e de reclusão dos não-vacinados. Assim, a corrente positivista foi grande influenciadora da maior revolta urbana até então já vista no Rio de Janeiro: a Revolta da Vacina.


Ao trazer esse acontecimento para a realidade brasileira, podemos correlacionar a ação dos positivistas à época com o movimento anti-vacina brasileiro, o qual alcançou maior proporção a partir do ano de 2021, durante a pandemia de COVID-19. Essa é uma prova de como, na sociedade contemporânea, o Positivismo ainda vive e se renova todos os dias, especialmente dentro dos âmbitos tidos como intelectuais e de “elite”, por exemplo, os campos do Direito e da Saúde. 


Conclui-se, portanto, que o pensamento de Augusto Comte tomou novas formas e encontrou na sociedade brasileira um terreno fértil para seu crescimento, sendo utilizado como base, hoje em dia, para movimentos que defendem “enxergar a sociedade com métodos exatos e dados científicos”, enquanto, na verdade, manipulam os fatos, a fim de defender um ideal de sociedade dominada e ocupada por grupos específicos.


Maria Vitória Silva - 1º ano de Direito (Noturno)