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domingo, 17 de março de 2024

A ausência de mudança pessoal e o racismo

                        A evolução sempre foi um fator existente no mundo e muito influente nas mudanças que acontecem em meio a uma sociedade, as quais são fundamentais para o estabelecimento de segurança e harmonia em uma civilização, uma vez que ela ainda é, apesar de muito ter mudado, constituída de desigualdade e injustiça. Porém, nem todos acompanham tais mudanças e escolhem não se adequar a outra realidade.  

  Visto isso, é possível relacionar essa falta de acompanhamento com o fato, afirmado por Wright Mills em “A imaginação sociológica”, de que questões pessoais influenciam nas questões públicas de uma sociedade. Isso, porque pessoas que não se adequam a uma nova realidade não respeitam as novas formas de vivência em comunidade e, por isso, interferem na vida de muitos, o que cria problemas públicos. O racismo, ainda forte na sociedade, evidencia isso, uma vez que tal fator gera desigualdade e injustiças para milhões de pessoas negras e, assim, acarreta um problema social grave. 

Ademais, os opressores se sentem superiores em relação as vítimas de racismo e as silenciam quanto aos seus direitos de viver normalmente em uma sociedade. No livro “Memórias de plantação: episódios de racismo cotidiano”, escrito pela autora Grada Kilomba, é discutido justamente sobre o tratamento de pessoas negras como subalternas e o silenciamento delas, de diversas formas, no cotidiano e sobre como isso reflete na carreira e vida que elas querem seguir.

Portanto, as perturbações pessoais conseguem se tornar questões públicas, o que cria problemas sociais, como o racismo, que permanece na sociedade por conta do preconceito de pessoas brancas que se recusam a mudar conforme a sociedade evoluí. 


Henrique Ventura Romano - Direito noturno

A auto-ajuda deve ser considerada literatura?

 

A auto-ajuda deve ser considerada literatura?

 Na atualidade, existem inúmeras áreas do saber relacionadas a promover auxílio para indivíduos conquistarem melhores condições de vida, não restrito ao sentido financeiro, mas mental e emocionalmente. Desde a psicologia até o uso das ciências humanas no cotidiano, o que essas áreas do conhecimento possuem em comum é o método científico para obter seus ensinamentos. Combinando teorias completas, pesquisas extensivas a experimentações necessárias, passaram pelo escrupuloso filtro da ciência para poder auxiliar indivíduos a conquistarem melhor bem-estar. No entanto, apesar da existência de saberes ricos, embasados na razão, como as ciências citadas, um número cada vez maior de pessoas busca conforto, não com cientistas, mas com autores de livros de auto-ajuda, pseudo-gurus e os recentes coachs (pressupostos profissionais que dizem ajudar pessoas a conquistarem melhorias).

 Assim, resta-nos a reflexão sobre como um gênero literário fundamentado em divulgar como pessoas deveriam viver suas vidas alcançou o status de best-seller, influenciando milhares de pessoas, sendo que seus autores não precisam de nenhuma qualificação profissional para publicar, além da própria opinião pessoal (embebida em doses cavalares de auto-confiança) de que sabem como auxiliar seus leitores a conquistarem a felicidade, sem a necessidade de métodos científicos para embasar seus escritos.

 A principal diferença entre um livro de auto-ajuda e um tomo da psiquiatria ou da sociologia é que qualquer um pode escrever um livro de auto-ajuda. Não há nenhum filtro, teste, responsabilidade científica separando a ficção da realidade, o que cria um grande palco para a proliferação de meias-verdades, dicas manipuladores e ajuda apelativa e comovedora. Há séculos, o método científico de testagem de conhecimento foi construído e aperfeiçoado, perpassando grandes mentes como Descartes e Bacon, apenas para ser descartado por autores populares que acreditam, não com base na razão, mas sim na opinião, não precisarem disso.

 A grande questão que resta, portanto, é: por que tais livros, sem embasamento científico, vendem tanto?

 Talvez a reflexão deva ser menos quanto ao oportunismo dos seus autores, ao descartar os rigores normativos do método científico (justamente o que o torna confiável), e mais quanto a sociedade que os compra. Se autores de livros de auto-ajuda possuem vendas tão estrondosas, como anda a capacidade da sociedade de pensar cientificamente?

O declínio moral: Uma Reflexão sobre os Valores Inegociáveis da Sociedade Brasileira.

      Na teia complexa da sociedade, existe um fenômeno insidioso que muitas vezes passa despercebido: a marginalização dos valores das minorias e a glorificação dos valores da elite. Enquanto alguns ideais são elevados aos píncaros da virtude, outros são relegados às sombras da desconsideração, criando assim um desequilíbrio perigoso que perpetua a desigualdade e a injustiça.

     Sob essa ótica, Writh Mills, influente sociólogo, já abordava tal comportamento em seu livro "A Imaginação Sociológica": “Quando as pessoas estimam certos valores e não sentem que sobre eles pesa qualquer ameaça, experimentam o bem-estar. Quando os estimam mas sentem que estão ameaçados, experimentam uma crise – seja como problema pessoal ou como questão pública. E se todos os seus valores estiverem em jogo, sentem a ameaça total do pânico”. Isso se relaciona com a problemática abordada anteriormente, pois, são os valores das minorias colocados constantemente como ameaça. Tal visão envolve questionar as estruturas de poder e exigir uma mudança de paradigma que coloque a igualdade, a solidariedade e a justiça no centro de nossas aspirações coletivas.

    É fundamental pôr à prova todos os mecanismos que favorecem o surgimento de bordões como: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Esse pensamento faz parte do discurso nacionalista que, muitas vezes, se baseia em ideais de exclusividade e homogeneidade cultural, rejeitando a diversidade étnica, racial, religiosa e de gênero. Isso se traduz em políticas discriminatórias e em uma retórica que perpetua estereótipos prejudiciais e promove a exclusão de grupos marginalizados.

      Além disso, a elite frequentemente monopoliza espaços de tomada de decisão, relegando as vozes das minorias a meros sussurros no coro do poder. Isso cria um ciclo vicioso de exclusão, onde as oportunidades são escassas e o acesso ao progresso é obstaculizado por barreiras invisíveis, mas profundamente arraigadas.

    Portanto, é nítido que por trás das fachadas reluzentes dos centros de poder, a elite se beneficia de sistemas econômicos e políticos que favorecem seus interesses, em detrimento das necessidades e aspirações das minorias. Políticas públicas são moldadas para proteger privilégios já estabelecidos, e isso afunda cada vez mais qualquer noção de progresso equitativo.

 

O impacto de uma estrutura social racista


Na atual sociedade brasileira, decorrente de décadas de exploração pelo colonialismo, a desigualdade social ainda é uma realidade, onde diversos grupos são deixados à margem social. Como dito por Grada Kilomba (2019), estar a margem é fazer parte de um todo, mas não do corpo principal, para os negros principalmente, há uma desumanização e uma marginalização abrangentes, em especial no meio acadêmico.

As cotas raciais são frequentemente questionadas e muitas vezes sofrem com tentativas de extingui-las, pelo medo dos oprimidos terem acesso a locais e vivências que a dominação não quer inclui-los. Mesmo com a permanência das cotas em universidades, raramente se encontram pessoas negras em cargos concursados ou de alta patente, lugares de uma majoritária hegemonia branca. Em situações como essa é possível perceber a forma como a estrutura de uma sociedade impacta de forma individual e pessoal.

Segundo Wright Mills a Imaginação Sociológica permite que se compreenda as relações entre questões públicas estruturais e as perturbações pessoais. O Brasil é portador de um racismo estrutural que impacta cotidianamente a vida de milhares de pessoas negras, tanto no meio acadêmico e administrativo, com as frequentes tentativas de excluí-los para que nada seja questionado, tanto na vida em sociedade, onde é possível analisar as mais variadas situações em que a violência, muitas vezes mortal, contra os negros são propositalmente amenizadas e naturalizadas, como algo comum e justificável.

No texto “Quem pode falar?” de Grada Kilomba (2019) é possível relacionar milhares de situações que outras pessoas negras também vivenciam, onde o racismo, tão naturalizado, oprime esses indivíduos; Wright Mills documentou sua perspectiva em 1965, mas ela é ainda mais atual na contemporaneidade globalizada do que quando foi escrita, já que milhares de indivíduos tem suas vidas pessoais impactadas e perturbadas por questões estruturais de uma sociedade que ainda vive em meio a uma dominação branca.

A lógica positivista na educação infantil

    Quanto se fala em educação infantil é importante entender que as crianças são um grupo que tem seus direitos diariamente negados como também são alvo de violência constante. Há poucos dias o Marco Legal da Primeira Infância completou 8 anos o que significa que a proteção dos direitos das crianças é algo recentemente buscado e lentamente aderido. Dito isso, gostaria de destacar alguns pensamentos e comportamento que, passados de geração em geração, seguem a lógica positivista. 

    Ultimamente tem sido levantada o debate sobre parentalidade, de modo que a chamada educação positiva, termo criado em 1980 para se referir a uma abordagem gentil e com foco na autonomia do indivíduo, se tornou popular nas redes sociais por conta de pais e educadores que se dispunham a ensinar mais sobre isso, porém recebeu críticas fortes de alguns internautas que insistem em reproduzir certos comportamentos violentos que podemos ver no dia a dia contra as crianças.

    Seguindo a lógica positivista na questão da física social podemos dizer que o medo é um instrumento funcional de ensino e construção de comportamento, pois ao se utilizar agressão "necessária" contra uma criança para reprimir um mau comportamento o medo de sofrer novamente a agressão fará com que a ela não o repita, porém dispensa-se a indagação do que acontece depois disso (depois de sofrer a violência constantemente como fica uma pessoa?). A famosa frase dita por muitos pais que defendem a agressão física e verbal contra crianças e adolescentes "apanhei e sobrevivi" (fica o questionamento: o intuito era matar?) se repete muito nas conversas cotidianas e nos comentários virtuais. Nota-se a reprodução de comportamentos violentos sendo parabenizados também, pois isso é o que foi ensinado para a sociedade.

   Segundo Wright Mills: (...) tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua capacidade, estão limitados pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos,; entre outros ambientes movimentam-se como estranhos, e permanecem espectadores.

    As transformações sociais podem assustar e às vezes, como seres humanos, tendemos a nos isolar em nossas cabeças com nossos pré-conceitos, com aquilo que temos familiaridade. A resistência à mudança, à ciência e ao "eu estava errado" assombram a humanidade e nos fazem repetir padrões que, muitas vezes, nem queremos repetir.


Poliana Marinho dos Santos - Noturno - Ra: 211223344


O "buraco é mais em baixo" : "Imaginação sociológica" e racismo

     A "imaginação sociológica" de Wright Mills explica a capacidade de enxergarmos o que está através das atitudes, expressões e dos mais variados fenômenos do cotidiano de cada indivíduo, fundamentada na história social da sociedade. Com base no exercício desse pensamento diversas questões podem ser facilmente relacionadas, como o presente racismo em todo o mundo e a carga histórica que essa questão leva.

    Tomando como referência o Brasil, analisa-se mais de 300 anos de economia ligada ao trabalho escravo de africanos, ao analisar qual era a justificativa dos europeus a essa atrocidade vê-se que muitos aspectos do pensamento perduram até hoje. O negro era visto como um ser "inferior", objetificado, "vagabundo", recebendo assim tratamentos desumanos, cruéis por parte dos portugueses. Infelizmente, a discriminação racial permanece presente até os dias atuais e, levando em conta a "imaginação sociológica", o preconceito enraizado está visível desde as situações mais simples até as mais complexas, ainda que seja crime e que possua a igualdade de todos assegurada perante lei, independentemente de sexo, trabalho, religião, convicções políticas e raça. Expressões comuns do cotidiano como "serviço de preto", "cabelo ruim", "cabelo bombril", entre outras, são todas de cunho racista ao analisar-se a origem e referência dessas, ou seja, o que está por trás delas.

    Recentemente, no dia 17 de fevereiro de 2024, um homem negro foi detido no Rio Grande do Sul após ser agredido por outro homem, branco e que portava uma faca. A polícia, mesmo na presença de testemunhas no local que gravavam a situação e reivindicavam a detenção do homem branco que cometeu a agressão, deixou-o no local e só levou Éverton Guandeli da Silva, o motoboy negro. Caso que exemplifica esse preconceito carregado de muita história e fundido no imaginário de uma sociedade.

    Portanto, observando-se assim a profunda discriminação que assola o cenário Brasileiro e sendo possível analisar o sentido histórico social que essa questão leva com a "imaginação sociológica".


Gabriella Ruiz Pereira - 1 ano direito matutino - RA: 241222346

O conservadorismo e a ciência

 

A era atual caracterizada pelas redes e a globalização, a velocidade com que as informações são propagadas é praticamente imensurável, de modo que o mundo acompanha essa lógica, a maneira que as transformações sociais passaram a refletir essa velocidade. Nesse contexto, houve a ascensão de grupos reacionários, pautados no conservadorismo, que são contrários a diversas mudanças sociais. Por meio de bandeiras com cunho religioso e a favor da família e do “cidadão de bem” buscam guiar a sociedade a retornar a um momento histórico de direitos restritos, subordinação de grupos sociais e repressão.

Sob esse viés, ao perceberem mudanças nos valores sociais e morais, o movimento conservador busca revogá-los a fim de manter os padrões vigentes. Nesse contexto, relaciona-se com a tese de Wright Mills: “Quando as pessoas estimam certos valores e não sentem que sobre eles pesa qualquer ameaça, experimentam o bem-estar. Quando os estimam, mas sentem que estão ameaçados, experimentam uma crise – seja como problema pessoal ou como questão pública. E se todos os seus valores estiverem em jogo, sentem a ameaça total do pânico”. Dessa forma, ao interagir com uma sociedade a qual há constantes mudanças, inclusive de valores, a maneira a qual reagem é de pânico e crise, vistos diversas vezes ao longo da História. É o caso da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrido em resposta a uma suposta ameaça comunista que resultou no Golpe de 64.

Porém, o conservadorismo, ao utilizar-se de bandeiras religiosas e da moral cristã, opõem-se ao debate científico que visa abandonar argumentos relacionados a fé e utilizar fatos racionais. Assim defende René Descartes, ao dissertar que a partir da razão, o método científico busca superar superstições e o senso comum.

Portanto, o movimento conservador surge em resposta a mudanças sociais – cada vez mais frequentes- de maneira que age baseado no moralismo, em contraposição a ciência que busca se utilizar da razão, a fim de concretizar sua visão sobre a sociedade ao perceberem ameaças aos seus valores, experimentando crises e até mesmo pânico. Essa interação complexa entre mudança e conservadorismo urge uma relação mais equilibrada entre tradição e progresso para uma sociedade mais harmoniosa.

Laura Prado de Souza - Direito matutino 1º ano - RA: 241223199

O Ser infalível

 

Nunca se teve tantas dúvidas como os dias de hoje. Há um relativismo geral (ou mesmo “absoluto”) em que todo conhecimento se torna contestável, até mesmo a tão aclamada “verdade”, se é que realmente existe a verdade absoluta. Nos tempos modernos, os quais estamos presenciando o desenvolvimento de novos e diversos tipos de conhecimento e nas mais variadas áreas, ainda é uma grande dúvida – há verdadeiramente algum conhecimento infalível? – que permeia os campos da metafísica, da ontologia, da lógica e até mesmo da teologia.

Em Novum Organum, Francis Bacon, afirma que o verdadeiro conhecimento é aquele experimentado pelos sentidos, ou seja, o conhecimento firmado no “mundo sensível” (uma referência ao pensamento platônico). Mas até mesmo os sentidos podem falhar e consequentemente o conhecimento adquirido por esse meio também se tornará inválido/falível. Por exemplo, há um fenômeno físico (óptico) chamado “fata morgana” em que é criada uma imagem que está aparentemente voando sobre a superfície, porém é apenas um desvio dos raios de luz. Mas ao se deparar com uma situação dessa todos questionariam se é verdade ou não, mesmo estando vendo com os próprios olhos.

René Descartes possui sua célebre máxima – “penso, logo existo” – que é um postulado, no sentido de que é uma “certeza” que não carece de demonstração. Nos seus discursos, o filósofo discorre que sua existência não é baseada apenas em seu pensamento, devido ao fato que até mesmo os pensamentos são falíveis e uma verdade absoluta, que é a razão da existência, deve ser infalível. Assim, Descartes buscou uma explicação maior, algo/alguém que está a cima de toda imperfeição, denominado Deus.

Seria um julgamento parcial afirmar que essa perfeição seria um Ser que pertence a determinada religião. A ideia concebida do Ser infalível é pertinente e dá razão a toda existência, seja no “mundo sensível ou inteligível, devido ao fato de que este está num patamar incompreensível no nosso intelecto falível, justamente porque Ele é infalível. O “Arquiteto do Universo”, assim por dizer, não pode ser explicado por demonstrações, mas sim, sua existência é uma verdade absoluta. Ademais, o universo possui leis – como da física, por exemplo – leis não são criadas a partir do nada, elas precisam de um Criador/Legislador.

Ordem e Progresso

 

“Ordem e progresso”. O lema da tradicional bandeira brasileira remete aos ideais da corrente filosófica conhecida como positivismo, sendo Augusto Comte o criador dessa linha de pensamento. Apesar de sua criação ter se dado na França, essa teoria acabaria por se impregnar na história brasileira até os dias de hoje, seja de maneira direta ou indireta, acabando por ter parte de suas ideias perpetuadas por ideologias conservadoras do século XXI.

A sociologia, de acordo com Comte, seria uma “Física Social”, isto é, uma área do conhecimento que visa compreender a humanidade e as suas relações através de noções pontuais, sem muita interpretação. Diante disso, da mesma maneira que há leis inalteráveis no ramo das ciências exatas, elas também existem nas estruturas sociais, uma vez que é entendido que a existência da sociedade é pautada em fatores que servem como alicerce para o seu funcionamento.      

Apesar de parecer cabível em primeiro momento, a teoria começa a ser distorcida a partir do instante em que a família e a estrutura de classes passam a ser tidos como fundamentais para a existência da sociedade e, portanto, torna-se  essencial a manutenção e a proteção desses elementos. Com isso, surgem, ao redor do mundo, interpretações que defendem um certo modelo de família e que repudiam qualquer união que não seja heterossexual, junto de visões preconceituosas sustentadas pela noção de “lugar na sociedade”.

No que diz respeito ao Brasil, o positivismo, em primeiro momento, pode ser considerado progressista, em certa medida. A influência dessa corrente filosófica viria a se expressar, principalmente, na ideologia militar, havendo a defesa de ideais de “evolução social” através dos avanços científicos e tecnológicos, de modo que o período brasileiro conhecido como República da Espada (1889-1894) – momento em que Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram presidentes - defenderia a implantação da indústria no Brasil, que, na época, seria o ápice dessa evolução.

Já em segundo momento, saltando para o Golpe Militar de 1964, fica evidente que o positivismo é utilizado para a construção de uma ideologia conservadora. Através da distorção dessa filosofia francesa, há a construção de uma mentalidade que utiliza do nacionalismo como ferramenta, explorando a ideia de bem comum. Por meio desse discurso, é entendido que, para o bem do povo brasileiro, a intervenção militar se tem como necessária, uma vez que há, juntamente, a luta contra uma “ameaça comunista” de João Goulart. “Perigo” esse que é considerado um comportamento subversivo, visto que teria como fundamento a extinção das diferenças entre classes, contrariando uma das "leis fundamentais" para o funcionamento da sociedade.

Por fim, nos dias de hoje, com a eleição de Jair Bolsonaro no ano de 2018 e com a expansão do discurso de extrema direita, fica evidente que houve a perpetuação do mesmo pensamento que existia há 60 anos. Através de discursos de “família tradicional” e de contestação às cotas, fica claro que ainda existe o medo quanto à quebra das “leis universais da humanidade”, havendo, desse modo, a influência da corrente de Augusto Comte, mesmo que seja de maneira indireta.       

Diante disso, infere-se que o positivismo no Brasil acabou por se afastar de sua essência de avanços científicos e tecnológicos e acabou por se tornar um caminho para atitudes antidemocráticas, seja em 1964, seja nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023. Mesmo com as décadas de diferença, vê-se a mesma fórmula de construções no imaginário popular, que acaba por sempre ser utilizada como ferramenta enquanto os controlados acreditam estar contribuindo para a “Ordem” e o “Progresso”.                                                            

Augusto Ferreira Viaro - 1º ano de direito (matutino) / RA: 241224268

A negação do pensamento sociológico

    De acordo com C. Wright Mills, em seu livro “A imaginação sociológica”, a visão de mundo de um homem é intrincada às suas experiências pessoais, às pessoas com as quais se relaciona, ao meio e ao contexto histórico em que vive e à toda sua órbita privada em geral. Seguindo a lógica de Mills, o homem primeiramente pensa como indivíduo com valores, interesses e perturbações próprias, para depois aprender a pensar coletivamente — ou sociologicamente —, deixando ao máximo suas convicções de lado para analisar e tentar compreender o mundo e suas transformações — já que tais transformações influenciam direta ou indiretamente a vida de todos os seres humanos.

    Entretanto, nem todos são capazes de entender as complexidades da humanidade, ou sequer tentam o fazer, preferindo permanecer com as suas próprias percepções da realidade, como se elas fossem verdades absolutas e imutáveis. Muitas vezes essa relutância em aceitar a realidade é baseada em preconceitos ou no medo de reconhecer que a sociedade vive em constante mudança. Isso torna-se um problema ainda maior quando as pessoas que resistem em compreender as transformações públicas estão em cargos políticos — ou em qualquer cargo em que se tenha alguma influência direta na humanidade —, tendo como exemplo a aprovação por voto majoritário pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família do Projeto de Lei 5167/09, que proíbe a equiparação de relações homoafetivas ao casamento ou a entidade familiar, que ocorreu no dia 19 de setembro de 2023. Nesse cenário, o deputado federal Pastor Eurico (PL-PE) criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que validou a união homoafetiva e declarou que o casamento tem a reprodução como finalidade, o que exclui a união entre pessoas do mesmo sexo, tratando-a como ilegítima.

    Portanto, pode-se perceber como a negação do pensamento sociológico é nociva à humanidade, principalmente quando é combinada com o poder de interferir nas decisões políticas, podendo ocorrer um regresso significativo no que diz respeito às questões sociais, dando força às ideias preconceituosas presentes em parte da sociedade.


Isadora Carreira Arantes Carvalho - Direito matutino 1º ano - RA: 241220106

Racismo no ambiente universitário: O sinônimo de hipocrisia

 A aprovação da Lei de Cotas em 2012 no Brasil representou um marco importante na luta contra o racismo estrutural, reservando 50% das vagas nas universidades e institutos federais para pessoas PPI (preto, pardo e indígena) que cursaram o ensino médio público. No entanto, mesmo em um ambiente acadêmico onde se espera que o conhecimento e a razão prevaleçam, o racismo continua presente. Essa persistência do preconceito destaca a complexidade do desafio de promover a inclusão étnica e a necessidade urgente de conscientização e ações concretas para garantir um ambiente acadêmico verdadeiramente inclusivo e respeitoso para todos.

 Para entender a complexidade do problema e como ele se manifesta no ambiente acadêmico, faremos uso de um conceito de Francis Bacon. A Antecipação da Mente define-se como a tendência de um indivíduo interpretar o mundo de acordo com seus valores, vivências e preconceitos. Em outras palavras, um indivíduo com preconceitos raciais pode antecipar que uma pessoa de determinada etnia seja incompetente, inferior ou até mesmo perigosa para frequentar um ambiente de prestígio como uma universidade. Essa tendência de antecipação influencia diretamente a percepção e o tratamento de indivíduos pertencentes a grupos étnicos minoritários, perpetuando a exclusão e a marginalização no meio acadêmico.

 A autora de "Memórias da Plantação", Grada Kilomba, vivenciou diversas situações racistas descritas em seu livro, desde as dificuldades de realizar a matrícula até as dúvidas sobre sua legitimidade como aluna da Universidade de Berlim. Essas experiências reais ilustram vividamente como o racismo persiste no ambiente acadêmico, que apesar da evolução no conhecimento científico em geral, os grupos étnicos minoritários sempre serão vistos da mesma forma. É evidente que o academicismo muitas vezes se mostra dominante, suprimindo não apenas as vozes dos marginalizados, mas também suas ideias, experiências e valores.

 Portanto, o mundo acadêmico revela-se como hipócrita, não cumprindo seu dever de seguir pelo conhecimento e pela razão, tornando um ambiente que era para ser inclusivo e respeitoso em um lugar exclusivo e hostil. A persistência do racismo no meio acadêmico é um lembrete contínuo da necessidade urgente de enfrentar essas questões de frente e trabalhar ativamente para promover uma cultura de inclusão e equidade em todas as instituições de ensino superior.

Ciência: um processo de adesão linear.

Tomando os séculos renascentistas como base, quando o conhecimento tomava rumo à razão e menos à teologia, tinha-se como tendência uma fortificação cada vez maior da ciência e do método. No entanto, é triste de se ver que, hoje, há tanto empenho por parte da sociedade não só brasileira, mas mundial, em sucatear e desmistificar a ciência e o conhecimento com fundamento.

Nesse sentido, sob a ótica de C. Wright Mills, a imaginação sociológica, isto é, a capacidade de ver as relações entre a vida pessoal e social de uma forma mais ampla e profunda, é essencial para o entendimento de cada indivíduo sobre sua própria existência. Entretanto, tal capacidade é muitas vezes negligenciada pelo corpo social e acontecimentos que são parte de um padrão são, muitas vezes, vistos como casos particulares. Um exemplo disso é o aumento dos quadros de transtornos mentais e, sobretudo, de óbitos por lesões autoprovocadas no Brasil, que, segundo o jornal da USP, duplicaram nos últimos 20 anos. Tal aumento é muitas vezes visto como uma particularidade de cada indivíduo ao invés de se considerar o impacto dos problemas sociais, ambientais e econômicos que acometem a sociedade nesse período, como a desigualdade social, aquecimento global e pandemia, por exemplo.

Assim, com essa desassociação da imaginação sociológica, vê-se que o pensamento crítico e metódico também é afetado na atualidade, em que, com a midiatização do conhecimento, a verdade fica, muitas vezes, perdida em meio a notícias falsas e discursos de ódio, que baseiam muitas teorias da conspiração. Dessa forma, a defesa de Descartes a favor do questionamento de tudo cai em desuso quando põe-se em destaque os movimentos terraplanista e anti-vacina, que tomaram força nos últimos anos.

Logo, pode-se dizer que a tendência científica que se estabeleceu no Renascentismo não foi um processo linear, contando com avanços e retrocessos, como os exemplos supracitados. Portanto, o empenho em prol da razão não deve cessar, mesmo que não haja um único caminho, seja pela imaginação sociológica de Mills, seja pelo método de Descartes e muitos outros.

Raquel Freitas Colaço - Direito Noturno. RA: 241223253.

Nego, logo existo.

   No cenário pandêmico e pós-pandêmico, notou-se como o negacionismo proliferou-se tanto no âmbito político como no que tange à saúde pública. Infelizmente, a relação entre esses dois conceitos foi extremamente corrosiva para a sociedade brasileira, devido a grandes figuras públicas do cenário político do país não hesitarem em espalhar desinformação acerca do Covid-19. Assim, vê-se como a sociedade abandona o método científico e opta por tomar suas decisões baseando-se apenas em opiniões e crenças populares; a pergunta que fica é: por quê?

  Sabe-se que, num cenário de desigualdade politica e social, nem toda a sociedade tem acesso à informação. Entretanto, é interessante e entristecedora a maneira que a parcela social que tem acesso ao conhecimento escolhe renegá-lo. O sociólogo Charles Mills descreve o conceito de imaginação sociológica que, para o autor, seria a maneira do indivíduo entender-se olhando a partir de um ponto de vista externo. Ao trazer esse conceito para o contexto negacionista atual, fica perceptível como a sociedade brasileira continua a desacreditar na ciência, mesmo com sua constante evolução.

  Somado a isso, contrapõe-se à óptica de Renè Descartes, que acreditava na metodologia científica para alcançar-se a razão. Atualmente, pode-se observar na sociedade o quanto as pessoas buscam acreditar no que é confortável para elas; como observou-se o ex-presidente Jair Bolsonaro defendendo diversos medicamentos não eficazes contra o vírus causador da pandemia, e, consequentemente, diversas pessoas aderindo aos conselhos do político. As pessoas tentam ao máximo continuar acreditando no que é preferível a elas, negando, assim, o que bem querem.

  Dessa maneira, nota-se como a imaginação sociológica de C. Wright Mills encaixa-se na sociedade negacionista atual: “Quando os estimam [certos valores] mas sentem que estão ameaçados, experimentam uma crise[…]. E, se todos os seus valores estiverem em jogo, sentem a ameaça total do pânico.” Portanto, a sociedade tende a negar o conhecimento que a é ofertado, contrariando o método científico de Renè Descartes e não exercitando a imaginação sociológica de Charles Wright Mills, apenas nega.


Maria Paula Gutierres Bouças  1° ano noturno   RA 241222443


Racismo na contemporaneidade, a partir da visão de Grada Kilomba, justificado com base no Positivismo

  Na contemporaneidade, a sociedade ainda é marcada por diversas desigualdades, uma vez que o preconceito enraizado no corpo social marginaliza grupos denominados como minorias, mesmo que numericamente não representem a menor parte. Um exemplo muito claro disso recai sobre a população negra, a qual sofre incansavelmente com o racismo explícito ou implícito proferido pela porção branca. Sob esse viés, é necessário refletir sobre como a escravidão foi operada no Brasil, último país a aboli-la na América e que não praticou uma reinserção dos negros nos principais setores sociais, os deixando a margem desde então. 

  No contexto atual, no qual discursos de ódio são propagados publicamente e não há uma punição efetiva, foi normalizado exprimir injúrias raciais com o pretexto de ser uma opinião. Para exemplificar, no texto “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidianos”, de Grada Kilomba, é destacado como o racismo afeta o meio acadêmico. Desse modo, a autora do texto reforça que conhecimentos advindos da população negra são vistos como menos credíveis. Além disso, também é assegurado que seus trabalhos são marcados por pessoalidade e subjetividade, porém nunca reconhecidos como científicos. Logo, essa falta de credibilidade faz com que os negros não sejam incluídos no meio acadêmico, ficando com o sentimento de não pertencimento a esse setor.

  Ademais, é imprescindível evidenciar o conceito de “imaginação sociológica”, exposto por Wright Mills, o qual diz respeito ao fato de que um evento individual muitas vezes faz parte de um coletivo. O racismo não tem como objetivo excluir uma pessoa, mas sim o grupo todo. Por exemplo, as experiências de Grada não são intrínsecas à ela, mas sim a quase totalidade da população negra. Como justificativa, esses julgamentos muitas vezes usam como base o positivismo, corrente filosófica que preza pela ordem. Ao defender que a sociedade precisa ser ordenada, os positivistas condenam qualquer tipo de equidade, já que defendem a hegemonia branca e recusam a perda de privilégios desse grupo. Dessa forma, o racismo, juntamente com outras discriminações, é legitimado e não há uma busca pela extinção desses. 

  Portanto, é necessário trazer cada vez mais voz a pessoas negras para que esse contexto consiga ser mudado. No meio acadêmico é de extrema importância aumentar o reconhecimento desse grupo, para buscar uma sociedade mais igualitária. 

 

Positivismo ao longo dos séculos


O positivismo, corrente filosófica originada na França no início do século XIX, derivada do iluminismo, baseia-se na ideia em que a verdade está no conhecimento cientifico, tendo como seu principal objetivo o progresso social.  Augusto Comte, pensador francês considerado o pai dessa filosofia, afirmava que a ideia de felicidade está associada ao bem público e que a humanidade está superior ao homem, sendo necessário priorizar o total ao indivíduo. Em um primeiro momento, essa teoria foi altamente prestigiada e nações ao redor do mundo ocidental. Porém, ao longo dos séculos XIX e XX, o positivismo foi revelando-se problemático e tornou-se, em conjunto com o darwinismo social, o centro de algumas das piores atrocidades realizadas pela humanidade. Um exemplo dessa conjuntura é o Nazismo, movimento de extrema direita alemão que, ao se esconder atrás do teor progressista do positivismo, assassinou milhões de pessoas. Esse genocídio foi motivado pela ideia do desenvolvimento da nação perfeita e do progresso da humanidade, o que exigiria a extinção de qualquer pessoa não considerada da “raça ideal”.  Nessa perspectiva, foram diversos os atos desumanos que foram justificadas pelas morais positivistas como necessários para o desenvolvimento da sociedade como um todo, ignorando os danos e crimes realizados aos indivíduos.

No Brasil, o positivismo também foi altamente incorporado, como pode-se observar no lema da bandeira brasileira “ordem e progresso” que sintetiza os principais valores dessa corrente. Nos dias atuais, apesar de assumir um formato ligeiramente diferente, o positivismo ainda está muito presente na sociedade brasileira. Discursos como o da meritocracia, “bandido bom é bandido morto” e “ Brasil acimas de todos e Deus acima de tudo” ecoam os discursos usados no século passado para justificar ódio e racismo, ambos profundamente estruturados.

               Dessarte, é eminente atentar-se aos perigos do Positivismo que apesar de ser embrulhado em uma pílula dourada de crescimento social, tem o gosto amargo de opressão das minorias, dispersão de preconceitos, e uma sociedade estamental.


Beatriz Innocentini Margiotti - direito diurno

 A crise da sociedade contemporânea

A propagação alarmante de fake news, o questionamento da eficácia da vacina, a intensificação das crenças baseadas em senso comum são apenas alguns dos exemplos que caracterizam a crise enfrentada pela sociedade contemporânea. Tal crise originou-se (ou se agravou) nas profundas alterações ocorridas no último século, com o advento da tecnologia e assim, com a velocidade das mudanças e com a constante onda de informações recebidas. Em resultado disso, houve um enfraquecimento dos valores até então vigentes.

Sob essa perspectiva, segundo o sociólogo Wright Mills:"a informação lhes domina com frequência a atenção e esmaga a capacidade de assimilá-la", ou seja, devido a ausência de assimilação das notícias as pessoas reproduzem o que escutam sem duvidarem antes de sua veracidade e em alguns casos, elas negam as verdades comprovadas pela ciência. A ideia do autor se aplica na realidade, uma vez que no contexto da pandemia de covid-19, o uso de cloroquina foi amplamente utilizado mesmo não tendo nenhuma comprovação científica de sua eficácia para o tratamento. 

Com isso, é evidente que nos dias atuais, o uso da razão foi colocado em segundo plano. Nesse sentido, é necessário resgatar as premissas do filósofo racionalista Descartes, o qual desenvolveu um método científico baseado no princípio da dúvida, isto é, primeiramente o indivíduo duvida de tudo e em seguida ele deve buscar verdades que se bastam em si. Dessa forma, a sociedade ficará apta a assimilar as informações e superar a crise desencadeada. 


Sabrina Sanches - 1º ano noturno

Imaginando e pensando o Brasil do século XXI a partir de Wright Mills e Grada Kilomba

 

A imaginação sociológica proposta pelo sociólogo Wright Mills estabelece que para entender a sociedade do recorte temporal em que está inserido, o indivíduo precisa estar entre o coletivo, de maneira a criar um pensamento coletivo. Dessa maneira, há uma diferença entre o pensamento individual e o pensamento coletivo, sendo o primeiro chamado por Mills de “perturbações pessoais” e o segundo de “questões públicas”.

As perturbações pessoais, segundo Mills, C. Wright (1965, p.14) “ocorrem dentro do caráter do indivíduo e dentro do âmbito de suas relações imediatas com os outros; estão relacionadas com o seu eu e com as áreas limitadas da vida social, de que ele tem consciência direta e pessoal”. Ou seja, dizem parte aos valores individuais e que são insuficientes para entender uma sociedade de maneira científica. Já as questões públicas, dizem respeito as preocupações que interferem no coletivo. Atualmente, os valores coletivos no Brasil são de ordem conservadora, e quando esses valores são atacados, Mills diz que se experimenta uma crise, e se todos os valores estiverem sendo atacados, sente-se a ameaça total do pânico.

Dito isso, percebe-se que existe uma interferência das questões públicas sobre as perturbações sociais.  Quando esses valores que passam a ser também pessoais, sentem a mudança que ocorre naturalmente na sociedade, cria-se uma noção de colapso dos valores tradicionais e comentários como do Nelson Mesquita: “Tenho 48 anos, ai que saudade do tempo que as meninas usavam vestido e laço no cabelo. (...) Saudade de cantar o hino nacional uma vez por semana na escola, saudade também das aulas de moral e cívica”.  Esse tipo de comentário expressa a realidade de uma sociedade que é bombardeada de informações -retrógradas na maioria delas- e que não consegue ter a capacidade de desenvolver um senso crítico sobre políticas que são conservadoras, machistas e positivistas. Sobre isso, Mills, C. Wright (1965) havia previsto no seu escrito: “Não é apenas de informação que precisam - nesta Idade do fato, a informação lhes domina com a frequência a atenção e esmaga a capacidade de assimilá-la e digeri-la”

Por outro lado, Grada Kilomba em seu livro “Memórias da plantação: episódios de um racismo cotidiano” traz a ideia de fazer ciência a partir das experiências individuais, priorizando mais o individuo e menos o coletivo. Esse escrito é usado no contexto de luta para conquistar espaço na ciência atual, que põe a margem cientistas negros e prioriza a ciência branca, europeia, do centro. Porém também pode ser pensado como uma forma de ciência alternativa para todos, tendo em vista democratizar o conhecimento e mitigar episódios como o do Nelson Mesquita, que representa a visão de boa parte da população brasileira.

 

Um por todos, todos por um.

           1698,1796,1969. O que essas datas têm em comum? Esses anos foram marcados por grandiosas descobertas científicas, sejam elas a criação da primeira máquina a vapor, da primeira vacina e da primeira viagem do homem à lua, respectivamente.

         Nesse sentido, a ciência moderna, responsável por inúmeras contribuições tecnológicas, foi discutida, primordialmente, pelos filósofos empíricos como René Descartes e Francis Bacon, os quais, futuramente, tornar-se-iam os grandes cientistas modernos. Logo, propondo um método científico baseado na razão empírica e, fundamentalmente, experimental e observatória, esses autores determinaram uma nova face da ciência. A ciência da razão.

         A partir desse cenário, a razão, como fundamento principal para o conhecimento, passou a ser cada vez mais valorizada pelas pessoas. No entanto, vale ressaltar que essa tão apreciada racionalidade se subdivide em duas: a razão pública e a razão privada. Com isso, tendo como base o pensamento de Charles W. Mills, no qual há a defesa da ideia de que o todo interfere o individual, é necessária a atenção no que tange à transição da razão privada para a pública e vice-versa.

        Nessa perspectiva, muitas vezes na história houve essa mudança, na qual um pensamento individual tornou-se público e coletivo. À guisa de exemplo, há os famosos regimes autoritários que vigoraram durante o século XX. Nesses governos, a razão privada de um indivíduo, ressignificou-se para a razão pública, ganhando milhões de adeptos a determinada ideologia. Dessa forma, nota-se a linha tênue entre essa transição, a qual pode acarretar a danos seríssimos à sociedade, principalmente quando essa razão traz consigo o ódio e o repúdio às minorias sociais.

         Nesse contexto, é cada vez mais comum situações e atos racistas, homofóbicos, machistas, aporofóbicos, antissemitas, entre outros, permeando a sociedade e sendo cada vez menos discutidos, reforçando, exponencialmente, um sistema de dominação e opressão. Com essa prática, o “um” passa a representar “todos” e “todos” passam a ser representados por “um”.

Maria Clara Cossentini Campos, 1º ano Direito, Noturno. RA: 241223377