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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Elucidativo do séc XXI

No século XIX temos a formação da sociedade industrial da época, criticada fortemente por Marx pela formação de uma nova ordem social que menospreza a dignidade humana que é intrínseca a todo ser humano.

Para Marx, a mudança deve ocorrer de forma radical para que essa sociedade acabe e surja algo melhor.  Através do socialismo científico, ele aponta como funciona a sociedade capitalista e quais são as leis que regem as relações sociais, tendo base para agir sobre a sociedade do capital e onde deve ser mudada para que haja a transformação.

A sua base vem de Hegel, verificando através da sua história determinista, mas mudando a ordem de sua filosofia: Não é a consciência que cria o nosso ser histórico e define o nosso modo de viver, mas sim, é o modo de viver no mundo que cria a consciência, sendo a matéria que cria a ideia. Sendo assim, a realidade é o processo dialético. E o mesmo é definido pela luta de classes, que move a história que é baseada pelo determinismo econômico.

Marx trás um ponto favorecido a Adam Smith, quando o mesmo diz que a especialização forma uma classe social, já que em uma sociedade capitalista, nós buscamos a capacitação através da especialização para o mercado de trabalho, satisfazendo os nossos interesses e ofertando nossos serviços ou produtos. Segundo Marx, quando nos especializamos, encontramos outras pessoas que se reconhecem como semelhantes por conta do mesmo modo de se apresentar ao mercado, compartilhando por fim, os mesmos interesses até mesmo conflitantes, formando as outras classes sociais.  Esses interesses conflitantes se tornam o motor para a mudança social.

Há duas classes sociais em conflito: a do proletariado (classe dominada) e a classe dos burgueses (dominadora).

Esse conflito entre essas duas classes nos mostra como os valores burgueses influenciam e unem as pessoas por interesses próprios. Quando chegamos a um ponto de que o mercado define o valor que possuímos, a dignidade do individuo e da classe trabalhadora – sem ter o material para a troca – acaba delimitando a sociedade no seu campo econômico e ideológico que se submete ao acúmulo e é sustentado pelo trabalho individual do enriquecimento - ou não - do individuo, partindo da ideologia do mérito pessoal.

Vemos hoje, uma linha de coachs com promessas rasas que exemplificam perfeitamente o campo ideológico do individuo. O coach é o profissional que ajuda uma pessoa, por meio de orientação, conselhos e treinamento a atingir um objetivo pessoal ou profissional. É esta necessidade de sempre buscar algo e ser útil para conseguir se integrar e garantir uma saúde mental estável, pois você está simplesmente produzindo. A obra Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, trás outros conceitos: “O velho limite sagrado entre o horário de trabalho e o tempo pessoal desapareceu. Estamos permanentemente disponíveis, sempre no posto de trabalho”.

“As desigualdades sempre existiram, mas de vários séculos para cá se acreditou que a educação podia restabelecer a igualdade de oportunidades. Agora, 51% dos jovens diplomados estão desempregados e aqueles que têm trabalho têm empregos muito abaixo das suas qualificações. As grandes mudanças na história nunca vieram dos pobres, mas da frustração das pessoas com grandes expectativas que nunca se cumpriram”.

O séc XXI é auto-explicativo para o materialismo de Marx. Nunca foi utópico, sempre foi fato.

Turma XXXVIII - Matutino

Érica Caroline Olivio

A uberização e a nova divisão do trabalho.

    Quando Marx e Adam Smith pensam a divisão do trabalho, eles a pensam com formas fixas. Porém, ao se ler Sennet, se percebe que as sociedades do século XXI tendem a não mais estratificar essa divisão como uma forma piramidal (como o próprio Sennet descreve), mas sim como uma complexa cadeia de arquipélagos, que estão prestes a se dissolver a todo momento. Pensando isso na atualidade brasileira, se percebe que políticas públicas são feitas a favor dessa estratificação liquida (como no caso da reforma da previdência), e, além disso, que as empresas tendem cada vez mais a utilizar esse método como padrão de suas instituições. Isso se tornou um grande problema na atualidade, visto que trabalhadores possuem cada vez menos vínculos reais com seus empregadores, gerando grande insegurança a eles.

    Porém, ao se pensar nas décadas de 2010 e 2020, tendo como base o pensamento de Sennet, se percebe que esses vínculos se tornaram ainda mais precários. A uberização do trabalho vem tomando conta de diversos ramos de produção. Mas qual o problema nisso? Bem, isso é uma questão deveras simples de ser entendida, porém extremamente complexa de ser resolvida. O trabalhador do mundo atual, diferente do que Sennet descreve em seu livro, possui ainda menos vinculo com seu empregador, sem nenhum tipo de contrato ou sequer conhecer uma pessoa física que represente a empresa, sendo dado a ele a responsabilidade de ser seu próprio "empresário". Isso gera uma extrema insegurança a esse operário, pois ele não possui nenhum tipo de direito, e em casos de doença ou acidente durante o seu "horário de serviço" ele mesmo deve arcar com os custos, mesmo sendo impossibilitado de trabalhar.  E por que isso é algo ruim? Porque são esses trabalhadores que geram lucros exorbitantes para essas empresas que eles mal possuem vinculo, porque essas empresas se aproveitam de suas vontades ou necessidades para gerar renda. O trabalhador do mundo atual é obrigado a contratar essas empresas para prestarem o seus serviços. A empresa nada mais fez do que "alugar" seus meios tecnológicos para essas pessoas, e mesmo assim, quem sai com os maiores lucros não são os que de fato trabalham, mas sim os que alugaram um aparato tecnológico (que custa muito menos do que é cobrado desses trabalhadores) para um trabalhador que necessita de ganhar dinheiro para seu próprio sustento. 

    O mundo atual é o mundo onde trabalhadores precisam pagar para trabalharem. É difícil entender onde essas pessoas se encaixam em uma  divisão de trabalho concreta, elas pagam pra conseguir trabalhar e não possuem patrões ou subalternos, são na verdade falsos burgueses, "donos" dos seus meios de produção, mas que na verdade são empregados de uma empresa. É uma relação bem mais complexa do que uma divisão de trabalho totalmente hierarquizada.






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Apontamentos sobre um poema Drummondiano

 Carta a Stalingrado

[...] Os telegramas cantam um mundo novo 

que nós na escuridão, ignorávamos. 

Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída, 

na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas, 

no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas, 

na tua fria vontade de resistir. 

 

Saber que resistes. 

Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes. 

Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome 

(em ouro oculto) estará firme no alto da página. 

 

Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena. 

Saber que vigias, Stalingrado, 

sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes 

dá um enorme alento à alma desesperada 

e ao coração que duvida. 

[...]

Carlos Drummond de Andrade

Os anos de 1939 a 1945 foram palco da Segunda Guerra Mundial, evento catastrófico que inaugurou novas visões sobre as relações de trabalho e a exploração do homem no capitalismo. Embora existisse um consenso sobre o combate ao fascismo dentre os países Aliados, sobretudo na Inglaterra, os britânicos começaram a notar a contradição interna dos governantes, que recrutavam a classe trabalhadora para os campos de batalha, ao mesmo tempo que colocavam dinheiro nas mãos da classe dominante: a própria guerra virou um meio de obter lucro para alguns, enquanto era motivo de “morrer pelo país” para outros. Somado a isso, as condições de trabalho durante esse período foram absurdamente precarizadas, devido à negligência quanto a esse assunto daqueles que depositavam seu interesse apenas na guerra. O resultado desse cenário foi a eclosão de greves no país contra a situação instável dos trabalhadores.

Concomitantemente, a União Soviética atravessava uma experiência socialista e, junto com os Aliados, desempenhou um dos papéis mais importantes na derrota contra o fascismo alemão. Após ser invadida pelos nazistas, que tinham como um dos objetivos extinguir a “ameaça comunista”, a URSS acabou por derrotá-los de maneira histórica, em uma conquista fundamental para toda a ordem mundial. Com isso, é possível entender que o esforço de guerra depende, em grande parte, da motivação para ela. Embora todos os países Aliados se sentissem ameaçados pelo Eixo, o desvio do objetivo essencial -combater o fascismo- em prol do lucro gerou uma grande instabilidade interna. De maneira oposta, o esforço conjunto em combater uma ameaça pessoal a uma ideologia política foi motivo para um combate, apesar de estrategicamente defeituoso, eficiente. Por fim, coube ao resto do mundo capitalista reverenciar o governo socialista soviético, que, apesar das perdas irreversíveis, eliminou uma das maiores ameaças globais à política moderna.

As inquietações da guerra geram muita perplexidade na humanidade, muitas vezes resultando em uma interpretação abstrata dela pela arte. Carlos Drummond de Andrade, em sua poesia, mostra a mescla dessa inquietação com a razão dos conflitos e os resultados dele. Tal é a realidade: é difícil analisar os fenômenos sociais enquanto acontecem, mas necessário senti-los; dessa forma, o poeta combina a materialidade dos fatos com a sentimentalidade que eles despertaram.

Ana Clara Alves Gasparotto - 1º semestre - Direito Matutino

A importância da leitura dos fatos através do materialismo histórico dialético de Karl Marx

 O materialismo histórico dialético é nada menos do que o modo como Marx percebe a realidade. Tecnicamente falando, é um método científico que defende que o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos tanto modelam animais irracionais e racionais, sua sociedade e cultura quanto são modelados por eles, ou seja, que a matéria está em uma relação dialética com o psicológico e o social.


Esse método, utilizado por Marx durante toda a construção de suas teses, análises e teorias é um caminho revolucionário para a leitura do mundo e seus fenômenos das mais variadas naturezas, incluindo os sociais. Baseado na dialética hegelliana, porém sendo uma antítese dessa, este método implica na indissociação de fenômenos que muitas vezes são ignorados ou, até mesmo, negligenciados na percepção dos fatos sociais.


A percepção materialista histórica e dialética permite uma inflexão sobre os fatos que constantemente acrescenta elementos a esse movimento dialético. No entanto, o elemento fundamental nesse movimento é a história. A percepção sobre "o que é história" para Marx diferencia todo caminho a ser seguido trazendo uma análise muito mais fidedigna da realidade dos fatos, uma vez que esses são produto dela. A concepção e a relação de superestrutura e infraestrutura estão diretamente ligadas, ou melhor, são resultado dela. Uma vez que o mundo material (infraestrutura) determina o ideal (superestrutura) através da própria produção da história: realizações doz homens, de carne e osso (ou seja, material), lutando na sua própria sobrevivência em seus meios materiais.


Essa percepção da história e sua posição enquanto protagonista da realidade é essencial na leitura do mundo. Além de revelar o homem como sujeito responsável pelos fenômenos sociais que ele mesmo provoca, aponta sujeitos de responsabilidade e o peso das ações. As leituras que ignoram esses pontos apenas reproduzem lógicas subversivas e a manutenção de uma superestrutura desgastada e opressora.


Marcella Peixoto, 1° ano - noturno 

OS MATERIALISTAS CIENTÍFICOS - KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS 

 A práxis marxista e Patch Adams (médico retratado no filme de

mesmo nome); 

 Uma interpretação materialista de uma realidade etérea.


 A práxis e Patch Adams: 

Começando não pelo começo, mas fazendo um novo começo, inauguro o

trabalho falando do aspecto que mais me chama atenção da teoria marxista ao lado

do conceito de alienação: A práxis. Trata-se de uma intersecção entre a teoria e a

prática, onde uma aperfeiçoa a outra. Através da práxis é possível realizar a

mudança de uma dada realidade.  No filme Patch Adams que retrata a história real

de um homem de meia idade que resolve ir à universidade estudar medicina. Lá

decide que a forma de ensinar medicina não e adequada e com a ajuda de outros

colegas confronta o ensino da faculdade criando um serviço de

atendimento baseado na “empatia” com o paciente, junto a isso aprimora seus

conhecimentos exercendo na prática, a teoria que aprende de forma síncrona.

Quando se lê sobre a práxis marxista, parece adequada a lembrança do filme e o

trabalho do estudante de medicina Patch Adams! Se pensarmos é muito mais

eficiente aprender a teoria com a prática concomitantes, por exemplo, imaginem

aprender jogar voleibol ou futebol, primeiro na teoria e, depois, quando você souber

a teoria vai ter contato direto com o jogo, o Campo/quadra e os parceiros de

time? As pessoas iriam vão dizer, que ridículo, não faz nenhum sentido! Pois é, não

faz mesmo, nenhum sentido. Ou pelo menos não é a melhor forma de aprender a

jogar voleibol ou futebol, sendo que jogando é que aprendemos mesmo a jogar. No

conceito de práxis, a teoria se fundamenta na prática. 

Introdução 

Karl Marx  

Karl Marx nasceu na Alemanha (Prússia), em maio de 1818 na cidade

de Tréviris, 19 anos após a revolução francesa. Descendente de uma família judia,

estudou direito na Universidade de Bonn e, posteriormente, na Universidade de

Berlin. Marx sendo um dos fundadores do socialismo científico, juntamente com

Friedrich Engels, juntos fundaram o jornal “Gazeta Renana”. Por

criticar excessivamente a sociedade alemã, foi expulso e se exilou em Londres,

onde faleceu, deprimido em função do falecimento de sua esposa, em março de

1883, de bronquite e pleurisia.

O sociólogo iniciou sua carreira, já num contexto de desfecho da Revolução

Francesa e início da Revolução Industrial, sem descartar a importância da

revolução francesa, o seu objeto de estudo foi a revolução industrial e o

capitalismo. Marx se propôs a fazer um estudo sobre as desigualdades da Europa

pós Revolução Industrial. Lá não havia legislação trabalhista, o que possibilitava a

exploração demasiada do homem pelo capital.  

Quem quer ser capitalista, deveria estudar Marx, pois ele deve ser a pessoa

que mais estudou o capitalismo no planeta, e mostra isso no 1º e 2º capítulo do livro


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“O Capital”. É comum que nem os que se autoproclamam marxistas leram Marx,

normalmente leram algo ou algum autor que fala sobre a obra/teoria dele. 

Principais Obras: 

- Manifesto do Partido Comunista; 

- O Capital; 

- 18 de Brumário. 

Friedrich Engels 

Engels nasceu na cidade alemã de Barmen em 28 de novembro de 1820,

vivendo na Alemanha até os 22 anos, filho de industrial muda para a Inglaterra e

começa a trabalhar na fábrica de tecidos de seu pai. 

Esse período da vida, foi essencial para Engels desenvolver sua teoria sobre a

classes trabalhadoras, ao observar a miséria e as condições dos operários que

viviam dentro do regime capitalista. Em 1845, escreveu “A Situação da Classe

Trabalhadora na Inglaterra”. 

Por um tempo fez parte do grupo de esquerda dos “Jovens Hegelianos”, os quais

estudavam a filosofia de Hegel. 

Em 1844, ele conhece Karl Marx em Paris, França e, com ele começa a desenvolver

diversas teorias e escrever obras. 

A mais destacada foi o “Manifesto Comunista” escrita em colaboração de Marx e

publicada em 1848. Nessa obra, eles reúnem os princípios do comunismo e, após a

morte de Marx em 1883, Engels terminou e publicou o restante dos volumes da

obra, “O Capital”. 

Engels faleceu em Londres, Inglaterra, dia 5 de agosto de 1895, vítima de câncer na

garganta.  

Engels não produz nada diferente de Marx. Na verdade ele ajuda Marx a

escrever, sendo a teoria socialista produzida por ambos, juntos. 

Principais Obras: 

  - Manifesto Comunista (com Marx); 

  - O Capital (colaborador de Marx, produz o final após sua morte); 

  - A Situação da Classe trabalhadora na Inglaterra; 

             - A Origem da Filosofia; 

             - Família, Propriedade Privada e Estado; 

  - Do Socialismo Utópico ao Científico. 

 

  Materialismo Histórico e Dialético: 

Esse é o método de análise da sociedade na visão marxista, que

compreende que as mudanças e evoluções sociais ocorrem de forma dialética

(influência hegeliana), portando, as transformações vêm através de conflitos de

forças opostas, representada pela fórmula: Tese + Antítese = Síntese. Essa relação

formaria um ciclo, no qual a síntese se transformaria na nova tese, sofrendo por uma

nova antítese que culminaria na formulação de uma nova síntese, assim por

diante. Marx e Engels, olham isso no contexto materialista. 

Do lado materialista, o autor acreditava que as condições materiais

organizariam o âmbito social, portanto, em uma relação de causa e consequência, a

produção material moldaria diretamente a forma de relação social. Na visão

marxista, as bases materiais e de produção refletem a estrutura social, assim vemos

na relação de infraestrutura e superestrutura. 

Infraestrutura e Superestrutura: 


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Na teoria marxista, podemos ver uma divisão em níveis da sociedade, na

qual denomina-se de Infraestrutura e Superestrutura. Sendo que a Infraestrutura

determina a superestrutura. 

Infraestrutura: é composta pelas bases materiais e econômicas, como o

relacionamento entre o trabalhador e o meio de produção ou a classe dominante e a

classe dominada, portanto, as bases econômicas determinam as bases filosóficas,

políticas e sociais.  É compreendendo a organização econômica que entenderemos

a organização subjetiva da sociedade. Para Marx, na sociedade quando você

transforma a base material, você transforma a sociedade como um todo. 

Exemplo: capitalismo, feudalismo, mercantilismo.  

Superestrutura: é formada pelas bases filosóficas, políticas e sociais, que

funcionam como justificativas para a sustentação das bases materiais de produção

(infraestrutura).   

Exemplo: literatura, Estado, filosofia, ciência, arte e cultura, educação,

religião, aparato militar e de segurança, meios de comunicação de massa,

judiciário, ... 

Divisão e Luta de Classes: 

Para o autor, a história humana é a história da luta de classes. A sociedade,

na concepção marxista, é baseada na relação entre o dominado e dominador;

explorado e explorador; classe dominante e classe dominada, na qual o dominador

possui os meios de produção (propriedade privada) e o dominado a mão-de-

obra. Por classes, Marx compreende um grupo de pessoas que se relacionam de

forma comum com os meios de produção, que se originam da divisão do trabalho.  

O detentor dos meios de produção representa a classe dominante, que visa

manter o status quo - a relação de classe como está -, ao mesmo tempo em que a

classe explorada vive em plena alienação, tendo retirada de si os meios de produção

e necessitando vender sua mão-de-obra para sobreviver, até que venha a abolição

da luta de classe e dessa relação exploratória. Para Marx a história humana é a luta

de classes. 

Marx divide a sociedade em 5 tempos históricos, nos quais, podemos ver

esse tipo de relação: 

Comunismo primitivo: Sem divisão de classes.  

Mundo antigo: Dividida entre Elite social e Escravos 

Feudalismo: Aristocracia e Camponeses. 

Sociedade Industrial: Burguês e Proletário. 

Comunismo: Sem lutas de classes. 

Mais-Valia: 

Para Marx, a mais-valia significa a diferença entre o valor pago ao

trabalhador e o produzido, sendo esse, a mola propulsora do capitalismo. Seria o

lucro que o empregador tem sobre o trabalho do proletário, que, segundo Marx, é

desigual e injusto, pois o trabalho total realizado pelo proletário não é revertido em

pagamento monetário equivalente. Neste conceito se enquadram desde o

trabalhador que recebe salário mínimo, até o assalariado mais bem pago. 

Práxis:  

Significa a atividade prática em função da teoria. Para Marx, realizar uma

práxis é a realização da transformação material da realidade. Marx desenvolve esse

termo como uma crítica ao idealismo e ao materialismo. Para o sociólogo, a teoria

está incluída na prática. Portanto, a transformação da realidade não se funda

somente na teoria nem só na prática. É o ponto em que a teoria, ou reflexão,

encontra a ação.  


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Estado: 

Para Marx, o Estado serve como instrumento da classe dominante, pois não

é capaz de excluir as desigualdades e contradições sociais. O aparato estatal,

segundo o autor, perpetua os interesses e a influência da classe dominante,

intensificando a luta de classe e a exploração. Ao procurar acabar com a luta de

classes, o proletariado deveria extinguir o Estado burguês e instituir um Estado

governado pela união proletária, acabando com a propriedade privada e os

privilégios da burguesia.  

Socialismo científico: 

Para Marx, como já exposto, a sociedade moderna se baseia na exploração

do proletariado pela burguesia, e para uma solução, o proletariado deveria se juntar

politicamente na luta contra a classe dominante, retirando-a do poder e,

consequentemente, abolindo a propriedade privada e a luta de classes, instaurando

a socialização dos meios de produção e o controle do Estado pelos proletários.  

Para Marx, o capitalismo possui crises cíclicas que, um dia, gerariam sua

última crise, sendo ela o estopim para o comunismo. Mais adiante, dever-se-ia

extinguir o Estado e colocar em prática o comunismo, que seria o fim de todas as

desigualdades sociais, econômicas e de classes. 

Diferença entre socialismo Utópico e Científico: 

O socialismo utópico acreditava que o fim da luta de classe viria através de

uma mudança de mente na sociedade, não acreditando que a revolução seria o

caminho correto para o fim da exploração do proletariado. Já o socialismo científico

acreditava que a mudança viria através da ação política revolucionária do

proletariado, colocando fim nas desigualdades e lutas de classes.   

Alienação: 

A teoria marxista crê que o sistema de produção capitalista industrial

provoque a alienação ao trabalhador, a partir do momento em que se retira os meios

de produção do proletariado, concentrando nas mãos da burguesia. Agora, o

trabalhador não tem mais uma força criativa, seu trabalho se resume em força

produtiva, na qual está alheio do processo final, não mais se identificando com o

objeto terminado. O trabalhador passa a não ter mais noção do processo produtivo,

devido a intensa especialização do trabalho, perdendo autonomia e identificação

com o produto final. Além disso, o trabalhador perde a riqueza produzida pelo seu

trabalho vendo o burguês se enriquecer, mesmo estando fora da força

produtiva (mais valia). 

Fetichismo da Mercadoria:   

Fetiche pode ser definido como um objeto inanimado, portanto, feito por

mãos humanas, passa a ter habilidades sobrenaturais e a ser objeto de adoração.

Esse termo, fetiche da mercadoria, está diretamente ligado ao da alienação. O

trabalhador passa a ser deixado de fora de todo o processo de produção, sendo ele

somente um meio para a mercadoria final, perdendo toda a sua relação com o

produto. Com isso, Marx cunha esse termo como sendo o fetichismo da mercadoria,

na qual o produto passa a ter vida independente da ação do proletário, não

dependendo mais da ação direta do trabalhador para existir (o trabalhador é só o

meio, não mais o produtor).  

Diante disso, o produto, que deveria receber seu real valor devido ao

trabalho dedicado a ele, passa a ter um valor irreal, como se não fosse

fundamentada no trabalho empregado na mercadoria. Sendo assim, a mercadoria

fica dissociada à produção e ao produtor, recebendo vida própria e sendo, agora,

objeto de adoração. Exemplo: Não sabemos quem são as pessoas produzem o I-


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Phone ou outro celular, mas os queremos, é como se o produto possuísse vida

própria. 

Ideologia: 

A ideologia pode ser definida como um conjunto de ideias que nos orientam

o viver em sociedade. Para Marx, é um conjunto de ideias que visam sustentar

interesses da classe dominante, buscando construir uma hegemonia de uma

determinada classe, não podendo ser questionada. A ideologia é utilizada pela

classe dominadora como legitimação da exploração para com a classe dominada, se

utilizando da superestrutura para reafirmar a ideologia dominante. Então, a ideologia

dominante, usa a “superestrutura” para “iludir” o proletariado. 

Para combater a ideologia, é necessário o acesso universal ao

conhecimento científico (saber verdadeiro), pois, se cada um possuísse o pleno

conhecimento, haveria uma consciência de classe, na qual o cidadão seria capaz de

reconhecer a realidade de fato, a exploração e a alienação e, através do

pensamento crítico e não alienado, passaria a tomar decisões pessoais, que não

seriam influenciadas pela ideologia dominante.  

Legado de Marx: 

Como legado, Marx deixou uma herança: o Marxismo e sua importância para

as ciências sociais e econômicas. As teorias de Marx influenciaram teóricos como:

Lênin, Stalin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Che Guevara; Antônio Gramsci, Luís

Carlos Prestes. Além de influenciar vários movimentos sociais e partidos

políticos em prol da igualdade social e da abolição do sistema capitalista, tendo

como o mais expressivo movimento: a Revolução Russa, de 1917.

Richard Sennett e a realidade etérea


Introdução

Richard Sennet, um ex-músico (violoncelista) e hoje filósofo, sociólogo e

romancista, considerado um dos maiores pensadores atuais vivos (2021). Foi

inclusive, aluno de Hannah Arendt e une em seus trabalhos, aspectos dapsicologia,

história, sociologia e economia.

É casado com a, também, socióloga Saskia Sassen. Filho de imigrantes

russos, vive em Chicago, professor de sociologia na London School of Economics e

de Humanidades na New York University, é um estudioso e analista do

funcionamento do capitalismo atual.

Para Sennett o capitalismo hoje, se torna um sistema de dominação e deixa

de ser um sistema de concorrência e acredita ele, que as novas tecnologias

desenvolveram um novo tipo de escravidão e que “escravizam” de forma muito maior

que em outras épocas.

Ele acredita que o “neo capitalismo” ou capitalismo flexível, advindo de um

novo contexto econômico criou a necessidade de flexibilidade nas relações de

trabalho e isso prejudica as relações entre as pessoas nos aspectos de

compromisso, confiança e lealdade, sendo isso deletério das virtudes do caráter


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pessoal. Isso advém, principalmente, do medo dos trabalhadores de perderem o

emprego ante às mudanças ocorridas. Esse capitalismo flexível é caracterizado por

um trabalhador mais polivalente, por contratos de trabalho mais curtos e alguns

terceirizados (marca maior desta flexibilização). Outro aspecto deste capitalismo

flexível é o uso da tecnologia para aumentar a produtividade e o controle sobre os

trabalhadores.

Esse novo capitalismo agrega a informação tecnológica. É o capitalismo da

informação e no sentido que, a informação é um dos capitais que se agregam ao

sistema e que regem o mundo de hoje. Um exemplo disso são as mídias sociais

e, os Fake News.

Consigo identificar que a relação entre a teoria de Sennett com Marx/Engels

tem haver com os conceitos de superestrutura e ideologia (exemplos como os

discursos da meritocracia, da “meta dada, meta cumprida”, do trabalhador motivado);

alienação e dominação (o trabalhador cada vez mais alheio dos meios de produção

e controlado pela tela do computador, o “trabalho em equipe” que na verdade é uma

forma de aumentar a produtividade onde cada um controla o outro, mesmo sem

chefe);o fetiche da mercadoria (relações flexíveis).


O Trabalho de sociologia solicitado iria até aqui, entretanto, a teoria de

Richard Sennett é algo novo para mim, e, após pesquisar, resolvi deixar

registrado no trabalho alguns textos da pesquisa. Reforço, -apesar de expostas

as fontes, - que os textos não são meus, foram obtidos na pesquisa sobre a

teoria de Sennet em entrevistas do mesmo e sites confiáveis da internet

(citados abaixo) e, estão anexados para referenciar o trabalho e a teoria

caso eu precise disso em algum outro momento, saberei onde encontrar.

Sennett é considerado um dos maiores intelectuais em sociologia urbana na

atualidade. PHD. em História da Civilização Americana pela Universidade de

Harvard, seu trabalho une sociologia, história, antropologia e psicologia social. Aluno

da filósofa alemã Hannah Arendt e com influências do filósofo francês Michel

Foucault, seus estudos analisam a vida dos trabalhadores no meio urbano e

questões ligadas à arquitetura das cidades.


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Publicou vários livros sobre a organização urbana e as consequências sociais

e emocionais do capitalismo contemporâneo. Sua obra mais conhecida é O declínio

do homem público, na qual aborda a relação entre a vida pública e o culto ao

indivíduo e ao individualismo. Em 2009, lançou o primeiro volume da trilogia Projeto

Homo Faber, para resgatar as habilidades necessárias à vida cotidiana. O

artífice defende a ideia de que fazer é pensar e demonstra como o trabalho com as

mãos pode animar o trabalho da mente. Juntos, segundo volume da trilogia, traz

uma reflexão sobre a arte da cooperação e de como ela requer a capacidade de

entender e mostrar-se receptivo ao outro. O último volume, ainda a ser lançado,

tratará de como criar espaços para viver nas cidades.

Richard Sennett reflete sobre como os sujeitos podem se tornar intérpretes

competentes da própria existência, mesmo diante dos obstáculos que a sociedade

oferece. Em reconhecimento aos seus estudos, recebeu os prêmios Hegel e

Spinoza, e o doutorado honorário pela Universidade de Cambridge, entre outros.

https://www.fronteiras.com/portoalegre/conferencia/richard-sennett

  

 

 A realidade Etérea, o Teletrabalho, Ação Sindical e Proteção Social: O nó do

gargalo

“Na revolta contra a rotina, a aparência de nova liberdade é enganosa. O tempo nas

instituições e para os indivíduos não foi libertado jaula de ferro do passado, mas

sujeito a novos controles do alto para baixo. O tempo da flexibilidade é o tempo de

um novo poder”. (SENNETT da, 1999: 68). A natureza etérea, flexível,

descentralizada e virtual do teletrabalho ou trabalho remoto pode facilitar situações

de omissão, sonegação e expropriação de proteção social/trabalhista aos

teletrabalhadores.

“Lamentavelmente, pode-se dizer que aqueles que se dedicam a estudar os

fenômenos sociais adjacentes às relações de trabalho, e conhecem com relativa

profundidade a realidade prática do teletrabalho, o associam a uma ideia de

precarização (UCHO, 2009). O teletrabalho aparece como resposta à pressão por

flexibilização das relações trabalhistas, que decorre de um processo global de

fragmentação e descentralização da produção, de revolução informacional e as

novas configurações das cadeias globais de valor (relações de subordinação

produtiva e de dependência).

As dificuldades de ação do Direito do Trabalho se multiplicam quando os “labores

virtuais” são exercidos em países distintos do local de onde foram encomendados

(offshoring produtivo), pois aí é praxe notar-se, conforme adverte Wilfredo

Sanguineti Raymond (2011) “uma seleção ‘à lá carte’ do regime de prestação de

serviços laborais e uma ‘importação virtual’ do trabalho ao preço do Estado menos

protetor”. Este fenômeno talvez seja o maior desafio da ação sindical no universo do

teletrabalho ou trabalho remoto.


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Há que se atentar para alguns pontos de preocupação da ação sindical no contexto

do teletrabalho, como o controle da jornada de trabalho, o pagamento de hora extra,

o direito de descanso, lazer, que pode ser comprometido pela não desvinculação

completa ao trabalho, as condições de trabalho, o pagamento de horas de

sobreaviso (tempo de disponibilidade do trabalhador aos chamados da empresa,

que é difícil de ser mensurado quando a esfera privada se mistura à esfera

profissional), as normas de saúde e segurança no trabalho, e o dito ‘perigo da

autonomia’, que pode comprometer a lógica da responsabilidade objetiva do

empregador diante de riscos de doenças e acidentes de trabalho.

Com a cooperação remota, feita à distância, a categoria “local de trabalho” é

flexibilizada e relativizada, passando o controle do trabalho a ser exercido

majoritariamente com balanços de metas e resultados, ou pela utilização de

tecnologias de comunicação (telessubordinação) e de tecnologias biométricas. Alan

Supiot (2007: 164/165) ressalta o quanto o Direito do Trabalho está hoje abalado

pelas novas tecnologias da informação e da comunicação, e exposto às fantasias da

ubiquidade. Cada vez mais, espera-se um ser humano disponível em todo o lugar e

em toda a hora para trabalhar ou consumir.

A reflexão sobre essas novas formas de controle do trabalho e “descontrole do

tempo” envolve a proteção da intimidade e a inviolabilidade do domicílio, que

poderiam ser relativizados e postos em perigo, além disso, “o teletrabalho cria as

condições para o abuso do horário de trabalho, pois os meios de telecomunicações

designadamente o telefone, o fax, ou o correio eletrônico serão partilhados entre a

utilização para fins profissionais e fins familiares pelo que aumenta o risco de o

indivíduo estar sempre contatável, estar sempre sob pressão profissional de realizar

determinada tarefa ou trabalho, o que o conduz a continuar/prolongar o tempo de

trabalho diário.

O trabalho em excesso como qualquer outro vício comportamental, poderá originar

doenças relacionadas com stress ou conflitos familiares” (Feliciano,

Freitas, Lencastre e Silva, 2000, p. 3) A questão da subordinação ao trabalho é

analisada pelo grau de intervenção e alcance do empregador no trabalho do

empregado. Um conceito intermediário seria o de parassubordinação. Manuel

Castells nos fornece também uma divisão do teletrabalho em três categorias: a) os

substituidores, que são aqueles que substituem o serviço efetuado em um ambiente

de trabalho tradicional pelo serviço feito em casa; b) os autônomos, trabalhando

online de suas casas; c) e os complementadores, que trazem para casa trabalho

complementar do escritório convencional (Castells, 1999). Em cada caso, o grau de

telessubordinaçao e as possibilidades de controle do trabalho variam.

O Teletrabalho é muito utilizado dentro das cadeias globais de produção, pois

esta modalidade de trabalho atende bem ao modelo de descentralização produtiva

global. Muitos especialistas o relacionam ao fenômeno do dumping social, termo

utilizado para designar a prática de as empresas utilizarem trabalho mais barato,

seja pelo uso de trabalho de migrantes, seja pelo deslocamento total ou parcial da

produção para países com maiores desigualdades sociais, mercados de trabalho

desregulados e com uma rede de proteção social frágil, quando não inexistente.


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Há um caráter duplo da virtualidade intrínseca ao teletrabalho para a ação

sindical, pois ao mesmo tempo em que a virtualidade pode funcionar como uma

barreira ou fator limitante ao alcance Sindical, ela pode também ser utilizada como

um mecanismo de mobilização e força informacional e discursiva. A falta de

regulação legal específica sobre definição, contratos e condições de teletrabalho

podem levar Sindicatos a reforçar a ideia do “negociado sobre o legislado” como

uma forma de garantir ao teletrabalhador o direito de requerer direitos e denunciar

situações de dano ou abuso, além de evitar riscos de regulamentação uniforme de

condições de trabalho para situações que tem grande potencial de variação, onde

prevalecem contratos individuais e os Sindicatos perdem poder de influência global.

O exercício do direito Sindical na empresa com o uso de novas tecnologias, já

que os métodos tradicionais são incompatíveis com a condição de trabalho remoto,

figura entre as possibilidades plausíveis de coordenação da ação Sindical com as

novas realidades. Deve ser lembrada também a importância do diálogo social

tripartite em um processo que contemple a modernização das relações de trabalho,

redefinindo-as de forma a dar conta dos novos fenômenos e contratos entre

capital/trabalho, mas preservando os direitos laborais e a proteção social dos

trabalhadores.

Lorena Ferraz C. Gonçalves – mestre em Ciências Sociais UNB


A Corrosão do Caráter

Nesse livro, Richard Sennett oferece-nos um instigante ensaio sobre as

influências do "capitalismo flexível" no mundo do trabalho e suas repercussões no

caráter humano, convidando-nos a realizar uma profunda reflexão sobre as

consequências sociais dos novos caminhos trilhados pelos indivíduos na sociedade

da informação.

É de conhecimento geral o que a maioria dos consultores de recursos

humanos recomenda para os profissionais nos dias de hoje: invista tudo o que puder

em sua carreira para garantir sua polivalência no mercado de trabalho, não

permaneça em uma mesma empresa ou função por muito tempo e esteja preparado

para relações de trabalho temporárias.

Na opinião de Sennett, essas exigências de flexibilidade na atuação

profissional e a inexorável fugacidade das relações trabalhistas estariam

contribuindo para enfraquecer valores como o compromisso, a confiança e a

lealdade, que são fundamentais para a consolidação do caráter humano. Para o

autor, a decadência desses valores seria um reflexo do desaparecimento das

relações de longo prazo no trabalho e estaria se reproduzindo na vida social,


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dificultando o estabelecimento de relações mais permanentes com os amigos e a

comunidade, além de interferir na formação do caráter das crianças, que não veem

mais na rotina diária dos pais as virtudes que eles procuram pregar.

Essas mudanças de comportamento na vida profissional resultam das novas

forças que estão impactando o mundo do trabalho na empresa flexível: a

reinvenção descontínua das instituições, a especialização flexível de produção e a

concentração de poder sem centralização. Reinventar a empresa e flexibilizar a

produção tornaram-se uma regra em um mercado em que o que interessa é o

retorno em curto prazo para os acionistas e a pronta resposta à demanda do

consumidor. Por outro lado, para saciar essa vertiginosa ânsia pelo resultado

imediato, tornou-se indispensável acelerar os processos, de forma que foi

necessário permitir que funcionários tivessem mais controle sobre suas atividades,

controle esse que está sendo concedido sob uma estrita vigilância operada via

novas tecnologias de informação, inaugurando formas mais sofisticadas de

dominação do que as utilizadas nas empresas no passado.

O paradoxal é que esse novo sistema de dominação está sendo construído

sob a insígnia da liberdade. Um dos melhores exemplos disso é a nova forma de

organizar o tempo no local de trabalho, que Sennett denomina "flexi-tempo". Este é

caracterizado pelo planejamento flexível das jornadas e pelo trabalho virtual, no qual

o funcionário deixa de ser monitorado pelo relógio de ponto para ser controlado por

meio da tela do computador. Assim, na visão do autor, a proclamada

"desburocratização" das empresas é enganadora, pois, apesar do abandono da

rigidez e do formalismo típicos da organização burocrática, a sua característica

fundamental, que é a dominação e a alienação do trabalhador, está sendo recriada.

Em atividades operacionais, por exemplo, a automação está reinventando a

superespecialização taylorista do trabalhador. E o caso da padaria automatizada

descrita por Sennett em seu ensaio: para fazer o pão basta saber "clicar" os ícones

corretos, o que não requer conhecimento do ofício, mas apenas conhecimentos

básicos de Windows. Associada ao "flexi-tempo", essa superespecialização estaria

desmantelando as identidades e causando uma profunda indiferença em relação ao

trabalho.

Já no ambiente empresarial, os executivos estão sendo expostos, pela

necessidade de provar todos os dias a sua competência, a um estado contínuo de

vulnerabilidade. Em um mercado em que há poucos ganhadores e no qual o


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"vencedor leva tudo", as pessoas estão sendo continuamente pressionadas a se

superar, apesar do alto risco de fracasso. Nesse "jogo", os funcionários de meia-

idade são os que mais sofrem, pois a concentração nas capacidades imediatas leva

a uma negação de sua experiência passada, agravada pelos rótulos de aversão ao

risco e de inflexibilidade.

Por outro lado, a ética individual do trabalho, personificada pelo "homem

motivado", que busca incessantemente provar seu valor moral pelo trabalho, está

sendo substituída pela ética do trabalho em equipe. Para Sennett, isso seria uma

vitória para a civilização se o trabalho em equipe não estivesse se transformando em

um "teatro" em que as aparências e comportamentos são manipulados e o conflito é

sistematicamente adiado. Na realidade, o trabalho em equipe veio substituir a

vigilância do administrador pela pressão dos colegas, tornando-se uma excelente

estratégia para aumentar a produtividade. Assim, as responsabilidades são

partilhadas e não há uma figura que simbolize a autoridade, mas a dominação

continua permeando as relações entre os indivíduos no trabalho.

Sennett, então, cita Rorthy para demonstrar que o "homem motivado" está

sendo substituído pelo "homem irônico": "Richard Rorthy escreve, sobre a ironia, que

é um estado de espírito em que as pessoas jamais são 'exatamente capazes de se

levar a sério, porque sabem que os termos em que se descrevem estão sujeitos a

mudança, sempre sabem da contingência e fragilidade de seus vocabulários finais, e

portanto dos seus eus'. Uma visão irônica de si mesmo é a consequência lógica de

viver no tempo flexível, sem padrões de autoridade e responsabilidade" (p. 138). E

nos provoca: "A clássica ética do trabalho de adiar a satisfação e provar-se pelo

trabalho árduo dificilmente pode exigir nossa afeição. Mas tampouco o pode o

trabalho em equipe, com suas ficções e fingimentos de comunidade" (p. 139).

Para Sennett, o comunitarismo resulta de fortes laços entre pessoas que

tiveram tempo suficiente para enfrentar suas diferenças: a suposição de que todos

os membros de uma equipe de trabalho partilham das mesmas motivações não

garante uma comunicação efetiva, tornando o trabalho em equipe uma forma frágil

de comunidade. Na sua visão, é o enfrentamento do conflito que oferece a base real

para unir pessoas de poder desigual e interesses diferentes. Além disso, para que a

confiança se estabeleça entre as pessoas, é fundamental que elas sejam

necessárias umas às outras.


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Ironicamente, ser necessário a alguém é justamente o valor que está sendo

depreciado no novo mundo do trabalho, no qual se descartam as pessoas, suas

identidades e suas chances de sucesso. Nas palavras de Sennett: "Esse é o

problema do caráter no capitalismo moderno. Há história, mas não a narrativa

partilhada de dificuldade, e portanto tampouco destino partilhado. Nessas

condições, o caráter se corrói; a pergunta 'Quem precisa de mim?' não tem

resposta imediata" (p. 175-176).

Assim, para Richard Sennett, o novo capitalismo flexível, em sua ânsia pelos

resultados, está gerando uma sociedade impaciente e concentrada apenas no

momento imediato, cujos valores amorais contribuem para corroer o caráter humano.

E o que é mais inquietante: a substituição da rotina burocrática pela flexibilidade

no trabalho não foi acompanhada pela liberdade e pela emancipação do

indivíduo, mas pela elaboração de novas formas de dominação.

Apesar de suas constatações pessimistas, Sennett reconhece que não há

como negar as novas realidades históricas nem os avanços que ocorreram no

mundo do trabalho. Assim, para compreender sua mensagem, o leitor precisa estar

atento para o fato de que sua intenção não é fazer um resgate do passado, mas

questionar como vamos moldar o nosso futuro em uma sociedade na qual os

indivíduos não estão mais seguros de serem necessários aos seus semelhantes.

Esse convite para tão indispensável reflexão é suficiente para tornar a leitura desse

ensaio estimulante para todos aqueles que procuram compreender as

consequências sociais dessa progressiva corrosão do caráter humano.

https://www.fgv.br/rae/artigos/revista-rae-vol-40-num-3-ano-2000-nid-46280/


Entrevista para o El País (seleção parcial de trechos)


O que aconteceu para que o que nós entendíamos como direitos hoje

sejam vistos como privilégios? O capitalismo moderno funciona colonizando a

imaginação do que nós consideramos possível. Marx já havia percebido que o

capitalismo tinha mais a ver com a apropriação do entendimento do que com a

apropriação do trabalho. O Facebook é a penúltima apropriação da imaginação: o

que víamos como útil agora se revela como uma forma de entrar na consciência das

pessoas antes de que possamos agir. As instituições que se apresentavam como


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libertadoras se transformam em controladoras. Em nome da liberdade, o Google e o

Facebook nos levaram pelo caminho em direção ao controle absoluto.

Como detectar o perigo nas novas tecnologias sem se transformar em

um paranoico que suspeita de tudo? Devemos nos perguntar sobre o que se

apresenta como real. Isso é o que fazem os escritores e os artistas. Eu não suspeito.

Suspeitar significa que existe algo oculto e eu não acho que o Facebook tenha algo

oculto. Simplesmente não queremos ver. Não queremos enfrentar que o gratuito

significa sempre uma forma de dominação.

Em tempos de redes sociais, como preservar a intimidade? O que

aconteceu com a Cambridge Analytica é um crime: alguém roubou e vendeu

informação privada. Não existe mistério. É um negócio ilegal que camuflaram com

conversas sobre proteção de dados. Quem recebeu a informação pagou por ela.

Mas o truque é levar uma discussão que não deveria existir à imprensa. Os crimes

devem ser punidos.

De que maneiras podem agir hoje os políticos para defender os direitos

das pessoas contra as pressões dos poderes econômicos? A história explica.

Há 100 anos Theodore Roosevelt decidiu que o Estado deveria romper os

monopólios. Era conservador. Mas era o presidente de todos os americanos. O

capitalismo tem a tendência a passar com grande facilidade do mercado ao

monopólio. E aí, com a repressão da concorrência, começam os grandes problemas,

a grande desproteção. Com monopólios, o capitalismo passa de ser o sistema da

concorrência a ser o da dominação. Aumentar a diferença salarial entre os ricos e os

pobres de tal maneira como ocorre agora é o caminho a todos os populismos. Isso

foi Trump. No Reino Unido tivemos o equivalente a Obama em Tony Blair. Pior do

que Obama. Obama é um homem de total integridade pessoal. E Blair é somente

um político.

Por que o Estado de bem-estar só parece sustentável nos países

nórdicos? Eu resisto a essa ideia. Não é preciso ser rico para que esse sistema

prospere e se mantenha. Na Colômbia existe com recursos muito menores. Em

Botsuana há um modelo justo, ainda que a equidade quando se tem pouco

signifique pouco. Bismarck construiu o Estado de bem-estar na Alemanha com más

intenções: queria evitar que os trabalhadores se rebelassem. Com o Estado de bem-

estar as pessoas se tornam conservadoras. A destruição dessas políticas que ocorre


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hoje na Espanha é uma tragédia. Sabe que meus pais lutaram na Guerra Civil

Espanhola?

Em A Corrosão do Caráter o senhor descreve a falácia de que a

flexibilidade trabalhista melhora a vida. Que tipo de caráter produzirão o Uber e

o Deliveroo? Vidas sem coluna vertebral. Um caráter cujas experiências não

constroem um todo coerente. Algo muito circunscrito a nosso tempo e preocupante

porque os humanos precisam de uma história própria, uma coluna vertebral.


Referências Bibliograficas:

Lorena Ferraz C. Gonçalves - http://jus.com.br/artigos/12530/o-

teletrabalho#ixzz3FMuQGSgzhttp://www.trt4.jus.br/portal/portal/trt4/comunicacao/noti

cia/info/NoticiaWindow?action=2&destaque=false&cod=724303


Alemão, I. e Barroso, Márcia Regina C. O TELETRABALHO NO DOMICÍLIO: O

REPENSAR DAS CATEGORIAS TEMPO E ESPAÇO NA ESFERA PRODUTIVA.

XV Congresso Brasileiro de Sociologia, 2011.

Rodrigues, Ana Cristina Barcelos. ‘O teletrabalho e o Direito coletivo’. In

TELETRABALHO: A TECNOLOGIA TRANSFORMANDO AS RELAÇÕES DE

TRABALHO. Dissertação de mestrado: USP, 2011

file:///C:/Users/Convidado/Downloads/TELETRABALHO_A_tecnologia_transformand

o_as_relacoes_de_trabalho_Integral.pdf


A história de Friederich Engels, site: toda matéria.


Aluno: Rubens Chioratto Junior – R.A. 211.222.526 1º período Noturno

Apenas um trabalhador.

 “Sentou pra descansar como se fosse sábado 

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego”

Chico Buarque conta nessa canção, a história de mais um trabalhador brasileiro, vítima de uma sociedade capitalista, explorado e invisível para as autoridades, sem seus direitos respeitados, que trabalha muito e recebe pouco. Esse mesmo trabalhador se acidenta durante o trabalho que não tem segurança suficiente para proteger seus funcionários de possíveis acidentes, e como é exposto na música, ele agoniza no meio fio, depois, morto e ignorado (apenas mais um trabalhador, um “zé ninguém”) impede a passagem, um homem sem acesso às leis trabalhistas, sem o direito como ser humano de ser socorrido e sepultado, considerado pela sociedade apenas um obstáculo. Apenas um trabalhador atrapalhando os demais. Essa é a realidade contemporânea. 

Maíra Janis de Sousa - 1º ANO MATUTINO


Como devemos ver o Marxismo hoje?


Ame-o ou odeie-o, é inegável afirmar que Karl Marx revolucionou o mundo de uma forma que poucos o fizeram. Suas ideias e as interpretações delas geraram revoluções ao redor do mundo, o fim e o início de regimes, a vida e a morte de milhões de pessoas e pautam o debate público até hoje, como se pode ver. Porém, em ambos os lados do argumento, muitas vezes, pouco se entende das teorias do autor, em suas próprias palavras.


Podemos começar a entender a teoria marxista pelo seu entendimento do motor da história. Para os iluministas, seria o caminhar para o progresso da razão do homem, o que constitui uma propriedade fundamental do tempo histórico. Para os industrialistas e cientificistas, seria o avanço tecnológico, após o advento da revolução industrial. Para Marx, o motor da história seria a luta de classes, partindo do pensamento de que, no decorrer da história, o trabalho desempenhou um papel chave na sociedade e o que se manteria constante seria os atritos entre os donos dos meios de produção e quem apenas poderia realizar a tarefa. A partir desses conflitos, então, o mundo avançaria.


A partir disso, Marx elabora que o capitalismo (sistema que estruturaria a repressão sobre o proletariado – esses que apenas realizariam as tarefas) seria um regime imposto de forma generalizada, em todas as esferas da vida humana, assim como em todas as localidades. Sistema esse que evoluiria durante a história até sua extinção, pelas suas próprias mãos, levando a um sistema econômico e social mais evoluído. Para isso Marx usa o exemplo do feudalismo, que eventualmente criou a classe comerciante que iria levar a sociedade à próxima etapa. Temos aí então o materialismo histórico.


Derivado também do trabalho de Marx temos o materialismo dialético, que se constitui em uma maneira de compreender a realidade tendo em conta a dialética, os pensamentos, emoções e o mundo material. Baseando-se então na dialética para compreender os processos sociais, Marx não concorda com o conceito de que a história é estática e definitiva, se opondo também ao idealismo, que seria uma visão pró-sistema.


Partindo disso, devemos então nos rebelar contra esse sistema opressor, nos unindo enquanto classe trabalhadora para então sairmos dessa estrutura, constituindo um novo sistema, onde não haveria lucro, hierarquia ou exploração do trabalho. Para essa revolução vale tudo – destruir instituições, opositores, e qualquer sistema estabelecido - logo que todos esses sistemas trabalham para a manutenção do capitalismo.


Dada essa contextualização do autor, quais as manifestações práticas desse pensamento político, econômico e social? Temos a virtude de viver em 2021 e podemos fazer uma breve retrospectiva para olhar o último século, identificando efeitos devastadores.


Primeiramente, nas mãos de Lenin e depois Stalin, o pensamento marxista foi utilizado para orquestrar uma revolução na Rússia, então czarista, estruturando um governo despótico que utilizou ideias de uma economia centralizada, com controle dos meios de produção pelo "proletariado revoltoso” para matar os Kulaks e reestruturar a produção agrícola da Ucrânia, dando a “cada qual, segundo sua capacidade e a cada qual, segundo suas necessidades”, dando terras férteis a aliados do regime, sem qualquer conhecimento da produção agrícola, matando, segundos relatos, até 12 milhões de pessoas, sem falar nos milhões de não adeptos e opositores políticos que foram levados ao Gulag, na Rússia e em todo o leste da Europa. Porém foi-se muito além. Ao completar 100 anos da revolução bolchevique e após diversas tentativas de efetivação das ideias de Marx por Mao, Stalin, Pol Pot, entre outros, o número estimado de pessoas brutalizadas chegaria a 100 milhões.


Enfim, após um século de falha total e com consequências das piores possíveis, o que podemos dizer das teorias marxistas na contemporaneidade e suas manifestações concretas? Poderíamos, de início, ter uma visão mais crítica e não revisionista desses fatos históricos.


Talvez a constante na história seja que não aprendemos nada com a história.




Miguel F. C. Rodrigues - Direito NOTURNO - 1° Semestre

Quero viver sem ter apenas que sobreviver


Marx não errou, tentou avisar

Mas o ser humano com sede de poder

Pouco quis saber e só se importou em explorar

Mudou-se as relações e assim, o mundo mudou

Tampouco a gente aprendeu com a dor que sobrou


Será que foi um erro ‘’avançar’’?

Mesmo que para isso milhares de vidas

A gente precise sacrificar?

Será que tudo aconteceu 

devido a prepotência do nosso próprio eu?


Não sei, mas vou acreditar que o homem

É a mudança que deseja provocar

Sendo assim, vou gritar:

A única luta que se perde é aquela que decidimos abandonar

Não vou deixar que a ganância tome o meu lugar

a resistência tem que continuar



Repetir a mesma história parece ser a nossa condenação

Só a luta é que trás o vislumbre e a concretização da revolução

Singulares ou plurais, as lutas estão atravessadas

Não se negocia a liberdade, a fluidez das injustiças precisam cessar

Só assim haverá a possibilidade de recomeçar


Pedro Oliveira Silva Junior - noturno

Na prática, a teoria tem sido outra

 

É admirável, pelo motivo de propor a fraternidade, o método científico marxista do Materialismo Histórico-Dialético, desenvolvido pelos filósofos alemães Friedrich Engels (1.820-1.895) e Karl Marx (1.818-1.883) e abordado nas aulas dez a doze do curso de Introdução à Sociologia. Vejamos:

Por que Materialismo? Porque, de acordo com a teoria marxista, são as condições materiais que definem quem um indivíduo é, ou seja, qual consciência ele terá, sendo que suas ideias não modificam o mundo, mas, sim, são consequências do seu dia a dia e trabalho. Percebe-se, portanto, que há uma inversão em relação à lógica idealista de outro filósofo alemão, Friedrich Hegel (1.770-1.831), segundo a qual é a consciência individual que transforma o mundo. O marxismo prega ser necessário desenvolver no proletariado a consciência e o discernimento suficientes para que comece a refletir sobre sua condição social, visto que, por muitas vezes, o proletário sequer percebe que está sendo explorado e atuando como instrumento do enriquecimento financeiro de outra(s) pessoa(s).

Por que Histórico? Porque Marx e Engels recorriam a fatos históricos para sustentar o que argumentavam; afinal, a historiografia permite afirmar que sempre houve disputa pelo poder entre a elite social e as camadas sociais mais baixas. É justamente devido a essa constatação que, no livro “O Manifesto Comunista” (1.848), cuja autoria é de Marx e Engels, está escrito: “...Até os nossos dias, a história da sociedade humana tem sido a história da luta de classes...”; de fato: na Roma Antiga, opunham-se patrícios e plebeus; na Idade Média, nobreza e escravos eram os antípodas; já na Idade Moderna, burgueses e proletários passaram a ser os protagonistas do confronto. Fazendo uma analogia, nota-se que o mecanismo de funcionamento da sociedade ao longo do tempo é similar ao de uma roda gigante em movimento constante: sempre há segmentos sociais diametralmente opostos, estando um no topo da roda e outro em seu ponto mais rasteiro.

Por que Dialético? Porque, apesar de o marxismo refutar o idealismo hegeliano, também é verdade que se utiliza de um aspecto da teoria de Hegel: a dialética do Senhor e do Escravo. Essa dialética tem a intenção de mostrar que, apesar de o senhor mandar em seu escravo, depende mais deste do que o contrário; logo, quem tem mais poder nessa relação é o escravo e não o senhor, como pode parecer em um primeiro momento. A única ressalva a ser feita é que, por escreverem em uma conjuntura capitalista, Marx e Engels substituem os termos “senhor” e “escravo” por “burguesia” e “proletariado”, respectivamente.

Pois bem. Uma vez apresentada a essência da teoria marxista do Materialismo Histórico-Dialético, torna-se necessário analisar sua aplicação nas oportunidades até então conhecidas.

Para isso, inicialmente é importante dizer que alguns autores liberais e, por exemplo, o médico e psicanalista austríaco Sigmund Freud (1.856-1.939), conhecido como o “Pai da Psicanálise”, já anteciparam que a aplicação da teoria marxista não seria viável, criticando-a, ao argumentarem que Marx e Engels talvez houvessem sido muito utópicos quanto a suas propostas, por pensarem que as pessoas deixariam de lado suas divergências a fim de atingir a igualdade plena (Comunismo). Freud escreveu que o marxismo não poderia ter sucesso, que o mundo mais fraterno não seria formado, visto que a psique humana é competitiva, desejosa, violenta e movida pela libido (energia relacionada à procura por conquistas, satisfações). Portanto, deve ficar claro que, apesar de o marxismo ser uma ideia bastante relevante nos âmbitos filosófico e sociológico, também foi e é bastante criticado.

Além de críticas embasadas como a de Freud, podem ser analisados estudos de caso em que a proposta marxista foi utilizada como instrumento para conquista de poder político, mas completamente deturpada após esse poder ser obtido:

à UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS (URSS): no contexto da Guerra Fria (1.945-1.991), a URSS protagonizou uma deterioração do marxismo (mais precisamente, marxismo-leninismo) em muitas esferas, principalmente após 1.970, como se pode constatar na série televisiva Chernobyl (2.019), transmitida pela plataforma de streaming Amazon Prime, em que são evidenciados a ineficiência do Estado soviético ao ter que lidar com o desastre social e econômico vigente e o descaso dos governantes para com a população soviética;

à VENEZUELA: principalmente após 2.013, quando Nicolás Maduro (1.962-...) assumiu o poder, além da crise econômica (iniciada em 2.014) oriunda da desvalorização petrolífera no mercado global, o país sofre com a crise política, evidenciada pelo crescente autoritarismo implantado por Maduro com sua ditadura. Enquanto a população enfrentava uma inflação de quase 1.700.000% em 2.018, Maduro foi visto em um restaurante turco bastante requintado;

à CUBA: o país vive, em 2.021, uma gravíssima crise econômica, e, segundo o escritor cubano Ernesto Pérez Chang, em entrevista ao portal de notícias G1: “Agora as pessoas se deram conta de que não há um governo socialista ou comunista, mas um governo de militares empresários que estão interessados em ganhar mais dinheiro. Não há nada que se reverta em programas sociais verdadeiros. Há muita decepção. O regime está em perigo e responderá com mais violência à ação dos manifestantes.”

Posto isso, convém rememorar o ex-presidente dos Estados Unidos da América Ronald Reagan (1.911-2.004): “O poder concentrado sempre foi o inimigo da liberdade.”

Bem, esses são apenas alguns dos muitos exemplos de adulteração da concepção marxista do Materialismo Histórico-Dialético. Afinal, Marx e Engels propunham um mundo mais fraterno, justo, em que as pessoas conseguissem trabalhar, mas dentro de uma dinâmica que não fosse a de exploração. Portanto, a teoria marxista é boa! Mas sua aplicação, na maioria das ocasiões, foi desvirtuada, tornando-se autoritária e terrível, visto que, em momento algum, Marx e Engels defendiam que o Estado deveria assumir funções totalitárias por décadas. Então, a sensação que se tem ao ver a aplicação da teoria marxista nesses casos, após tê-la estudado, é a mesma de quando se lê uma obra espetacular, mas cujo filme não corresponde às expectativas, justamente por ter sido mal adaptado.

Esta é a conclusão que fica após tudo o que foi discorrido: indubitavelmente, é muito importante tentar conscientizar as pessoas a respeito do papel social que estão desempenhando; agora, querer que todas alcancem um nível de altruísmo tão elevado não parece ser tarefa fácil (e sequer possível, para Freud).

 

Aluno: Marcos Tadeu Gaiott Tamaoki Junior;

Curso: Direito (noturno)/2021;

Termo: Primeiro;

Turma: XXXVIII.

O materialismo na sociedade contemporânea.

 “Os homens fazem a própria história, mas não escolhem como”, essa frase faz muito sentido

pois os homens são limitados pelas condições materiais e históricas da sua existência. Graças

as ideias antagônicas de Marx e Hegel, a questão do materialismo se tornou um ponto de

frequente debate social. Enquanto Marx, defendia uma ação dominante das classes sociais.

Hegel valorizava a ideia de um estado que possuí a presença geral, ou seja, que visa o bem

comum da população e o interesse coletivo. Característica essa que Marx descorda, pois para

o sociólogo, é impossível almejar o interesse coletivo, pois o estado sempre acaba

representando apenas a burguesia, formando uma falsa ideia de representação com sua

população, seja ela a classe dominante, que impõe um falso sentimento de igualdade para com

o restante da população, seja o proletariado que acaba sendo conduzido a pensar de que o

interesse burguês é a maneira ideal de lidar com os problemas sociais.

Devido a essa questão do materialismo fica nítido que, diversas questões que vimos

anteriormente, ainda são frequentemente vistas na sociedade, visto que a maior parte da

população, isto é a classe dominada ainda se enxerga pela visão da classe dominante,

impedindo que ocorra o avanço dessa parte do povo. A partir disso a parte da população que é

reprimida pela burguesia se vê estagnada, uma vez que todo o monopólio da classe dominante

contribui para a manutenção do privilégio tradicional, em outras palavras essa ideia apoia os

valores convencionais, onde a classe operária se vê sem saída e num ciclo interminável, no

meio de um sistema onde os periféricos são “destinados” a continuar seguindo esse papel.

Essa linha de raciocínio, faz ainda mais sentido para as pessoas que vivem essa realidade da

classe trabalhadora, pois nas áreas mais marginalizadas é nítido que a parte mais pobre do

povo se vê fadada a apenas continuar e aceitar a posição que seus antepassados

desempenhavam, transformando a ascensão social num sonho alcançado por uma mínima

parte dessa população. Consequentemente, grande parte dos jovens suburbanos vislumbram

poucas oportunidades de ascensão social, onde o jovem sequer pensa na possibilidade de ter

um futuro próspero, se contentando com o mínimo.

Em vista dos argumentos apresentados, a ideia do materialismo ainda nos dias de hoje, é

muito recorrente no corpo social, pois classifica, manipula e cega as pessoas que deveriam

reivindicar uma situação que teria que ser justa, onde a classe dominada possuiria o mesmo

poder que a classe dominante.

Vinícius Barboza Felix dos Santos- 1° Semestre de Direito Matutino

MARX, O MATERIALISMO E A AUSÊNCIA DAS VIRTUDES

 O senhor Karl Marx foi contemporâneo ao capitalismo primitivo, o qual oligarquias em conluio com o governo exploravam o povo em prol de seus próprios interesses, interesses estes que eram essencialmente materiais. Marx, ao observar o ímpeto da classe dominante pela aquisição e acúmulo de riquezas materiais em seu mundo, conclui que, na verdade, todo o processo histórico se pautou conforme a busca ininterrupta por uma minoria pela riqueza e poder através da exploração de uma maioria. 

O pensador entende a sociedade não como uma espécie de tecido solidário, como argumentava Émile Durkheim, mas como uma organização estruturada conforme relações de produção, relações estas travadas pelo homem as quais são determinadas, necessárias e independentes de sua vontade enquanto indivíduo. Tais relações de produção corresponderiam a um nível de desenvolvimento das forças produtivas, o qual determinaria o movimento da História. Marx chama essa interpretação de “materialismo histórico”, que em outros modos de explicação, argumentaria que o curso da História estaria estreitamente relacionado à condução da vontade do homem determinada pela forma como o mesmo pode produzir e reproduzir sua riqueza material, sempre havendo, para tal, uma relação entre dominador e dominado, que conflitam segundo seus próprios interesses.

Essa visão é exemplificada desde o antigo Egito, certamente antes, com a escravidão do povo hebreu até muitos países da contemporaneidade, como no caso de países dos tigres asiáticos e outros em semelhança. Nesses países, a mão-de-obra é baratíssima, muitos deles reconhecendo culturalmente a ética confuciana (relacionada com noções de harmonia perseguidas pelo trabalho árduo, a popança, etc.), cuja produção de bens é voltada sequer para o mercado interno, mas para o exterior. Acontece que as grandes corporações se valem dessas condições afim de acumular cada vez mais capital, explorando a mão de obra barata desses povos, que trabalham em patamares, muitas vezes, desumanos, como ocorre, por exemplo, em Bangladesh, país onde as pessoas trabalham quase 24 horas ao dia nas indústrias. Os grandes princípios dos Direitos Humanos são violados, uma vez que a ideia de uma vida digna é algo distante da mente daqueles povos. 

E a pergunta pertinente é, vale a pena: vidas em condições de quase escravidão apenas para que alguém já rico possa desfrutar de ainda mais riqueza? Acontece que o ser humano é naturalmente mal, de modo que alguém da classe dominada, se tiver a oportunidade de ser alguém da dominante, a seria sem hesitar. É da natureza humana mergulhar-se num profundo estado de concupiscência pusilânime, isto é, numa fraqueza moral fortemente atrelada à um apego à materialidade do mundo. Agimos, muitas vezes, conforme a busca por satisfações da matéria, prazeres estes que configuram paixões viciosas, ou seja, paixões que são capazes apenas de atingir a superfície de quem nós somos, nosso corpo, passando longe dos bons prazeres, que, por sua vez, consistem naqueles que devem estar em conformidade com a parte apetitiva de nossa alma, que só podem ser atingidas por meio da ponderação das virtudes. Tudo consiste no constante conflito entre a virtude do bem e os vícios do mal. No entanto, vale lembrar, negar completamente os prazeres é abandonar a condição humana, contudo cair totalmente no poder dominador dos prazeres é aceitar um estado bestial indevido e perigoso para todos aos redores (a exemplo dos corporativistas exploradores); e é aí que entra a função das virtudes, que, conforme nos lembra o Dr. Tondinelli, “[...] é o evitar exacerbado dos excessos, mas o afastar constante da falta”. (TONDINELLI, 2013, p. 11) ¹. 

Por fim, interpreto que a origem do mal é de própria natureza humana e de seu desprovimento de virtudes metafísicas, especialmente quando se encontra em condições de poder, confirme observado na História, e acredito que este fato esteja em concomitância com o pensamento marxista sobre o materialismo no capitalismo. Concluo que homem é o maior inimigo de si mesmo, é o grande antagonista da História. Ele sempre estará disposto a desfrutar cada vez mais de prazeres materiais, como e especialmente as riquezas, ao custo da dignidade, liberdade, da vida, de todo um povo, quer esteja num capitalismo, quer esteja em qualquer outro sistema.    

Para concluir o pensamento de Karl Marx, no capitalismo de corporações, a classe dominadora corresponde à burguesia, que detém os meios de produção, enquanto a classe dominada seria o proletariado, a qual vende sua força de trabalho ao burguês.  Marx entendia que o proletariado era alienado, pois era explorado sem mesmo aperceber tal condição, ou seja, o bem produzido por suas mãos não lhe pertencia, mas sim ao patrão, que lhe devolvia apenas uma pequena parcela do valor de seu bem produzido, ao passo que o mesmo sequer se dê conta desta injustiça. Diversos seriam os vetores de alienação contrários ao proletário, como a própria ciência, a Igreja, a Família, e, para Marx, o primeiro passo para tirar o proletário dessa condição de exploração e alienação, se livrando da escravidão corporativista de busca incessante por acúmulos materiais, era fazer crítica radicais ao modo de produção e daí trabalhar no sentido de avançar no advento de uma sociedade sem classes.

¹ AQUINO, Tomás de. Onze lições sobre a virtude: Comentário ao Segundo Livro da Ética de Aristóteles. 1. ed. Campinas: Ecclesiae, 2013. 11 p.

Fernando Carvalho. Direito, 1º ano – Noturno.