O espírito humano, segundo Augusto Comte, segue uma
marcha progressista de desenvolvimento intelectual, passando, necessariamente,
por três estágios: teológico, metafísico e positivo. O estado teológico ou
fictício consiste no conhecimento baseado em fenômenos sobrenaturais e suas
fantasias, visto que são espontâneas, representam um ponto de partida
indispensável na formação do intelecto humano. O metafísico ou abstrato, por
sua vez, trata-se de um estágio de transição, cujas bases são forças abstratas
personificadas. O estado definitivo e mais complexo do conhecimento humano é o
positivo, que se fundamenta em fatos reais e dados empíricos.
A filosofia positiva teve como precursores Descartes e
Bacon, porém, sua consolidação só se deu com a teoria de Comte. Seu principal
pilar consiste em considerar todos os fenômenos como sujeitos à leis naturais
invariáveis, buscando conhecer e interpretar somente os fatos e suas relações
de sucessão e similaridade, sem ponderações acerca da essência das coisas. Comte
preconiza a aplicação do positivismo na construção de uma “física social”, cujo
objetivo seria universalizar e sistematizar os fenômenos da sociedade. Trata-se,
a meu ver, de uma generalização prejudicial, visto que os fenômenos sociais
devem ser considerados em sua essência, dada sua enorme complexidade. Presumir
que todas as relações entre os humanos seguem uma lei imutável é se ater a uma
visão superficial e equivocada da realidade.
De acordo com os fundamentos da teoria de Comte, a
sociedade de sua época passava por uma crise política e moral, decorrente da
anarquia intelectual e do “ecletismo” filosófico. O espírito positivista seria,
portanto, a única resolução cabível, levando em conta a máxima de que “a ordem
é condição para o progresso.” A sistematização da moral e das relações sociais
são, para o filósofo, essenciais para o desenvolvimento da humanidade. É
possível identificar, deste modo, aspectos do conservadorismo nas ideias de
Comte acerca da moral. Sua teoria tecnicista e moralista exerce forte
influência, ainda hoje, na sociedade; ademais, a bandeira do Brasil carrega o
lema positivista “ordem e progresso”. Se levarmos em consideração, entretanto,
análises mais profundas sobre a humanidade, concluiremos que nem sempre é
possível formar sistemas estáticos e que a concepção de progresso é relativa.
Talvez o verdadeiro desenvolvimento não dependa da ordem, e sim, da subversão
da mesma.
Thainara Righeto - Matutino
Thainara Righeto - Matutino