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sábado, 22 de março de 2025

A “Geração Nem-nem” à luz da Imaginação Sociológica

NEET: Neither in employment nor in education or training. A sigla em inglês, deslocada para o imaginário brasileiro como “Geração Nem-nem”, emergiu como caracterização do grupo de jovens que não estudam nem trabalham. Para além do campo linguístico, no contexto hodierno, pode-se notar a construção superficial de julgamento de grande parte do tecido social, a qual atribui a responsabilidade da situação de tal juventude a fatores individuais – como preguiça e desinteresse. Entretanto, essa visão nefasta e exclusivista, cria um cenário deturpado que marginaliza tais indivíduos, perpetuando a vulnerabilidade. Sob essa lógica, é imperioso analisar este fenômeno à luz da Imaginação Sociológica, ilustrada pelo célebre sociólogo Charles Wright Mills. 

Mormente, vale ressaltar a tese do pensador, que consiste na capacidade de analisar as experiências privadas a partir de questões sociais mais amplas, ou seja, compreender a mazela desse corpo social como construto relacionado ao contexto social, histórico e estrutural, conectando-o, assim, às questões públicas. Nessa perspectiva, a imaginação sociológica revela que a inatividade dos jovens está relacionada a transformações do mercado de trabalho e do sistema educacional, visto que a precarização do trabalho e o acesso desigual à educação são fatores que contribuem para a exclusão social. Prova disso é a notável informalidade na atividade laboral impulsionada pela desigualdade, em que os jovens que carecem de informação, recursos e qualificação, de maneira majoritária, acabam recorrendo a atividades informais, temporárias e mal remuneradas. Logo, a flexibilização do mercado de trabalho – característica de um tecido pós-industrial – e o precário sistema educacional dificultam a ascensão social dessa geração. 

Diante do exposto, torna-se evidente que a aplicação da teoria de Mills alerta a necessidade de repensar a realidade da famigerada “Geração Nem-nem”. Para reverter essa deturpação, é preciso fomentar a criação de políticas públicas que promovam a inclusão social, a qualificação profissional e o acesso à educação de qualidade, visto que a nefasta responsabilização dos jovens, apenas perpetua essa marginalização. Por fim, a prática da imaginação sociológica pelo corpo social, corrobora para a construção de um futuro mais justo e equitativo – nem desigual, nem excludente. 

Amanda Caroline Vitorasso, 1º ano - Direito (Matutino). 

Os Movimentos Antirracistas perante a Imaginação Sociológica

Os movimentos antirracistas surgiram com o foco em combater o racismo, a desigualdade racial e garantir os diretos que são segregados, majoritariamente, da população negra. Essa iniciativa busca refletir como as estruturas socias são hierarquizadas racialmente, buscando prover uns e rebaixar outros.

Seguindo essa lógica, movimentos muito conhecidos como Black Lives Matter, que surgiu após o assassinato de um jovem negro, Trayvon Martin, em 2013, por conta do ataque de um vigilante que estava armado. Vale ressaltar que não houve consequência nenhuma e o vigilante George Zimmerman foi absolvido do caso, gerando grande comoção na sociedade, principalmente pelos privilégios que a população branca tem em relação a negra.

Entretanto, o posicionamento de “soberania” enraizado nos costumes da população evidenciam as questões raciais em diversos países, que está sendo cada vez mais recorrente e normalizada, reverberando em um conjunto de considerações antiéticas e desumanas. Porém, a partir do momento que os movimentos antirracistas entram em ação, a postura de solidariedade da sociedade ganha forma, sendo que antes estavam mascaradas.

 Diante desse viés, o sociólogo C. Wrigh Mills em sua obra “Imaginação Sociológica”, explica como situações taxadas como experiências individuais refletem na estrutura social, por exemplo, casos de discriminação racial não estão ligados apenas a vivência, como vítima, de uma única pessoa e sim de um conjunto de pessoas, onde também são fenômenos sociais estabelecidos nas estruturas de poder e nas desigualdades. Por meio disso, os indivíduos passam a perceber que um problema de sua vida pessoal, na verdade está mais para um problema coletivo.

Por fim, os movimentos antirracistas estão presentes para que as mudanças possam ser estabelecidas, mudando um contexto considerado individual, como o racismo, que está conectado a uma série de fatores que retomam os primórdios da história humana. A partir disso, a população pode questionar e desafiar as instituições que persistem no racismo estrutural, buscando a mudança nas condições socias, políticas e econômicas que mantém as desigualdades, promovendo meios mais igualitários e justos

Maria Eduarda Siqueira Alves dos Santos - 1° ano - Direito - Matutino 

A imaginação sociológica em tempos de extremismo

O início do século XX foi marcado pela popularização de ideias eugenistas, que pregavam o "aperfeiçoamento" da humanidade por meio do controle da reprodução, sendo usadas posteriormente para justificar a superioridade de grupos étnicos em detrimento de outros, e pela utilização dessas ideias por movimentos autoritários para alcançar o poder, especialmente na Alemanha. Nesse sentido, apesar dos esforços para o desaparecimento dessas ideologias, por meio de leis que proíbem sua disseminação e da repressão contra células nazifascistas, cada vez mais há notícias sobre o crescimento alarmante desses ideais na sociedade atual. Nesse contexto, a importância do pensamento sociológico se torna cada vez mais aparente, pois, como foi proposto por Charles Wright Mills, “tudo aquilo que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem”, o que favorece a difusão de ideias extremistas. Ou seja, além da repressão legal, o pensamento crítico é um complemento necessário.

Antes da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, uma grave crise econômica e política se espalhou entre o povo, culminando na ascensão do governo nazista. Isso se deve principalmente ao sentimento de humilhação gerado pelo Tratado de Versalhes, à hiperinflação da década de 1920, que provocou uma onda de desemprego, e à instabilidade política da República de Weimar, marcada por grande polarização, violência entre grupos parlamentares e trocas constantes de governo. Esses fatores geraram desconfiança na democracia e desamparo entre a população, criando um terreno fértil para o totalitarismo se estabelecer. Os nazistas ascenderam ao poder culpando judeus, comunistas e tratados internacionais, algo aceito por uma população desamparada, imersa em incertezas e crises em suas órbitas privadas, estes problemas poderiam ter sido evitados caso o pensamento sociológico fosse disseminado, pois, a partir dele, as pessoas perceberiam que esses problemas individuais são, na verdade, questões estruturais complexas e não podem ser solucionados com respostas simples, como culpar minorias.

Na atualidade, observamos um crescimento alarmante de movimentos da direita radical na esfera política global. Isso é evidente nos EUA, com Elon Musk e Steve Bannon realizando gestos muito semelhantes à saudação nazista em eventos políticos, e no Brasil, com o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmando em 2022 que as minorias “têm que se adequar”. Nesse contexto, fica evidente que, na realidade globalizada contemporânea, marcada por inquietações derivadas do medo da automação do trabalho pela inteligência artificial, das crises econômicas e ambientais, do grande volume de notícias negativas e, principalmente, da desinformação que se espalha rapidamente, as ideologias de extrema-direita encontram um terreno fértil para proliferar. Agora, seus novos principais inimigos são os imigrantes, como exemplificado pela política de deportação de Trump e pelas declarações da deputada portuguesa Rita Matias, que chamou imigrantes de “ratos”. Assim, o pensamento sociológico se torna ainda mais necessário para evitar que o povo seja seduzido por essas acusações e soluções simplistas de extremistas.

Portanto, considerando a forma de operação dos nazifascistas, que aproveitam momentos de instabilidade para obter poder por meio da alienação de pessoas fragilizadas, a imaginação sociológica proposta por Mills assume um papel de suma importância para a construção de sociedades mais críticas e resilientes. Isso ocorre porque, ao adotá-la, os indivíduos entenderão que suas dificuldades pessoais são, na verdade, coletivas e complexas, demandando ação conjunta em busca de uma verdadeira solução, sem cair em discursos extremistas e identificando as causas dos problemas sociais. Dessa forma, evitam-se os erros do passado, por meio do pensamento crítico.


Rafael Constâncio Cuvice - Direito noturno 1º ano

O crime de homofobia sob a perspectiva sociológica

 

Evidentemente, sabe-se que pessoas pertencentes a comunidade LGBTQI+ foram, e ainda são repudiadas por diversos grupos da sociedade tanto no Brasil quanto em outras regiões do mundo. Não à toa que, apenas em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão que enfim criminalizou a homofobia, equiparando-a ao crime de racismo.

Vale a pena ressaltar acerca desse evento que, mesmo sendo enquadrada como crime, essa prática foi contemplada com uma brecha vantajosa para as igrejas, principalmente seguidoras do Cristianismo, uma vez que a lei não as restringe de continuar ensinando doutrinas que tornem a homossexualidade e a liberdade de gênero em pecados perante a entidade divina.

Ademais, não obstante a criminalização, pessoas do meio jurídico pertencentes à comunidade enfrentam a homofobia ainda de maneira mais esdrúxula. Em 2021, durante uma CPI da Pandemia, o senador Fabiano Contarato respondeu a uma provocação com teor homofóbico feita, através da internet, pelo empresário bolsonarista Otávio Fakhoury. Tendo uma família assim como qualquer outra composta por um homem e uma mulher, foi inevitável para o senador não se emocionar na sua devolutiva em discurso e, claro, aproveitar-se da lei para exercer seu direito, denunciando o ato do empresário.

Por meio da imaginação sociológica, podemos associar esse comportamento da sociedade, incluindo a figura de Fakhoury, a uma necessidade de estar acima daqueles que fogem de um padrão persistente e criado pela mais alta nata da comunidade. O fato de se queixarem de casais compostos por pessoas do mesmo sexo também pode estar conectado a uma repressão própria em razão do preconceito geracional, sendo exemplo disso, alguém que despreza uma pessoa LGBTQI+ por tanto tempo e depois se descobre fazendo parte de tal comunidade, ou encobrindo sua verdadeira personalidade com argumentos infundados.

Em síntese, é possível notar, mediante reflexões profundas, que a discriminação de pessoas homossexuais ou que se identificam com outros gêneros é tão “acimentada” na estrutura da sociedade que causou o atraso de uma punição necessária, de forma que ainda seja preciso debater sobre esse assunto de maneira incessante. Ademais, fica claro que, até mudanças significativas no comportamento social – bem como entre juristas em Parlamento – acontecerem, a homofobia continuará sendo uma questão estrutural e tão persistente quanto o racismo.



Nicole Sthefany Calabrezi

1º ano - Direito - matutino