NEET: Neither in employment nor in education or training. A sigla em inglês, deslocada para o imaginário brasileiro como “Geração Nem-nem”, emergiu como caracterização do grupo de jovens que não estudam nem trabalham. Para além do campo linguístico, no contexto hodierno, pode-se notar a construção superficial de julgamento de grande parte do tecido social, a qual atribui a responsabilidade da situação de tal juventude a fatores individuais – como preguiça e desinteresse. Entretanto, essa visão nefasta e exclusivista, cria um cenário deturpado que marginaliza tais indivíduos, perpetuando a vulnerabilidade. Sob essa lógica, é imperioso analisar este fenômeno à luz da Imaginação Sociológica, ilustrada pelo célebre sociólogo Charles Wright Mills.
Mormente, vale ressaltar a tese do pensador, que consiste na capacidade de analisar as experiências privadas a partir de questões sociais mais amplas, ou seja, compreender a mazela desse corpo social como construto relacionado ao contexto social, histórico e estrutural, conectando-o, assim, às questões públicas. Nessa perspectiva, a imaginação sociológica revela que a inatividade dos jovens está relacionada a transformações do mercado de trabalho e do sistema educacional, visto que a precarização do trabalho e o acesso desigual à educação são fatores que contribuem para a exclusão social. Prova disso é a notável informalidade na atividade laboral impulsionada pela desigualdade, em que os jovens que carecem de informação, recursos e qualificação, de maneira majoritária, acabam recorrendo a atividades informais, temporárias e mal remuneradas. Logo, a flexibilização do mercado de trabalho – característica de um tecido pós-industrial – e o precário sistema educacional dificultam a ascensão social dessa geração.
Diante do exposto, torna-se evidente que a aplicação da teoria de Mills alerta a necessidade de repensar a realidade da famigerada “Geração Nem-nem”. Para reverter essa deturpação, é preciso fomentar a criação de políticas públicas que promovam a inclusão social, a qualificação profissional e o acesso à educação de qualidade, visto que a nefasta responsabilização dos jovens, apenas perpetua essa marginalização. Por fim, a prática da imaginação sociológica pelo corpo social, corrobora para a construção de um futuro mais justo e equitativo – nem desigual, nem excludente.
Amanda Caroline Vitorasso, 1º ano - Direito (Matutino).