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sábado, 2 de maio de 2015

 Vovô vê relógios em patos


“A natureza é um relógio”, me disse meu avô enquanto observávamos um grupo de patos voando em formação. A afirmação não me deixou totalmente confortável e me senti impelido a perguntar: “Por que¿”
Sem hesitar ele olha para mim e fala “veja só, um relógio é composto por partes, engrenagens e pinos, que se estão bem lubrificados e sem nenhum defeito funcionam perfeitamente e assim se pode ler as horas corretamente, o mesmo ocorre na Natureza, se todas as suas mínimas partes estão em ordem, então o todo também estará.”
Mas eu não conseguia me conformar com essa justificativa, pode se dizer que meu espirito estava inquieto: “Então a Natureza não passa de uma Máquina, basta entender as pequenas partes que se posta juntas faram um todo. Parte-se do princípio que entendendo a parte se entende e se pode modificar o todo. É isso que o senhor me está propondo¿”
O velho se remexe um pouco pensando em minhas palavras “você simplificou demais, mas é isso basicamente”, e com isso voltamos para casa aos últimos raios do sol, ele satisfetio por voltar pro conforto de sua casa e eu irrequieto, embebido em meus pensamentos sobre a afirmação tão categórica feita por meu avô.
O desfecho não podia ser outro, obviamente comecei a pensar intensamente em algo que contrapusesse aquela estranha afirmação. Não conseguia me conformar com o fato de que nós somos somente parte de um todo, que nós mesmos somos máquinas e sendo máquinas, caso venhamos com defeito podemos olhar para as partes que nos constituem e repará-las, concertando o todo. Esse pensamento me era incabível, nós não somos máquinas, EU não sou uma máquina, queria gritar pro meu avô.
E o mais triste foi que não achei nada que desse sossego ao meu alento, tudo o que podia pensar eram nas palavras de Henry Bergson: como a vida humana é efêmera e isso é grande parte da angústia do homem, e que sendo assim, consome boa parte do seu tempo para tentar alguma razão a seu ser; seu conforto só vem quando expõe suas angústias a um amigo.
E se fez a luz, percebi que a parte é tão importante quanto o todo, sem a parte funcionando de forma correta, o todo se fragiliza e pode até mesmo deixar de existir. Um sistema aguenta até certo ponto de estresse antes de quebrar por isso era necessário manter todas as pequenas partes na máxima ordem, para que o todo não sucumbisse.
 Talvez essa não seja a tudo que estamos predestinados a ser, somente uma parte do todo, mas garanto que com a ferramentas que tenho não consigo ver outra forma de se estudar o mundo e conseguir justificar minimamente essa nossa estadia mundana. É, o vovô tem lá sua cota de sabedoria.



Tiago de Oliveira Macedo- 1ºano Direito diurno- filme “O ponto de mutação”

Ilha de Marfim

Pobre é o mundo dos cartesianos
Separado, mutilado, desconexo
Corpo é máquina, breve os anos
Será a vida algo incomplexo?
 
Injusto é o testemunho do avanço
A ele nada natural possui valor
Custeia a fome, causa ranço
Desconsidera a vida, eleva a dor.

Bruxas e natureza, Bacon condenou
Pobres mulheres, todas injustiçadas
A Mãe Natureza o homem escravizou
Graças a Bacon há mentes embaçadas.
 
Diga seu preço amigo cientista
Homens de terno querem saber
Pense por eles, enganado altruísta
Logo descobrirá o amargor do conhecer.
 
Onde está meu refúgio? Castelo de marfim
Lá me esconderei até que chegue o fim
Quero poesia para ler neste meu confim
Onde está meu refúgio? Castelo de marfim.
 
Temo continuar com minha profissão
Um livro para ler é tudo que procuro
Penso em não deixar o mundo na ilusão
Mas caminhar pela maré é mais seguro.
 
Por existência entende-se grande conexão
Toda a vida se relaciona, mantém uma teia
Nada que acontece se passa em vão
Pois todo ocorrido tem uma reação em cadeia.
 
Não há raciocínio que seja correto
Ao estudar o espaço iremos nos anestesiar
Pois nos objetos sólidos o vazio é certo
É incrível como as aparências amam enganar.
 
O mundo não precisa mais de cartesianismo
Esse método não atende às novas expectativas
Tem se tornado feitor do grande antagonismo
O mundo precisa é de boas perspectivas!
 
Onde está meu refúgio? Castelo de marfim
Lá me esconderei até que chegue o fim
Fugi da política, mas ela veio a mim
Onde está meu refúgio? Castelo de marfim.
 

Alexandre Roberto do Nascimento Júnior
1º ano Direito - Diurno
Introdução à Sociologia
Filme "Ponto de Mutação"