Vovô vê relógios em patos
“A natureza
é um relógio”, me disse meu avô enquanto observávamos um grupo de patos voando
em formação. A afirmação não me deixou totalmente confortável e me senti
impelido a perguntar: “Por que¿”
Sem hesitar
ele olha para mim e fala “veja só, um relógio é composto por partes,
engrenagens e pinos, que se estão bem lubrificados e sem nenhum defeito
funcionam perfeitamente e assim se pode ler as horas corretamente, o mesmo
ocorre na Natureza, se todas as suas mínimas partes estão em ordem, então o
todo também estará.”
Mas eu não
conseguia me conformar com essa justificativa, pode se dizer que meu espirito estava
inquieto: “Então a Natureza não passa de uma Máquina, basta entender as
pequenas partes que se posta juntas faram um todo. Parte-se do princípio que
entendendo a parte se entende e se pode modificar o todo. É isso que o senhor
me está propondo¿”
O velho se
remexe um pouco pensando em minhas palavras “você simplificou demais, mas é
isso basicamente”, e com isso voltamos para casa aos últimos raios do sol, ele
satisfetio por voltar pro conforto de sua casa e eu irrequieto, embebido em
meus pensamentos sobre a afirmação tão categórica feita por meu avô.
O desfecho
não podia ser outro, obviamente comecei a pensar intensamente em algo que
contrapusesse aquela estranha afirmação. Não conseguia me conformar com o fato
de que nós somos somente parte de um todo, que nós mesmos somos máquinas e
sendo máquinas, caso venhamos com defeito podemos olhar para as partes que nos
constituem e repará-las, concertando o todo. Esse pensamento me era incabível,
nós não somos máquinas, EU não sou uma máquina, queria gritar pro meu avô.
E o mais
triste foi que não achei nada que desse sossego ao meu alento, tudo o que podia
pensar eram nas palavras de Henry Bergson: como a vida humana é efêmera e isso
é grande parte da angústia do homem, e que sendo assim, consome boa parte do
seu tempo para tentar alguma razão a seu ser; seu conforto só vem quando expõe
suas angústias a um amigo.
E se fez a
luz, percebi que a parte é tão importante quanto o todo, sem a parte
funcionando de forma correta, o todo se fragiliza e pode até mesmo deixar de
existir. Um sistema aguenta até certo ponto de estresse antes de quebrar por
isso era necessário manter todas as pequenas partes na máxima ordem, para que o
todo não sucumbisse.
Talvez essa não seja a tudo que estamos
predestinados a ser, somente uma parte do todo, mas garanto que com a
ferramentas que tenho não consigo ver outra forma de se estudar o mundo e
conseguir justificar minimamente essa nossa estadia mundana. É, o vovô tem lá
sua cota de sabedoria.
Tiago de
Oliveira Macedo- 1ºano Direito diurno- filme “O ponto de mutação”