Weber analisa uma transformação
vivida pelo direito, a qual podemos perceber mais claramente hoje, que é a
aquisição de direitos específicos para uma classe de interessados que exigem,
que se unem para demandar; aquisições essas que se materializam em direitos
materiais como cotas, adoção por casais homoafetivos, atendimentos, assentos,
vagas preferenciais para idosos, gestantes, deficientes, entre outras
especificidades.
Essas
e outras garantias são fruto de muita luta desses agrupamentos, desses
interessados específicos, em grande parte com o intuito de se inserirem de
maneira igualitária ao contexto em que se encontram. De serem iguais, de terem
direitos iguais.
O
filme francês “Intouchables” trata, em um de seus aspectos, dessa busca humana pelo
tratamento igualitário, ainda que não se trate da aquisição de direitos
propriamente dita, mas do olhar sem dó, sem piedade; do olhar que veja além da
cadeira de rodas, além da cor, além da opção sexual.
Philippe é um
tetraplégico que necessita de cuidados 24h
por dia, 7 dias por semana, e está buscando um novo “cuidador”. Entretanto, ao
entrevistar as opções que se lhe apresentam, vai ficando cada vez mais
desanimado, pois nenhum deles o vê além da sua condição, da sua situação. Por
isso, quando ele se depara com Driss, um ex-presidiário, que o enxerga além,
até com um certo descuido, sem se preocupar tanto com suas impossibilidades e
limitações, talvez até por compartilhá-las de certa forma, encontra alguém
capaz de ajudá-lo.
Dentre os
muitos tabus quebrados pela relação entre os dois, um muito interessante se
encontra na sexualidade de Philippe; afinal, pessoas tetraplégicas ainda têm
funções plenas? Para ser sincera, não sei se todos os casos são da mesma forma,
mas nesse caso específico ele ainda tinha plenas capacidades sexuais, mas por
elas não funcionarem mais da mesma forma, pois os estímulos deveriam vir de
regiões do pescoço para cima, e mesmo pela “doentização” do portador de
necessidades especiais, Philippe não retomara suas atividades nessa área, não
até encontrar Driss.
Este o faz
superar seu próprio sentimento de incapacidade num episódio específico, em que
o incentiva a sair de uma “relação espistolar” com uma moça que o interessava,
ligando pra ela e fazendo-o mandar uma foto sua, que lhe revela-se. No entanto,
Philippe não tem coragem de mandar uma foto que revele sua condição, fugindo de
um possível encontro, de uma possível relação, ao que Driss, descobrindo, discorda
e revela a verdade à moça, mesmo sem o consentimento do patrão.
Driss
possibilitou, assim, que Philippe tivesse a oportunidade de um relacionamento,
que, na verdade, significava muito mais; demonstrava o retorno das
possibilidades, que nunca se foram, mas que estavam esperando ser agarradas,
assim como os direitos de todo homem. Enxergues as suas diferenças, ele pode ser visto como qualquer outro homem, tratado como qualquer outro homem.
Talvez a
verdade seja assim; talvez os homens precisem ser vistos nas suas diferenças
para serem tratados como iguais, ter direitos diferentes para terem acesso
igualitário à cidadania e à justiça, pra verem o retorno das possibilidades.