Total de visualizações de página (desde out/2009)

sábado, 2 de abril de 2011

O Grande Mito do Saber e a Prepotência "Sábia"


A arrogância humana, a retórica e as disputas desnecessárias, a hermenêutica e a função social do Direito são temas nos quais Francis Bacon, com sua obra "Novum Organum", nos faz refletir. Apesar de publicado em 1620, ainda nos remete a noções inerentes ao mundo contemporâneo e à imperfeição humana como uma das causas de tantas asserções falsas em relação ao mundo.

"Nenhum saber é absolutamente seguro", ja dizia Bacon, condenando a visão exageradamente egocêntrica daquele que se considera detentor das verdades. O homem, muitas vezes ludibriado por títulos e aparências, torna-se tão certo de sua "superioridade" que se fecha às oportunidades de aprimoramento. Quantas vezes, nós mesmos, nos deparamos defendendo férrea e cegamente nossas convicções? Passando por cima de qualquer tipo de negação? Arranjando maneiras de adequar casos novos a nossas crenças para assim, não sermos submetidos à constatação do erro? O orgulho é malefício obstruidor do caminho para as verdades absolutas.

Além dessa natureza humana e das imperfeições individuais, na obra, as relações sociais também são consideradas "falsas percepções do mundo" (ídolos) por serem baseadas nas palavras. Pela sua enorme variedade interpretativa, a palavra, muitas vezes, fomenta discussões sofistas as quais valorizam a retórica e a força argumentativa recheada de palavras belas e difíceis porém vazias de significado ou de algum fim prático e útil.

Dissertar a respeito da arrogância do homem e muitas vezes da pobreza temática de debates rebuscados, ditos "cultos", infelizmente me remete ao curso de Direito do qual participo. A gama de conhecimentos adquiridos e o poder advindo dela cria um ambiente propício para o surgimento de pessoas prepotentes e orgulhosas. A altivez as faz se sentir tão "melhores" e "acima de tudo" que acabam se esquecendo do verdadeiro objetivo do Direito. Passam a viver em seus mundos abstratos, da fantasia, e menosprezam a utilização das leis e o bem-estar social. Desperdiçam assim, a grande oportunidade que o Direito proporciona, o que é lamentável. Essas "excelências" certamente seriam criticadas por Francis Bacon. Pertinente.

Investigando mente e verdade

Francis Bacon é mais um autor à procura do caminho (método) para a verdade, em sua obra Novum Organum ele divide o conhecimento em dois tipos: Os produzidos pelo método de Antecipação da Mente e os produzidos pela Interpretação da Natureza. Para se obter um conhecimento através do segundo método Bacon afirma ser necessária a expulsão dos “ídolos”.

O autor dá o nome de ídolos a tudo aquilo que obscurece o caminho da mente à verdade e determina os seus tipos de acordo com sua origem: os fundados nos sentidos do homem como medida da natureza são os ídolos da tribo; nos desejos e impressões individuais, ídolos da caverna; na linguagem mal usada, ídolos do foro; e nos vícios de doutrinas e fantasias, ídolos do teatro.

Bacon propõe uma organização, ou cura, da mente, já que ela é tão sensível à aos ídolos. O exercício mental desregrado (dialética) não leva à verdade (é aí que surge sua crítica à filosofia Clássica) e nem mesmo a confiança cega nos sentidos, já que esses estão subordinados aos caprichos da mente. Para tal cura, são necessários instrumentos auxiliares ao intelecto e aos sentidos, traçando uma equivalência entre engenhos e intelecto durante o processo das experiências.

A intenção de Bacon não é nova, distinguir ilusão de realidade, deter os desejos que influem no conhecimento científico, conhecer os perigos da mente e aprender a usá-la de forma “pura” é um desafio antigo e até hoje não superado completamente. Ele dá um primeiro passo na identificação dos axiomas e propõe a verificação de tais verdades que aparentemente se apresentam irrefutáveis. A obra é um exercício de investigação a cerca da delicada relação natureza-mente-verdade; um exercício que deve ser praticado a cada descoberta.

Ciência e aplicabilidade

Uma das maiores críticas feitas à filosofia clássica é o fato de em quase sua totalidade buscar conhecimentos que em nada têm de utilidade prática. Crítica partilhada por Francis Bacon ao argumentar tal ato dos gregos, a “ciência como mero exercício da mente” ao invés da ciência aplicável à vida humana. Esse conhecer pelo simples fato de saber foi chamado de cultivo científico, aquele para o conforto da alma.

Em sua obra “Novum Organum”, um novo meio de busca do conhecimento é proposto. Aliado à razão introduzida por Descartes na obra estudada “O Discurso do Método”, encontra-se a experimentação. Assim, ocorre o que ele chama de regulação da mente: guiá-la fugindo do entusiasmo. Por meio da exploração e interpretação da natureza se chegaria às importantes questões e suas respostas. A chamada antecipação da mente é refutada por representar o senso comum, o que costuma barrar novas concepções.

A respeito disso ainda, dão-nos falsa percepção do nosso redor os ídolos, nossas paixões, formação pessoal, relações sociais e a própria via filosófica vigente. É preciso colocarmos de lado as próprias crenças; por mais que saibamos a dificuldade, necessita-se de neutralidade para o julgamento. Ainda de acordo com Bacon, compreender minimamente as coisas mais específicas é entender o objetivo e o pensamento divinos, e nisso consiste a verdadeira ciência.

Domínio sobre a Verdade

O filósofo Francis Bacon (1561-1626), na tentativa de promover uma "grandiosa restauração do saber e da ciência", busca implantar um novo método para a produção e recuperação do Conhecimento. Criticando o escolasticismo, Bacon descreve em sua obra Novum Organum maneiras para se alcançar a vitória sobre a natureza e dominar a Verdade.

Acreditando no poder indutivo do homem, vale-se de que o melhor caminho para a descoberta da Verdade é aquele que, partindo de dados particulares, chega-se aos dados gerais. Também ressalta a tamanha importância de se buscar recursos para auxiliar o intelecto, para garantir menos falhas no raciocínio. Bacon afirma que um intelecto sem auxílios e não regulado não pode superar a obscuridade das coisas.
Em seu método, Bacon rejeita ideologias, fantasias, religiosidade e misticismo, julgados como fatores que contaminam a mente humana e corroboram para que se chegue a falsas conclusões. O homem deve se dispor a observar a natureza despreendido de qualquer "pré-conceito", para que seu julgamento sobre os fatos e experiências sejam guiados por um raciocínio "limpo".

O filósofo destaca a existência de quatro gêneros de ídolos que, se não bloqueados pela verdadeira indução, podem ser maléficos à mente humana e interferir na Interpretação da Natureza. São eles: ídolos da tribo - quando se toma por verdade aquilo que foi captado pelos sentidos; ídolos da caverna - em uma ilusão à caverna platônica, refere-se aos princípios, educação ou convenção de cada indivíduo; ídolos do foro (da vida pública) - diz da relação social do homem e do consequente uso das palavras, que podem gerar compreensões distintas em cada ser e provocar o erro; e, finalmente, ídolos do teatro -aquilo que é passado aos homens, seja como doutrina, tradição, regra, costume, que entra em vigor sem qualquer questionamento.

Bacon prega o extremo cuidado que o homem deve ter ao produzir conhecimento, uma vez que seus sentidos e suas "paixões" podem afetá-lo de modo a conduzí-lo a uma conclusão que lhe favoreça, mas nem sempre verdadeira. Por isso, muitos tentam fundamentar uma filosofia a partir de experiências próprias pouco válidas, uma vez que foram afetadas por suas fantasias e/ou princípios.
Em suma, a jornada que leva ao domínio sobre a Verdade, bem como sobre toda a natureza, requer a união entre a capacidade indutiva humana ("engenho") e o uso auxiliado do intelecto, somados à análise contínua e rigorosa de experimentos e seus efeitos.

A junção da experimentação com a razão

Bacon procura um novo método, através da exploração e experimentação, para o desenvolvimento da ciência da época, já que para ele, essa apenas girava inalteravelmente em círculos, com a superposição do novo sobre o velho, e nada mais era que combinações de descobertas anteriores, cujos resultados alcançados, até aquele momento, deviam-se mais ao acaso que a ciência propriamente dita. Considerava a lógica do momento como inútil para o incremento da ciência, pois essa era mais usada para consolidar e perpetuar erros do que para a indagação da verdade. Além disso, dizia que havia noções falsas e ídolos que ocupavam o intelecto humano, não somente obstruindo-o a ponto de tornar difícil o acesso à verdade, mas também como obstáculo à própria instauração das ciências. Avaliava que o intelecto humano recebia influência da vontade e dos afetos e se inclinava a ter por verdade o que preferia, sendo de inúmeras formas, aludido e afetado pelo sentimento.

A exaltação da experiência

Francis Bacon trouxe novas alternativas para o entendimento da ciência buscando cercar nossas reflexões de cuidados, a fim de que não sejamos atrapalhados pelas diversas concepções fantasiosas existentes. Em Novum Organum, tornam-se evidentes suas críticas tanto ao uso da ciência como simples exercício da mente quanto aos filósofos gregos. No primeiro caso, Bacon defende a idéia de que não podemos deixar que a mente se guie por ela mesma, pois isso pode nos levar a caminhos ilusórios. Logo, deve-se ligar o pensamento humano à experiência procurando determinar o real alcance de nossos sentidos. Já a crítica aos gregos deve-se ao fato de sua filosofia tradicional não servir ao bem-estar do homem, sendo meramente especulativa.

A partir dessas concepções, cria-se um novo método conhecido como “cura da mente”. Por meio dele, o ser humano passa a disciplinar seus pensamentos de acordo com a experiência que está observando a fim de entender a natureza social que nos é “imposta”. Para isso, Bacon apresenta dois métodos, sendo o primeiro nitidamente mais eficiente: a descoberta científica (interpretação da natureza) e a antecipação da mente (mera contemplação da ciência).

Francis Bacon, em nenhum momento, nega a possibilidade de se alcançar a verdade, mas afirma a dificuldade de se conhecer a natureza utilizando-se dos instrumentos até então “propagados”. Esses estimulariam os quatro gêneros de ídolos que bloqueiam a mente do ser humano, seja por meio da interferência das nossas paixões, pelas diferentes formações dos indivíduos, pelas relações sociais ou até mesmo pelos próprios sistemas filosóficos.

Torna-se claro, por meio do Novum Organum, o quão influenciável é o intelecto humano. Quando este acredita em algo, modifica a realidade para comprovar suas afirmações, sem perceber a debilidade dos sentidos. E é justamente por mostrar que a verdade deve ser buscada sempre por meio da experiência e não da observação, que Francis Bacon tornou-se essencial para a ciência moderna.

Adquirindo um conhecimento científico

Ao começarmos a ler a obra de Francis Bacon " Novum Organum" nos deparamos inicialmente com a crítica ao raciocínio logístico aristotélico, na qual considera a razão como um princípio falho e insuficiente para se chegar ao conhecimento verdadeiro. Em contrapartida, um novo método é formulado: " Nosso método, contudo, é tão fácil de ser apresentado quanto difícil d se aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certezs, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que de resto, provem das próprias percepções sensíveis. " (Francis Bacon, " Novum Organum, página 02 ). Ainda nesse contexto, o tal método pode ser entendido a partir da exaltação da experiência e observação, sendo que, só assim seria possível fazer descobertas científicas e não chegar a um conhecimento estéril e frágil. Vale ressaltar que Bacon esquematizou as falsas percepções de mundo, mais conhecidas como " Ídolos ". Tais formulações são aplicavéis nos tempos hodiernos, pois o autor afirma, por exemplo, que a interferência das paixões, formação do indivíduo, relações sociais e a astrologia podem " distorcer a realidade", resultando em uma interpretação equivocada dos acontecimentos. Creio que todos nós já enxergamos e agimos de forma diferente quando tomamos conhecimento de certas superstições ou quando estamos apaixonados. Além disso, a crítica dirigida para a filosofia tradicional é respeitosa, pois as especulações usualmente praticadas naquela êpoca não serviu para melhorar a condição humana e sim para levantar algumas questões e para criticar a sociedade em geral, ficando apenas no plano passivo. Assim, concluo que o " Novum Organum " inovou drasticamente o modo de pensar e de concretizar o conhecimento, servindo de base para a nossa ciência moderna.

Valorização da teoria e abandono da prática

Há, especialmente nos dias atuai, intensa valorização da palavra, da retórica, da articulação de raciocínios, do "falar bem". Não vejo, particularmente, nenhuma mal nisso. Contudo, acredito que, além de conhecer e aplicar técnicas que engrandecem o modo como nos expressamos, devemos reavaliar o conteúdo e a aplicabilidade do nosso discurso.

Francis Bacon afirma que, enquanto exaltamos e admiramos os poderes da mente humana, ignoramos suas falhas e não buscamos auxílio para adequá-los. Dessa forma, insistimos em "tagarelar" como faziam os gregos e não geramos conhecimentos capazes de melhorar a condição humana.

Para quebrar tal ciclo de produção inútil, Bacon recomenda domesticar a mente através da experimentação, isto é, embasar as ideias (pensamentos) em experiências observáveis (dados). Ele ainda argumenta que o homem precisa ser levado aos próprios fatos a fim de que ele se sensibilize e se sinta obrigado a renunciar ás teorias (especulações) e comece a produzir efetivamente ciência que auxilie o desenvolvimento humano.

Assim, não basta um cientista social mergulhar em livros, teorias, filosofias para chegar a um conhecimento relevante á sociedade sem visitá-la; não basta um político tecer seu discurso em favor dos oprimidos sem conhecê-los; não basta um médico receitar um medicamento sem saber se seu paciente conhece noções de prevenção da doença.

Portanto, é importante que o homem continue se expressando bem; porém, mais do que isso, é essencial que ele inove, experimente, busque conhecimentos que surtam efeito sobre o bem comum.

Experiências, Análises, Inovações.

"Mas aqueles dentre os mortais, mais animados e interessados, não nos uso presente das descobertas já feitas, mas em ir mais além; que estejam preocupados, não com a vitória sobre os adversários por meio de argumentos, mas na vitória sobre a natureza, pela ação; não em emitir opniões elegantes e prováveis, mas em conhecer a verdade de forma clara e manifesta" (Francis Bacon, "Novum Organum").

No passado, filósofos se prenderam à imaginação e à adoração dos elementos naturais. Dessa forma, alguns avanços foram obtidos nas ciências. Mas o que se vê no trecho acima, da obra de Francis Bacon, é uma mudança radical no método. Não basta descobrirmos e admirarmos a natureza, precisamos dominá-la. Muito menos se trata de convencimento pelos argumentos, mas de uma minunciosa análise dos fenômenos naturais. Busca-se inovações, não falatórios. Outro trecho da obra que pode nos mostrar esse pensamento é:

"Desse modo, é de se esperar que há ainda recônditas, no seio da natureza, muitas coisas de grande utilidade, que não guardam qualquer espécie de relação ou paralelismo com as já conhecidas, mas que estão fora das rotas da imaginação. Até agora não foram descobertas..."

A ciência não nasce da retórica, mas da análise e experimentação. Para Bacon, todo estudo deve ser empírico. A retórica pode ser útil em outros momentos, mas é desprovida de valor científico. Só os fatos são reais, não as ideias.

Bacon também alerta quanto às distorções que nossas análises podem sofrer devido a fatores que ele classifica como ídolos. A neutralidade é improvável. Esses ídolos podem ser nossas paixões, nossa formação, relações interpessoais que mantemos, ideologias, etc.

É, por fim, relevante considerar que "Novum Organum" foi publicado em 1620. Após o século XVII, surgiram os maiores avanços da história, que em milênios anteriores não haviam sido, se quer, sonhados. Podemos ter a certeza de que surtiu efeito essa nova forma de pensar ciência.

Evolução Constante

Francis Bacon, em sua obra “Novo Organum”, argumenta que o objetivo da filosofia e de todos os campos da ciência deve ser o aprimoramento da condição humana. De fato, a história do homem e, muito mais, a essência humana tem como principal característica a constante evolução. Desde a Revolução do Neolítico, por exemplo, o homem desenvolve instrumentos de caça e plantio a fim de tornar sua condição mais digna.

Por esse motivo, Bacon faz uma severa crítica aos gregos. De acordo com o autor, os gregos têm a sabedoria farta em palavras, mas estéril em ações. A crítica, portanto, faz-se justa. Uma vez que, os gregos por não desenvolverem um simples experimento que desenvolvesse a condição humana, estagnaram-se na evolução.

A fim de que as próximas gerações científicas e filosóficas não sejam como os gregos, Bacon propõe um método: a cura da mente humana. Nesse método o homem não deve deixar que a mente se guie por si mesma, deve-se criar mecanismos para regular o raciocínio. Através dessa metodologia, o homem seria idôneo para perceber e refutar as falsas percepções do mundo, chamadas pelo autor de Ídolos.