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sexta-feira, 8 de março de 2024

O RACISMO E A REJEIÇÃO NO MEIO ACADÊMICO

 

Sônia Guimarães é uma física brasileira, mas não uma qualquer. Ela detém o mérito de primeira mulher negra doutora em física no Brasil. Graduada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e doutora pela Universidade de Manchester, Sônia apresenta uma trajetória de muita luta, mas também de muito mérito e competência. Atualmente, ela atua como docente no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e dá palestras sobre educação por todo o território nacional.

Recentemente, a física revelou, em uma entrevista com Pedro Bial, que seus alunos do ITA não a respeitam e não a reconhecem como professora, o que se dá, principalmente, por sua etnia. A escritora portuguesa Grada Kilomba, na obra Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano, trata, dentre diversos recortes, da rejeição que as pessoas negras sofrem no meio acadêmico, inclusive trazendo como exemplo o racismo que ela mesma sofreu durante seu doutorado na Alemanha.

Esses episódios de racismo ocorrem por conta da herança escravista do Brasil, em que os negros escravizados não eram sequer reconhecidos como sujeitos de direito. Após a abolição da escravidão, diversas políticas higienistas foram adotadas para expulsar os negros dos centros urbanos, forçando-os para as periferias ­– ou margens, de acordo com o texto de Kilomba. Assim, desde a formação do país, a sociedade branca é acostumada a não conviver com os negros, principalmente em meios de alto prestígio, como o acadêmico.

Por conseguinte, o encontro com um indivíduo negro nas universidades pode causar estranheza a muitos brancos, ainda mais se este ocupar o cargo de docente. Nos piores casos, tal estranheza evolui para rejeição, descredibilização e hostilização, as quais podem se dar de diversas formas. Segundo Kilomba, as principais estratégias adotadas para descredibilizar sujeitos negros no meio acadêmico são ignorar pautas relacionadas à negritude e considerar suas interpretações subjetivas, parciais e demasiadamente emotivas. Ademais, a autora ressalta que essas atitudes, em conjunto com outras ações discriminatórias, têm sempre a finalidade de silenciar as vozes negras e forçá-las de volta às margens. Uma vez que, por conta da herança colonial, tais sujeitos não pertencem aos ambientes de alto prestígio.

Por fim, assim como afirma Grada Kilomba, a postura que deve ser adotada por Sônia Guimarães (e por todas as pessoas negras que desafiam o status quo) é de consciência, resistência e pensamento crítico; procurando sempre lutar para ocupar espaços no centro, alterar a realidade e influenciar outros indivíduos a seguir esse caminho.


Tiago Zanola Ferranti, 1º ano - Matutino, RA: 241221366